Conhecimento tácito como vantagem competitiva nos relacionamentos com o
cliente: proposta de modelo conceptual para o Turismo Rural
1. Introdução
Nos últimos anos, a área do MR tem sido alvo de uma atenção crescente, quer na
teoria quer na prática, principalmente a nível estratégico, porque se tem
traduzido num método eficaz para atrair e reter clientes, com efeitos positivos
quer para clientes, quer para empresas, sob a forma de satisfação, lealdade,
passa palavra e volume compras (Priluck, 2003; Reynolds & Beatty, 1999).
Consequentemente, a filosofia do MR começou a ser utilizada pelas empresas. A
criação de valor ao cliente, através do conhecimento que pode ser armazenado e
mantido na empresa, permite obter e manter a satisfação dos clientes em
utilizações/visitas posteriores e uma superioridade nas competências e recursos
para melhorar a posição competitiva (Day & Wensley, 1988).
Na economia actual de "hipercompetição" e de informação, em constante
mudança política, social e ecológica, um conhecimento diferente daquele que,
convencionalmente se designa por explícito, aumenta de importância (Kikoski
& Kikoski, 2004). O conhecimento do séc. XXI, que pode interessar às
empresas e que lhes permite considerarem-se únicas com uma vantagem decisiva, é
o conhecimento tácito, que deve ser articulado e partilhado de forma
consistente.
Sendo o conhecimento tácito o único recurso desenvolvido no intelecto,
competências e experiência dos recursos humanos de uma empresa é uma vantagem
sobre o conhecimento codificado, porque segundo Droege and Hoobler (2003), como
deriva do capital intelectual e humano, fornece os atributos necessários a uma
vantagem competitiva (Droege & Hoobler, 2003; Lubit, 2001; Teece, 1998): é
difícil de imitar, é raro, cria valor e é difícil de substituir.
Com este artigo, pretende-se aliar os dois desenvolvimentos acima referidos e
gerar uma proposta de modelo onde se possa verificar que o conhecimento tácito
obtido e detido pelos colaboradores, pode permitir uma vantagem competitiva e a
manutenção de relacionamentos de qualidade e duradouros, ao nível das empresas
de serviços e do turismo rural em particular, pelas suas características
peculiares.
Numa primeira parte descreve-se como o conhecimento tácito pode permitir as
características essenciais de vantagens competitivas sustentáveis (Barney,
1991; Day & Wensley, 1988) - valor, raridade, difícil imitação e difícil
substituição. Posteriormente distingue-se conhecimento tácito do conhecimento
explícito para que se possa identificar a vantagem que ele pode representar
sobre o conhecimento codificado (Droege & Hoobler, 2003), facilmente
acedido pela concorrência e por isso imitável. Antes da proposta do modelo,
apresentam-se as condições necessárias para a manutenção de relacionamentos de
qualidade e por isso duradouros, bem como a importância dos colaboradores e do
conhecimento que obtêm. No final, é sugerida e explicada a proposta do modelo e
apresentadas considerações finais, algumas limitações e futuras linhas de
investigação.
2. Conhecimento tácito como fonte de vantagem competitiva
A noção de vantagem competitiva corresponde a uma superioridade relativa nas
competências e recursos da empresa que reflectem o padrão passado de
investimento para melhorar a posição competitiva actual (Day & Wensley,
1988). Mantê-la e sustentá-la requer a criação de barreiras difíceis de
ultrapassar e que dificultem a imitação, o que exige um investimento contínuo
num processo cíclico.
Competências e recursos superiores representam a habilidade da empresa fazer
mais e/ou melhor do que os concorrentes, associando-se as capacidades do
pessoal que os afastam da concorrência e lhes permitem desempenhar funções
individuais de forma mais eficaz, quer em termos técnicos, quer em termos de
competências. Por outro lado, permitem também uma estrutura organizacional,
mais rápida e adequadamente adaptável às mudanças dos requisitos do mercado
(Day & Wensley, 1988).
Neste sentido, o conhecimento é sugerido por alguns autores (Brown &
Duguid, 1998; Day & Wensley, 1988; Droege & Hoobler, 2003; Grant, 1996;
Hanvanichet al., 2003; Lesseret al., 2000; Pathirageet al., 2007; Tiwana, 2000;
Wernerfelt, 1984) como um recurso importante para as empresas, uma vez que
apresenta as características essenciais das vantagens competitivas sustentáveis
(Barney, 1991; Day & Wensley, 1988), ou seja é valioso, raro,
imperfeitamente imitável e insubstituível. No entanto, esta condição só será
possível se as empresas detiverem recursos heterogéneos e que outras empresas
não consigam alcançar facilmente (Barney, 1991; Day & Wensley, 1988; Lubit,
2001), sendo que "o que a empresa quer é criar uma situação onde a sua
posição de recursos dificulte directa ou indirectamente que outros a
ultrapassem" (Wernerfelt, 1984, p. 173).
Harlow (2008, p. 148) refere uma frase de Peter Drucker que salienta a
importância do conhecimento para um desempenho sustentável das empresas:
"O conhecimento tornou-se o recurso económico chave e dominante e talvez o
única fonte de vantagem competitiva". A actual realidade dos mercados faz
perceber a importância das empresas reterem conhecimento, para sustentarem as
suas vantagens competitivas. Segundo Nonaka (1991), numa economia onde a única
certeza é a incerteza, a única fonte duradoura de vantagem competitiva assenta
no conhecimento que, posteriormente, se poderá converter em capital financeiro
(Gummesson, 1999).
O conceito de conhecimento, foi sugerido inicialmente por Nonaka e Konno (1998,
p. 40) pelo conceito de "ba" e que significa "lugar", ou
seja, a criação do conhecimento dá-se num "lugar onde emergem
relações" e que pode ser físico, virtual, mental ou qualquer combinação
entre estes, desde que se traduza numa plataforma de criação de conhecimento
individual/colectivo avançado. Para Tiwana (2000, p. 35) define-se como uma
mistura de fluxos, experiências contextuais, valores, informação situacional,
experiência e forte intuição que permite trabalhar no sentido de evoluir, criar
e incorporar novas experiências e informação. Este conhecimento pode encontrar-
se em documentos e repositórios mas também em rotinas, processos, práticas e
normas organizacionais.
Leonard and Sensiper (1998) consideram que a informação que é relevante e
accionável se baseia, pelo menos parcialmente, na experiência, o que significa
que o conhecimento é um subconjunto de informação, subjectivo, ligado a um
comportamento que incluí elementos tácitos obtidos pela experiência. Assim, o
conhecimento é organizado pelo fluxo de informação, ao ser relacionado com a
acção humana (Nonaka, 1994).
O conhecimento tácito é o único recurso desenvolvido no intelecto, competências
e experiência dos recursos humanos de uma empresa e por isso, Droege and
Hoobler (2003) consideram-no em vantagem relativamente conhecimento codificado,
na medida em que deriva do capital intelectual e humano e fornece os atributos
necessários a uma vantagem competitiva (Droege & Hoobler, 2003; Lubit,
2001; Teece, 1998). É o reconhecimento de que a criação de novo conhecimento
não consiste, apenas, no processamento de informação objectiva, mas também de
escutar ideias, geralmente subjectivas, intuições individuais dos colaboradores
e torná-lo disponível para testar e utilizar pela empresa como um todo (Lubit,
2001; Nonaka, 1991).
