Validação transcultural da Escala de Felicidade Subjectiva de Lyubomirsky e
Lepper
Validação transcultural da Escala de Felicidade Subjectiva de Lyubomirsky e
Lepper
Cross cultural validation of the Lyubomirsky and Lepper subjective happiness
scale
J. L. Pais-Ribeiro
Felicidade é um conceito do senso comum utilizado na linguagem do dia a dia.
Por isso o seu estudo científico é mais complexo, e o uso no senso comum não
facilita a discussão, dado toda a gente saber o que é a felicidade. Por esta
razão muitos investigadores evitam o uso deste termo preferindo o uso de termos
mais específicos, enquanto outros o usam dadas as suas raízes históricas e
populares (Diener, 2006). Em 2000, Diener diz que, coloquialmente, se utiliza o
termo felicidade para designar o bem- estar subjetivo. É genericamente assumido
que a felicidade é um componente decisivo da boa vida (Diener, Scolon &
Lucas, 2003). As críticas sobre o mérito de se estudar este construto têm sido
discutidas e criticadas, mas sempre salientando a sua importância para a
psicologia (Myers, & Diener, 1995; Norrish, & Vella-Brodrick, 2008).
Se recorrermos aos filósofos da antiguidade, um dos mais antigos pensadores
neste tema, o filósofo pré-Socrático Democritus, defendia que a felicidade
consistia numa vida feliz, que dá prazer, não por causa do que a pessoa feliz
possuía mas sim por causa do modo como ela reagia às circunstâncias da vida.
Esta perspectiva foi abandonada durante séculos quando Sócrates, Platão, e
Aristóteles impuseram a perspectiva de felicidade eudemónica, que consistia na
possessão de grande quantidade de bens, embora Aristóteles defendesse que a
felicidade consistia na realização total do potencial pessoal, não sendo o
prazer um elemento central na definição. Pelo contrário, para os hedonistas
como Aristippus, a felicidade era simplesmente a soma de muitos prazeres
momentâneos (Diener et al. 2003): a sua filosofia defendia que o objectivo da
vida era a procura do prazer adaptando as circunstâncias a si próprio mantendo
o controlo sobre a adversidade e a prosperidade.
Modernamente o conceito é introduzido na declaração da independência dos
Estados Unidos da América, no século XVIII, onde afirmava o direito dos
cidadãos à vida, à liberdade, e à procura (pursuit) da felicidade. Se
procurarmos na constituição da República Portuguesa não encontramos o termo
felicidade mas sim bem-estar e qualidade de vida. Com efeito, na secção
Princípios Fundamentais, Artigo 9.º (Tarefas fundamentais do Estado), afirma
que São tarefas fundamentais do Estado, entre outras, na alínea d) Promover o
bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os
portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais
e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas
e sociais. Ou seja, em Portugal, surge bem-estar e qualidade de vida numa
posição similar da felicidade da constituição dos Estados Unidos da América
(Pais-Ribeiro, 2009): simultaneamente, no texto desta alínea sugerem-se os
elementos que podem contribuir para esse bem-estar e qualidade de vida, que é
mais numa perspectiva eudemónica.
A literatura considera a felicidade como indicador de bem-estar subjectivo
(Diener, 2006; Lyubomirsky & Lepper 1999), sendo, neste sentido,
confundível com outras medidas deste tipo: Veenhoven (1997; 2000) refere que
felicidade, satisfação com a vida, qualidade de vida, bem-estar, denotam o
mesmo significado e são utilizados como sinónimos. Felicidade pode significar
prazer, satisfação com a vida, emoções positivas, vida plena, ou sensação de
contentamento entre outros (Diener et al, 2003). Porque a felicidade tem tantos
sentidos quer na linguagem popular como na académica, Diener (2006) diz que
tanto pode representar as causas como os efeitos, por exemplo, pode significar
humor geral positivo, avaliação global de satisfação com a vida, viver uma boa
vida, ou as causas que fazem as pessoas felizes no seu contexto de vida. A
investigação sobre a felicidade começou por a utilizar como um equivalente de
contentamento, satisfação com a vida e uma sensação de bem-estar (Ramm,1996).
