Catalogo dei codici miniati della Biblioteca Vaticana: I - I Manoscritti
Rossiani. A cura di S. Maddalo, con la collaborazione di E. Ponzi, e il
contributo di Michela Torquati
RECENSÃO
Catalogo dei codici miniati della Biblioteca Vaticana. I - I Manoscritti
Rossiani. A cura di S. Maddalo, con la collaborazione di E. Ponzi, e il
contributo di Michela Torquati.
Adelaide Miranda*
*Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
Instituto de Estudos Medievais, 1069-061 Lisboa, Portugal. E-mail:
mmac@fcsh.unl.pt
Data do texto: Maio de 2015
Editado em 2014 pela Biblioteca Apostólica do Vaticano o Catalogo dei Codici
Miniati della Biblioteca Vaticana. I Manoscritti Rossiani apresenta-se como um
catálogo de manuscritos medievais e renascentistas em que a História da Arte
tem um lugar relevante. Esta perspectiva é destacada por Silvia Maddalo, a
coordenadora da obra (que conta com a colaboração de Eva Ponzi e o contributo
de Michaela Torquati), que na introdução chama a atenção para o facto dos
aspectos figurativos e iconográficos serem um traço distintivo. Esse enfoque
está igualmente presente nas notas preliminares à elaboração da ficha do
manuscrito, onde a autora refere: “Particolare attenzione é posta, nella parte
centrale della scheda, all'analisi dell' aparato grafico e all'elenco
figurativo…”1. Não é certamente indiferente o próprio perfil da colecção. Este
fundo é o resultado da paixão pelos livros iluminados de Giovanni Francesco de
Rossi, bibliófilo romano que viveu entre 1796 e 1854 e que juntou cerca de 1218
manuscritos medievais e humanistas (para além de 2500 incunábulos e 5600 livros
de estampas2.
O catálogo está distribuído por 3 volumes. No primeiro volume, dois prefácios,
respectivamente de Mons. Jean-Louis Bruguès e Massimo Miglio, e a introdução e
notas preliminares à elaboração da ficha da responsabilidade de Silvia Maddalo,
dão-nos o contexto da publicação e esclarecem as opções e os critérios que
presidiram à catalogação dos manuscritos. Já pelos dois primeiros volumes
distribuem-se as 1195 fichas dos manuscritos. O último volume dá-nos
oportunidade de apreciar reproduções a cor de manuscritos seleccionados e uma
bibliografia crítica de referência e índices.
A organização do catálogo segue na generalidade a da biblioteca Rossiana,
sistematizada por tipologias textuais. O conjunto dos manuscritos iluminados a
catalogar, sendo muito diversificado no que diz respeito a tipologias,
cronologias e linguagens, requereu um trabalho interdisciplinar de grande
envergadura. Textos em latim, grego, hebraico, assim como em línguas
vernaculares, exigiram investigadores que dominassem as respectivas línguas. Do
mesmo modo, as variadas tipologias e cronologias implicaram escolhas
diversificadas. Para este trabalho imenso, a coordenadora juntou um conjunto de
28 especialistas de várias áreas e cronologias que pudessem assegurar rigor no
tratamento das especificidades de cada manuscrito.
Deste fundo, Silvia Maddalo assinala a importância dos manuscritos iluminados,
dos quais se destaca uma rica colecção de livros de devoção, entre eles livros
de horas (c. de 80) e bíblias ducentistas (Parisienses e Bolonhesas). O
conhecimento correcto destes manuscritos, que foram produzidos em grande escala
e adquiridos por bibliotecas e coleccionadores privados ao longo de séculos,
permite estabelecer relações, percursos e caracterizar melhor os ateliêrs de
produção. Para além de séries de manuscritos, conta-se ainda com obras de
excepção, que se distinguem pela riqueza iconográfica, designadamente pelas
referências textuais, o que leva a que tenham um maior desenvolvimento no
catálogo.
