Carta ao editor
CARTA AO EDITOR
A Editoria de QN recebeu, em julho, da Profª. Adelaide Faljoni-Alario, USP,
carta solicitando a divulgação do documento referente à "Proposta de
Diretrizes Curriculares dos Cursos Superiores de Química da Universidades
Públicas Paulistas" que reproduzimos a seguir.
1. INTRODUÇÃO
1.1. A Educação Profissionalizante
Conforme aponta VALE, 1996, é hoje função básica da escola preparar o aluno
intelectual e politicamente para estar:
- sintonizado com os anseios de sua época;
- a par das ferramentas intelectuais disponíveis para melhor
compreender o mundo;
- articulado com os problemas mais urgentes da sociedade e das
pessoas;
- consciente das prioridades postas pela sociedade ...;
- armado do conhecimento relevante que permite fazer a leitura
adequada do mundo;
- apto a compreender o papel político do conhecimento e... contribuir
na transmissão e geração de novos conhecimentos e da tecnologia
necessária à... construção gradativa de uma sociedade menos desigual
e mais justa;
- em freqüente luta pela autonomia econômica e cultural do país
criando valores sólidos que orientem a ação humana no sentido de se
contrapor à crescente dependência científica e cultural aos centros
mundiais de poder;
- em suma, lutando por melhores condições de vida para todos.
As mudanças de currículo visando a formação de um novo profissional somente
poderão ser iniciadas se o curso como um todo tiver bem claro os objetivos
atuais e futuros em termos de formação profissional.
Entende-se, portanto, que os currículos dos cursos de Química da Universidade
devem ter uma orientação básica voltada para a construção de um projeto
nacional orientado para a solução de prioridades que beneficiem toda a
sociedade, lembrando sempre que no social está o individual e no individual
está o social. Isto significa, em última análise, que não basta ensinar Química
pela Química ou Tecnologia pela própria Tecnologia. É preciso que os currículos
sejam construídos, revistos, reformulados, repensados ou reconstruídos com base
em valores que reflitam os anseios maiores da sociedade em sua totalidade.
Essas ações deverão ser coletivas e alunos, professores e sociedade terão que
construir o projeto pedagógico e o currículo do respectivo curso, que indique o
quê ensinar, para_quem ensinar, como ensinar e para_quê ensinar.
PINTO, 1996, analisando um texto elaborado pelo Ministério do Trabalho em 1995,
que recoloca a questão da educação profissional na pauta da construção do
modelo de desenvolvimento e da modernização das relações capital e trabalho,
constatou o surgimento no Brasil atual de um novo perfil e um novo conceito de
qualificação. É considerada, além das habilidades manuais e disposição para
cumprir ordens, a necessidade de uma formação geral ampla associada à sólida
base tecnológica para o bom desempenho profissional. Não basta, pois, saber
fazer, é preciso também conhecer e sobretudo saber aprender. O novo perfil
valoriza traços do profissional, como a participação, a iniciativa, o
raciocínio e o discernimento.
Ao se resgatar a qualificação profissional, entendida como recuperação e
valorização da competência do trabalhador, deve-se ter em mente que ela não é,
apenas, uma questão de desempenho técnico. Envolve, também, uma dimensão da
cidadania que extrapola os limites da empresa. A leitura e interpretação da
realidade, a expressão verbal e escrita fluente, a habilidade em lidar com
conceitos científicos e matemáticos abstratos, a integração a grupos de
trabalho para a resolução de problemas são, hoje, parte integrante do perfil do
trabalhador como requisito para a vida na sociedade moderna. Se o mercado exige
empresas e profissionais competitivos, a sociedade que os engloba exige,
também, cidadãos competentes. Surge, então, a necessidade de se repensar a
educação, geral e profissional, no plano conceitual, pedagógico e de gestão.
"Já não tem mais sentido pensar em termos de dicotomia quando se considera
a relação educação - formação profissional. Trabalho e cidadania, competência e
consciência, não são dimensões antagônicas mas aspectos do desenvolvimento e
integral do indivíduo. Naturalmente deve também ser considerada a política e a
realidade do país na preparação do profissional (a política de trabalho e
renda), ou seja, os novos paradigmas da sociedade."
De acordo com PINTO, 1996, a Universidade e, de modo geral, os educadores
entendem currículo como todas as atividades programadas pela Universidade e
realizadas pelos alunos e professores tendo em vista a formação de um
profissional. "O currículo representa, portanto, o que está em curso. É
clara, portanto, a relação entre o perfil do profissional a ser formado e as
atividades curriculares incluindo a sua avaliação. A liberdade na organização
do currículo refere-se à possibilidade de atender, além da formação básica, ao
que é específico da comunidade, da escola e dos alunos. Isto é feito a partir
das atividades propostas no curso. Tais atividades devem emergir não só da
consideração das necessidades básicas do homem como de um levantamento para
diagnóstico da clientela (situação sócio-econômico-cultural e expectativas), do
contexto social (realidade contextualizada) e das condições infra-estruturais
da instituição de ensino (recursos materiais e humanos disponíveis, propósitos,
objetivos e ideário)."