Por definição, a felicidade é o grau no qual a pessoa avalia globalmente a
qualidade da sua vida de uma forma positiva, ou seja, quanto a pessoa gosta da
vida que leva (Veenhoven, 1997). Fordyce (1983), um dos primeiros autores a
fazer intervenção para promover a felicidade, descreve-a como uma sensação
emocional de bem-estar, que recebe muitos nomes (contentamento, completude,
auto-satisfação, alegria, paz de espírito, etc.). Lyubomirsky e Lepper (1999)
dizem que a felicidade subjectiva
(subjective happiness), consiste numa avaliação subjectiva que uma pessoa faz
se é feliz ou infeliz. Ela reflecte uma categoria de bem-estar abrangente e
molar, enquanto fenómeno psicológico (Diener, 1994).
Lyubomirsky, (2001) afirma que a capacidade que algumas pessoas têm para ser
felizes, mesmo perante circunstâncias adversas, é impressionante, embora não
seja claro quais os fatores naturais ou educacionais que explicam essa
capacidade. A sua investigação tende a salientar as diferenças quanto às
estratégias motivacionais, julgamentais e cognitivas que são utilizadas.
A felicidade subjectiva ou o bem-estar subjectivo não são sinónimos de saúde
mental. São importantes para a saúde mental mas não são, nem suficientes nem
sinónimos (Diener, Suh, & Oishi, 1997). Já há mais de 50 anos Jahoda
(1958), afirmava que não se pode afirmar que há saúde mental positiva com base
na ausência de doença mental, do que resulta a necessidade de avaliar outras
dimensões complementares.
Porque nas últimas décadas cresceu notavelmente o interesse por esta variável,
Lyubomirsky e Lepper, (1999) desenvolveram uma medida global de felicidade
subjectiva. É um indicador baseado na perspectiva do respondente e pede-se que
ele faça um julgamento global, molar, em que medida é feliz ou infeliz.
O presente estudo propõe-se fazer uma adaptação transcultural do instrumento
desenvolvido por Lyubomirsky e Lepper, (1999). A adaptação de um instrumento
para uma nova língua/cultura, numa perspectiva transcultural, é um processo
necessário quando se pretende comparar o resultado nas diferentes línguas e/ou
culturas. Utiliza-se a expressão adaptação transcultural (cross-cultural
adaptation) para abranger o processo que considera, simultaneamente, a
linguagem (tradução) e a adaptação cultural, na preparação de um questionário
para uso num contexto diferente (Beaton, Bombardier, Guillemin, & Ferraz,
2000).
O uso de instrumentos de avaliação desenvolvidos numa língua, para uso noutra
língua diferente é um procedimento normal, assumindo-se depois, que estamos em
presença a) do mesmo instrumento, b) que avalia o mesmo construto, c) do mesmo
modo. Ora isto nem sempre é verdade: para não o ser basta alterar o tempo que
leva a completar o questionário, quer porque a tradução para a outra língua
exige mais ou menos palavras, quer porque se retiram itens, como explicam
Hambleton e Patsula (1999).
Há várias formas de transformar um instrumento para a nova língua. Dependendo
das alterações necessárias, a tradução de um instrumento inclui três opções: a)
aplicar o instrumento traduzido literalmente; b) adaptar partes do instrumento
(ou seja, essas partes não constituiriam traduções literais mas sim
ajustamentos) e, c) montar um instrumento totalmente novo, explicam de Vijver e
Hambleton (1996).
