Turismo sustentável: utopia ou realidade?
1. Introdução
Durante muito tempo, o turismo foi considerado como uma indústria em que não
lhe eram imputados impactos negativos, do ponto de vista cultural, social ou
ambiental. A partir da década de setenta a realidade alterou-se e começaram a
aparecer as primeiras vozes denunciantes dos efeitos negativos do turismo.
Contudo, muitas regiões têm apostado fortemente na actividade turística como o
principal motor para se desenvolverem (Faulkner e Tideswell, 1997).
Pelas suas características intrínsecas, trata-se de uma actividade dinamizadora
das actividades económicas regionais e locais, e tem crescido de uma forma
relativamente rápida tanto no estrangeiro como em Portugal. Contudo, ao tratar-
se de um sector económico gerador de benefícios e também de custos, é desejável
que ele se desenvolva de uma forma sustentável.
A dualidade dos efeitos do turismo (positivos e negativos) e a sua
transversalidade, afectando várias indústrias, têm levado a uma
consciencialização sobre a necessidade de minorar os seus efeitos negativos e
maximizar os seus efeitos positivos, de forma a se garantir a sua
sustentabilidade. Assim, o debate do desenvolvimento sustentável alargou-se ao
sector turístico (Choi e Sirakaya, 2006; Hunter e Green, 1995).
Tal como acontece em outras regiões, o turismo desempenha um papel de enorme
relevância no desenvolvimento económico do Pólo de Desenvolvimento Turístico
Região da Serra da Estrela. Dotado de recursos culturais, paisagísticos e
naturais únicos, este território tem vindo a afirmar-se nacional e
internacionalmente no turismo de natureza e no turismo cultural.
Assim, face à importância estratégica deste sector e ao papel que a actividade
hoteleira detém nesta região, a presente investigação tem como objectivo
reflectir sobre a importância deste sector e o seu contributo para o
desenvolvimento económico da região.
2. Turismo e Desenvolvimento Sustentável
Para compreender as origens e o conceito de turismo sustentável, em primeiro
lugar torna-se necessário compreender o conceito de desenvolvimento
sustentável, bem como a evolução que o próprio conceito sofreu ao longo do
tempo. Apesar de o debate sobre o conceito ser recente, na vasta literatura
sobre o tema, encontram-se várias abordagens relativas quer à origem, quer à
sua própria definição.
Apesar dos primeiros sinais de inquietação com o desenvolvimento sustentável
terem surgido no século XVIII, só na segunda metade do século XX é que a
questão ganhou mais relevância. Em relação à origem do conceito, analisando
factos passados, podemos concluir que o aparecimento do conceito de
desenvolvimento sustentável está relacionado com um má utilização dos recursos
naturais, com o aparecimento de acidentes ambientais, bem como com o
aparecimento de um conjunto de desequilíbrios de índole económico, ambiental e
social. Segundo Hardy e Beeton (2001), o conceito de desenvolvimento
sustentável surgiu como um modelo de contradição, entre o crescimento económico
e a protecção ambiental.
No século XVIII, com a Revolução Industrial os recursos naturais começaram a
ser utilizados de uma forma ilimitada e desgovernada, dai resultando efeitos
nefastos para as economias. Ao modelo de desenvolvimento neoliberal, vigente
nessa altura, foram apontadas inúmeras críticas. Assim, nos anos cinquenta e
sessenta, surgiram os primeiros movimentos sociais que discutem a
insustentabilidade do modelo neoliberal. Os ecologistas alertam o facto de
existir uma industrialização e urbanização crescente e caótica, para os efeitos
da poluição e da devastação de extensas zonas de florestas (Burnay, 2002). Para
alertar o problema ambiental vivido e a necessidade de se criar alternativas
com vista à melhoria da situação ambiental, foram promovidas acções, que
culminaram na realização da Conferência da Biosfera em Paris de 1968.
Conscientes dos problemas já então existentes e com o objectivo de se reunirem
para debaterem um vasto conjunto de assuntos relacionados com a política, a
economia internacional e, sobretudo, com o meio ambiente, um grupo de pessoas
ilustres, pertencentes a vários países, formaram o conhecido Clube de Roma.