1.2. O Ensino Profissionalizante de Química
Química é a ciência experimental que estuda a composição, as propriedades e as
transformações da matéria e o seu envolvimento energético, visando a
compreensão de sua natureza e comportamento e, quando possível, o seu
aproveitamento pelo homem.
Profissionalmente, o Químico pode atuar em diversos setores das atividades
modernas, dependendo de sua formação acadêmica. Os Licenciados em Química estão
legalmente habilitados ao exercício do magistério nos ensinos fundamental,
médio e superior, respeitadas algumas exigências curriculares definidas pela
legislação. O Bacharel em Química pode atuar na pesquisa básica, tecnológica e
nas diversas fases da produção industrial. Para assumir a responsabilidade
técnica por algumas operações e processos industriais, exige-se do Bacharel uma
complementação tecnológica. Deve-se enfatizar que, dada a formação básica
molecular e de análise, o profissional de química tem perfil que atende as
atividades na área da biotecnologia e de fármacos (planejamento de drogas
novas, vacinas, etc.)
O Químico pode atuar, também, na área de análises químicas, quer trabalhando no
desenvolvimento de novos métodos analíticos, quer na operação de equipamentos
sofisticados ou na elaboração de pareceres e laudos técnicos em sua área de
especialidade. O Químico pode, ainda, desenvolver pesquisa tecnológica, visando
o desenvolvimento de know-howpara o setor produtivo, destacando-se o
desenvolvimento de novos materiais com propriedades específicas e o
desenvolvimento de novos processos industriais, uma área de grande importância
estratégica, pois dela depende a competitividade da indústria química nacional,
com desdobramentos em diversos outros setores industriais, como biotecnologia,
indústria de fármacos, desenho de drogas novas e vacinas. O Químico pode,
finalmente, dedicar-se à pesquisa pura ou acadêmica, que visa a geração de
novos conhecimentos e, geralmente, está associada ao ensino superior,
especialmente à Pós Graduação, sendo esta muito importante para a formação de
recursos humanos altamente qualificados.
Portanto, o ensino de graduação em Química deve se dedicar à formação de
profissionais que atuem no ensino, nos processos industriais e/ou nas
atividades de pesquisa tecnológica ou acadêmica. Para todas essas áreas, deve
ser priorizada a formação que leve os profissionais a desenvolver o seu senso
de responsabilidade, criatividade, independência e iniciativa para enfrentar
desafios; que viabilize sua inserção em um mercado de trabalho cada vez mais
exigente e com nível de competitividade cada vez maior. A essência do
conhecimento desses profissionais da química deve estar fundamentada em uma
formação sólida e que lhes proporcione a oportunidade de ingressar com
facilidade no mercado de trabalho, tanto em empresas como em instituições de
ensino e pesquisa, sejam elas estatais, públicas ou privadas e em cursos
complementares de Pós Graduação. Esta formação essencial deve englobar,
obrigatoriamente, tanto o aspecto teórico como o experimental da ciência
Química, bem como proporcionar aos estudantes um ensino atual e abrangente.
Além da formação essencial é imprescindível que o aluno de química receba uma
formação complementar específica e humanística que contemple os avanços
científico-tecnológicos da Química, as opções individuais, as necessidades
regionais e as características das IES (Instituições de Ensino Superior) onde
os profissionais serão formados.
2. DIRETRIZES GERAIS
Deste modo, a elaboração de um projeto de criação/reformulação do currículo de
um Curso de Química deverá se nortear pelas seguintes diretrizes gerais, ou
seja, devem ter respondidas as seguintes perguntas:
2.1 Qual o perfil do profissional da Química a ser formado? Tendo
como parâmetros: a legislação que regulamenta a profissão; as
necessidades da sociedade, pensadas em sua totalidade e não apenas em
termos de grupos dominantes ou privilegiados; os avanços científico e
tecnológico alcançado pela Química como área do saber, levando em
consideração seus usos, possibilidades e limites; as peculiaridades
da instituição formadora, as peculiaridades locais, regionais e até
dos próprios alunos.
2.2 Quais as áreas de conhecimento, habilidades, atitudes e valores
éticos, que conduzem ao perfil desejado?