O processo de adaptação é complexo e sujeito a viés. O enviesamento pode
ocorrer a três níveis a) viés de construto, que significa que o construto
estudado pode variar num grau substancial entre culturas; b) viés de método
quando o factor cultural em estudo não é relevante para grande parte dos itens
na cultura estudada; c) viés de funcionamento do item, que ocorre se pessoas de
diferentes grupos com o mesmo resultado no construto operacionalizado, não têm
o mesmo resultado no item (de Vijver, & Poortinga, 1997).
O objectivo do presente estudo é adaptar o questionário de felicidade
subjectiva para Português-europeu, para poder ser utilizado numa perspectiva
transcultural.
MÉTODO
Participantes
Os participantes constituem uma amostra de conveniência de 516 indivíduos da
comunidade, 54,3 % mulheres, idade média 35,18 anos (DP= 12,10, entre 18 e 98
anos), que responderam voluntariamente ao questionário de modo anónimo e
confidencial.
Material
O questionário utilizado incluía vários instrumentos, medidas, e questões
demográficas, como género, idade e escolaridade. São os seguintes os
instrumentos utilizados, incluindo o questionário que constitui elemento
fulcral deste estudo.
Escala de felicidade subjectiva ' desenvolvida por Lyubomirsky e Lepper (1999)
inclui quatro itens (ver anexo), que são afirmações em que, em duas, se pede
aos respondentes para se caracterizarem a si próprios por comparação com os
seus pares, quer em termos absolutos quer relativos (itens dois e três), e
outros dois itens consistem em descrições de felicidade e infelicidade. Pede-se
aos respondentes para indicar a extensão em que as afirmações os caracterizam,
e a resposta é dada numa escala análoga visual com sete posições, ancorada em
duas afirmações antagónicas que expressam o nível de felicidade ou a sua falta.
Veenhoven (2009), revendo o conteúdo dos itens de escalas que se propõem
avaliar a felicidade, rejeita este questionário como instrumento de avaliação
deste construto, devido ao segundo item ser comparativo o que, defende este
autor, não é consentâneo com a definição e a avaliação de felicidade. Os
autores conceberam esta medida unidimensional, com somente quatro itens para
não sobrecarregar os respondentes. Consideram a felicidade subjectiva uma
variável latente.
Satisfação global com a vida- recorremos a uma medida clássica utilizada no
World Values Survey, desenvolvida por Andrews e Withey (1976). Consiste num
item que pede acerca da sua vida pessoal e das suas condições, qual o seu grau
de satisfação com a sua vida em geral? A resposta é dada numa escala análoga
visual com 10 posições ancorada em dois extremos em que num extremo está
assinalado totalmente insatisfeito e no outro totalmente satisfeito. É
considerada uma medida de referência para o bem-estar subjectivo.
Escala de Satisfação com a Vida - escala desenvolvida por Diener, Emmons,
Larsen, e Griffin, (1985), e Pavot, e Diener, (1993): inclui cinco itens que
constituem afirmações às quais o sujeito responde numa escala ordinal de sete
posições entre totalmente em desacordo e totalmente de acordo. A escala foi
validade para Portugal por Neto, Barros, e Barros, (1990) e por Simões, (1992).
Índice de Bem-Estar Pessoal - desenvolvido por Cummins, (1998) e adaptado ao
Português por Pais-Ribeiro, e Cummins, (2008), inclui sete itens/domínios que
pretendem avaliar a satisfação com a vida nesses domínios e em geral. A cada
item as pessoas respondem quanto satisfeitas estão numa escala de 0
(extremamente insatisfeito) a 10 (extremamente satisfeito), com uma posição
intermédia neutra. O Índice de Bem-Estar Pessoal é calculado numa nota de 0-
100.