Este clube tornou-se muito falado, quando em 1972 divulgou o Relatório Meadows,
mais conhecido por Os Limites do Crescimento, no qual foram abordados os
problemas cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade, nomeadamente,
energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente e crescimento populacional,
entre outros. Segundo o referido relatório a manterem-se as tendências actuais
de crescimento da população mundial, industrialização, poluição, produção
alimentar e utilização de recursos, atingir-se-ão os limites do crescimento no
nosso planeta dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um
declínio súbito e incontrolável da população e da capacidade produtiva
(Meadows e Watts, 1972: 32).
A primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente ocorreu em 1972,
em Estocolmo. Esta foi, sem dúvida, a primeira conferência mundial que teve por
objectivo tentar organizar as relações do homem com o meio ambiente e onde
foram enunciados um conjunto de princípios que denunciava a responsabilidade do
desenvolvimento pela deterioração ambiental, resultando no estabelecimento da
base teórica para o conceito de desenvolvimento sustentável (Silvano, 2006).
No início da década de oitenta a Organização das Nações Unidas (ONU), com o
objectivo de retomar o debate das questões ambientais, criou a Comissão Mundial
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED). Em 1987, esta comissão
apresentou um documento intitulado Our Common Future,também conhecido por
Relatório Brundtland, onde foi relatada uma visão crítica do modelo de
desenvolvimento até então adoptado pelos países industrializados e depois
copiado pelos países em vias de desenvolvimento. Segundo o referido relatório,
esse modelo de desenvolvimento apostava num consumo excessivo de recursos
naturais sem ter em conta a capacidade dos ecossistemas, o que deixava já à
vista uma incompatibilidade entre um modelo de desenvolvimento dito sustentável
e os padrões de produção e consumo existentes naquela altura.
Perante este cenário, o Relatório Brundtland alertou o mundo para a necessidade
urgente em introduzir alterações ao nível do modelo de desenvolvimento
económico de forma que este conduzisse a um desenvolvimento sustentável. Aliás,
este Relatório apresentou a primeira e a mais consensual definição de
desenvolvimento sustentável: desenvolvimento que responde às necessidades das
gerações presentes sem comprometer a possibilidade de satisfazer idênticas
necessidades das gerações futuras.
Este conceito de desenvolvimento sustentável foi reforçado em 1992, com a
realização, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida por Cimeira da Terra. Para além de
consagrar o conceito de desenvolvimento sustentável, esta conferência em muito
contribuiu para a consciencialização que os danos ao meio ambiente eram
provocados maioritariamente pelos países desenvolvidos e que estes países
teriam de tomar medidas no sentido do desenvolvimento sustentável. Para além da
Carta da Terra, que é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a
construção no século XXI de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica,
desta Cimeira também surgiu um outro documento importante, a Agenda 21. A
grande importância deste marco é que, pela primeira vez a nível mundial, foi
discutida a questão da ligação vital entre conservação e desenvolvimento
(Burnay, 2000: 28).
Neste momento, já existia a percepção de que o sistema económico vigente,
baseado no consumo e na acelerada degradação dos recursos limitados e
insubstituíveis, se estava a tornar insustentável. As Nações Unidas, que
durante décadas puseram a tónica no crescimento económico, começaram a divulgar
um novo modelo de desenvolvimento, expresso no Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD). Assim, segundo as Nações Unidas de forma a enfrentar
o crescente desafio da segurança humana é necessário um novo modelo de
desenvolvimento que coloque o povo no centro, que olhe o crescimento económico
como um meio e não como um fim, que proteja as oportunidades de vida das
futuras gerações, assim como das actuais e respeite os sistemas naturais dos
quais a vida depende (PNUD, 1994:4).
Em 1993, a Comunidade Europeia publicou o programa Em direcção a um
Desenvolvimento Sustentável, enunciando aqui as principais medidas e os
principais objectivos conducentes à integração ambiental nas políticas
sectoriais das economias. Mais tarde, em 2002, realizou-se em Joanesburgo a
Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, tendo aqui sido reforçados
os três princípios da sustentabilidade: ambiental, social e económico.