Ao encontrar-se distribuído amplamente por todos os que o detêm, torna-se um
desafio para as empresas, no sentido de fazer com que todos o verbalizem,
maximizem as suas contribuições e as disponibilizem aos restantes permitindo a
uma empresa deter competitividade (Kikoski & Kikoski, 2004; Tiwana, 2000).
Um clima de abertura e confiança entre todos os membros da empresa é
considerado por Alwis & Hartmann (2008) condição básica para que o
conhecimento tácito seja criado e partilhado através de um compromisso e
sentimento de identidade (Ballantyne, 2004; Lubit, 2001; Nonaka, 1991; Ulrich,
1998).
O conhecimento explícito é considerado por Kikoski & Kikoski (2004)
adequado a situações de estabilidade, conhecidas, lineares e previsíveis e para
o planeamento a longo prazo, que não ocorrem na era actual, onde a envolvente é
turbulenta, não-linear e obriga a uma maior atenção a todas as condições e
mudanças competitivas a nível externo e por isso menos conhecidas. Por isso,
apesar do conhecimento explícito continuar a ser considerado importante para a
gestão e para as empresas, não se mostra suficiente, porque "as
organizações não conseguem mais contar apenas com o conhecimento explícito para
obterem uma vantagem competitiva" (p. 64).
A vantagem competitiva tem cada vez mais que se basear num conhecimento, que
ainda não é conhecido e proporcionar condições para tornar possível a sua
criação, porque é possível que cada indivíduo saiba mais do que consegue dizer
(Kikoski & Kikoski, 2004). Existe um vasto reservatório de conhecimento
pessoal que fica por dizer, um conjunto de experiências, pressupostos
desarticulados e pensamentos inconscientes com todas as inferências que advêm
deles, que emergem da mente humana e permite criar uma aprendizagem para os
outros que o seguem e à criatividade essencial à inovação e habilidade
estratégica necessárias, na era do conhecimento (Alwis & Hartmann, 2008;
Hubert, 1996; Kikoski & Kikoski, 2004). Pelo que, a colaboração que o
conhecimento tácito encoraja, pode originar uma quantidade superior de mudanças
no conhecimento, do que as associadas à gestão de conhecimento explícito
(Harlow, 2008).
Os recursos derivados das relações e do intelecto fornecem informações às
empresas que permitem antecipar acções ou adequá-las para a criação de valor,
porque são obtidas nas interacções com clientes, fornecedores e parceiros e
devem ser transferidas para uma maior compreensão das mudanças a serem
efectuadas. Só assim se consegue identificar oportunidades que, posteriormente,
se podem converter em valor e resultados possíveis de reaplicar na actividade e
manter a oferta de valor superior traduzida numa melhor posição de mercado e
melhores resultados financeiros (Srivastavaet al., 2001).
O know-how e mais precisamente as competências dos colaboradores são apontados
como factores de diferenciação (Teece, 1998) e com maior probabilidade de
sustentarem a criação de valor (Srivastavaet al., 2001). O capital intelectual,
principalmente o capital humano, de uma empresa torna-se um obstáculo à fácil
imitação, altera a detenção de uma vantagem competitiva pelos activos
tradicionais e de um conhecimento amplamente conhecido (Hubert, 1996; Lubit,
2001; Tiwana, 2000). Por isso, se um empregado abandona a empresa o
conhecimento individual desaparece ou diminui o seu armazenamento (Droege &
Hoobler, 2003; Gummesson, 1999).
Geralmente, os colaboradores com maior nível de capital intelectual são,
geralmente, os que lidam directamente com os clientes e regra geral,
transitórios, pouco comprometidos com a empresa e sem competência para
responder às questões colocadas pelos clientes (Ulrich, 1998). No entanto, o
capital intelectual é o único activo que valoriza na empresa, logo deve ser
convertido em valor (Ulrich, 1998) através de um processo, que Cohen &
Backer (1999) consideram de arte (pela natureza intuitiva e inexacta) e ciência
(um processo lógico com outputs bem definidos).
Com base nos aspectos salientados, pode verificar-se que o conhecimento que é
detido pelos colaboradores é parte do capital intelectual de uma empresa e por
isso deve ser considerado um activo valioso (Anderson & Robertson, 1995),
pela capacidade que demonstra para sustentar uma vantagem competitiva
(Ballantyne, 1997; Bitner et al., 1994; Grönroos, 2000).
3. Conhecimento tácito vs Conhecimento explícito
Conhecimento tácito e conhecimento explícito apesar de serem apresentados como
distintos e limites de um intervalo, segundo (Alwis & Hartmann, 2008) são
antes limites de um contínuo, no qual se consideram domínios distintos. A
complementaridade de ambos é essencial para a criação de conhecimento, dado que
o conhecimento explícito sem as compreensões tácitas depressa perde o seu
significado, o que indica que o novo conhecimento começa com o indivíduo e,
posteriormente, é transformado em conhecimento organizacional de importância
para a empresa como um todo (Alwis & Hartmann, 2008; Nonaka, 1991)
Segundo Nonaka (1991) tornar o conhecimento pessoal disponível a outros, de
forma contínua e a todos os níveis da organização, não é mais do que convertê-
lo em conhecimento explícito, que ao ser formal e sistemático é mais facilmente
comunicado e partilhado e oposto ao carácter altamente pessoal, difícil de
formalizar e por isso difícil de comunicar aos outros, que está subjacente ao
conhecimento tácito.
Este processo desenvolve-se, no que Nonaka (1991, 1994) designa por espiral de
interacção dinâmica entre os dois conhecimentos, onde as fases de combinação -
externalização (converter conhecimento tácito em explícito) e internalização
(converter conhecimento explícito em tácito) - são críticas na criação de
conhecimento. É exigido um envolvimento mais activo do indivíduo, pelo que
devem ser apoiados os indivíduos criativos e promovidas condições para que eles
criem conhecimento, sabendo que as pessoas adquirem conhecimento tácito quando
observam e/ou participam numa determinada situação e vêm como as suas acções e
as acções dos outros contribuem para o resultado (Lubit, 2001). Assim, quando
as pessoas trabalham, cooperam, partilham e difundem o conhecimento através das
interacções sociais, promovem a sua criação e divulgação pela empresa (Brown
& Duguid, 1998).
Assim, Brown & Duguid (1998) referem-se a esse conhecimento implícito nas
mentes dos indivíduos e transmitido entre as diferentes pessoas como o know-how
e o conhecimento facilmente transferido e por isso difícil de proteger como
know-what. O know-how diz respeito à capacidade de aplicar o know-what e por
isso importante para tornar o conhecimento accionável e operacional, sendo que
grande parte dele resulta de experiências e pontos de vista tácitos.