Saúde mental- avaliado com o Inventário de Saúde Mental de cinco itens. Este é
uma versão reduzida da escala de 38 itens, desenvolvida por Veit e Ware (1983),
estudada na versão Portuguesa por Pais-Ribeiro (2001). Esta versão reduzida
exibe uma correlação de 0,95 com a versão de 38 itens, valor semelhante ao do
estudo original, sugerindo que em termos globais pode substituir a versão mais
longa. Inclui cinco itens, com uma resposta numa escala ordinal com cinco ou
seis posições. Uma nota mais elevada exprime melhor saúde mental. Porque os
itens incluídos são medidas de depressão, ansiedade, e bem-estar, esta medida
deve ser considerada uma medida de distresse.
Percepção de saúde - avaliada com um item com resposta numa escala tipo likert
com cinco alternativas de resposta entre óptima e fraca: uma nota elevada
significa percepção de mais saúde. Idler e Benyamini (1997) numa revisão de
investigação mostram que um item é uma medida adequada de percepção de saúde, e
que é um preditor independente de mortalidade em quase todos os estudos, mesmo
perante a inclusão de outros indicadores do estado de saúde e de outras co-
variáveis relevantes reconhecidas como preditoras de mortalidade.
Percepção de qualidade de vida - avaliada com um item que pergunta como
classifica a sua qualidade de vida?, com uma resposta numa escala tipo likert
com cinco alternativas entre muito boa e muito má: Uma nota mais elevada
exprime percepção de qualidade de vida mais positiva.
Tradução - A tradução dos itens constitui um momento decisivo da adaptação de
um questionário para uma língua/cultura diferente, e deve responder a
diferentes tipos de equivalência, tais como equivalência lexical, cultural,
operacional, de medida, e funcional entre outras (Herdman, Fox-Rushby, &
Badia, 1998). No presente estudo este processo foi garantido através de
tradução/retroversão e discussão entre tradutores, que conheciam o construto,
para além do domínio de ambas as línguas. A análise de conteúdo dos itens foi
feita com recurso a dois especialistas conhecedores do construto. Seguiu-se o
cognitive debriefing realizado com sujeitos do grupo a quem o questionário se
dirige que tivessem um nível educacional baixo, de modo a verificar se
entendiam as questões e o modo de lhes responder. O formato final do
questionário é apresentado em anexo
RESULTADOS
Valores da média -No estudo original as médias dos resultados encontrados para
11 das amostras utilizadas andavam à volta de cinco (entre 4,63 e 5,13 para os
estudantes quer dos EUA quer da Rússia): Nos extremos encontramos 5,62 para os
reformados e para os adultos da comunidade dos USA, e 4,02 para o grupo de
adultos da comunidade na Rússia. O desvio padrão andava à volta de 1 (entre
0,96 e 1,21 com excepção de um grupo de estudantes universitários com 1, 72).
No nosso estudo a média foi de 5,12 (DP=1,02): comparando os resultados por
género não se encontram diferenças estatisticamente significativas: Não se
verifica correlação estatisticamente significativa com a idade, e verifica-se
uma correlação estatisticamente significativa, mas baixa, com a escolaridade (r
(516) = 0,12, p= 0,004). Esta não associação com a idade, assim como a não
existência de diferenças com base no género, já tinham sido salientadas noutros
estudos (Myers & Diener, 1995)
Consistência interna- A fidelidade, avaliada com o alfa de Cronbach, é função
do número de itens da escala tal como deriva da fórmula de Spearman-Brown, ou
seja, escalas com muitos itens fornecem valores de consistência mais elevados
do que escalas com poucos itens. Esta medida da homogeneidade dos itens não
deverá ser demasiado elevada, de modo que a consistência interna não
signifique de facto redundância dos itens onde os itens constituem para-
frases uns dos outros. Cattell (1978) recomenda a existência de uma
homogeneidade moderada dos itens de modo que cada um contribua de maneira única
para a medida de uma dada escala. Kline (1986) sugere valores entre 0,30 e
0,70. Se dois itens exibem valores muito elevados, um não fornece informação
nova, ou seja, é redundante. Para Briggs e Cheek, (1986), o nível óptimo de
homogeneidade ocorre quando a correlação inter-item cai no intervalo 0,20 -
0,40 (p.114). Epstein, (1983) diz o mesmo, sugerindo que um item ideal deverá
ter uma correlação elevada com a soma de todos os itens no teste (menos ele
próprio) e uma correlação baixa com os outros itens.