Apesar de não consensuais, na vasta literatura sobre este tema podemos
encontrar uma panóplia de definições de desenvolvimento sustentável. Contudo,
em todas elas existe uma tentativa de compreender a interligação entre
economia, sociedade e meio ambiente. Por outro lado, e segundo Ferreira (2004:
102), a ideia do desenvolvimento sustentável tem na sua raiz uma noção de
responsabilidade comum da humanidade e de existência de interesses recíprocos
dos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.
O debate sobre a sustentabilidade do turismo foi claramente influenciado pela
evolução do conceito de desenvolvimento sustentável. Segundo Burnay (2000:26),
nos finais da década de oitenta o conceito de desenvolvimento sustentável
estende-se ao de turismo sustentável e esta actividade passa a ser encarada
como um instrumento também de desenvolvimento para as populações locais e para
a conservação da natureza. Desde então, tem-se verificado uma preocupação
crescente com a sustentabilidade da actividade turística.
Tal com o conceito de desenvolvimento sustentável, também o conceito de turismo
sustentável carece de consenso. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT),
o desenvolvimento do turismo sustentável, é propiciador do desenvolvimento
sustentável. O desenvolvimento sustentável do turismo é um meio para diminuir
as assimetrias regionais existentes entre os países e no interior dos países,
na medida em que este vai de encontro às necessidades das regiões turísticas,
já que protege e aumenta as oportunidades de desenvolvimento dessas mesmas
regiões. Por outro lado, e segundo a mesma organização, as directrizes para o
desenvolvimento sustentável do turismo e as práticas de gestão aplicam-se a
todas as formas de turismo. Nesse sentido, em todas as formas de turismo, deve-
se:
- Optimizar-se o uso dos recursos ambientais, mantendo-se os processos
ecológicos essenciais;
- Ajudar a conservar os recursos naturais e a biodiversidade biológica;
- Respeitar a autenticidade sócio-cultural das comunidades receptoras,
conservar as suas culturas arquitectónicas e seus valores tradicionais; e
- Assegurar actividades viáveis a longo prazo, que reportem benefícios
socioeconómicos a todos os agentes.
Existindo concordância mundial, relativamente ao facto de ser necessário
promover um desenvolvimento sustentável do turismo, também existe concordância
no entendimento de que o turismo, para se poder desenvolver de uma forma
sustentável, tem de se afirmar em quatro pilares fundamentais, concretamente:
- Sustentabilidade Ambiental: sendo a principal fonte de matéria-prima da
actividade turística, pretende-se um equilíbrio entre a actividade humana, o
desenvolvimento e a protecção do ambiente, de forma a aumentar os recursos
naturais e a limitar os ambientalmente prejudiciais;
- Sustentabilidade Económica: tendo presentes todas as interdependências da
cadeia produtiva, deve-se promover uma melhor utilização dos recursos e uma
gestão mais eficiente;
- Sustentabilidade Social: dada a abrangência desta actividade, deve-se atender
à comunidade receptora, ao património histórico-cultural e à sua interacção com
os visitantes, de forma a aumentar a auto-estima e o padrão de vida das
comunidades locais, respeitando as suas tradições culturais;
- Sustentabilidade Política: pretendendo-se uma estratégia que possibilite
coordenar todas as iniciativas, de âmbito nacional e local, de forma a permitir
a redução/anulação das assimetrias regionais e que favoreça o desenvolvimento
sustentável do país como um todo.