2.3 Quais são os conteúdos, correspondentes a cada área, relacionados
ao perfil do profissional a ser formado?Por conteúdo entende-se a
base teórica que conduza ao perfil desejado.
2.4 Quais são as disciplinas, unidades educacionais e atividades
relacionadas a essas áreas, necessárias para garantir uma formação
básica científica e humanística consistente ao profissional formado?
Por disciplina entende-se, como conceitua JANTSH, apud RAPHAEL, 1996,
um conjunto de conhecimentos específicos com características próprias
quanto à sua natureza, método de ensino e de pesquisa e proximidade
conceitual. Por unidade_educacional entende-se um conjunto de
conhecimentos veiculados através de uma disciplina ou conjunto de
disciplinas articuladas, que permitem a aprendizagem em torno de um
tema comum a várias áreas. Por atividades, entende-se, como RAPHAEL,
as ações e vivências dos corpos docente e discente, tendo como
referencial os objetivos do curso. Quanto à abordagem, a atividade é
uma forma de sistematização do conhecimento de modo gradual.
2.5 Quais disciplinas eletivas e unidades educacionais eletivas, que
flexibilizem o currículo, devem ser criadas, de modo a atender: as
necessidades da sociedade local, regional e como um todo; os avanços
científico e tecnológico alcançado pela Química como área do saber;
as potencialidades da instituição formadora, e até interesses do
corpo discente?
2.6 Qual a natureza e metodologia de ensino, bem como as
características próprias de cada disciplina, que garantam o
equilíbrio entre a aquisição de conhecimento, habilidades, atitudes e
valores?
2.7 Que ações devem ser realizadas para comprometer o aluno com o
desenvolvimento científico e a busca do avanço técnico associado ao
bem estar, à qualidade de vida e ao respeito aos direitos humanos, ou
seja, como aponta VALE, 1996, como oferecer uma orientação básica
dirigida para a construção de um projeto nacional voltado para a
solução de prioridades que beneficiem toda a sociedade? "Ciência
e consciência são aspectos inseparáveis quando se pretende formar um
profissional comprometido com a construção de uma sociedade
produtiva, justa e humana."
2.8 Como estimular outras atividades curriculares formadoras, como
por exemplo, iniciação científica, monitorias, grupos PET (Programa
Especial de Treinamento), atividades de extensão, estágios,
participação em congressos, palestras, conferências, seminários,
reuniões científicas, cursar disciplinas em áreas diferentes da
Química?
3. DIRETRIZES ESPECÍFICAS
3.1. Perfil desejado do formando:
O exercício da profissão de Químico é regulamentado pelo Decreto n 85877de 07/
04/1981 que estabelece normas para a execução da Lei n 2800 de 18/06/1956 que
dispõe sobre a profissão.
O profissional formado em Química deve ser conduzido, durante o curso de
graduação, a buscar uma formação ampla e multidisciplinar fundamentada em
sólido conhecimento de Química, que lhe permita atuar em vários setores, a
desenvolver o seu senso de responsabilidade que lhe permita uma atuação
consciente, a utilizar sua criatividade na resolução de problemas, trabalhar
com independência, possuir iniciativa e agilidade para aprofundar seus
conhecimentos científicos e que possa acompanhar as rápidas mudanças da área em
termos de tecnologia e mercado globalizado. Deve, ainda, ser capaz de tomar
decisões, levando em conta os possíveis impactos ambientais ou de saúde
pública, quando atuar na implantação de novos processos industriais para a
produção de substâncias de uso em larga escala.
Como o profissional em Química pode atuar em diversos setores, é desejável que
possua, ao lado de uma formação essencial sólida, uma formação complementar
específica e humanística diferenciadas, que contemplem as opções individuais,
as necessidades regionais e as características das IES nas quais os
profissionais serão formados. Esta diferenciação deverá propiciar a obtenção de
um perfil que possibilite maior facilidade de inserção do profissional no
mercado de trabalho.
Elenco de atividades dos profissionais da Química (Resolução Normativa C.F.Q. n
36 de 25/04/74 - DOU de 13/05/74):
1) Direção, supervisão, programação, coordenação, orientação e
responsabilidade técnica no âmbito de suas atribuições respectivas;
2) Assistência, assessoria, consultoria, elaboração de orçamentos,
divulgação e comercialização no âmbito das atribuições respectivas;
3) Vistoria, perícia, avaliação, arbitramento de serviços técnicos,
elaboração de pareceres, laudos e atestados, no âmbito das
atribuições respectivas;
4) Exercício do Magistério respeitada a legislação específica;
5) Desempenho de cargos e funções técnicas, no âmbito das atribuições
respectivas;
6) Ensaios e pesquisas em geral. Pesquisas e desenvolvimento de
métodos e produtos;
7) Análises química e físico-química, químico-biológica,
bromatológica, toxicológica, biotecnológica e legal, padronização e
controle de qualidade.
