MEMÓRIA: X Colóquio da Secção Portuguesa da Associação Hispânica de
Literatura Medieval (Lisboa, 6 e 7 de março de 2014)
VARIA
MEMÓRIA - X Colóquio da Secção Portuguesa da Associação Hispânica de
Literatura Medieval (Lisboa, 6 e 7 de março de 2014).
Isabel Barros Dias*
* Universidade Aberta ' Departamento de Humanidades, IELT-EISI / IEM (FCSH-
UNL), 1269-001 Lisboa, Portugal. E-mail: isabel.dias@uab.pt
Nos dias 6 e 7 de março de 2014 teve lugar o X colóquio da Secção Portuguesa da
Associação Hispânica de Literatura Medieval. A organização destes colóquios tem
sido assegurada, a um ritmo bianual, por várias universidades portuguesas. Este
ano, o evento teve lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o
mesmo local onde, há dezoito anos, em 1996, tinha tido lugar o primeiro
encontro da Secção Portuguesa da AHLM.
Como contraponto aos congressos gerais da AHLM (http://www.ahlm.es/
primera.html) que, desde 1985 a esta parte têm ocorrido um pouco por toda a
Península Ibérica, os colóquios da Secção Portuguesa distinguem-se pelo seu
carácter temático. Memória foi o mote proposto no anterior encontro
(Universidade de Évora, 2012) por Teresa Amado e Cristina Almeida Ribeiro, que
na altura se disponibilizaram para organizar o evento. Infelizmente, os dois
anos que decorreram desde essa data viram desaparecer uma das organizadoras,
Teresa Amado. Cristina Almeida Ribeiro manteve o compromisso assumido e,
juntamente com Maria Helena Marques Antunes, levou por diante o evento, que se
assumiu como um tributo à saudosa memória de Teresa Amado. O tema do colóquio
revestiu-se assim de uma dupla significação, não só matéria de estudo e de
pesquisa, mas também recordação de uma pessoa querida de todos e por todos
reiteradamente evocada nas suas qualidades, científicas e humanas.
A conferência de abertura esteve a cargo de Aires A. Nascimento, Presidente da
SP, que recordou Teresa Amado com um sentido texto intitulado "Memória com
afecto: a saudade, que é mais que palavra. Várias outras comunicações
incidiram propositadamente sobre textos e autores caros à homenageada, com
especial destaque para Fernão Lopes. Ariadne Nunes, Carlota Pimenta e Mário
Costa fizeram o ponto de situação da edição crítica da Crónica de D. João I, um
projecto coordenado e acarinhado por Teresa Amado; Elisa Nunes Esteves analisou
os retratos de Maria e de Leonor Teles, magistralmente desenhados na Crónica de
D. Fernando; Filipe Alves Moreira e Covadonga Valdaliso debruçaram-se sobre
algumas narrativas inéditas existentes em manuscritos da Crónica de D. Pedro,
articulando-as com o texto de Fernão Lopes.
A presença da memória histórica em formas literárias não historiográficas
marcou presença graças a três contributos: Ana Silva analisou as trovas De
Luís Anriques ao duque de Bragança, quando tomou Azamor, em que conta como
foi, um texto que fixa encomiasticamente a memória de um acontecimento; Ruth
Martínez Alcorlo procedeu à comparação entre vários testemunhos portugueses e
castelhanos que veicularam recordações literárias relativas ao enlace entre a
primogénita dos reis católicos, a infanta Isabel de Castela e o príncipe
Afonso, herdeiro do trono português; e Teresa Araújo problematizou a memória de
Inês de Castro veiculada pela poesia barroca.
A memória intertextual foi bastante explorada, nomeadamente no que se refere à
presença de ecos de textos greco-latinos, bíblicos, patrísticos e outros na
imagem do feminino no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (contributo de Ana
María S. Tarrío); ainda sobre o Cancioneiro Geral, incidiram as reflexões de
Maria Helena Marques Antunes que considerou glosas e citações como formas de
memória textual capaz de resgatar composições que de outro modo se perderiam.
Ainda no campo da poesia, Carla Sofia S. Correia debruçou-se sobre a memória da
Razón de Amor em poesias trovadorescas galego-portuguesas elaboradas em meios
castelhanos. Já no campo do romance cortês, Ana Margarida Chora reflectiu sobre
o papel da memória e do seu contraponto, o esquecimento, no universo literário
arturiano. A aplicação prática da memória na tradução portuguesa do tratado de
meditação Vita Christi de Ludolfo de Saxónia, foi apresentada por Elsa Maria
Branco da Silva.
Os contributos de carácter mais teórico sobre a Memória, tal como esta era
entendida no período medieval, regra geral articulados com representações
literárias, tiveram uma presença forte. Angélica Varandas ilustrou preceitos
teóricos existentes nas artes memorativas com excertos do prefácio do
Bestiaires d'Amours, de Richard de Fournival; João Dionísio apresentou algumas
reflexões sobre os apontamentos que, sobre a memória, D. Duarte incluiu no Leal
Conselheiro; Margarida Santos Alpalhão debruçou-se sobre as definições de
memória veiculadas por vários textos didácticos e enciclopédicos; Manuel Ramos
apresentou o ponto de vista da retórica antiga e medieval; Isabel Barros Dias
reflectiu sobre a articulação entre memória, metáfora e conhecimento; e
Cristina Almeida Ribeiro reflectiu sobre algumas alegorias da memória presentes
em textos literários, tanto de carácter sentimental, como de carácter
didáctico.
A diversidade e riqueza dos contributos apresentados, acrescidas da qualidade
das reflexões e dos debates que suscitaram, enriqueceram todos os que tiveram
oportunidade de participar nos trabalhos desenvolvidos neste colóquio que só em
2016 terá uma nova edição.
COMO CITAR ESTE ARTIGO
Referência electrónica:
DIAS, Isabel Barros ' MEMÓRIA - X Colóquio da Secção Portuguesa da Associação
Hispânica de Literatura Medieval (Lisboa, 6 e 7 de março de 2014). Comissão
Organizadora: Cristina Almeida Ribeiro e Maria Helena Marques Antunes.
Medievalista [Em linha]. Nº16 (Julho - Dezembro 2014). [Consultado dd.mm.aaaa].
Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA16\