Pretende-se que Portugal seja não só um país competitivo e moderno, mas também
um País com mais qualidade ambiental, mais equilibrado e coeso
territorialmente, onde as populações encontrem qualidade de vida e as
actividades económicas se desenvolvam no respeito pelos valores ambientais e de
sustentabilidade (MOPTC, 2005: 55). Pretende-se um turismo e um
desenvolvimento sustentável. Para Silva (2000: 54), é ponto assente que o
desenvolvimento racional e equilibrado do turismo é fundamental para ao nosso
país, já que, tratando-se de um sector gerador de infra-estruturas, de
equipamentos, de actividades e emprego, pode proporcionar uma verdadeira cadeia
de riqueza com repercussões directas nas economias regionais e na economia
nacional, onde, no conjunto dos seus ramos directos e indirectos, já possui um
peso superior a outros sectores significativos na nossa estrutura de
especialização económica.
Ao longo dos últimos anos, diversos trabalhos surgem na tentativa de construir
um conjunto de indicadores do turismo sustentável. Com efeito, apesar de não
existir consenso quanto ao conceito, o conceito de turismo e desenvolvimento
sustentável perderiam significado não existindo indicadores que permitissem a
sua monitorização (Buther, 1999). Contudo, apesar da extensão literatura sobre
este tema nos contemplar com um leque enorme de indicadores e porque cada
região é única, todos os estudos de sustentabilidade turística devem ser
baseados em indicadores adaptados à especificidade de cada região (Ko, 2001).
Por outro lado, e segundo o mesmo autor, um modelo de avaliação da
sustentabilidade turística deve ser útil de forma a permitir que os decisores
políticos consigam retirar ilações para no futuro poderem providenciar as
medidas a tomar. Esta ideia é partilhada por Buther (2002), pois segundo ele os
estudos de avaliação da sustentabilidade turística de uma região devem ser
vistos como um instrumento de planeamento. Com essa finalidade, quer a nível
nacional quer a nível regional, sobre esta temática, vários estudos têm sido
apresentados.
3. Turismo da Serra da Estrela
Tendo presente a importância estratégica que o turismo assume no
desenvolvimento das regiões e dos países, no mês de Abril de 2008, com a
publicação do Decreto-Lei n.º67/2008, de 10 de Abril, procedeu-se a uma
reorganização das Entidades Públicas Regionais com responsabilidades na área do
turismo em Portugal, que determinou alterações nas regiões de turismo e na
criação de pólos de desenvolvimento turístico. Assim, passou-se de dezanove
1
regiões do turismo para apenas 5 áreas regionais que reflectem as unidades
territoriais utilizadas para fins estatísticos NUTS II – Norte, Centro, Lisboa
e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. Para além das cinco áreas regionais, de
acordo com o artigo 4º do Decreto-Lei n.º 67/2008 (MEI, 2008: 2172), nas áreas
regionais de turismo definidas no artigo 2.º são criados os pólos de
desenvolvimento turístico (Douro, Serra da Estrela, Leiria-Fátima, Oeste,
Alentejo Litoral e Alqueva). A estas novas entidades vai competir, a
valorização turística e o aproveitamento sustentado dos recursos turísticos das
respectivas áreas (Quadro1).
Quadro1 - Entidades Públicas Regionais com responsabilidade na área do turismo.
No que concerne ao Turismo da Serra da Estrela (TSE), em termos geográficos
encontra-se totalmente entregado na região centro do país, passando a integrar
os municípios de Fornos de Algodres, Gouveia e Seia (Serra da Estrela),
Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas,
Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso (Beira Interior Norte) e Belmonte, Covilhã e
Fundão (Cova da Beira) (Quadro 2). Comparativamente com a antiga região, saíram
os Concelhos de Penamacor e Oliveira do Hospital, e entraram os Concelhos do
Sabugal, Fornos de Algodres e Figueira de Castelo Rodrigo. Assim, para além da
denominação ser diferente, a sua composição concelhia também sofreu alterações.
Quadro 2 – Concelhos do Turismo da Serra da Estrela, por Distritos (2008).
Composta por quinze Concelhos, pertencentes a dois distritos distintos (Guarda
e Castelo Branco), o TRS abarca cerca de 6 305,0 Km2 do território nacional,
sendo que 78 % pertence ao distrito da Guarda (4 930,5 Km2) e 22% ao distrito
de Castelo Branco (1 374,5 Km2) (Quadro 3).
Quadro 3 – Densidade Populacional, Área Total e Freguesias do Turismo Serra da
Estrela (2008).