Tendo em conta estas considerações, vários autores (Castillo, 2002; Harlow,
2008; Kikoski & Kikoski, 2004; Nonaka & Konno, 1998; Teece, 1998;
Tiwana, 2000) apresentaram distinções e configurações para os dois tipos de
conhecimento.
O conhecimento tácito é considerado uma forma de conhecimento verdadeiramente
desarticulada que resulta de uma aprendizagem implícita e que se pode manter
adormecido na mente dos indivíduos se não for estimulada a sua partilha e
divulgação (Castillo, 2002). Difícil de expressar, replicar e compreender
completamente, representa o que as pessoas sabem mas não conseguem expressar
completamente sem terem a experiência correspondente (Grant, 1996; Nonaka &
Konno, 1998; Teece, 1998; Tiwana, 2000). Nonaka & Konno (1998) enquadram
aqui, os pressupostos individuais, as intuições e os palpites, que se encontram
profundamente enraizados em acções e experiência individuais, ideais, valores
ou emoções. Associa-lhe uma dimensão técnica que diz respeito à capacidade
pessoal, designada por know-how e uma dimensão cognitiva, fundamentada nos
modelos mentais que estão enraizados, que se tomam por garantidos e que
influenciam a forma como se percebem as coisas.
Numa empresa, o conhecimento tácito compõe-se do colectivo de mentes de todos
os indivíduos e assume-se num conjunto único de crenças e pressupostos,
valores, princípios e "formas de fazer as coisas", que influenciam a
forma como ela vê e reage ao meio envolvente e, ainda que grande parte
permaneça implícita, tem grande impacto nas percepções e comportamentos dos
seus membros (Hubert, 1996; Nonaka & Konno, 1998).
A transmissão do conhecimento tácito é por isso dispendiosa e lenta, devido às
ambiguidades, aos erros de percepção e à confusão que lhe são característicos
(Teece, 1998), mas que podem ser resolvidos, na sua maioria, num contacto face-
to-face e com base nos sentimentos. Para além de que só se observa pela sua
aplicação e é difícil de apropriar pelo seu carácter privado e individual
(Grant, 1996; Kikoski & Kikoski, 2004; Nonaka & Konno, 1998).
Por sua vez, o conhecimento explícito é mais facilmente transferido sem
contacto directo e por manuais que passam de uns para os outros, através de
mensagens codificadas e menos ambíguas (Teece, 1998). Podem encontrar-se formas
de explicitar o conhecimento através simbolismos especiais ou comportamentos
peculiares no trabalho, que fazem compreender o significado implícito numa
multiplicidade de situações e que permitem antecipar a sua compreensão (Hubert,
1996).
Assim, o conhecimento explícito caracteriza-se por algo possível de codificar,
palavras, números, livros e manuais, procedimentos, publicações, armazenado em
bases de dados, expresso de alguma forma escrita ou não-escrita (Ballantyne,
2004; Hubert, 1996; Nonaka & Konno, 1998; Tiwana, 2000), transferido formal
e sistematicamente, apropriado com alguma facilidade (Grant, 1996; Nonaka &
Konno, 1998) e por isso economicamente transmissível (Teece, 1998).
Por estas características, a diversidade de indivíduos é importante e tem
responsabilidades diferentes para a geração de diferentes perspectivas de
negócio e de conhecimento (Hubert, 1996; Nonaka, 1991), que deve ser
transferido para um entendimento e trabalho em conjunto no sentido de
realização dos objectivos comuns. Grant (1996) considera esta acção na
agregação de conhecimentos individuais a obtenção de um "conhecimento
comum" ou compreensão mútua (Harlow, 2008; Nonaka, 1991), onde a gestão de
conhecimento pode criar valor através do balanceamento activo do know-how,
experiência e capacidade crítica existentes na empresa e fora dela (Nonaka,
1991, 1994; Tiwana, 2000).
4. Marketing Relacional e os colaboradores
A alteração das regras de competição no contexto da era digital e do
conhecimento, aliada às mudanças do comportamento dos consumidores, tornaram a
fidelização uma prioridade estratégica, para a qual, acções isoladas podem não
resultar enquanto não desenvolverem orientações estratégicas que promovam a
lealdade, através de um MR bem definido e o desenvolvimento e manutenção de
relações duradouras, proveitosas e satisfatórias para as duas partes (Marques,
2004).
O MR traduz-se numa orientação de marketing onde a separação entre cliente e
empresa é diluída e tudo é organizado para que a empresa se torne mais próxima
dos seus clientes (Gordon, 1998). Grönroos (1999) considera que apenas essa
proximidade leva a uma relação de confiança e faz com que a transacção ocorra
automaticamente. Assim, o conceito básico do marketing é a relação em si mais
do que a transacção única que ocorre no relacionamento (Grönroos, 1999, p.
329), o que implica uma noção de longo prazo e de colaboração entre as partes.
Os 4P's são instrumentos a ser considerados, mas outros recursos e actividades
necessárias e relacionadas com eles devem ser adicionados, onde o pessoal é uma
parte integrante, com as suas atitudes, comportamentos e forma de fazer as
coisas que são imperativos para manter e melhorar as relações (Grönroos, 1996).
A manutenção de relações de qualidade, rentáveis e duradouras como a chave do
sucesso para a implementação do MR depende da construção de alguns elementos.
Ao longo da literatura vários autores sugeriram alguns, onde a confiança mútua
ou as competências e o compromisso afectivo se encontram lado a lado (Anderson
& Narus, 1990; Anderson & Weitz, 1989; Barnes, 1997; Beatty et al.,
1996; Berry, 1995; Crosby et al., 1990; Doney & Cannon, 1997; Gummesson,
1999; Gundlach & Murphy, 1993; Gwinner et al., 1998; Heffernan, 2004;
Hennig-Thurau & Klee, 1998; Holm et al., 1999; Izquierdo & Cillan,
2004; Jih et al., 2007; Lee & Trim, 2006; Lewin & Johnston, 1997; Liang
& Wang, 2008; Lindgreen, 2001; Marques, 2004; Martín et al., 2004; Morgan
& Hunt, 1994; Mota & Freitas, 2008; Murphy et al., 2007; Priluck, 2003;
Rao & Perry, 2002; Santos & Fernandes, 2008; Selnes & Sallis, 2003;
Singh, 2003; Smith, 1998; Verhoef & Langerak, 2002; Vieira, 2003).