A precisão e pormenor na abordagem está igualmente bem patente na ficha de
catalogação a que antes se aludiu, que mereceu, pois, um tratamento muito
especial, sendo o modelo um excelente instrumento de trabalho para o futuro.
Começa a ficha com a identificação dos aspectos materiais, dando também
particular destaque aos aspectos artísticos, não só à relação entre o texto e a
imagem, mas também à caracterização das iniciais, margens e miniaturas,
indicando as respectivas tipologias, número e medidas. Importante é, ainda, a
valorização de aspectos considerados muitas vezes acessórios e esquecidos na
catalogação, como as iniciais secundárias ou a numeração de cadernos ou título
corrente. Termina a ficha com informação acerca do estado de conservação da
obra e bibliografia. A descrição é acompanhada por uma reprodução de página
inteira a preto e branco, que lamentamos que não seja de maiores dimensões.
Contudo, o número de fichas e a extensão da descrição justifica-o, uma vez que
tornaria os exemplares demasiado volumosos e com um preço acrescentado.
Merece especial destaque a síntese, colocada antes das referências à
encadernação, que revela claramente a ideia de catálogo como instrumento de
conhecimento, onde podemos encontrar referência a autores, copistas,
iluminadores e notas de crítica textual, que permitem localizar o artista ou o
copista em contextos artísticos ou históricos específicos, permitindo estudos
comparativos entre códices. O que estimulará certamente avanços na investigação
sobre a história do códice e da iluminura medieval.
No volume III, destacamos a riqueza de informação contida na bibliografia e nos
índices que contemplam, não só os manuscritos, como os copistas, os autores, as
obras anónimas, os locais de produção, pessoas e temas iconográficos.
De resto, a constituição da obra teve por base uma consistente preparação
científica, através de um projecto de investigação “Censimento e catalogazione
dei manoscritti miniati della Biblioteca Apostolica Vaticana” (2004) e dois
colóquios, com os respectivos catálogos coordenados igualmente por Silvia
Maddalo “I'Istituto storico italiano e la catalogazione dei manoscritti miniati
della Biblioteca Vaticana: il fondo Rossiano” (2007) e “La catalogazione dei
manoscritti miniati come strumento di conoscenza. Esperienze, metodologia,
prospettive” (2009). O rigor posto na descrição, visível através de um
vocabulário preciso e adequado, mas também as constantes chamadas de atenção
para as relações que se podem estabelecer com outros códices, atribuições de
autores ou escolas, assim como datações, percursos de manuscritos ou uma
procura de ultrapassar o ‘mero' nível da descrição, fazem deste catálogo um
excelente instrumento para a identificação de manuscritos e um contributo
valioso para se poder estabelecer uma rede de conhecimento, capaz de aprofundar
o estudo do manuscrito iluminado medieval.
COMO CITAR ESTE ARTIGO
Referência electrónica:
MIRANDA, Adelaide – “Recensão: Catalogo dei codici miniati della Biblioteca
Vaticana. I - I Manoscritti Rossiani. A cura di S. Maddalo, con la
collaborazione di E. Ponzi, e il contributo di Michela Torquati. 3 vols. Città
del Vaticano: Biblioteca Apostolica Vaticana, “Studi e Testi, 481-483”, 2014
(2053 pp.). ISBN: 978-88-210-0914-3”. Medievalista [Em linha]. Nº 18 (Julho -
Dezembro 2015). [Consultado dd.mm.aaaa]. Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/
iem/medievalista/MEDIEVALISTA18/. ISSN 1646-740X.
Notas
1
I vol., p. XXV.
2
A biblioteca, após a sua morte, é enriquecida pela sua mulher Luisa Carlota,
filha de Ludovico di Borbonne, donde passa para a Biblioteca de Jesus de Roma.
Com a extinção dos bens eclesisasticos, é adquirida pelo Império austríaco e
transportada para a Casa Jesuitica de Viena, e depois para Lainz. Finalmente é
depositada no Vaticano.