A consistência interna no presente estudo é de 0,76 (no estudo original variava
entre 0,79 e 0,94 (M= 0,86) para os diferentes estudos). A correlação item
escala total corrigida para sobreposição, no presente estudo, é de 0,44, 0,59,
0,61 e 0,66. Esta é ligeiramente mais elevada do que a correlação inter-itens
que varia entre 0,31 e 0,64. A inspecção dos resultados mostra que os valores
encontrados, correlação inter-item e com escala total corrigida, são próximos,
sendo que a correlação com a escala total é ligeiramente superior, quando no
ideal esta correlação deveria ser substancialmente superior às primeiras. Dado
que a escala contém somente quatro itens, e que a correlação item escala total
corrigida para sobreposição aumenta com o aumento do número de itens, tal como
a consistência interna, este resultado não é mau. O elemento principal, ou
seja, a garantia que os itens não são redundantes, é evidente.
Estrutura do questionário - No estudo original da escala utilizaram-se 14
amostras, que incluíam entre 36 e 622 sujeitos, seis delas com menos de 100
sujeitos e quatro com mais de 300, em que 11 eram de estudantes universitários
dos Estados Unidos da América ou da Rússia, uma de adultos da comunidade, outra
de mulheres da comunidade e outra de reformados. Nesse estudo, a análise da
distribuição dos itens em componentes principais, para cada amostra, mostrava
que em todas, os itens carregavam um único componente.
No presente estudo, com vista a testar a hipótese da existência de uma única
dimensão ou factor, recorremos à análise factorial confirmatória (AFC) com
auxílio do EQS V6.1 (Bentler & Wu, 1995). Byrne (2005) sugere que se devem
escolher os índices de entre a grande variedade disponibilizada pelos programas
estatísticos, e que apenas um ou dois necessitam ser reportados. Recomenda a
combinação de dois índices de ajustamento, nomeadamente, o Comparative Fit
Índex (CFI; Bentler, 1990), e o Standardized Root Mean Square Residual (SRMR).
O CFI avalia a adequação do hipotético modelo relativamente ao pior modelo
(independente): se o modelo hipotético não constitui uma melhoria significativa
os índices de ajustamento seriam próximos de zero (Bentler, 1995). Para serem
adequados os valores de ajustamento requerem uma magnitude do CFI igual ou
superior a 0,93 e um valor de SRMR abaixo de 0,08 (Hu & Bentler, 1999).
No presente estudo, os resultados da AFC para a solução de um factor, foram de
CFI = 0,97, e SRMR= 0,03, indicando um bom ajustamento para a hipótese da
solução de um factor, confirmando a solução proposta na versão original.
Validade convergente discriminante - Estas validades constituem subcategorias
da validade de construto: A validade convergente observa-se quando a medida de
um construto, que teoricamente deve estar relacionada com a medida de outro
construto, exibe de facto uma relação substancial com ela; a divergente
observa-se quando construtos que teoricamente não se relacionam, não mostram de
facto relação entre eles. Estes valores são encontrados geralmente através da
correlação (Campell & Fiske, 1959).
