Estudo da escala de depressão, ansiedade e stresse para crianças (EADS-C)
Os conceitos de Ansiedade, Depressão e Stressdizem respeito a um conjunto de
sentimentos e emoções que envolvem o ser humano na sua globalidade (Hetem &
Graeff, 2004). Ansiedade e Depressão tendem a exibir elevada associação, pelo
que se desenvolveu o modelo tripartido. Watson, Clark, Weber, Assenheimer,
Staruss, e McCormick, (1995), e Watson, Weber, Assenheimer, Clark, Staruss, e
McCormick, (1995) salientam a evidência de que a ansiedade e depressão são
difíceis de diferenciar empiricamente. Numa investigação anterior, Clark e
Watson (1991), propõem um modelo tripartido em que os sintomas de ansiedade e
depressão se agrupam em três estruturas básicas. Uma primeira estrutura que
designam por distress ou afecto negativo, inclui sintomas relativamente
inespecíficos, que são experimentados tanto por indivíduos deprimidos como
ansiosos, mais humor deprimido e ansioso, assim como insónia, desconforto ou
insatisfação, irritabilidade e dificuldade de concentração. Estes sintomas
inespecíficos são responsáveis pela forte associação entre as medidas de
ansiedade e depressão. Para além deste factor inespecífico a ansiedade e a
depressão constituiriam as outras duas estruturas, com a tensão somática e a
hiperactividade como específicas da ansiedade, e a anedonia e a ausência de
afecto positivo como relativamente específicas da depressão.
A operacionalização do modelo tripartido levou à construção de medidas tais
como a escala aqui em estudo, a Depression Anxiety Stress Scale(DASS) de
Lovibond e Lovibond (1995). Esta escala, teoricamente, propõe-se cobrir a
totalidade dos sintomas de ansiedade e depressão, que satisfaça padrões
elevados de critérios psicométricos e faça uma discriminação máxima entre os
constructos ansiedade e depressão. O estudo factorial desta escala apresenta um
novo factor que incluía os itens menos discriminativos das dimensões ansiedade
e depressão e que os autores designam por Stresse: estes itens incluem
dificuldades em relaxar, tensão nervosa, irritabilidade e agitação.
A Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse(EADS) é a versão portuguesa do
Depression Anxiety Stress Scale, de Lovibond e Lovibond (1995) adaptada por
Pais Ribeiro, Honrado e Leal (2004a). Esta escala foi concebida por Lovibond e
Lovibond (1995) com o objectivo de discriminar a totalidade dos sintomas de
ansiedade e depressão. Os mesmos autores, ao realizarem estudo factorial desta
escala verificaram a existência de um novo factor que incluía os itens menos
discriminativos das duas dimensões, a ansiedade e depressão. Este novo factor
foi denominado de “Stresse”, a que correspondiam os itens dificuldades em
relaxar, tensão nervosa, irritabilidade e agitação.
A EADS é constituída por 21 itens que se distribuem por três dimensões com sete
itens cada: Depressão, Ansiedade e Stresse. A escala foi desenvolvida a partir
da teoria e os itens incluídos em cada dimensão propõem-se avaliar aspectos
teoricamente inclusivos da dimensão: nomeadamente, a Depressão engloba:
Disforia (um item); Desânimo, (um item); Desvalorização da vida (um item);
Auto-depreciação (um item); Falta de interesse ou de envolvimento (um item);
Anedonia (um item); Inércia (um item). A Ansiedade abrange: Excitação do
Sistema Autónomo (três itens); Efeitos Músculo Esqueléticos (um item);
Ansiedade Situacional (um item); Experiências Subjectivas de Ansiedade (dois
itens). O Stresse inclui: Dificuldade em Relaxar (dois itens); Excitação
Nervosa (um item); Facilmente Agitado/Chateado (um item); Irritável/Reacção
Exagerada (dois itens); Impaciência (um item), (Pais Ribeiro, Honrado &
Leal, 2004b).
A resposta é dada numa escala tipo Likert, em que o indivíduo avalia a extensão
em que experimentaram cada sintoma durante a última semana, numa escala de
quatro pontos de gravidade ou frequência: “não se aplicou nada a mim”,
“aplicou-se a mim algumas vezes”, “aplicou-se a mim de muitas vezes”, “aplicou-
se a mim a maior arte das vezes”, a que correspondem valores de “0” a “3”. A
escala fornece três notas, uma por cada dimensão, determinadas pela soma dos
resultados dos sete itens. Assim sendo, o mínimo é “0”e o máximo “21”,
correspondendo as notas mais elevadas a estados afectivos mais negativos. Os
itens da EADS de 21 itens foram seleccionados de modo que possa ser convertida
nas notas da escala completa de 42 itens multiplicando a nota por dois.
Pais Ribeiro, Honrado e Leal (2004b), referem que após ter sido inspeccionada a
consistência interna através do Alfa de Cronbach, os resultados para a EADS
foram respectivamente de 0,85 (0,93 na versão de 14 itens) para a escala de
depressão, de 0,74 para a de ansiedade (0,83 na versão de 14 itens) e de 0,81
para a de stresse (0,88 na versão de 14 itens).
