SELEÇÃO E RECOMENDAÇÃO DE VARIEDADES DE MAMOEIRO: AVALIAÇÃO DE LINHAGENS E
HÍBRIDOS
SELEÇÃO E RECOMENDAÇÃO DE VARIEDADES DE MAMOEIRO - AVALIAÇÃO DE LINHAGENS E
HÍBRIDOS1
INTRODUÇÃO
O mamoeiro cultivado comercialmente (Carica papaya L.) insere-se na classe
Dicotyledoneae, subclasse Archichlamydeae, ordem Violales, subordem Caricineae,
família Caricaceae e gênero Carica(Manica, 1982). Seu centro de origem é, muito
provavelmente, o Noroeste da América do Sul-vertente oriental dos Andes, ou
mais precisamente, a Bacia Amazônica Superior - onde a diversidade genética é
máxima, o que caracteriza o mamoeiro como uma planta tipicamente tropical.
Badillo (1993) apresenta o segundo esquema de taxonomia para a família
Caricaceae, identificando 34 espécies distribuídas em cinco gêneros:
Jacaratia,com sete espécies encontradas desde o México até o norte da
Argentina; Jarilla,compreendendo três espécies no México e Guatemala;
Cylicomorpha, com duas espécies da África Equatorial; Horovitzia, gênero mais
novo, com uma espécie no México; e o gênero Carica, que possui duas seções:
Vasconcella, com 20 espécies, e Carica, com uma espécie (C. papaya L.).
O Brasil é o primeiro produtor mundial de mamão, com 1,7 milhão de toneladas em
1999, o que representa uma participação de 31,6 % do total mundial (FAO, 2000).
A maior parte desta produção é dirigida ao mercado interno, haja vista que
atualmente não se exporta nem 5% do total produzido. A produtividade média
nacional é da ordem de 40 t/ha/ano para as variedades do grupo Solo e 60 t/ha/
ano para as variedades do grupo Formosa.
É evidente que uma das possibilidades para aumentar a produtividade baseia-se
na melhoria das práticas agrícolas e na implantação de novos métodos de
cultivo, de maneira tal que possam ser obtidos incrementos na qualidade e
produção total de diversas espécies frutíferas.
Por outro lado, deve ser considerado que o melhoramento genético do mamoeiro
pode contribuir substancialmente para uma maior produtividade. Este objetivo
pode ser alcançado mediante aplicação de métodos de melhoramento e seleção de
variedades com rendimentos superiores, bem como através da obtenção de
linhagens ou híbridos com resistência a doenças e pragas, o que certamente
contribuirá de maneira decisiva no melhoramento da cultura, limitada em grande
escala pela ampla incidência e distribuição de doenças viróticas (Harkness,
1967; Ishii & Holtzmann, 1963; Gabrovska et al., 1967).
No Brasil, antes da introdução do mamoeiro tipo Solo, praticamente não existiam
variedades comerciais para plantio, visto que as sementes utilizadas
apresentavam elevado grau de segregação devido à exclusiva existência de
cultivares dióicas. Até fins dos anos 70, predominavam no Brasil cultivos de
mamoeiros dióicos ou comuns e o Estado de São Paulo destacava-se como principal
produtor, porém a ocorrência do vírus do mosaico-do-mamoeiro, na região de
Monte Alto - SP, determinou a migração da cultura para outros Estados (Marin
& Ruggiero, 1988).
A partir de 1976/77, a cultura retomou sua importância econômica para o Brasil,
principalmente devido à introdução de cultivares do grupo Solo e de híbridos do
grupo Formosa, notadamente nos Estados do Pará, Bahia e Espírito Santo. Vale
ressaltar que a simples introdução de cultivares do grupo Solo provocou uma
significativa expansão da comercialização do fruto, devido à sua grande
aceitação tanto no mercado interno quanto para exportação (Marin et al., 1994).
Desta forma, este trabalho teve por objetivo avaliar linhagens e híbridos, com
ênfase para resistência a doenças, procedendo avaliações agronômicas dos
principais genótipos promissores de mamão, a fim de identificar aqueles mais
adaptados a diferentes agroecossistemas do País.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi conduzido em área experimental da Embrapa Mandioca e
Fruticultura, em Cruz das Almas-Bahia, munícipio situado a 12°40'19'' de
latitude Sul e 39°06'22'' de longitude W. Gr., a uma altitude de 226m. O clima,
segundo a classificação de Köppen, não é caracterizado por uma única zona
climática, parecendo ser uma transição entre as zonas Am e Aw (EMBRAPA, 1977).
De acordo com a classificação de Thornthwaite, o clima é do tipo C1, seco e
subúmido, com dois a três meses secos e precipitação pluviométrica média anual
de 1224mm. A temperatura média anual é de 24°C, com umidade relativa anual de
80%.
Foi utilizado o Banco Ativo de Germoplasma de Mamão (BAG - Mamão), implantado
em latossolo amarelo distrófico A moderado, textura franco-arenosa, com
declividade de 0% a 3%. O BAG-Mamão foi instalado em uma área de 7200 m2, em
espaçamento de 3 m x 2 m, sem delineamento experimental, com 10 plantas por
acesso.
