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BrBRCVAg0100-29452002000200030

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variedadeBr
ano2002
fonteScielo

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Influência da irrigação no ciclo do abacaxizeiro cv. Pérola em área de tabuleiro costeiro da Bahia INFLUÊNCIA DA IRRIGAÇÃO NO CICLO DO ABACAXIZEIRO CV. PÉROLA EM ÁREA DE TABULEIRO COSTEIRO DA BAHIA 1

INTRODUÇÃO Mesmo sendo uma planta com necessidades hídricas relativamente baixas, quando comparada a outras espécies cultivadas, o abacaxizeiro [Ananas comosus (L.) Merrill] apresenta uma demanda permanente por água, variável ao longo do ciclo e dependente do seu estádio de desenvolvimento.

Um cultivo comercial de abacaxi requer, em geral, uma precipitação mínima na faixa de 80 a 100 mm/mês (Py et al., 1987). Segundo Neild & Boshell (1976), em áreas com pluviosidade inferior a 500 mm/ano, o abacaxi deve ser cultivado com irrigação. Mesmo em áreas com pluviosidade total anual acima desse limite, a irrigação é necessária, se ocorrer um período de três meses consecutivos com chuvas inferiores a 15 mm/mês ou de quatro meses com menos de 25 mm/mês ou, ainda, cinco meses com chuvas inferiores a 40 mm/mês (Almeida & Reinhardt, 1999).

Portanto, uma boa distribuição das chuvas é imprescindível para satisfazer as exigências do abacaxizeiro, de modo a permitir produções econômicas. Trabalhos experimentais conduzidos em muitos países produtores têm evidenciado a importância de um suprimento adequado de água, para o crescimento e desenvolvimento do abacaxizeiro, com reflexos na produção quantitativa e qualitativa de frutos (Tay, 1974; Medcalf, 1982; Asoegwu, 1987; Asoegwu, 1988).

No que diz respeito ao Brasil, dados pluviométricos das principais regiões produtoras de abacaxi, reunidos por Giacomelli & Py (1981), caracterizam bem a necessidade de irrigação para a cultura, seja por índices pluviométricos abaixo da faixa mais adequada, seja pela ocorrência de períodos secos acentuados. De forma coerente com essa constatação, resultados experimentais obtidos no semi-árido brasileiro e na região dos Tabuleiros Costeiros têm comprovado a influência benéfica da irrigação na cultura do abacaxi (Souto et al., 1998; Souza et al., 1998; Almeida et al., 1999).

Em Cruz das Almas, local onde foi executado o presente estudo, a precipitação pluviométrica média é de 1170 mm/ano. Contudo, devido a suas características edáficas, baixo armazenamento de água, a ocorrência de oito meses de déficit hídrico (agosto a março) impede que as plantas expressem todo seu potencial produtivo, sem o uso da irrigação (Almeida, 1991a, 1991b, 1991c; Almeida & Souza, 1994).

O ciclo do abacaxizeiro, que é dividido nas fases vegetativa ou de crescimento vegetativo, reprodutiva ou de formação do fruto e propagativa ou de formação de mudas, pode ser influenciado pelo material propagativo utilizado, pelas condições ambientais e pelo manejo da cultura, onde se inclui a irrigação (Reinhardt et al., 1986; Reinhardt, 2000).

Neste estudo, objetivou-se avaliar a influência da irrigação sobre o ciclo do abacaxizeiro cv. Pérola, nas condições edafoclimáticas dos Tabuleiros Costeiros do Nordeste Brasileiro.