O objectivo do presente estudo é estudar a versão da EADS para crianças e pré-
adolescentes.
MÉTODO
Participantes
Participaram 361 indivíduos pré-adolescentes e adolescentes, estudantes do
Ensino Básico, com idades compreendidas entre os8eos15 anos, dos quais 208
foram raparigas e 153 rapazes, que constituíram uma amostra de conveniência.
Material
Conceptualmente a escala é a mesma que para os adultos. No entanto, dado que os
participantes são mais novos do que os dos estudos de validação, os itens foram
revistos para serem compreensíveis para este grupo. O cognitive
debriefingrealizado com um grupo de indivíduos com estas características levou
à alteração da formulação de alguns itens de modo a que a validade de conteúdo
de cada item se mantivesse mas se tornasse mais facilmente compreensível. As
diferenças consistem na inclusão, à frente de alguns itens, de um exemplo que
ajude a esclarecer o sentido da frase que constitui o item. (ver anexo)
Esta escala foi desenvolvida a partir da teoria: por esta razão assumimos uma
perspectiva conservadora que se propunha respeitar a perspectiva teórica e, por
isso, mantivemos a estrutura original da escala: Assim inspeccionámos as
relações entre itens e dimensões, reproduzindo os procedimentos dos estudos
anteriores desde o original até à versão de adaptação portuguesa.
A versão final, que denominámos, Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse para
Crianças(EADS-C) é constituída por três sub-escalas, com sete itens cada,
apresentados em anexo.
A escala foi aplicada em sessões colectivas e individuais, assegurando-se o seu
preenchimento individual e garantindo a total confidencialidade e anonimato. A
escala pode ser também ser aplicada individualmente, em contexto clínico. O
tempo de aplicação dura entre5 e 8 minutos.
RESULTADOS
A escala foi submetida a uma análise em componentes principais (ACP), com
rotação Promax (que é uma rotação oblíqua que permite uma correlação entre as
dimensões) forçada a três factores. A solução encontrada explica 44, 76% da
variância total e apresenta os resultados expostos no quadro 1.
Quadro 1
Cargas dos itens nos componentes para uma solução
de três dimensões
A inspecção do quadro 1 mostra que nem todos os itens apresentam uma carga
componencial adequada na dimensão a que pertencem: se considerarmos o valor de
0,35 como fronteira, há um item nas dimensões ansiedade e outro na stresse que
não alcança esse valor. Por outro lado a carga em seis dos 21 itens é superior
noutro componente à daquele a que pertence. Em alguns dos outros itens a
diferença da carga componencial em diversas dimensões é baixa.
A inspecção da consistência interna para as três dimensões mostra os seguintes
valores
Para o Stresse, o alfa de Cronbach é igual a 0,74, com correlações item
dimensão, corrigida para sobreposição, variando entre 0,36 e 0,56 a maioria
acima de 0,40. Nenhum item, se retirado aumentava a consistência interna. Para
a Depressão a consistência interna é de 0,78, com a com correlações item
dimensão, corrigida para sobreposição, variando entre 0,37 e 0,65 a maioria
acima de 0,40. Nenhum item, se retirado contribuía para aumentar a consistência
interna. Para a Ansiedade o alfa de Cronbach é igual a 0,75, com correlações
item dimensão, corrigida para sobreposição, variando entre 0,38 e 0,58 a
maioria acima de 0,40. Nenhum item, se retirado aumentava a consistência
interna.
DISCUSSÃO
A escala EADS-C, depois de acrescentar esclarecimentos que decorrem do
cognitive debriefing de modo a facilitar a interpretação por este grupo etário,
é prática e de aplicação rápida em crianças e pré-adolescentes. Apresenta uma
estrutura semelhante à versão para adultos embora os valores das cargas dos
itens na dimensão seja menos discriminativa do que em adultos. Quando
observamos a estrutura de cada dimensão através da consistência interna
verificamos, não só que o valor do alfa de Cronbach é adequado, como todos os
itens contribuem para incrementar essa consistência. Dividindo os participantes
por grupos de idade entre crianças mais novas (9 a 11 anos), com as mais velhas
(12-15 anos), não encontramos diferenças estatisticamente significativas. O
mesmo ocorre quando comparamos os grupos por género.
Sharp, e Lipsky (2002) explicam que avaliar variáveis deste tipo em crianças é
especialmente difícil devido às suas limitações literária, mas que se torna
possível a partir dos 7 anos com um nível de literácia de, pelo menos, 6 anos,
o que no caso presente não é verdade para o grupo mais novo. Por esta razão
estas medidas devem ser usadas com cuidado com estes grupos mesmo depois do
ajustamento que foi feito aos itens.
O estudo aqui apresentado sugere que a escala será provavelmente aplicável a
pré-adolescentes devendo, no entanto, a partir dos dados aqui obtidos,
recomendar-se mais estudos de sensibilidade da escala.