O Bacharel com formação em Química Tecnológica, além das atribuições arroladas
anteriormente, possui também as que se seguem:
8) Produção, tratamentos prévios e complementares de produtos e
resíduos;
9) Operação e manutenção de equipamentos e instalações; execução de
trabalhos técnicos;
10) Condução e controle de operações e processos industriais, de
trabalhos técnicos, reparos e manutenção;
11) Pesquisa e desenvolvimento de operações e processos industriais;
12) Estudo, elaboração e execução de projetos de processamento;
13) Estudo da viabilidade técnica e técnico-econômica no âmbito das
atribuições respectivas.
O Licenciado em Químicaé formado para ministrar aulas conforme legislação
específica.
3.2. Competências e habilidades desejadas:
Para o bom exercício de suas atribuições profissionais é imprescindível que o
Químico manifeste ou reflita, na sua prática como profissional e cidadão, as
seguintes competências e habilidades básicas:
3.2.1. Com relação à sua formação pessoal:
- possuir conhecimento sólido e abrangente na área de atuação
(competência profissional garantida pelo domínio do saber
sistematizado dos conteúdos da Química em todas as suas modalidades,
em Processos e Operações Industriais e nas áreas auxiliares
(Matemática, Física e Biotecnologia), com domínio das técnicas
básicas de utilização de laboratórios e equipamentos necessárias para
garantir a qualidade dos serviços prestados e para desenvolver e
aplicar novas tecnologias de modo a ajustar-se à dinâmica do mercado
de trabalho;
- possuir habilidades matemáticas suficientes para compreender
conceitos químicos e físicos, para desenvolver formalismos que
unifiquem fatos isolados e modelos quantitativos de previsão, com o
objetivo de compreender modelos probabilísticos teóricos, no sentido
de organizar, descrever, arranjar e interpretar resultados
experimentais, inclusive com auxílio de métodos computacionais;
- possuir capacidade crítica para: analisar de maneira conveniente os
seus próprios conhecimentos; assimilar os novos conhecimentos
científicos e/ou tecnológicos e refletir sobre o comportamento ético
que a sociedade espera de sua atuação, sobretudo em um mercado de
trabalho competitivo;
- saber trabalhar em equipe e ter uma boa compreensão das diversas
etapas que compõem uma pesquisa ou um processo industrial;
- ter interesse no auto-aperfeiçoamento contínuo, curiosidade e
capacidade para estudos extra-curriculares individuais ou em grupo,
espírito investigativo, criatividade e iniciativa na busca de
soluções para questões individuais e coletivas relacionadas com a
Química, bem como para acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas
oferecidas pela interdisciplinaridade, como forma de garantir a
qualidade dos serviços prestados e de adaptar-se à dinâmica do
mercado de trabalho;
- ter formação humanística que permita exercer plenamente sua
cidadania e, enquanto profissional, respeitar o direito à vida e ao
bem-estar dos cidadãos que direta ou indiretamente são alvo do
resultado de suas atividades, incluindo conhecimentos básicos de
História, Filosofia, Sociologia, Ecologia, Biologia, Economia,
História da Ciência e dos Movimentos Educacionais;
- estar engajado na luta pela cidadania como condição para a
construção de uma sociedade justa, democrática e responsável.
3.2.2. Com relação à compreensão da ciência Química:
- compreender os conceitos, leis e princípios da Química;
-compreender princípios básicos de Química Quântica;
- conhecer as propriedades físicas e químicas principais dos
elementos químicos, das substâncias orgânicas e inorgânicas, que
possibilitem entender e prever o seu comportamento físico-químico;
- acompanhar e compreender os avanços científico-tecnológicos;
- reconhecer a Química como uma construção humana compreendendo os
aspectos históricos de sua produção e suas relações com os contextos
cultural, sócio-econômico e político.
3.2.3. Com relação à comunicação e expressão:
-compreender e interpretar os textos científico-tecnológicos;
- interpretar e utilizar as diferentes formas de representação
(tabelas, gráficos, símbolos, expressões);
- comunicar corretamente os projetos e resultados de pesquisa na
linguagem científica, oral e escrita (textos, relatórios, posters,
internet, etc.).
3.2.4. Com relação à busca de informação:
-identificar e fazer busca nas fontes de informações relevantes para
a Química, inclusive as disponíveis em meios eletrônicos e remotos,
que possibilitem a contínua atualização técnica, científica e
humanística.