Para solidificar a confiança e compromisso e reduzir a sensação de incerteza e
de vulnerabilidade ao entrar numa relação ou na aquisição de um dado produto ou
serviço, pode ser promovida uma comunicação aberta (Ambler & Styles, 2000;
Anderson & Narus, 1990; Anderson & Weitz, 1989; Baker et al., 1999;
Dwyer et al., 1987; Gummesson, 1999; Lewin & Johnston, 1997; Smith, 1998;
Vieira, 2003), a responsabilidade (Gundlach & Murphy, 1993), a amizade
(Beattyet al., 1996), a lealdade à ligação emocional e estrutural (Gwinneret
al., 1998; Liang & Wang, 2008; Marques, 2004; Mota & Freitas, 2008;
Sirdeshmukhet al., 2002), a satisfação (Beattyet al., 1996; Holmlund &
Kock, 1996; Lemonet al., 2002; Lindgreen, 2001; Mota & Freitas, 2008;
Priluck, 2003; Reynolds & Arnold, 2000; Vieira, 2003), a criação de
benefícios mútuos (mutualidade) (Bennett, 1996; Grönroos, 2000; Holmet al.,
1999; Kalwani & Narayandas, 1995; Worthington & Home, 1996), a partilha
de valores e interdependência (Anderson & Narus, 1990; Jihet al., 2007;
Marques, 2004), o conhecimento (Lee & Trim, 2006; Moorman et al., 1992), a
cooperação, colaboração e coordenação (Anderson & Narus, 1990; Bakeret al.,
1999; Dwyeret al., 1987; Gummesson, 1999; Izquierdo & Cillan, 2004; Lewin
& Johnston, 1997; Marques, 2004; Rao & Perry, 2002; Vieira, 2003;
Worthington & Home, 1996), a equidade (Gundlach & Murphy, 1993; Lewin
& Johnston, 1997), a segurança (Vieira, 2003), a orientação para o cliente
(Beattyet al., 1996; Vieira, 2003) e a transparência (Murphyet al., 2007).
Sendo o compromisso um intenso desejo de manter uma relação válida (Moormanet
al., 1992, p. 316), solidificado pela confiança associada ao sentido de
integridade e de redução de incerteza, salienta-se a realização de esforços
sociais, relacionais e estruturais, mais do que por esforços financeiros (Liang
& Wang, 2008; Martínet al., 2004; Mota & Freitas, 2008; Reynolds &
Beatty, 1999; Rousseauet al., 1998) para solidificar as relações através da
partilha de valores, informação e conhecimento mútuos (Gummesson, 1999; Jihet
al., 2007; Rao & Perry, 2002; Voss & Voss, 1997).
Assim, criar interdependência através da confiança e do compromisso, pode-se
limitar algumas das ocorrências num relacionamento: os efeitos da assimetria de
posições (Anderson & Weitz, 1989; Izquierdo & Cillan, 2004; Thompson et
al., 2000), a resolução mais eficaz e eficiente de conflitos (Heffernan, 2004;
Holmet al., 1999; Holmlund & Kock, 1996; Izquierdo & Cillan, 2004;
Morgan & Hunt, 1994; Singh, 2003; Thompsonet al., 2000) e identificar e
satisfazer necessidades e expectativas através de uma oferta melhorada e
adaptada (Bakeret al., 1999; Bennett, 1996; Gordon, 1998; Grönroos, 1994; Sheth
& Parvatiyar, 1995), reduzindo-se os custos de erros desnecessários
(Gengler & Leszczyc, 1997; Lee & Trim, 2006; Reichheld & Sasser,
1990). Desta forma, as partes unem-se e são criadas barreiras ao abandono da
relação (Doney & Cannon, 1997; Grönroos, 2000; Hunt et al., 2006; Hunt
& Morgan, 1994; Izquierdo & Cillan, 2004; Morgan & Hunt, 1994;
Ulrich, 1989).
As interacções e a comunicação (Anderson & Narus, 1990; Boyle et al., 1992)
que se estabelecem ao longo do tempo é que vão promover uma abertura e amizade
entre as partes, para a troca de informações, expectativas, valores, normas e
opiniões (Ambler & Styles, 2000; Bansal, 2004; Crosbyet al., 1990; Doney
& Cannon, 1997; Gummesson, 1999; Levitt, 1983; Price & Arnould, 1999;
Rao & Perry, 2002; Thompsonet al., 2000; Voss & Voss, 1997), onde os
clientes são envolvidos como co-produtores. Assim, reconhecem o compromisso da
empresa para com eles, ao mesmo tempo sentem-se comprometidos e confiantes
relativamente à empresa, sendo uma grande garantia de lealdade.
Com compromisso e confiança na relação, derivam demonstrações intensas,
duradouras, leais e dedicadas ao comportamento protector da empresa, ainda que
tenham ocorrido experiências menos positivas, (Holmet al., 1999; Mitchell,
2000; Morgan & Hunt, 1994; Sheth & Parvatiyar, 2000) e sentimentos de
equidade (Thompsonet al., 2000), numa relação mútua e vantajosa para ambas as
partes (Bennett, 1996; Grönroos, 2000; Haldet al., 2009; Holmet al., 1999;
Levitt, 1983).
Assim, os momentos de interacção passados, podem desenvolver a confiança de
bons resultados em futuras interacções (Heffernan, 2004; Hennig-Thurau &
Klee, 1998) e também reforçar a criação de compromisso emocional e afectivo
(Anderson & Weitz, 1989). A afectividade pode substituir acordos
contratuais e aumentar a eficiência na interacção, devido a uma redução dos
custos de transacção (Anderson & Weitz, 1989; Hennig-Thurau & Klee,
1998) e muitas vezes, à desvalorização, por parte dos clientes, de uma falha
nos serviços (Mattila, 2001; Priluck, 2003; Verhoef & Langerak, 2002; Yi
& La, 2004; Zeithaml et al., 1996).
Desenvolvem-se sentimentos de afeição, intimidade, apoio social, lealdade e
reciprocidade e oportunidades de desenvolver estruturas que, segundo Price
& Arnould (1999), podem afectar a formação da relação ao promoverem uma
abertura recíproca que facilita a compreensão das normas partilhadas (Bansal,
2004; Price & Arnould, 1999). As interacções, são por isso designados por
Singh (2003) como "momentos de verdade" sobre a construção ou não de
uma relação, onde a sua gestão e controlo pode ajudar a melhorar a percepção
global da qualidade do serviço.
O diálogo é considerado, por Varey & Ballantyne (2005), como a forma ideal
de interacção, pelas implicações práticas que daí podem surgir, no sentido de
conhecer e compreender as necessidades e expectativas dos clientes, de forma
clara (Ballantyne, 2004; Bennett, 1996; Lesseret al., 2000) e produzir
exactamente o que ele quer e está disposto a pagar (Thompsonet al., 2000). Por
isso, o diálogo e o contacto pessoal entre as partes, devem gerar partilha de
informações, criar conhecimentos entre as partes envolvidas e demonstrar como o
cliente percebe a criação de valor e como dirige as suas acções e decisões,
para que seja possível alinhar com sucesso todos os recursos da empresa, com o
processo interno do cliente (Fernandes & Proença, 2008; Lesseret al., 2000;
Ravald & Gronroos, 1996).
A confiança mútua possível de alcançar pode ajudar a interacção se for
realizada, constantemente, "a combinação de julgamentos feitos por uma das
partes em relação à outra" (Ballantyne, 2004, p. 120). Neste contexto, é
possível reduzir conflitos, partilhar conhecimento, compreender pontos de vista
e aumentar a disponibilidade para criar novas perspectivas, ideias e
experiências (He et al., 2009; Selnes & Sallis, 2003; Varey &
Ballantyne, 2005).
