Editorial
Editorial
J. Pais Ribeiro, Isabel Leal e Margarida Gaspar de Matos
Este número da revista científica, Psicologia: Saúde & Doenças, propõe-se
iniciar uma nova fase. Salientaríamos, o aumento de dois para três números por
ano (Março, Julho, e Novembro), com o dobro das páginas do que tem sido uso até
aqui (passará a cerca de 250 páginas cada revista, com paginação sequenciada).
Sendo uma revista científica ela deve respeitar os diversos aspetos que fazem
parte do ser uma revista científica, que vão desde a ética inerente a toda a
investigação e publicação, procedimentos, e cumprimento dos prazos de
publicação.
A publicação de artigos científicos depara-se com um problema que incomoda
fortemente os autores, a saber, o tempo que decorre entre a submissão do artigo
e a publicação. Para um artigo ser científico implica vários passos que incluem
a leitura por diversas estruturas editoriais (da coordenação editorial, do
corpo editorial, editores associados, eventualmente consultor estatístico, mais
a revisão estrutural do texto), com a possibilidade, ainda, de ser enviado a
outros elementos externos a estes.
É nossa intenção reduzir o tempo de espera entre a submissão e a publicação,
por um lado, e, por outro, garantir que o artigo fica disponível de imediato em
publicação prévia (on line first). Tal facilita aos autores a disponibilidade e
visibilidade do seu artigo.
Como podem ver, na estrutura editorial há um grupo central de editores
(coordenação editorial e corpo editorial) que garante e vigia, em primeiro
lugar, a qualidade científica dos artigos com apoio das restantes estruturas
editoriais. Pensamos deste modo agilizar o processo de revisão.
Atualmente deparamo-nos com a modernidade da publicação eletrónica e do acesso
livre aos artigos científicos. Tal tem constituído uma revolução maior do que o
esperado. Já não compramos ou assinamos a revista científica para ler aquele
artigo que nos interessa: agora acedemos diretamente ao artigo. Este acesso
pode ser pago ou não ter custos. As revistas científicas estão, na sua maior
parte associadas a grandes editoras. A Elsevier, que publica mais de 2700
revistas científicas, teve em 2010 um lucro de 1,16 mil milhões de dólares (The
Economist, 4 fevereiro 2012). Este lucro provém da venda de revistas, de
artigos (se pretendermos um artigo de uma revista deste grupo, temos de pagar
mais de 30 dólares para fazer o download), ou, se a revista for de acesso
livre, paga-se para publicar: Estes custos podem chegar aos três mil dólares,
caso o artigo seja aceite.
Dados os custos pessoais e económicos, há cada vez menos organizações
científicas, como a nossa sociedade, a editar revistas científicas. Todo o
processo, da recepção do artigo à publicação numa base de acesso livre e
gratuito, é dispendioso para quem controla a revista. Dispêndio que se
distribui por várias rubricas: o tempo que os editores levam a receber, ler,
distribuir pelos revisores, pedir aos autores para corrigir, rever, e responder
aos autores, mais os custos de secretariado, e os custos de edição. Como todos
os autores calculam, o processo de edição tem um dispêndio semelhante à edição
em papel. Só é mais económico na parte da tipografia, embora a preparação para
ficar acessível com um clique numa base de dados tenha também custos.
Os apoios a este tipo de edição num país pobre, em recessão, são cada vez mais
limitados para não dizer nulos. Não é de estranhar a quantidade de revistas
científicas em português europeu que têm desaparecido.
A juntar ao custo, as publicações em português tendem a ser desvalorizadas. As
organizações científicas portuguesas tendem a exigir que as revistas onde se
publica sejam internacionais (que neste caso significa editadas no estrangeiro)
e que tenham indicadores bibliométricos fornecidos por grandes empresas como a
Thomson Reuters (TR-ISI-WoS), (empresa que tem lucros maiores do que a
Elsevier) que publica o Impact factor no seu Journal of Citation Reports, e que
universidades portuguesas, centros de investigação, e organizações que apoiam a
investigação, consideram indispensáveis para que um artigo tenha valor. Não é o
que está escrito que tem, ou não, valor é, sim, o impact factor da revista onde
é publicado, sabendo-se desde sempre que cerca de 50% dos artigos publicados
nessas revistas nunca são citados. As críticas a estas exigências são fortes
(Brumback, 2009), mas ainda estão longe de chegar a Portugal.
Mas as críticas vão mais longe. Frey (2003) num texto provocativo, criticava a
política então em vigor onde a sobrevivência na academia depende das
publicações em revistas com revisão por pares(p.205) que ele designava por
prostituição intelectual ou académica. Será possível publicar artigos
científicos sem ser em revistas com revisão por pares? Ele diz que sim,
referindo Reinhard Selten, prémio Nobel da Economia1 em 1994, que se recusava a
publicar em revistas com revisão por pares que lhe pediriam para fazer
alterações no texto, o que ele não estava disponível para fazer. As críticas de
Frey cobrem tanto editores como revisores, abrangendo os autores e instituições
que fazem as exigências. Vale a pena ler o artigo referido que está de acesso
livre na internet.
Esta fase da nossa revista, sendo dispendiosa em termos pessoais é desafiadora.
Estamos nela com a intenção de ser bem sucedidos e de ultrapassar os obstáculos
que possam surgir.
Sendo uma revista da Sociedade Portuguesa de Psicologia da saúde, esperamos o
apoio dos membros da sociedade e dos interessados na área, do seu estímulo, e
da sua vigilância, sobre o decorrer da revista.
A coordenação editorial