Efeito da aplicação de ácido giberélico e cloreto de cálcio no retardamento da
colheita e na conservabilidade de caqui, Fuyu
A cultura do caquizeiro apresentou um significativo incremento na área
cultivada na década de 90, sendo que, dos 45 ha existentes no Rio Grande do Sul
em 1988, se passou a mais de 1200ha em 1998 (Frá, 1998). É uma espécie
altamente produtiva e rústica, sendo que o ciclo de produção é complementar com
outras espécies frutíferas de clima temperado. Todavia, o fruto tem pouca
conservabilidade pós-colheita, ocasionando grandes perdas. Com o aumento de
área cultivada e da produtividade, a oferta deste fruto vem aumentando de ano
para ano. No Rio Grande do Sul, o período de colheita é relativamente curto,
concentrando-se no período de 15 de abril a 15 de maio, ocasionando redução do
valor pago ao produtor.
A aplicação de ácido giberélico (AG3) em caquizeiros na pré-colheita permite
retardar a velocidade de maturação e, em conseqüência, escalonar a colheita e
prolongar a oferta de frutos (Ben-Arie et al., 1996). Este atraso de maturação
também foi verificado em uvas (Guelfat-Reich & Safran, 1973), cerejas
(Looney & Lidster, 1980) e citros (Marur et al., 1999). Nestes dois últimos
casos, verificou-se também um aumento no tamanho dos frutos.
A degradação da clorofila e a síntese de pigmentos amarelados e/ou avermelhados
podem ser parcialmente inibidas com aplicações de AG3 em pré-colheita de caqui
(Ben-Arie et al., 1996), tomate (Dostal & Leopold, 1967), citrus (Marur et
al., 1999) e morango (Martinez et al., 1994). Verificou-se também que a
aplicação de AG3 reduz as perdas de firmeza de polpa em caqui (Ben-Arie et al.,
1996).
A aplicação de cálcio em pré-colheita de maçãs aumenta o teor de hemicelulose,
pectinas totais e cálcio na polpa, diminuindo a velocidade da hidrólise da
parede celular, causado pelas enzimas b-D-galactosidase, poligalacturonases e
pectilmetilesterases (Siddiqui & Bangerth,1995). Além disso, por preservar
a integridade da parede celular, o cálcio pode prevenir desordens fisiológicas
(Poovaiah, 1986).
Dentro deste contexto, estudou-se o efeito da aplicação em pré-colheita do AG3
e do CaCl2 no retardamento da colheita e na manutenção da qualidade de caquis
após a colheita.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em pomar, localizado no município de Farroupilha-
RS, na propriedade da Empresa Kivistrin S/A, constituído de plantas de caqui da
cv. Fuyu, com oito anos de idade, solo classe 3, segundo a classificação do
ROLAS. A análise foliar e de solo não demonstraram nenhum desequilíbrio
nutricional. As plantas foram pulverizadas com pulverizador costal, Marca Jato,
sendo utilizados 3 litros de calda por planta. O espaçamento era de 2,0 x 3,0
metros, sendo utilizadas 16 plantas, sorteadas ao acaso, sendo 4 para cada um
dos seguintes tratamentos:
1 ¾ Testemunha: pulverizada com água 30 dias antes da data prevista da
colheita;
2 - Aplicação de cloreto de cálcio (CaCl2) a 1% (m/v), a cada 15 dias a partir
de 90 dias antes da data prevista da colheita;
3 - AG3
1
30 ppm, aplicado 30 dias antes da colheita;
4 ¾ CaCl2 1% aplicado a cada 15 dias a partir de 90 dias antes da data prevista
da colheita + AG3 30ppm, aplicado 30 dias antes da data prevista da colheita.
Os frutos foram colhidos quando a coloração da epiderme apresentava maturação
comercial (verde-amarelada). O armazenamento foi realizado em uma sala aberta à
temperatura ambiente, sendo os frutos armazenados em caixas plásticas, em
amostras de 12 frutos por tratamento, com três repetições, separados e pesados
para cada dia de avaliação. As avaliações físico-químicas e fisiológicas foram
realizadas na colheita e a cada 4 dias até completar os 20 dias de
armazenamento.