3.2.5. Com relação ao trabalho de investigação científica e produção/controle
de qualidade:
-investigar os processos naturais e tecnológicos, controlando
variáveis, identificando regularidades, interpretando e procedendo a
previsões;
- possuir as habilidades técnicas fundamentais do trabalho em
laboratório, ou seja:
- conduzir análises químicas qualitativas e quantitativas e
determinação estrutural de compostos orgânicos e inorgânicos por
métodos clássicos e instrumentais, bem como conhecer os princípios
básicos de funcionamento dos equipamentos utilizados;
- realizar a síntese de compostos orgânicos e inorgânicos diversos,
bem como de macromoléculas e materiais poliméricos;
- ter noções de classificação e composição de minerais;
- ser capaz de efetuar a purificação de substâncias e materiais
diversos;
- saber determinar as características físico-químicas de substâncias
e sistemas diversos;
- ter noções dos principais processos de preparação de materiais para
uso da indústria química, eletrônica, óptica, biotecnológica e de
telecomunicações modernas;
- saber elaborar projetos de pesquisa;
- possuir conhecimentos básicos do uso de computadores e sua
aplicação em química;
- possuir conhecimento dos procedimentos de segurança no trabalho,
inclusive para expedir laudos de segurança em laboratórios,
indústrias químicas e biotecnológicas;
- possuir conhecimento da utilização de processos de descarte de
materiais e resíduos químicos tendo em vista a preservação do meio
ambiente;
- possuir conhecimento, analisar e utilizar os procedimentos éticos
na pesquisa e no trabalho de rotina;
- planejar e desenvolver processos e operações industriais.
3.2.6. Com relação à aplicação do conhecimento químico:
- realizar avaliação crítica da aplicação do conhecimento químico
tendo em vista o diagnóstico e o equacionamento de questões sociais e
ambientais;
- reconhecer os limites éticos envolvidos na pesquisa e na aplicação
do conhecimento científico e tecnológico;
- ter curiosidade intelectual e interesse pela investigação
científica e tecnológica, de forma a utilizar o conhecimento
cientificamente e socialmente acumulados na produção de novos
conhecimentos;
- ter consciência da importância social da profissão como
possibilidade de desenvolvimento social e coletivo;
- saber identificar e apresentar soluções criativas para problemas
relacionados com a Química ou correlatos à sua área de atuação;
- assessorar o desenvolvimento e a implantação de políticas
ambientais.
3.2.7. Com relação à profissão de Químico:
- ter capacidade de disseminar e difundir e/ou utilizar o
conhecimento relevante para a comunidade pensada como um todo;
- ter capacidade de vislumbrar possibilidades de ampliação do mercado
de trabalho, no atendimento às necessidades da sociedade.
Os Licenciados em Química deverão adquirir dentro do Núcleo Complementar, as
seguintes competências:
- formação pedagógica para exercer a profissão de professor, com
conhecimentos em História e Filosofia da Educação, História e
Filosofia da Ciência, Didática, Psicologia da Educação, Estrutura e
Funcionamento do Ensino e Prática de Ensino.
Além disso, o professor deverá adquirir habilidades instrumentais que o
capacitem para a preparação e desenvolvimento de recursos didáticos e
instrucionais relativos à sua prática e ser preparado para atuar como
pesquisador no ensino de Química.
Outras habilidades e qualidades fundamentais para o bom exercício da profissão
de Químico e que devem ser desenvolvidas no futuro profissional da Química,
são: habilidade numérica, auto-disciplina, pensamento lógico e claro e domínio
de idioma estrangeiro (inglês ou espanhol). É, também, altamente desejável que
o profissional da Química tenha: habilidades de liderança e de relacionamento
interpessoal e persistência, precisão e atenção a detalhes, inspiração,
determinação, imaginação, flexibilidade, capacidade de observação, raciocínio
abstrato, perseverança, dinamismo e seriedade.
3.3. Conteúdos curriculares:
Conforme preconiza VALE, 1996, "em termos de ensino e de aprendizagem será
muito importante não pulverizar o currículo com exagerado número de disciplinas
que atomizam o conhecimento da área sem ressaltar-lhe o essencial como campo de
conhecimento, além de por vezes repetir conteúdos de maneira desnecessária; as
disciplinas devem estar visceralmente ligadas aos grandes objetivos, o que pode
ser feito através de núcleos temáticos que articulam os conhecimentos entre si
formando uma grande malha de saber estruturado. É fundamental que cada
disciplina evidencie a sua estrutura interna, isto é, ofereça aos alunos uma
série de conceitos, princípios, leis, teorias e atividades relacionados entre
si de forma orgânica. Mostrar ao aluno como as coisas se relacionam dentro de
uma disciplina e de um curso é a forma mais adequada de desenvolver um ensino
significativo e produtivo. Em termos de forma, o ensino em sala de aula ganhará
em qualidade se for dialético articulando diferentes procedimentos didáticos,
como por exemplo, a exposição dialogada com as atividades individuais e em
grupo a partir de questões fundamentais da disciplina e problemas colocados
pela prática diária, isto é, o contexto científico, tecnológico, sócio-
econômico, político e cultural. Não se erraria ao dizer que o verdadeiro ensino
é aquele que identifica, equaciona e sugere soluções para os principais
problemas postos pela prática social, pois é no âmbito da realidade social que
o professor encontrará os grande temas para o ensino, a pesquisa e a
extensão."
