Jorge Proença (2008): Formação Inicial de Professores de Educação Física.
Testemunho e Compromisso.
Jorge Proença (2008). Formação Inicial de Professores de Educação Física.
Testemunho e Compromisso.
Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas, 159 páginas.
O livro de Jorge Proença, Formação Inicial de Professores de Educação Física.
Testemunho e Compromisso,recentemente publicado, constitui no panorama
português da formação em Educação Física e Desporto, uma referência que não
pode passar despercebida. Em primeiro lugar, porque serve para enriquecer a
reflexão sobre a problemática da formação nesta área de especialidade. Em
segundo, porque representa uma tomada de posição sobre a situação caótica que
temos vivido nesta área de formação académica e profissional.
Muitos são os cursos que têm existido em Portugal. Poucos são os que
efectivamente têm feito por dignificar e desenvolver a formação da
especialidade. Muitos até nem sequer fazem por corresponder o nome que ostentam
com a formação que realmente é feita. Tem imperado não só um afastamento das
instituições de formação dos problemas da prática profissional, como também se
tem verificado uma completa ausência de princípios éticos. E sem esta
referência perde-se o sentido da formação que se quer imprimir. Paradoxalmente,
muita formação que se tem feito por esse Portugal fora tem servido para tirar,
antes de tempo, a capacidade de intervenção e de construção da especialidade,
de todos os alunos (futuros profissionais) que inevitavelmente estão destinados
a cair no mercado de trabalho.
Neste mar de irresponsabilidade subjectiva e objectiva, é de aplaudir um livro
que traduz o posicionamento do Director do Curso de Educação Física e Desporto
da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT). O leitor tem toda
a liberdade para fazer a sua leitura, mas pen-samos que não será difícil
reconhecer que o curso de Educação Física e Desporto, liderado pelo professor
Jorge Proença, nos seus curtos anos de existência, tem pelo menos a virtude de
não ter contribuído para a vaga de atentados materiais (leia-se curriculares) e
simbólicos que se têm registado nesta área da especialidade. E só isso que
fosse, para a realidade que vivemos, já seria de louvar...
O livro de Jorge Proença tem o indiscutível mérito de configurar três níveis de
leitura - a dos Testemunhos, a das Intervenções e a das Comunicações /
Conferências.
Neste sentido, a obra abre para opções discursivas diversas que patenteiam o
percurso profissional de Jorge Proença. Esse percurso profissional, com
dezasseis anos de vida, corporizou um projecto científicopedagógico, para o
qual o autor mobilizou uma pluralidade de saberes e de compromissos e que, de
certo modo, está espelhado ao longo das páginas que constituem este livro.
Assim se compreende a abrangência semântica da dedicatória "Aos
Professores de Educação Física formados na Universidade Lusófona. A todos os
Professores", numa obra precisamente intitulada Formação Inicial de
Professores de Educação Física.E assim se compreende a semantização
topicalizada no subtítulo, Testemunho e Compromisso.
Uma primeira entrada, a dos Testemunhos, veicula, em registos discursivos
plurais, o apreço que alunos e professores manifestam a Jorge Proença por ter
criado e por liderar na Universidade Lusófona (ULHT) o curso de Licenciatura em
Educação Física e Desporto que é, como já foi assinalado, uma referência no
panorama da educação física e do desporto português. Relancemos um breve olhar
pelo conjunto dos depoimentos que constituem a primeira parte desta colectânea.