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido na área experimental da Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, Bahia, situada a 12o 40' 19" de latitude Sul e 39 o 06' 22" de longitude Oeste de Greenwich. A altitude é de 220m acima do nível do mar, com pluviosidade média anual de 1.170 mm e temperatura média de 24,50C. O solo da área é um Latossolo Amarelo Distrófico A moderado textura franco argilo-arenosa fase transição floresta tropical subperenifólia/ subcaducifólia, anteriormente cultivado com citros, com as seguintes características químicas, na profundidade de 0 a 20 cm: pH (em água)=6,2; fósforo (extrator de Mehlich)=12 mg/dm3; potássio (extrator de Mehlich)=90 mg/ dm3; cálcio=2,0 cmolc/dm3; magnésio=1,1 cmolc/dm3; sódio=0,13 cmolc/dm3; soma de bases=3,46 cmolc/dm3; alumínio=0,0 cmolc/dm3; hidrogênio=2,23 cmolc/dm3; CTC=5,69 cmolc/dm3 e saturação por bases=61 %.

O plantio ocorreu em setembro/94, utilizando-se de um delineamento experimental em blocos casualizados, com quatro repetições. Foram estudados cinco níveis de irrigação, por aspersão convencional, com aspersores tipo ZED-30, com bocais de diâmetro de 5,0 x 6,0 mm dispostos em linha ("line source"), espaçados de seis metros, de acordo com a metodologia proposta por Hanks et al. (1976). A medição das lâminas de água aplicadas por irrigação, em cada uma das parcelas, foi feita mediante coletas em pluviômetros, distribuídos em cada bloco experimental, transversal à linha de aspersores, três em cada parcela, sendo a lâmina definida pela média dos três pluviômetros. As lâminas aplicadas estão apresentadas na Tabela_1, juntamente com os dados pluviométricos do período de condução da pesquisa. O controle da umidade do solo foi feito por três baterias de dois tensiômetros, instalados nas profundidades de 0,15 e 0,25 m, em dois blocos do experimento e as irrigações iniciadas sempre que a tensão de água no solo, no tensiômetro instalado a 0,15 m de profundidade e na segunda parcela a contar da linha de aspersores, indicava 50 kP.

A adubação básica constou de 250 kg de N + 40 kg P2O5 + 120 kg de K2O/ha/ciclo, utilizando-se como fontes da torta de mamona, uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio.

Utilizou-se o espaçamento de 0,90 m x 0,40 m x 0,30 m, em fileiras duplas (51.282 plantas/ha). As subparcelas úteis ocuparam uma área de 11,70 m2 (2,60m x 4,50m), com 60 plantas em cada.

Durante a condução do experimento, foram efetuados os tratos culturais e fitossanitários preconizados para a cultura, constatando-se baixa incidência de pragas e doenças. A indução artificial de floração foi feita em 03-07-95 (10º mês após o plantio), utilizando 25 ml de Ethrel + 2 kg de uréia + 35 g de Ca (OH)2 para 100 litros de água. Em razão do estágio de maturação dos frutos, a colheita foi feita em sete etapas, no período de 23-11-95 a 03-01-96.

Foram avaliados dados referentes ao florescimento, assim como as quantidades e os pesos dos frutos, nas sete colheitas realizadas, usando-se procedimentos da estatística descritiva para a interpretação dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Influência da irrigação no florescimento natural O efeito das lâminas de irrigação no florescimento natural do abacaxizeiro- 'Pérola' está evidenciado na Figura_1, onde se observa que a floração natural alcançou um valor próximo a 30% na maior lâmina, reduzindo-se gradativamente, até 2%, na menor lâmina.

A avaliação do florescimento natural foi efetivado em 08-08-95, na semana após a indução artificial da floração, visto que, segundo Matos & Sanches (1989), é necessário um período de seis semanas após o tratamento de indução para que a inflorescência do abacaxizeiro-'Pérola' se torne visível no centro da roseta foliar. Uma segunda avaliação, realizada na semana (dia 22-08-95), quando, de acordo com Matos & Sanches (1989), estariam também visíveis as inflorescências resultantes da indução artificial, alterou completamente a situação dos percentuais de florescimento, destacando claramente a elevada eficiência do tratamento de indução e evidenciando que o mesmo praticamente anulou as diferenças decorrentes dos efeitos das lâminas de irrigação.