"Na composição das Grades Curriculares também é preciso equilibrar as
atividades teóricas com atividades práticas e as atividades extra-classe dos
alunos. Toda disciplina teórica deverá ter uma percentagem de horas dedicadas
às atividades práticas correlatas (aulas de laboratório, estágio, extensão,
prestação de serviços, assessoria técnica supervisionada etc.) registradas em
horário e cobradas dos alunos através de projetos individuais ou coletivos com
prazos para início e término e apresentação de relatórios parciais e/ou finais.
Deve-se prever também, espaço para que os alunos possam se desenvolver sócio-
culturalmente, evitando a escolarização exagerada. Isto pode ser feito
incluindo os alunos em atividades programadas como sessões de vídeo e filmes,
teatro estudantil, atividades artísticas e desportivas e demais atividades
culturais. Currículos muito densos do ponto de vista dos conteúdos
programáticos podem gerar resultados não-intencionais prejudicando a formação
do aluno por falta de boa medida no planejamento das atividades escolares. É
preciso reservar um espaço para a tempo livre do aluno evitando, tanto quanto
possível, currículos muito carregados com excesso de aulas teóricas e excesso
de disciplinas. O que importa num currículo não é a quantidade de disciplinas,
mas a articulação delas em torno de uma proposta orgânica de ensino que:
- defina, claramente, os objetivos do curso;
- estabeleça os conteúdos que delimitem o raio de ação do curso;
- evidencie equilíbrio entre teoria e prática;
- demonstre preocupação tanto com o conteúdo do conhecimento quanto
com a forma de trabalhá-lo com os alunos (metodologia);
- utilize novos formatos e novas linguagens para tornar o ensino mais
contemporâneo e mais palatável aos alunos;
- contribua para o desenvolvimento crítico-reflexivo dos
alunos."
Os componentes curriculares devem ser organizados de forma a refletir as
características das Instituições de Ensino, os interesses e capacidades dos
estudantes, bem como as características regionais. Neste ponto as linhas de
pesquisa, o Parque Industrial Regional, os Cursos de Pós*-Graduação, e outras
Instituições de Ensino, públicas ou privadas, podem dar uma grande contribuição
para o direcionamento dos componentes curriculares.
Independentemente da organização adotada, os currículos plenos da área de
Química devem ser divididos em duas etapas, com idêntica duração. A primeira
delas, especificada como Núcleo Essencial, composto pelos módulos de:
Matemática, Física, Tópicos de Química, Iniciação à Química Experimental,
Química Analítica, Físico-Química, Química Orgânica, Química Inorgânica e
Bioquímica, deverá ser cursada por todos os alunos de Cursos de Química e é
onde serão ministrados os conteúdos essenciais do curso, de maneira a dotar o
aluno dos conhecimentos fundamentais, com amplo enfoque experimental, que lhe
permita desenvolver todas as suas aptidões e habilidades nos diversos setores
de especialização da Química. A segunda etapa do curso, deve complementar a
carga horária mínima exigida pela legislação. Nela devem ser ampliados os
conhecimentos fundamentais do aluno, através do oferecimento de disciplinas
complementares obrigatórias e/ou eletivas nas diversas áreas da Química, de
acordo com as características da Instituição de Ensino, os interesses e
capacidades dos estudantes, as características regionais e a legislação
específica. As linhas de pesquisa, o Parque Industrial Regional, os Cursos de
Pós*-Graduação, e outras Instituições de Ensino, públicas ou privadas, podem
dar uma grande contribuição nesse sentido, ou seja, no direcionamento dos
componentes curriculares, de maneira a desenvolver amplamente todas as
habilidades e competências requeridas para permitir ao futuro profissional
atender à legislação específica para o exercício da profissão e engajar-se no
mercado de trabalho. É também na segunda etapa que devem ser oferecidas as
disciplinas de formação humanística. Na segunda etapa do curso, é de
fundamental importância que todos os aspectos experimentais da Ciência e
Tecnologia Química sejam aprofundados de maneira apropriada, possibilitando ao
aluno a oportunidade de operar variados tipos de equipamentos de tecnologia
atualizada, hoje rotineiramente utilizados em quase todas as áreas científicas
e tecnológicas, quer através do oferecimento de disciplinas experimentais ou da
realização de estágios na própria unidade de ensino ou fora dela.