A perda de massa foi obtida pela diferença de massa inicial e aquela no momento
da realização das análise, sendo expressa em porcentagem (%), em relação ao
valor inicial. A firmeza de polpa (FP) foi determinada com auxílio de um
penetrômetro manual
2
, munido de ponteira de 8mm de diâmetro. Foram efetuadas duas determinações, em
faces opostas, na região equatorial dos frutos, após a remoção da casca. Os
resultados foram expressos em Newton (N). Os sólidos solúveis totais (SST)
foram determinados por refratometria
3
, com escala de 0 a 32ºBrix. Os resultados foram e expressos em graus Brix
(ºBrix). A acidez total titulável (ATT) foideterminada a partir de 10 mL de
suco de caqui diluídos em 90 mL de água destilada. A solução foi titulada com
hidróxido de sódio a 0,1N até pH 8,2. Os resultados foram expressos em cmol.L-
1. A concentração de etilenofoi determinada por cromatografia em fase gasosa,
utilizando um cromatógrafo a gás4, equipado com uma coluna de aço inox 1/
8"
5
e um detetor de ionização de chama. A produção de etileno foi expressa em
nL.g-1h-1. O teor de clorofilas e de carotenóides foi determinado através da
metodologia descrita em Lutz (1985) e expressa em mg/mg de peso fresco.
O experimento foi conduzido segundo o delineamento inteiramente casualisado,
seguindo esquema fatorial 4x6 (tratamentos a campo x tempo de análise após o
armazenamento). Cada parcela a campo era composta de 4 plantas. Para a
interpretação dos resultados, realizou-se a análise da variância, utilizando-se
de regressão polinomial para os fatores tratamentos e época de conservação.
Para o dia da colheita, a análise foi realizada por comparação das médias dos
tratamentos, realizada pelo teste de Duncan, a 5% de probabilidade, utilizando
o programa SANEST (Zonta & Machado, 1984).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os frutos tratados com AG3, na pré-colheita, apresentaram uma redução da
velocidade da maturação, retardando a colheita em 15 dias (Quadro 1). Além
disto, verificou-se que no tratamento com AG3 maior firmeza de polpa e conteúdo
de clorofilas do que nos demais tratamentos.
A aplicação de CaCl2, combinado com AG3, também resultou num atraso da colheita
(Tabela_1). Já a aplicação isolada de CaCl2 não afetou a evolução da coloração,
que é a característica mais empregada para a avaliação do ponto de colheita de
caquis, cv. Fuyu. Estes resultados indicam que não há efeito benéfico da
aplicação de CaCl2 no retardamento da colheita.
Como uma das principais perdas pós-colheita está relacionada à redução da masa,
analisou-se o efeito dos tratamentos pré-colheita no comportamento dos frutos
armazenados por um período de 20 dias. Em todos os tratamentos houve
significativa (P£0,05) perda de masa (Figura_1). Entretanto, ele foi
significativamente (P£0,05) superior nos frutos não tratados com AG3. O baixo
coeficiente de determinação (R2=0,71) verificado para o tratamento AG3 + cálcio
deve-se à pouca perda de peso durante o armazenamento. Esse fato determina que
pequenas diferenças em relação à reta proporcionam baixos coeficientes.
As menores perdas de masa observadas em caquis tratados com AG3, devem-se,
provavelmente, à maior integridade física e biológica devido a uma diminuição
no metabolismo respiratório e do etileno, representada pela maior firmeza de
polpa (Figura_2), maior conteúdo de clorofilas (Figura_6) e menor conteúdo de
carotenóides (Figura_7).
Segundo Mitcham et al. (1998), para que os caquis da cv. Fuyu tenham boa
aceitabilidade para o consumo "in natura", a firmeza de polpa deve
estar entre 20 e 60N. Pela análise dos resultados apresentados na Figura_2,
pode-se verificar que, para todos os tratamentos, houve redução significativa
(P£0,05) da FP, passando de valores médios de 72 N, no momento da colheita,
para 15N, após 20 dias de avaliação. Ben-Arie et al. (1986 e 1996) verificaram
que o AG3 reduz o metabolismo respiratório e a produção de etileno, diminuindo
a síntese de enzimas hidrolíticas. A conseqüência deste efeito foi confirmada
nos caquis tratados com este regulador de crescimento que contribuiu para a
preservação de maiores valores de firmeza de polpa (Figura_2). Neste caso,
manteve-se valores superiores a 20N até o vigésimo dia de avaliação.