A percepção de qualidade pelo cliente, por sua vez, é considerado um elemento
mediador do grau de satisfação e retenção do cliente (Hennig-Thurau & Klee,
1998; Reichheld & Sasser, 1990; Smith, 1998) e ocorre quando a oferta
satisfaz as necessidades do cliente relativamente à relação, porque caso
contrário, sem uma melhoria contínua, os erros nos serviços podem levar o
cliente a não voltar (Crosbyet al., 1990; Reichheld & Sasser, 1990). Assim,
a percepção de qualidade global, a confiança e o compromisso apresentam-se
elementos que favorecem o desenvolvimento de relações de qualidade e antecipar
interacções futuras (Crosbyet al., 1990).
Apesar de tudo isto, é o cliente quem determina o grau de envolvimento que
pretende com a empresa (Fernandes & Proença, 2008; Grönroos, 1997). Por
isso, Morgan e Hunt (1999, p. 281) consideram que o MR deve ser praticado,
apenas quando "contribui para a estratégia de marketing da empresa
alcançar uma vantagem competitiva - uma vantagem competitiva sustentável"
e que, principalmente "lhe permite produzir eficiente e/ou eficazmente uma
oferta que tenha valor para algum ou alguns segmentos de mercado" (Hunt
& Morgan, 1995, p. 6). O desafio está na capacidade das empresas
identificarem correctamente clientes vantajosos (Gordon, 1998; Kumar et al.,
2003) e alimentar as relações com eles.
Clientes vantajosos são os que apresentam maior intenção relacional, ao criarem
uma ligação emocional e confiança, porque se disponibilizam a pagar um preço
superior para manterem a relação, (Haldet al., 2009; Mattila, 2001; Mitchell,
2000; Reichheld & Sasser, 1990; Reichheld & Teal, 1996; Verhoef &
Langerak, 2002; Zeithamlet al., 1996), permitem reduzir custos devido à
identificação que têm com a empresa e menor necessidade de informação e
realizam publicidade boca-a-boca positiva, que ajuda à tomada de decisão de
clientes potenciais (Bansal, 2004; Beattyet al., 1996; Gildin, 2003; Gremler
& Brown, 1999; Gwinneret al., 1998; Kumaret al., 2003; Mitchell, 2000;
Reichheld & Sasser, 1990; Reichheld & Teal, 1996; Reynolds &
Beatty, 1999; Verhoef & Langerak, 2002; Yi & La, 2004; Zeithamlet al.,
1996).
Nesta nova visão do marketing, os colaboradores apresentam um papel importante
para a criação de uma confiança mútua e das percepções de valor dos clientes
(Bitner, 1990; Lindgreen & Crawford, 1999; Mota & Freitas, 2008),
porque são eles que demonstram mais facilmente a sua capacidade de experiência
e partilham valor e intenções, ao contactarem directamente com o cliente (Doney
& Cannon, 1997). As relações entre os colaboradores e os clientes, bem como
a sua gestão eficiente podem fornecer informações sobre as necessidades e
expectativas dos clientes, permitir desenvolver uma oferta mais eficaz (Bansal,
2004; Gaurav, 2008; Hoots, 2005; Reichheld & Sasser, 1990; Tiwana, 2000) e
melhorar continuamente os serviços, através do feedbackfornecido pelos clientes
(Zeithamlet al., 1996).
Gummesson (1991) sugere, nesse sentido, um novo conceito para os colaboradores
responsáveis pelo marketing designando por gestores de marketing a tempo
inteiro (GMTI) os que se encontram directamente relacionados com a função de
marketing e por gestores de marketing em part time (GMPT) os que estão
indirectamente relacionados com a função de marketing. Dado que os gestores
GMPT existem em maior número, devido à impossibilidade dos GMTI, estarem no
lugar certo, no momento certo, a contactar com o cliente certo, aumenta a sua
importância no bom desempenho do marketing. Torna-se legítimo e imperativo que
todos influenciem as relações com os clientes e estejam envolvidos nessa
consciência de marketing (Christopher et al., 1991; Grönroos, 1994, 1999;
Gummesson, 1999), para que o cliente percepcione a qualidade ao longo de todo o
processo (Christopheret al., 1991; Grönroos, 1994).
Atrair colaboradores com potencial, desenvolver as suas competências e
conhecimento para a criação de um clima organizacional adequado, pode permitir
à empresa alcançar mais depressa os resultados pretendidos. A constante rotação
de pessoal obriga o cliente a lidar com um colaborador diferente, ou
inexperiente, de cada vez que se desloca à empresa e pode afectar negativamente
a qualidade do serviço (Berry, 1995). Por isso, a informação útil sobre os
clientes não pode ficar retida numa única pessoa, sem possibilidade de se
converter em conhecimento, para evitar que o cliente sinta que lida com
entidades diferentes dentro de uma mesma empresa (Day, 2003) e garantir que
ainda que seja transferido para outro colaborador vai ser mantido o nível de
serviço (2002).
Assim, incentivar os colaboradores a divulgarem o conhecimento e a permanecerem
na empresa e a externalizarem o conhecimento que obtêm na sua actividade, pode
ajudar a fomentar retenção de clientes rentáveis à empresa e fazer melhores
investimentos no pessoal (Berry, 1995; Nonaka, 1991). Promove-se o
desenvolvimento de capital intelectual dado que colaboradores sem conhecimento,
capacidades ou motivação, não podem apresentar um bom desempenho, nem permitem
a criação de capital financeiro (Grönroos, 2000; Gummesson, 1998; Harwood &
Garry, 2006; Kumaret al., 2003).
Esta nova orientação cultural das empresas é definida por Bell et al. (2004, p.
113) como um processo de iniciação, manutenção e desenvolvimento de relações
entre empregados, seus gestores e organização, para a criação de valor para os
clientes designado por marketing interno, onde as reclamações dos clientes
funcionam como feedback externo, para uma aprendizagem quer individual, quer
organizacional. A motivação intrínseca leva os empregados a envolverem-se em
relações, porque reconhecem que estão a ser valorizados pelo seu desempenho
(Boles et al., 2000).
Pode dizer-se que, se os colaboradores se sentirem bem e motivados na sua
tarefa, possivelmente, a empresa conseguirá ter clientes satisfeitos e
motivados e colaboradores e clientes dispostos a fornecerem informações
essenciais à construção de uma base de dados que potencie a criação de valor e
estabelecimento de um marketing interactivo (Bakeret al., 1999; Ballantyne,
2000; Guenzi & Pelloni, 2004; Juttner & Wehrli, 1994; Lindgreen &
Crawford, 1999; Mattila, 2001; Mitchell, 2000; Reynolds & Arnold, 2000).
A prática do marketing interno pode promover acções que garantam, a todos os
níveis da empresa, colaboradores motivados, comprometidos e informados, numa
orientação para o cliente (Beattyet al., 1996; Bennett, 1996; Boedeker, 1997;
Reichheld & Sasser, 1990; Singh, 2003) e na realização de esforços
relacionais (Liang & Wang, 2008), criando um sistema colectivo de valores
(Jihet al., 2007). O estabelecimento de relações mutuamente orientadas ou a
manutenção e o fortalecimento de relações já existentes, pela confiança
interna, vai reflectir-se na criação de confiança com os clientes (Lee &
Trim, 2006).