3.3.1. Conteúdos Curriculares dos módulos do Núcleo Essencial:
Matemática - Teoria - Álgebra, funções algébricas de uma variável, funções
transcendentais, cálculo diferencial e integral, seqüências e séries, funções
de várias variáveis, equações diferenciais e vetores.
Física - Teoria - Leis da Conservação (energia, quantidade de movimento, carga,
movimento angular). Conceito de Campo (gravitacional, elétrico, magnético).
Leis Básicas da Física e suas equações fundamentais. Prática - experimentos que
enfatizem os conceitos básicos e auxiliem o aluno a entender os aspectos
fenomenológicos da Física.
Tópicos de Química - Teoria (abordagem com forte enfoque conceitual) -
Estrutura atômica. Periodicidade química. Modelos de ligações químicas. Forças
intermoleculares. Teorias ácido-base.
Iniciação à Química Experimental- Laboratório - Procedimentos de segurança,
toxicidade e descarte de resíduos, materiais, técnicas e equipamentos básicos,
experimentos envolvendo os conceitos de estequiometria, reações químicas em
solução aquosa, equilíbrio químico, termoquímica e cinética química.
Química Analítica - Teoria e Prática - Equilíbrio de íons em solução.
Desenvolvimento de metodologia de análise: planejamento experimental
(quimiometria), amostragem, tratamento da amostra, avaliação e interpretação de
resultados analíticos. Análise qualitativa e quantitativa: volumetria,
gravimetria, métodos eletroanalíticos, espectroscópicos e cromatográficos e
análise térmica.
Físico-Química - Teoria - Gases: gases reais, teoria cinética. Propriedades
coligativas. Termodinâmica: leis da Termodinâmica, termoquímica, calor,
trabalho e energia, entalpia, entropia, energias livre, equilíbrio químico.
Mudanças de Estado: fase, potencial químico, misturas binárias e ternárias.
Superfícies e adsorção. Cinética Química: leis das velocidades das reações
químicas, parâmetros que influenciam as velocidades das reações químicas,
reações catalisadas, aquisição e tratamento de dados cinéticos. Eletroquímica:
íons em solução, termodinâmica eletroquímica. Prática - experimentos que
enfatizem os conceitos básicos e auxiliem o aluno a relacionar os aspectos
fenomenológicos e formalísticos da Química.
Química Orgânica - Teoria - Ocorrência natural e aplicações. Propriedades
químicas, físicas, métodos de preparação e reatividade das principais funções
orgânicas (hidrocarbonetos, haletos de alquila, álcoois, éteres, aldeídos,
cetonas, ácidos carboxílicos e derivados, aminas, anéis benzênicos
funcionalizados). Efeito da estrutura sobre as propriedades físicas e químicas
das substâncias orgânicas. Fundamentos de determinação estrutural das
substâncias orgânicas por métodos espectroscópicos (IV, RMN EM e UV). Prática -
Operações básicas do laboratório de Química Orgânica no contexto de
experimentos envolvendo a preparação e caracterização de substâncias orgânicas.
Química Inorgânica- Teoria - Elementos representativos: ocorrência, obtenção,
propriedades estruturais, reatividade e aplicações industriais dos principais
compostos. Estrutura molecular. Sólidos inorgânicos: parâmetros reticulares,
estrutura cristalina e materiais. Fundamentos de química de coordenação.
Mecanismos de reação. Compostos organometálicos e catálise. Prática - Operações
básicas do laboratório de Química Inorgânica no contexto de experimentos
envolvendo a preparação e caracterização de substâncias inorgânicas.
Bioquímica - Teoria - Bioquímica e organização celular: procariontes e
eucariontes. Química das biomoléculas: estrutura e propriedades. Enzimas:
estrutura, conformação e catálise. Metabolismo: principais vias do anabolismo e
catabolismo. Bioquímica da informação genética: síntese de RNA, DNA e proteínas
e técnicas de DNA recombinantes. Prática - Experimentos sobre propriedades
químicas e físicas de lipídeos, açucares e aminoácidos. Experimentos sobre
natureza estrutural das proteínas e ácidos nucleicos. Experimentos sobre
cinética enzimática. Técnicas bioquímicas: eletroforese e cromatografia de
biomoléculas.