Na colheita, os frutos apresentaram teores de sólidos solúveis totais (SST) que
variaram de 15,19 a 16,6ºBrix (Quadro_1). Estes valores são semelhantes aos
relatados na maioria das regiões e países para esta cultivar
Durante o armazenamento, observaram-se variações significativas (P£0,05) no
teor de SST (Figura_3), verificando-se diferentes comportamentos entre os
tratamentos. Os baixos valores do coeficiente de determinação (R2) mostra-nos a
grande variabilidade entre os valores observados. Comportamento similar também
foi verificado para outros frutos (Maness et al., 1992). Murray & Valentini
(1998) citam que este comportamento, freqüentemente observado em caquis e
frutos de caroço, deve-se a um grande número de variáveis associadas que afetam
o teor de SST. Eles destacam a bioconversão de açúcares, a formação de
moléculas solúveis na parede celular, o balanço de ácidos orgânicos e a
solubilização de sais.
Durante o armazenamento, observou-se uma tendência de redução na ATT (Figura
4). Entretanto, nos tratamentos com CaCl2, houve, após uma redução inicial da
ATT, incrementos na fase final de avaliação. Senter et al. (1991) também
observaram este comportamento. Segundo Da-Silva et al. (1994), o aumento da ATT
em frutas armazenadas por curtos períodos pode ser explicado pela geração de
radicais ácidos (ácidos galacturônicos) a partir da hidrólise de constituintes
da parede celular, em especial, as pectinas. Já a diminuição pode ser explicada
pelo consumo de moléculas ácidas, em especial os ácidos orgânicos no processo
de respiração.
Por se tratar de um fruto climatérico, o monitoramento da produção de etileno
em caqui permite avaliar a velocidade da maturação (Pech et al., 1994). Frutos
tratados com AG3 apresentaram uma produção de etileno com comportamento linear
crescente (Figura_5), indicando, neste caso, uma boa preservação da integridade
física e biológica. Comportamento similar foi verificado em frutos tratados com
cálcio. Contudo, verifica-se um efeito negativo na combinação destes dois
tratamentos. Isto também foi verificado para a firmeza de polpa.
Durante o período de avaliação, a concentração média de clorofilas diminuiu de
3mg.g-1 para 1mg.g-1(Figura_6), enquanto a concentração média de carotenóides
aumentou de 2mg.g-1 para 4,6mg.g-1(Figura_7).
Segundo Senter et al. (1992), a redução do conteúdo de clorofilas deve-se,
sobretudo, à ação de clorofilases. Citam, ainda, que a variação de pH e de
textura e a indução de sistemas oxidativos também podem degradar clorofilas.
Gross et al. (1984) citam que a dinâmica de biogênese de cloroplastos e
cromoplastos e, por conseqüência, de clorofilas e de carotenóides tem
correlação inversa. Este comportamento foi observado nos caquis da cv. Fuyu. O
constante decréscimo de clorofilas foi acompanhado de um constante acréscimo de
carotenóides. A aplicação de AG3, além de ter proporcionado um retardo de 15
dias na colheita dos frutos (Quadro_1), preservou neles maiores teores de
clorofila. Estes resultados são conseqüência do efeito do AG3 como inibidor de
clorofilases previamente demostrado por Gross (1982), Gross et al. (1984) e
Ben-Arie et al. (1996).
Quando se combinou o CaCl2 nas pulverizações, perdeu-se o efeito protetor do
AG3 sobre as clorofilas.
CONCLUSÕES
1- Pode-se retardar a colheita de caquis , cv. Fuyu, em 15 dias, com aplicação
de AG3 na concentração de 30 ppm.
2- O uso do CaCl2 não retardou a maturação e, quando combinado, reduziu os
efeitos benéficos do AG3 após a colheita.