No estudo original a validade concorrente (ou convergente) com a medida de bem-
estar subjectivo de Diener et al., (1985) variou entre 0,61 e 0,72 para quatro
amostras, na casa dos 0,60 para três amostras dos EUA e de 0,72 para uma
amostra da Rússia. Para o presente estudo a correlação foi de 0,60, ou seja,
com magnitude semelhante aos originais. Ainda na área da validade convergente a
correlação com a avaliação dos construtos da mesma área são da mesma magnitude
(Satisfação global com a vida, Índice de Bem-Estar Pessoal respectivamente,
0,60 e 0,63). A correlação com a saúde mental, uma medida global de distresse,
também na casa dos 0,60, cai dentro de valores semelhantes aos de outras
investigações (Headey, Kelley, & Wearing, 1993; van Hemert, de Vijver,
& Poortinga, 2002), correspondendo menor distresse a mais felicidade
subjectiva. Para a validade divergente a correlação com construtos de áreas
diferentes como a percepção de saúde (r(516)= 0,29, p< 0,0001), magnitude
semelhante à referida por Lyubomirsky, Sheldon, e Schkade, (2005), ou de
qualidade de vida (r(516) = 0,12, p< 0,005), correspondendo a melhor percepção
de saúde e de qualidade de vida, mais felicidade subjectiva, valores que embora
estatisticamente significativos, são baixos, com uma magnitude substancialmente
menor do que os referidos para a validade convergente.
DISCUSSÃO
O bem-estar abrange um funcionamento psicológico óptimo e é especialmente
proeminente na investigação psicológica actual (Ryan, & Deci, 2001). Na
perspectiva hedónica, a felicidade subjectiva é considerada como sinónimo de
bem-estar subjectivo, satisfação com a vida, entre outros, mas a inspecção dos
itens mostra haver diferenças de conteúdo que podemos considerar
significativas, mesmo que se aceite que são da mesma área, ou que os construtos
subjacentes a estas variáveis sejam semelhantes. No presente estudo este
aspecto é visível nas correlações entre estas variáveis (Felicidade Subjectiva,
Satisfação global com a vida, Escala de Satisfação com a Vida, Índice de Bem-
Estar Pessoal), com cerca de um terço da variância partilhada entre cada par.
Esta magnitude correspondente a correlações entre os 0,60 e 0,63, mostra, por
um lado, uma associação substancial e, por outro lado, que são variáveis
diferentes. Diener, et al. (2003), Veenhoven (2007), e Ramm (1996), discutem em
detalhe estas diferenças e semelhanças. Ou seja em vez de medidas alternativas
devem, antes, ser consideradas medidas complementares.
A Psicologia tende a interessar-se pelos aspectos negativos da vida das
pessoas, de tal modo que o número de artigos na área da psicologia que se
debruçam sobre aspectos negativos relativamente aos aspectos positivos é de 17
para 1 (Myers & Diener, 1995).
A correlação moderada com a saúde mental (mais concretamente o distresse)
encontrada no nosso estudo, medida esta que adopta uma perspectiva abrangente
de saúde mental que inclui aspectos negativos e positivos, vai no sentido
apontado por Compton, Smith, Cornish, e Qualls, (1996), e DeNeve, e Copper,
(1998). Veit e Ware (1983), estudando a estrutura da saúde mental descrevem um
conjunto de dimensões quer positivas quer negativas do funcionamento
psicológico, incluindo o bem-estar, dimensões estas que são complementares.
Pais-Ribeiro et al. (2010) numa população com pessoas com doenças crónicas
encontra uma estrutura em que as variáveis psicológicas positivas se agrupam em
componentes diferentes apontando para a sua complementaridade, mais do que para
sobreposição ou redundância. Ou seja como referiam Diener, et al., (1997), a
felicidade subjectiva é importante para a saúde mental mas não é, nem
suficiente nem sinónimo.
O estudo de validação aqui apresentado com intenções transculturais apresenta
boas propriedades psicométricas sugerindo que pode ser considerada uma boa
medida, com propriedades semelhantes à versão original. O estudo original,
apresentado com 14 amostras de grupos populacionais diferentes (embora
dominantemente estudantes universitários) de dois países, mostra alguma
heterogeneidade através de grupos de idade, populações e entre países. Os
resultados do nosso estudo caem dentro dos parâmetros do estudo original, o que
significa que a presente versão poderá ser considerada para comparação com os
dados originais numa perspectiva transcultural.