Nas disciplinas experimentais os alunos deverão ter acesso, em sua unidade de
ensino ou fora dela, à utilização de equipamentos de análise e caracterização
instrumental de espectroscopia nas regiões do ultravioleta, visível e
infravermelho, ressonância magnética nuclear, espectrometria de massa e
cromatografia a líquido e gás, dentre outras. Deverá ser incentivada a
integração entre as disciplinas experimentais de Química Analítica, Química
Inorgânica, Química Orgânica e Físico-Química. Além disso, sempre que possível,
deverá haver integração entre disciplinas teóricas e experimentais, para que os
conceitos teóricos tratados em salas de aula sejam acompanhados de atividades
práticas a eles relacionadas.
3.4. Duração do curso:
A duração mínima do Curso de Química, em suas várias modalidades, deve ser de
quatro (4) anos, para aqueles que se desenvolvem em período integral, sendo
recomendável cinco (5) anos para aqueles que se desenvolvem em apenas um
período, a fim de possibilitar ao aluno a oportunidade de adquirir ampla
experiência prática através de estágios diversos em sua unidade de ensino ou
fora dela. O tempo máximo para integralização do curso, estabelecido em termos
percentuais, não deverá ultrapassar o período de 50% da duração do curso em
cada instituição.
O Curso de Química, em suas várias modalidades, deve possuir uma carga horária
mínima de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, a fim de poder contemplar
todos os aspectos fundamentais, teóricos e práticos, e permitir a aquisição de
conhecimentos essenciais na profundidade necessária para o exercício adequado
da profissão. Metade dessa carga horária, i.e. 1.200 horas, deverá ser
utilizada para ministrar disciplinas do Núcleo Essencial(Tabela_1), exigido
pela legislação específica, enquanto que a outra metade será utilizada como
complementação curricular, de natureza multi e interdisciplinar, de acordo com
as especificidades e competências de cada IES e a legislação específica para o
exercício da profissão. Oitenta por cento (80%) da carga de 1.200 horas deverá
ser em diciplinas na área de Química.
3.5. Estágios e Atividades Complementares:
O curso de Bacharelado em Química, em suas diferentes modalidades ou
equivalentes, deverá exigir que o aluno desenvolva atividades e/ou estágio na
área de Química, supervisionados por um docente ou profissional de competência
na área, com a duração mínima total de 300 (trezentas) horas, em sua própria
unidade de ensino ou fora dela. Estas atividades, devidamente comprovadas,
podem relacionar-se à iniciação científica ou atividades de pesquisa ou estágio
em empresa do setor produtivo.
O estágio deverá oferecer oportunidades de aprimoramento aos alunos em sua área
de atuação profissional, de integração entre os componentes curriculares e de
relacionamento com o mercado de trabalho. Dverá também auxiliar os estudantes a
adquirir e/ou consolidar, entre outras, as seguintes habilidades, atitudes e
valores: espírito de questionamento, iniciativa, independência, capacidade para
solucionar problemas em grupo e individualmente, apresentar resultados
oralmente e por escrito (relatórios, apresentações públicas), persistência,
precisão e atenção a detalhes, curiosidade e determinação, imaginação.
Flexibilidade, capacidade de observação, raciocínio abstrato, iniciativa,
perserverança, dinamismo, sociabilidade e seriedade. O estágio ideal deverá ter
objetivos e cronograma bem definidos, evitar excesso de trabalho repetitivo e
exigir do estudante o uso de conceitos avançados além de uma variedade de
procedimentos experimentais e técnicas instrumentais. É desejável que o estágio
não seja concentrado no final do curso.
A estruturação do curso de Licenciatura em Química deverá respeitar a
legislação específica. Entretanto, também nesse caso, o aluno deverá cumprir
estágio obrigatório, nas várias disciplinas referente à prática de ensino, com
a duração mínima de 300 (trezentas) horas.
É recomendável que o estudante também tenha acesso a outras atividades que
contribuam para melhorar sua formação, tais como: monitorias em disciplinas
teóricas e experimentais, participação em programas especiais de treinamento,
atividades de extensão, estágios de iniciação científica não curriculares,
participação em eventos científicos, visitas didáticas a indústrias químicas e
afins e a outras IES, matrícula em disciplinas optativas em diferentes áreas do
conhecimento, atividades integradas entre a Graduação e a Pós Graduação, como
por exemplo projetos PROIN (Programa de Apoio à Integração Graduação/Pós
Graduação). Deve-se incentivar a criação de empresas juniores com atuação
específica no campo da química.
4. REVISÃO DAS DIRETRIZES
Finalmente sugere-se que essas diretrizes curriculares sejam rediscutidas no
prazo máximo de 10 anos.