A promoção da satisfação e retenção dos bons funcionários pode evitar que
clientes leais a determinados colaboradores, migrem com eles no caso da sua
saída (Christopheret al., 1991; Grönroos, 2000; Gummesson, 1999). Mesmo em
situações de grande rotatividade dos empregados pode ser alcançada uma
qualidade superior (Ballantyne, 1997; Boughton et al., 1996), se for colocada
atenção no conhecimento que os colaboradores podem levar e que foi obtido nas
interacções (Bendapudi & Leone, 2002; Droege & Hoobler, 2003).
Por isso, os momentos de contacto entre colaboradores e clientes, devem ser uma
preocupação das empresas, para as estratégias de retenção, porque a confiança
desenvolvida com o colaborador aumenta a probabilidades dele reconhecer os
desejos e intenções dos clientes, aumentando a sua satisfação e sua retenção
(Doney & Cannon, 1997; Guenzi & Pelloni, 2004; Harrison-Walker &
Coppett, 2003). No entanto, aumenta a dependência da empresa relativamente aos
colaboradores e o risco de perder os clientes se eles saírem (Guenzi &
Pelloni, 2004; Mota & Freitas, 2008). O risco vai ser tanto maior, quanto
maior for a importância do conhecimento tácito, para manter as operações e
gerar novo conhecimento (Droege & Hoobler, 2003).
Por isso as empresas não devem apoiar estas relações, mas antes desenvolver
acções para reter os funcionários motivados e satisfeitos (Ballantyne, 2004;
Branch, 1998) para que desempenhem a sua função de forma empática e
satisfatória evitando a migração dos clientes com a sua saída (Christopheret
al., 1991; Grönroos, 2000; Gummesson, 1999) e transfiram a confiança que obtêm
nos colaboradores para a empresa (Boughtonet al., 1996; Doney & Cannon,
1997; Guenzi & Pelloni, 2004). Um colaborador satisfeito proporciona
clientes satisfeitos (Ballantyne, 2000; Beattyet al., 1996; Berry &
Parasuraman, 1991; Kandampully & Duddy, 1999; Lindgreen & Crawford,
1999; Piercy, 1996; Reichheld & Teal, 2001; Reynolds & Arnold, 2000) e
isso nota-se na garantia que os clientes têm com as recomendações feitas por
colaboradores, que demonstram a sua satisfação com a sua empresa dando-lhe
garantia (Reichheld & Teal, 1996)
Converter o conhecimento tácito, obtido com a experiência dos colaboradores, em
explícito e fazendo-o circular através de todos que possam beneficiar, pode
salvaguardar a perda de capital humano (Anderson & Robertson, 1995;
Ballantyne, 2004; Droege & Hoobler, 2003). A transferência, acumulação e
retenção de conhecimento sobre o cliente, ao longo de toda a empresa, torna
possível criar um grande "armazém" de conhecimento e influenciar a
percepção do cliente relativamente à criação de valor na relação e à inovação
para satisfazer as suas necessidades (Nätti & Still, 2007).
Assim, seja para assegurar a reutilização de boas práticas comprovadas (Anguset
al., 1998; Lesseret al., 2000), para evitar repetição de erros, ou simplesmente
para capturar o que os colaboradores aprenderam sobre fornecedores, clientes ou
concorrentes, a informação deve ser convertida em conhecimento accionável
(Anguset al., 1998) co-produzido, constantemente actualizado pelas experiências
relacionais e interacções estabelecidas (Ballantyne, 2004).
Uma cultura de comunicação aberta, com recurso à tecnologia como instrumento de
ajuda para partilha e armazenamento de informação, onde os colaboradores sentem
que devem cooperar com a empresa, trocam informação entre si, promovem a
renovação de conhecimento, confiam na empresa e são seus confidentes, pode
ajudar a capturar informação sobre o cliente, (Ballantyne, 1997; Parvatiyar
& Sheth, 2001; Ulrich, 1989).
As tecnologias vieram tornar possível compilar, armazenar, analisar e
desenvolver dados, conhecimento tácito que vai e vem, para darem mais
informação disponível e mais rapidamente a um maior número de pessoas e
possível de utilizar pela empresa numa orientação voltada para o cliente
(Ballantyne, 2000; Bejou, 1998; Berry, 1995; Coviello et al., 2002; Grönroos,
2000; Mitchell, 2000; Tiwana, 2000). No entanto, não substituem por completo as
fontes tradicionais de informação, onde o contacto interpessoal é exigido, tais
como: todo o tipo de relações, vendedores representativos, utilizadores de
produtos, etc., podendo sim, auxiliá-las, para melhorarem a satisfação dos
clientes e a sua percepção de qualidade (Dawes & Rowley, 1998; Deeter-
Schmelz & Kennedy, 2004; Thorbjørnsen et al., 2002).
Neste contexto, os colaboradores assumem um papel dual, no entendimento e
avaliação do que a empresa faz para os clientes externos e na percepção quanto
ao cumprimento das promessas da empresa, daí terem que ser considerados um
activo de valor para a criação de valor e lealdade sustentáveis (Berryet al.,
1994; Dabholkar & Abston, 2008; Reichheld & Teal, 1996). As empresas
devem preocupar-se em saber quanto custa um colaborador, mas acima de tudo
saber quanto é que ele vale, para a rentabilidade final da relação e desempenho
da empresa (Reichheld & Teal, 1996).
Para Ulrich (1989, pp. 25-26) construir o compromisso através dos recursos
humanos não é complicado, muito menos um luxo; é uma condição para o sucesso
do negócio para que consiga ajustar-se apropriada e satisfatoriamente às
necessidades e comportamentos dos clientes, para além de poder antecipar
dilemas no desenvolvimento do serviço, descobrindo uma vantagem competitiva
inexplorada durante muito tempo (Bitneret al., 1994).
Promove-se a perspectiva de que todas as relações internas devem ser geridas
com os clientes externos (Grönroos, 2000; Voima, 1999) e de que o bom ambiente
interno torna-se um antecedente para um marketing externo eficiente. Reflecte-
se na eficácia do marketing relacional, com eficientes acções de marketing
profissional e comunicações de conhecimento, que enriquecem a gestão bem como a
partilha das atitudes e da cultura da empresa (Berry & Parasuraman, 1991;
Grönroos, 2000; Gummesson, 1999)
Este compromisso corporativo, para Lindgreen & Crawford (1999), é a chave
para implementação de um programa de MR, porque uma actuação exemplar dos
colaboradores no processo de renovação de conhecimento, no sentido de uma
aprendizagem colectiva, tornam esse programa difícil de copiar (Ballantyne,
2000). O alinhamento de interesses e desenvolvimento dos colaboradores de
qualidade superior pode permitir às empresas obterem uma vantagem pelos
recursos humanos através de relações próximas justas, seguras e de confiança
(Boxall, 1998; Carmeli & Tishler, 2004), em vez de investirem na obtenção
de outros (Carmeli & Tishler, 2004), fortalecendo relações com base no
valor e lealdade (Tiwana, 2000).