Analisando, por Concelho, a densidade populacional do TRS, é na Guarda (capital
de distrito) e na Covilhã onde este indicador apresenta maior valor. O elevado
êxodo rural, justificado pela procura de emprego e pelo abandono da actividade
agrícola, bem como, a procura de melhores condições de vida são, sem dúvida, a
justificação da acentuada discrepância existente entre os Concelhos do TRS no
indicador densidade populacional. Efectivamente é nos Concelhos da Guarda e da
Covilhã onde estão localizados os principais serviços públicos, as escolas de
ensino superior, a grande maioria do comércio destes distritos, em contraste
com os restantes Concelhos do TRS, onde o que predomina são actividades ligas
ao sector primário.
Apesar de quinze Concelhos pertencerem à região TSE, estes não apresentam
características homogéneas quando analisados na vertente demográfica, económica
ou social. A realidade não é diferente quando o nível de análise é a oferta e
procura turística de cada Concelho.
4. Oferta e Procura Turística no Turismo da Serra da Estrela
Pretende-se neste ponto do trabalho analisar a oferta e a procura turística no
TSR. Sendo a hotelaria considerada por muitos como a espinha dorsal da
actividade turística, a nossa unidade de análise são os estabelecimentos
hoteleiros de interesse para o turismo, nomeadamente os hotéis, hotel-
apartamento, motéis, pousadas e estalagens (excluísse da análise as
residenciais, pensões e todo o tipo de unidade de alojamento relacionado com o
turismo rural). Como se pode observar através do quadro 4, sãos os hotéis as
unidades de alojamento mais representativas no universo em estudo, seguindo-se
as pousadas e as estalagens.
Quadro 4 - Distribuição das unidades alojamento, segundo a sua tipologia.
Fazendo-se uma análise por Concelhos, é a Covilhã o Concelho que apresenta
maior número de unidades de alojamento, seguindo-se a Guarda, o Fundão e Seia.
Os Concelhos de Fornos de Algodres, Meda e Pinhal são os únicos Concelhos que
não têm nenhuma unidade de alojamento desta tipologia, pois nestes Concelhos
apenas existem residenciais e pensões, bem como, alojamento de turismo rural
(Quadro 5). A sua posição geografia, isto é, aproximação do ponto central da
Serra da Estrela, bem como o seu grau de desenvolvimento económico, em relação
aos restantes Concelhos, está directamente relacionado com o facto de a Covilhã
ser o Concelho com maior número de hotéis. Efectivamente, Covilhã e a Guarda
são os Concelhos mais industriais e com o maior número de actividades do sector
terciário. Nos outros Concelhos, como já foi dito, predominam as actividades
ligadas ao sector primário.
Quadro 5 – Número de Unidades de Alojamento por Concelho.
Conforme se pode observar no Quadro 5, é no Concelho da Covilhã onde existe um
maior número de camas e de quartos, pois trata-se do Concelho com maior número
de unidades de alojamento. Apesar do concelho da Guarda ser capital de
distrito, o Fundão supera-o em termos do número de camas e do número de
quartos. Olhando para a totalidade dos Concelhos com unidades de alojamento,
Meda e Figueira de Castelo Rodrigo são os Concelhos onde existe um menor número
de camas e de quartos (Quadro 5).
Depois de tudo o que foi dito, pode-se concluir que no TSE, a oferta turística
apresenta-se pouco homogénea ao nível dos seus concelhos, existindo uma grande
concentração num número reduzido de Concelhos e, por outro lado, concelhos onde
não existe qualquer tipo de unidade de alojamento.
Apesar de, em termos geográficos, a antiga Região de Turismo da Serra da
Estrela (RTSE) não corresponder na sua totalidade ao actual pólo turístico,
achou-se conveniente analisar a antiga região em termos de procura turística.
Assim, conforme podemos observar no quadro 6, ao longo dos últimos dez anos
(1999 -2008), segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) o
número de dormidas na RTSE apresentou sempre uma tendência crescente.
