Editorial
Editorial
Teresa Pinto
O número vinte e nove da revista ex aequo, relativo ao primeiro semestre de
2014, cruza perspetivas de distintos países europeus, desde o sul ibérico ao
norte escandinavo e estende-se à realidade latino-americana.
O tema escolhido para o Dossier Temático, "Perspetivas Feministas sobre
Metodologia e Epistemologia: Debates, Desafios e Dilemas", convida à
reflexão sobre a produção científica na área dos estudos sobre as mulheres, de
género e feministas. As coordenadoras do Dossier, Maria do Mar Pereira e Ana
Cristina Santos, propunham, no apelo a contributos, proporcionar "um
espaço internacional e interdisciplinar de análise ( ) [e] aprofundamento de um
conjunto de discussões fundamentais mas ainda relativamente pouco desenvolvidas
em Portugal ", como a relação entre feminismos e metodologia "ou as
estratégias a adotar para alargar e aprofundar o desafio feminista à ciência
dominante, fortalecendo o impacto da investigação feminista dentro e fora da
academia". Na introdução ao Dossier, as coordenadoras problematizam o
estatuto conferido no interior da academia ao conhecimento produzido nestas
áreas, sobretudo no que se refere aos seus fundamentos e contributos
metodológicos e epistemológicos, dissecando alguns dos mecanismos que perpetuam
uma posição de menoridade a estes estudos ou que os conformam a agendas
definidas e determinantes a nível de financiamentos. Maria do Mar Pereira e Ana
Cristina Santos evidenciam, também, as vias de indisciplina que mantêm vivo o
cariz emancipatório dos estudos sobre as mulheres, de género e feministas. Os
artigos que integram o Dossier e que mantêm vivo este debate são igualmente
apresentados pelas coordenadoras no seu texto introdutório.
Na secção Estudos e Ensaios, Kate Denman, no artigo "Creating attitudinal
change towards domestic violence through participatory photography in Venezuela
", apresenta de forma sintética, mas fundamentada num quadro teórico
consistente, uma pesquisa inovadora sobre a violência doméstica na Venezuela,
explorando interseccionalidades que não integram usualmente a investigação
nesta área. Face à ineficácia dos programas implementados para a redução da
violência doméstica, problema premente na Venezuela, a autora apresenta
resultados da aplicação de estratégias lúdico-artísticas com jovens de várias
idades e distintas origens sociais, mostrando como a utilização da fotografia
participativa pode constituir uma via pedagógica incentivadora de uma análise
mais profunda sobre os mitos que relativizam a violência. Kate Denman
apresenta, ainda, a partir do seu estudo, recomendações para a utilização da
comunicação visual como forma de envolvimento de estudantes pré-adolescentes e
adolescentes num processo de mudança. Considerando, também, que a abordagem da
violência de género é fundamental para afrontar as desigualdades de género, a
autora propõe que se apetrechem docentes e demais intervenientes com recursos e
formação adequada.
Na secção Leituras e Recensões, Clara Moura Lourenço apresenta-nos a obra de
Célia Cristina Soares intitulada Género, afectos e poderes. Representações
sociais em crianças do ensino básico (FCG/FCT, 2012); João Esteves introduz-nos
à publicação Maria Veleda (1871-1955) ' Uma professora feminista, republicana e
livre-pensadora. Caminhos Trilhados pelo Direito de Cidadania (Gente Singular
Editora, 2012), da autoria de Natividade Monteiro; Luísa Saavedra propõe-nos a
leitura da obra coletiva Intervenção psicológica e social com vítimas, volume
II ' Adultos (Almedina, 2012), organizada por Sofia Neves; Nuno Santos Carneiro
sugere-nos a obra de António Manuel Marques intitulada Masculinidade e
Profissões: Discursos e Resistências (FCG/FCT, 2011); a encerrar a secção, Rui
Marques Vieira recomenda-nos a leitura da obra coletiva Formação docente em
gênero e sexualidade: Entrelaçando teorias, políticas e práticas (Editora De
Petrus et Alii, 2013), organizada por Amanda Rabelo, Graziela Pereira e Maria
Amelia Reis.
As últimas palavras são de agradecimento à fotógrafa feminista Elsa Almeida por
ter tido a gentileza de ceder graciosamente o original fotográfico que serve de
base à imagem da capa deste número da ex aequo. Respondendo ao convite que lhe
foi feito pelas coordenadoras do dossier temático, a autora descreve a
fotografia como uma imagem de "indefinições, sombras e aplicações
duvidosas", deixando em aberto múltiplas leituras.