Logo, a gestão de conhecimento nas relações com os clientes é a "arte de
transformar o conhecimento dos clientes numa fonte sustentável de valor para os
clientes, para os negócios e um mecanismo para construir relações duradouras
com eles" (Tiwana, 2000, p. 44). É exigida uma disposição das empresas
para mudarem a sua postura perante os clientes, com base no que eles dizem
sobre eles e o que possam saber sobre eles, através da interacção,
identificação e monitorização de clientes individuais e depois orientar a
oferta para que satisfaça as necessidades desses mesmos clientes (Bendapudi
& Berry, 1997; Tiwana, 2000).
Na perspectiva estratégica presente na interacção pelo diálogo, segundo
Ballantyne (2004) pode constatar-se que o conhecimento específico obtido numa
relação, através do diálogo e das interacções estabelecidas, pode contribuir
para a geração de novo conhecimento, gerar conhecimento comum e criar confiança
mútua entre as partes, promovendo o compromisso e a manutenção de relações
vantajosas.
5. Modelo conceptual para o Turismo Rural
O crescimento da economia de serviços salienta a importância do conhecimento
intelectual, dado que o serviço se baseia em relações de competência e
compromisso dos indivíduos, pela independência com que estabelecem as relações
com os clientes e pelo conhecimento que obtêm (Anderson & Robertson, 1995;
Ulrich, 1998). Esse conhecimento pode ajudar a predizer resultados positivos em
medidas como lealdade do cliente, produtividade e rentabilidade (Ulrich, 1998).
O sector dos serviços, considerado o ponto de partida para a prática do MR,
pelas suas características (Lovelock & Gummesson, 2004; Lovelock &
Young, 1979), torna importante o seu estudo, bem como dos serviços em si, para
a manutenção de uma vantagem competitiva (Grönroos, 1984, 1998, 2000). Perante
isso, as empresas são obrigadas a colocar o cliente no centro da sua atenção e
impede-as de serem insensíveis às suas necessidades (Lovelock & Young,
1979).
A intangibilidade, a heterogeneidade, a simultaneidade entre a produção e o
consumo e a perecibilidade, são bases de distinção apontadas aos serviços por
vários autores (Fisk et al., 1993; Kotler & Armstrong, 2005; Rust &
Chung, 2006). Estas características podem afectar as percepções do cliente e
aumentar o risco de frustração de expectativas, com penalidades graves para a
empresa e suas relações. A intangibilidade faz com que os serviços só possam
ser avaliados após serem vistos, provados, sentidos, ouvidos ou cheirados; a
heterogeneidade subjacente a uma forte dependência do factor trabalho, pode
originar inconsistências e uma qualidade variável; a simultaneidade entre a
produção e o consumo implica a participação activa do consumidor na transacção;
e a perecibilidade e impossibilidade de ser armazenado, torna a oportunidade de
vender o serviço, passageira e reservada ao momento em que o serviço está a ser
prestado.
Assim, estabelecer relações, contactos interpessoais e diálogos, constituem
desafios e oportunidades (Lovelock & Gummesson, 2004; Rust & Chung,
2006) que poderão ser melhorados pelo conhecimento dos colaboradores e algumas
acções podem ajudar a ultrapassar essas ocorrências.
A intangibilidade física pode ser atenuada pela actuação sobre o psicológico do
cliente e da produção do sentimento satisfação ou de modificação dos seus
desejos valorizando o cliente, cumprindo e relembrando as promessas efectuadas
(Levitt, 1981). A heterogeneidade pode ser superada com a prática de um bom
marketing interno para que todos partilhem uma orientação para o cliente e
promovam interacções de qualidade (Kotler & Armstrong, 2005). Na
inseparabilidade, que promove o cliente a co-produtor, a interacção cliente-
colaborador e cliente-cliente é um incentivo à melhoria da qualidade e criação
de valor (Gummesson, 1999). O recurso a sistemas de informação pode diminuir os
riscos associados à perecibilidade, porque permite armazenar informações sobre
o resultado da prestação de serviço e sobre a satisfação do cliente garantindo
bons desempenhos no futuro (Ballantyne, 2000; Tiwana, 2000).
Pelo risco envolvido nos serviços, Berry & Parasuraman (1991) consideram
que, na realidade, os clientes compram quem lhes vende o serviço e avaliam a
qualidade do desempenho pelos momentos de contacto com os colaboradores da
linha da frente (Bellet al., 2004; Boleset al., 2000).
Deste modo, parece clara a importância que uma filosofia de MR pode ter para as
empresas em geral e para as empresas de serviços em particular, dado que
nestas, o serviço é inerentemente mais relacional. Neste sentido, também as
empresas do sector turístico em geral e do turismo rural em particular poderão
beneficiar de uma filosofia de MR. Em Portugal, segundo Pessoa (2008), o
Governo reconheceu o turismo como um sector estratégico para a economia
portuguesa, materializando essa atitude no Plano de Desenvolvimento do Turismo,
que permitirá transformar algumas regiões portuguesas mais desfavorecidas em
destinos turísticos.
O Comité Económico e Social Europeu (CESE) (2006) salienta a contribuição que o
turismo pode dar para o desenvolvimento socioeconómico de zonas em declínio
pelo facto de ser uma indústria potenciadora de emprego estável e de qualidade
e capaz de promover o desenvolvimento económico, social e ambiental quando
desenvolvida de acordo com critérios de sustentabilidade a curto, médio e longo
prazos.
O turismo rural apresenta características muito próprias que afectam
directamente a capacidade de fidelizar os clientes pela empresa. A grande
variedade de oferta de destinos e estabelecimentos, diminui a probabilidade dos
clientes repetirem a visita, daí que seja importante conhecê-los bem,
determinar os requisitos que pretendem ver satisfeitos e tratá-los de forma
individualizada, através das informações que os clientes vão transmitindo
directamente, nos momentos de interacção, aos colaboradores que lidam com eles,
para que os clientes percebam o valor e a diferenciação que a empresa pode
criar, levando-os a revisitar a empresa (Cerro, 2009).
Um cliente fiel, no turismo rural, segundo Cerro et al. (2010, p. 235) "é
aquele que recomenda a empresa o destino e/ou alojamento e/ou repete a
visita", o que demonstra que é um cliente satisfeito com a qualidade, o
serviço e o tratamento pessoal. Factores como atenção personalizada,
proximidade, tratamento directo, qualidade, cumprimento das expectativas,
satisfação, tratamento personalizado, relação próxima e familiar, predisposição
para uma informação aberta, hospitalidade do tratamento e do local, são
factores emocionais, apontados pelos autores, que podem contribuir para a
construção da confiança e compromisso afectivo e promover a lealdade ao
relacionamento.
O nível de diferenciação poderá recair pela utilização do conhecimento obtido,
pelos colaboradores, em visitas anteriores através das TIC que, segundo
(Requena et al., 2008), podem permitir utilizar o know-how da empresa e
converter o conhecimento tácito em oportunidades de inovação mais eficiente.