Quadro 6- N.º de Dormidas nos Estabelecimentos Hoteleiros na Região de Turismo
da Serra da Estrela, por Nut`s III, (1999 – 2008)
Quando a análise é feita por Nut`s III, é na Cova da Beira (Concelhos da
Covilhã, Fundão e Belmonte) onde, no período em análise, se registou sempre o
maior número de dormidas. Para o ano 2008, o número de dormidas na Cova da
Beira representou cerca de 57 % do número total de dormidas, na Beira Interior
Norte 31 % e na Serra da Estrela cerca de12 %. Tal como já foi referido, é na
Nut Cova da Beira onde existe o maior número de unidades de alojamento, o maior
número de camas e o maior número de quartos.
5. Turismo Sustentável na Serra da Estrela: Estudo de Caso
Sendo o pólo de desenvolvimento turístico Turismo da Serra da Estrela,
formado por quinze Concelhos heterogéneos, neste ponto do trabalho pretende-se
analisar, com maior profundidade, apenas um dos seus Concelhos: o Concelho da
Guarda. A metodologia adoptada no desenvolvimento da investigação exigiu a
utilização de dados primários. Assim, optou-se pela aplicação do método de
investigação quantitativo com o softwareSPSS, utilizando-se como instrumento de
investigação o questionário. Nesta investigação a unidade de análise são todas
as unidades de alojamento existentes no Concelho, excluindo-se as unidades
relacionadas com o turismo rural. A recolha de dados decorreu de Janeiro a
Fevereiro de 2010. Num universo constituído por onze unidades de alojamento, o
tamanho da amostra é de 10, tendo-se assim m obtido uma taxa de resposta de 91%
(Quadro 7).
Quadro 7 – Distribuições da amostra, segundo a sua tipologia.
No que toca à personalidade jurídica das unidades que fazem parte da amostra,
50% são sociedades por quotas, 40% são constituídas sob a forma de empresários
em nome individual e apenas uma unidade é um estabelecimento individual de
responsabilidade limitada (Quadro 8).
Quadro 8 - Número de unidades inquiridas por personalidade jurídica.
Analisando as unidades em relação ao número de quartos e ao número de camas,
contactou-se que as unidades de alojamento apresentam grandes diferenças em
relação a essas mesmas variáveis. Contudo, e conforme podemos observar através
do quadro seguinte, apenas os hotéis têm um número de quartos superior a
cinquenta. No total, as dez unidades em estudo representam 418 quartos e 731
camas. Quanto ao número de quartos, 59,1% (247quartos) são de hotéis, seguindo-
se as residenciais com 84 quartos, as pensões com 51, a motel com 24 e, por
último, existem 12 quartos em Aparthotel. No que diz respeito ao número de
camas, das 731 camas, cerca de 63% são dos hotéis.
Quadro 9 - Número de unidades inquiridas por número de quartos.
No inquérito realizado, foi pedido aos inquiridos (os empresariais das unidades
de alojamento) para indicarem a actividade, que na sua opinião, apresenta maior
potencial de crescimento na região. Apesar de um pouco dispersas, as
actividades que foram mais vezes referidas, como sendo as actividades com maior
potencial de crescimento e desenvolvimento, foram a restauração e similares,
seguindo-se os lacticínios e a hotelaria (Quadro 10).
Quadro 10 - Actividades económicas com maior potencial de crescimento na
região.
Também foi pedido aos inquiridos que manifestassem a sua opinião sobre o
desenvolvimento do turismo na região onde se localiza a sua unidade de
alojamento. Assim, quando questionados sobre o desenvolvimento do turismo da
sua região, 60% dos inquiridos responderem Insatisfatórioe 40%
Satisfatório, não existindo qualquer resposta que indica-se o grau de
Bastante Satisfatório ou de Muito Satisfatório.
Com o objectivo de avaliar as suas percepções quanto aos impactes do turismo em
Portugal, e em particular, na sua região, perguntou-se aos inquiridos a sua
opinião relativamente a um conjunto de vinte e duas afirmações (Quadro 11).