Atualmente, é constituído por 141 acessos, sendo 134 da espécie C. papayaL.,
dois acessos da espécie C. quercifolia, um Jacaratia spinosa, um C. cauliflorae
três híbridos sintetizados entre acessos dos grupos Solo e Formosa.
Para avanço de gerações endogâmicas, visando à síntese de linhagens para
posterior intercruzamento, todas as plantas hermafroditas do BAG-Mamão foram
submetidas a autofecundações, sendo utilizado o 'sib-crossing' quando das
polinizações de plantas femininas.
Foram avaliados 29 acessos do grupo Solo, 59 acessos do grupo Formosa e um
híbrido entre os dois grupos, com análises de peso (g), comprimento (cm) e
diâmetro (cm) de frutos. Em relação à incidência de pragas e doenças, o
comportamento dos acessos foi avaliado quanto aos patógenos mais comuns à
cultura do mamoeiro (Phytophthora sp., Colletotrichum gloeosporioides(Penz)
Sacc, Asperisporium caricae(Spey) Maubl, vírus da mancha-anelar e
Pseudopiazurus papayanus). A reação quanto a Phytophthora sp. foi observada em
105 acessos do BAG-Mamão, mediante observação visual dos sintomas onde as
plantas foram infectadas por via natural.
RESULTADOS
Nas Figuras_1, 2 e 3, estão representados os valores médios de peso (g),
comprimento (cm) e diâmetro (cm) de frutos de 29 acessos do grupo Solo, obtidos
durante 18 meses de colheita.
Para o caráter peso médio de frutos, o intervalo de variação para os 29 acessos
foi de 284 g a 852 g. O acesso com frutos de maior peso foi o CMF 059
(Malaysian Yellow 422) (Figura_1). A alta heterogeneidade do material avaliado
quanto a este caráter, indica a possibilidade de sucesso ao selecionar
materiais visando a aumentar o peso dos frutos. Contudo, deve-se atentar para a
reconhecida baixa herdabilidade do caráter, dada a marcante influência do
ambiente na expressão do mesmo.
As variações observadas nos valores de comprimento e diâmetro de frutos de
mamoeiros do grupo Solo foram de 11,7 cm a 21,1 cm (Figura_2) e 6,7 cm a 9,9 cm
(Figura_3), respectivamente, refletindo também a heterogeneidade para os dois
caracteres.
Os valores médios e desvios de peso (g), comprimento (cm) e diâmetro (cm) de
frutos dos 59 acessos do grupo Formosa são apresentados nas Figuras_4, 5 e 6.
Para os caracteres comprimento e diâmetro de frutos, a variabilidade não foi
tão acentuada, assumindo valores de 17,2 cm a 35,1 cm e 8,6 cm a 13,6 cm,
respectivamente. Por outro lado, de forma semelhante ao que ocorreu para os
acessos do grupo Solo, observou-se, no grupo Formosa, uma ampla variabilidade
para o caráter peso médio de frutos, tendo esses valores variado entre 710,4 g
a 2.191,2 g. O acesso com frutos mais pesados foi o CMF 002 (DCG 439-1). Esses
valores também evidenciam as possibilidades de sucesso em programas de
melhoramento genético.
Nas Tabelas_1, 2 e 3, é apresentado o comportamento do híbrido CMF 121 em
relação aos seus parentais (CMF 034 - grupo Solo e CMF 008 - grupo Formosa),
analisando-se caracteres relativos à fenologia, às sementes e à inflorescência
e ao fruto, respectivamente.
Observa-se pela Tabela_1 que a redução da altura da inserção da primeira flor
(altura do primeiro fruto) do híbrido, em relação aos parentais, reveste-se de
grande importância econômica porque permite uma maior longevidade de colheita
e, conseqüentemente, uma maior produção por planta, permitindo a exploração de
ciclos mais avançados do mamoeiro.
Para os caracteres relativos às sementes (Tabela_2), as modificações no híbrido
foram pequenas e não relevantes; todavia, os caracteres de inflorescência e
fruto do híbrido sofreram modificações importantes (Tabela_3). Além da ausência
de carpeloidia ter sido transferida para o híbrido, o peso dos frutos do
híbrido foi intermediário entre os parentais, indicando uma ausência de
dominância para este caráter, o que revela a possibilidade de alterações do
tamanho do fruto, em plantas com frutos não defeituosos.
Na caracterização dos acessos quanto a Phytophthora, a partir de avaliação
compreendendo 125 acessos, observou-se que os acessos CMF 001, CMF 053, CMF
062, CMF 081 e CMF 089 são moderadamente tolerantes, e os acessos CMF002, CMF
007, CMF 033, CMF 060, CMF 065, CMF 070, CMF 071, CMF 083 e CMF 101 apresentam
nível maior de tolerância.
CONCLUSÕES
1. Os acessos do Banco Ativo de Germoplasma de Mamão (BAG-Mamão) da Embrapa
Mandioca e Fruticultura apresentam grande variabilidade genética para os
caracteres peso, comprimento e diâmetro de frutos, passível de ser explorada em
programas de melhoramento genético.
2. A análise de planta híbrida em relação aos parentais indica a possibilidade
de modificações genéticas de caracteres comercialmente importantes, a exemplo
de altura de inserção da primeira flor funcional, altura da planta, carpeloidia
e peso de frutos.