Para o CESE (2006) o recurso ao uso da WEB pelas empresas turísticas de grande,
média e pequena dimensões e, principalmente pelas últimas, é um instrumento
importante para se promoverem e situarem no mercado.
Esta forma de actuar pode permitir uma postura mais proactiva e inovadora das
empresas de turismo e principalmente para as de pequena dimensão (CESE, 2006;
Requena et al., 2007) que não têm tanta capacidade para criar ligações
financeiras e estruturais. As ligações sociais, para desenvolver e manter
relações personalizadas, podem estar mais acessíveis pela proximidade e
acessibilidade ao cliente e podem evitar que a saída de um colaborador possa
representar a saída do cliente (Harrison-Walker & Coppett, 2003).
Assim, para que a empresa possa desenvolver uma vantagem competitiva, tem que
valorizar o conhecimento obtido e detido pelas diferentes partes envolvidas nas
interacções (Doyle, 1995) para futura aplicação por outros colaboradores e para
o desenvolvimento de estratégias de diferenciação e customização e fidelização
de clientes.
Neste contexto e face ao que foi exposto em relação ao MR, ao conhecimento e às
características das empresas de turismo rural, é proposto um modelo conceptual
(Fig. 1) onde é evidenciado o papel do conhecimento tácito como fonte de
vantagem competitiva para manutenção de relacionamentos.
Fig. 1: Proposta de um modelo conceptual
Considerando as dimensões de qualidade de uma relação de Hennig-Thurau &
Klee (1998) e os factores para manutenção de relações duradouras e vantajosas,
apresentados anteriormente, verifica-se que a confiança e o compromisso
afectivos e emocionais são os mais apontados, como garantias de lealdade pelos
clientes.
Com a obtenção da confiança e compromisso dos clientes é reduzida a
vulnerabilidade e o risco de eles abandonarem a relação e aumenta a partilha de
informação, necessária à geração de conhecimento, nos momentos de interacção
com os colaboradores. Assim, o conhecimento tácito, compreendido pela
capacidade cognitiva do colaborador, pela sua competência, experiência e pelo
estabelecimento de uma interacção empática entre colaborador/empresa e cliente,
pode permitir a satisfação de factores emocionais e uma melhor identificação
das necessidades e expectativas dos clientes (Relação 1).
A identificação das necessidades e das expectativas permite à empresa
desenvolver acções criativas, com base nas informações dos colaboradores, que
podem contribuir para melhor as satisfazerem (Alwis & Hartmann, 2008). O
cliente ao sentir-se único, valorizado vai percepcionar mais valor e qualidade
do tratamento e do serviço que obtém e na relação que estabelece com a empresa
(Relação 2). A forma criativa com que a empresa utiliza a informação obtida, no
desenvolvimento da actividade, pode converter-se numa vantagem competitiva
inimitável, porque é obtida através da experiência, competência e capacidades
(conhecimento tácito) dos seus colaboradores, ou seja do seu capital humano,
parte do capital intelectual, considerado como a única forma de manter uma
vantagem competitiva sustentável (Day & Wensley, 1988; Droege &
Hoobler, 2003; Lubit, 2001; Teece, 1998).
Desta forma o cliente, ao ver que as suas necessidades estão a ser garantidas,
desenvolve um sentimento de segurança e compreensão mútua que contribuem para o
aumento da confiança e o compromisso afectivos, que se podem traduzir por uma
maior disponibilidade para colaborar e cooperar com a empresa, co-produzindo
conhecimento (Relação 3), que pode permitir à empresa antecipar oportunidades e
melhorar continuamente a sua oferta.
Sendo que o cliente fiel demonstra atitudes de satisfação que podem ser
relativamente à empresa ou mesmo a um colaborador com o qual interagiu e
vontade de divulgar a empresa, a confiança, o compromisso e a qualidade podem
contribuir para esse grau de satisfação e levar o cliente a permanecer na
empresa e manter o seu relacionamento. A lealdade pode, nesse sentido,
manifestar-se pela satisfação, pela recomendação quer seja da empresa quer de
um colaborador e ocorrência de novas visitas (Relação 4).
Dado que a confiança e compromisso são factores que se podem manifestar pela
co-produção de mais conhecimento para possíveis oportunidades, pode ocorrer um
duplo contributo destes factores para a manutenção de relacionamentos. Ou seja,
estes factores são gerados pela utilização criativa da informação obtida e ao
mesmo, podem ser importantes, para que se continue a actualizar o repositório
do conhecimento da empresa relativamente ao cliente para aumentar a sua
lealdade (Relação 5).
6. Considerações Finais
Com este artigo pretende realçar-se a importância de relacionar dois conceitos
de abordagens de gestão distintas: o conhecimento e o MR. Ao relacionar estes
dois conceitos, a importância dos recursos humanos para a estratégia de
retenção das empresas, aumenta. Ao nível das empresas de turismo rural, devido
às suas características de pequena dimensão, rotatividade do factor trabalho,
interacção, diálogo directo e grande variedade de oferta deste sector, essa
condição parece tornar-se mais evidente e necessária para manter clientes leais
e manter um repositório de conhecimento actualizado e accionável. A lealdade
dos clientes em grande parte pode traduzir-se nos colaboradores com quem lidam
directamente e que obtêm e fornecem informação que pode melhorar a oferta da
empresa.
Os colaboradores obtêm esse conhecimento e se não o transmitirem podem provocar
desagrado do cliente se, numa visita futura, não vir valorizada a informação
que transmitiu em anteriores contactos, podendo mesmo abandonar a empresa.
Deste modo, e como sugerido por alguns autores (Boxall, 1998; Carmeli &
Tishler, 2004), as empresas podem procurar uma vantagem competitiva pelos
recursos humanos, promovendo relações próximas, justas, com segurança e
confiança e fortalecer relações com os colaboradores com base no valor e
lealdade (Tiwana, 2000), bem como promover a construção de confiança e
compromisso afectivos nos clientes para que numa atitude de cooperação e
colaboração se promova a co-produção de novo conhecimento.
Embora o modelo sugira evidencias e relações que devem ser fomentadas, com
vista a uma empresa de turismo rural obter vantagem competitiva não deixa ser
unicamente uma construção conceptual sem qualquer afirmação ou comprovação das
relações estabelecidas. Pretende-se, assim, em futuras investigações incidir
sobre estudos empíricos de carácter confirmatório da aplicabilidade do modelo e
das relações sugeridas e verificar a importância, para as empresas de turismo
rural ou para as empresas em geral, dos recursos humanos para manutenção de
relacionamentos. O estudo de casos sobre o recurso às TIC ou outras medidas
para as empresas captarem, difundirem e gerarem novo conhecimento, pode
comprovar a tendência e sensibilização das empresas, para a valorização e
retenção do conhecimento que os colaboradores obtêm, detêm e que podem levar
consigo, caso abandonem a empresa. Pode ainda ser verificada a importância de
criar confiança e compromisso para a geração de novo conhecimento sobre o
cliente, através da sua co-produção e disponibilidade para tal, para além de se
poderem identificar formas eficazes de geração desse novo conhecimento.