Paula Brito faz referência à sua "tenacidade, persistência, saber e
rigor" (p.50). Jorge Crespo alude "ao seu desejo permanente de
superar as contradições forjadas no domínio da formação de professores de
educação física" (p. 46). José Brás realça a sua "consciência
académica e profissional" que "não deixou que a irresponsabilidade
profissional se convertesse no princípio axial e estruturante da vida
universitária" (p.38). Luís Bom enaltece o "papel único que tem
desempenhado na ULHT" e a sua preocupação em "promover a inovação
no sentido de realizar a qualidade ambicionada para esta formação [de
professores de Educação Física" (pp. 25-26). Rui Petrucci põe em relevo
alguns dos factores de qualificação da Licenciatura em Educação Física e
Desporto da ULHT, destacando a importância formativa determinante do estágio
pedagógico (p. 22). Tomaz Morais enaltece a capacidade inovadora deste curso o
qual permite aos alunos "uma formação integral e a possibilidade de
especialização na área que mais lhes desperte curiosidade e interesse"
(p. 14). E, Lúcia Gomes realça o "respeito e a preocupação pelos alunos,
mantendo-se "fiel" aos seus compromissos em prol do desenvolvimento
da profissão claramente reconhecidos" (p. 17).
A segunda entrada do livro permite-nos ter uma visão de conjunto, numa estrita
ordem cronológica, das diversas intervenções de Jorge Proença, em espaços e
tempos criteriosamente bem seleccionados e marcantes na vida universitária: (i)
1.º aniversário da Licenciatura em Educação Física e Des-porto; (ii) recepção e
boas-vindas aos novos alunos; (iii) sessão de abertura comemorativa dos 25 anos
de integração da Educação Física na Universidade, em Portugal; (iv) saudação
aos estagiários; (v) comunicação final de estágio; (vi) sessão de abertura do
seminário; (vii) sessão de encerramento do estágio pedagógico; e (viii) sessão
de abertura do ano académico. Por estas intervenções, perpassam apelos ao
trabalho e ao empenho dos alunos e a sua aposta em dar um contributo sério para
uma formação superior de verdadeira qualidade, uma formação integral,
científica, técnica e pedagógica que alie os valores culturais e humanistas e
que entrelace o saber e o ser. E o autor não deixa também de manifestar o seu o
regozijo em liderar, conforme explicita na Nota Prévia, uma equipa:
"Capaz de interpretar, influenciar e aperfeiçoar ideias e projectos,
métodos e liderança. Uma equipa com magníficos jogadores na sua posição,
acentuada diversidade, elevada autonomia, convicta do significado do seu
desempenho e dos objectivos finais e comuns a alcançar: aperfeiçoar e melhorar
em cada dia o projecto científico-pedagógico que voluntária e dedicadamente
abraçámos de modo que seja socialmente útil, institucionalmente importante e
reconhecido, estimulante e apaixonante para os que nele buscam realização
pessoal e profissional" (p. 8).
O último e terceiro nível de leitura centra-se nas comunicações e conferências
de Jorge Proença. Aqui é possível constatar que a re-alidade académica e
profissional não passou despercebida ao autor. A diversidade de te-mas que
aborda (formação inicial, identidade profissional, avaliação de desempenho…) dá
testemunho do seu nível de preocupação. São indiscutivelmente problemas
demasiado pertinentes para continuarem a ser omitidos pela Universidade. Ao
invés da prática habitual, toda a comunidade académica deveria seguir o exemplo
do autor e empenhar-se numa séria discussão, pois os problemas levantados bem o
merecem. Fazer ciência não é uma prática esotérica. A melhor maneira de dar
utilidade social ao que se faz na Universidade é produzir conhecimento que sir-
va para resolver os problemas da especialidade. Concorde-se ou não com a
posição do autor, honra lhe seja feita pelo atrevimento que teve em meter
"a mão na massa". Os textos destas comunicações devem ser lidos e
discutidos. Por isso, esta publicação é um precioso contributo para a prática
da nossa Universidade. Outros dever-lhe-iam seguir o exemplo, para que na praça
pública em que nos movimentamos, saibamos concretamente quem é quem, quer
dizer, a posição e os argumentos que cada um defende. Só assim estamos em
condições de nos constituirmos como uma verdadeira Universidade.
José Brás e Maria Neves
zebras@netcabo.pt
maria.neves@netcabo.pt
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