Quadro 11 – Opinião dos inquiridos em relaçã a um conjunto de afirmações sobre
o turismo.
Em primeiro lugar, podemos concluir que segundo a percepção dos inquiridos, não
existem diferenças significativas a nível regional e a nível nacional, sobre os
efeitos do turismo. Por outro lado, podemos concluir que, de um modo geral,
quer a nível nacional, quer a nível regional, os inquiridos são de opinião que
o turismo tem mais impactes positivos do que negativos.
Quer a nível regional, quer a nível nacional, o efeito do turismo na criação de
novas oportunidades de negócio e no aumento das oportunidades de emprego, foram
os efeitos que mereceram maior concordância por parte dos inquiridos. Assim, e
segundo os inquiridos o turismo em muito tem contribuído na região e no país
para aumentar o nível do emprego e criado oportunidades de negócios.
Apesar de o turismo na sua região não ter criado grandes problemas
paisagísticos e urbanísticos, o mesmo já não tem acontecido a nível nacional.
Por outro lado, o turismo tem contribuído para aumentar o consumo de bens e
serviços produzidos na região ou no país, tem contribuído para aumentar
quantitativa e qualitativamente as infra-estruturas e os serviços básicos,
impulsionado o desenvolvimento e o crescimento de outros sectores de actividade
e ajudado a desenvolver económica e socialmente as regiões.
Tendo como objectivo último alcançar um turismo sustentável na região, pediu-se
aos inquiridos que indicam-se, por ordem decrescente de importância, as cinco
medidas que na sua opinião, deveriam ser implementadas na sua região. No total,
obteve-se um conjunto de treze medidas que deviam ser promovidas na região em
estudo (Quadro 12).
Quadro 12 - Opinião dos inquiridos em relação às medidas a implementar.
Conforme podemos observar no quadro 12, divulgar a nível nacional e
internacional a região foi a medida mais referida, como a primeira medida a
ser necessário implementar na região, de modo a aumentar a competitividade
turística. Contudo, segundo os inquiridos, também é de extrema importância para
a região:
- criar novos produtos regionais e divulgar mais aqueles que já existem;
- diversificar em termos temporais actividades de atractivo turístico,
envolvendo cidades e aldeias históricas e;
- preservar e valorizar o património natural.
No conjunto das quinze medidas, as medidas que menos vezes foram referidas
pelos inquiridos, foi a necessidade de divulgar mais os eventos culturais e
religiosos da região e a necessidade de se aplicarem medidas que levem a que a
região seja dotada de recursos humanos mais qualificados na área do turismo.
6. Considerações Finais
A sustentabilidade do turismo foi claramente influenciada pela origem e
evolução do conceito de desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento
sustentável no turismo não se refere unicamente a um problema de adequação da
vertente ecológica a um processo social, mas a uma estratégia multi-dimensional
da sociedade, que deve ter em atenção tanto a viabilidade ambiental como a
económica.
No pólo de desenvolvimento turístico Turismo da Serra da Estrela, o turismo é
uma actividade económica extremamente importante, desempenhando um papel
decisivo em termos do crescimento e do desenvolvimentos dos quinze Concelhos
que dele fazem parte. Dotado de recursos culturais, paisagísticos e naturais
únicos, este território tem vindo a afirmar-se nacional e internacionalmente em
áreas como o turismo sustentável de natureza, o turismo cultural, destacando-se
a história judaica e aldeias históricas, e mais recentemente pelo turismo de
saúde ligado à água.
É de extrema importância que o turismo se desenvolva de uma forma sustentada,
pois só assim será possível diminuir, por um lado, as assimetrias regionais
existentes entre os seus Concelhos e, por outro lado, as assimetrias regionais
existentes entre as várias unidades territoriais de Portugal.
Apesar de estarmos conscientes que o desenvolvimento sustentável do turismo vai
de encontro às necessidades das regiões turísticas, pois protege e aumenta as
oportunidades de desenvolvimento dessas mesmas regiões, o estímulo a um turismo
sustentável na região parece estar ainda longe de todas as suas
potencialidades.