Tay (1974) constatou efeitos positivos de lâminas e de maiores freqüências de irrigação no florescimento natural do abacaxizeiro-'Masmerah'. Observou ainda diferenças no tempo de resposta da planta à indução artificial em função da influência de lâminas (na melhor lâmina a resposta à indução completou-se em cinco semanas, enquanto nas demais lâminas foram necessárias de uma a três semanas a mais para a completa resposta das plantas ao florescimento).

Entretanto, as informações constantes da Figura_1, referentes à floração total, não permitem detectar diferenças nas respostas das plantas ao tratamento de indução, em função das lâminas d'água aplicadas.

Também Asoegwu (1978) observou que irrigações mais freqüentes reduziram o número de dias necessários para 50% do florescimento em plantas do abacaxi- 'Smooth Cayenne'.

O desencadeamento do processo de diferenciação floral, que estabelece o início da fase reprodutiva, é um momento particularmente interessante no ciclo do abacaxi, visto que determina basicamente quando deverá ocorrer a colheita dos frutos. A influência da irrigação neste processo deve ser considerada nos plantios comerciais, tendo em vista as perspectivas de oferta da produção nos períodos de safra ou entressafra.

Influência da irrigação na antecipação da colheita dos frutos Como pode ser observado na Figura_2, a irrigação teve influência marcante na antecipação da época da colheita dos frutos, visto que, nas três primeiras colheitas, praticamente foram colhidos frutos apenas das parcelas submetidas às maiores lâminas d'água, enquanto, em relação às menores lâminas, as colheitas tornaram-se mais expressivas apenas nas etapas finais do processo.

Na Tabela_2, os dados estão apresentados de forma cumulativa, ao longo das sete colheitas realizadas.

Segundo Matos & Sanches (1989), o início da maturação dos frutos do abacaxi-'Pérola', sob condições de sequeiro, na região de Coração de Maria, na Bahia, ocorreu na 23ª semana após a indução do florescimento. No presente estudo, a 23ª semana após o tratamento de indução foi alcançada no dia 12-12-95, quando se atingiu a colheita de 75% do total de frutos colhidos na lâmina correspondente a 608 mm/ano (Tabela_2). No extremo oposto, na parcela irrigada com 334 mm/ano, que mais se aproxima das condições de sequeiro, tal índice de colheita não passou de 3,8%, concordando portanto com os resultados de Matos & Sanches (1989), no que se refere ao início da maturação na ausência da irrigação.

Praticamente metade dos frutos das parcelas submetidas às duas maiores lâminas d'água foi colhida com uma antecipação de um mês, em relação ao final da colheita, e mais de 70% dos totais colhidos naquelas parcelas tiveram a colheita antecipada em 22 dias, em relação ao final do processo. Constatou-se, também, que as maiores lâminas de irrigação permitiram uma distribuição mais eqüitativa da colheita, no período em que ela ocorreu. De modo inverso, nas menores lâminas, o período de colheita foi bem mais concentrado.

A antecipação da colheita apresenta a vantagem de reduzir o tempo de ocupação da terra, enquanto a distribuição mais escalonada da mesma pode facilitar o processo de comercialização. São aspectos que podem resultar em ganhos econômicos significativos, na abacaxicultura irrigada.

A influência das diferentes datas de colheita no peso médio do fruto está apresentada na Figura_3.

Como se pode observar na Figura_3, a antecipação da colheita, nas duas maiores lâminas de irrigação, não resultou em prejuízo para o peso médio do fruto.

Apenas nas lâminas de 525 e 468 mm/ano verificou-se um ligeiro aumento no peso médio dos frutos, nas colheitas subseqüentes à primeira. Para todas as lâminas, verificou-se redução no peso médio dos frutos das duas últimas colheitas.

O peso fresco da folha 'D', coletada por ocasião da indução floral, indicativo do vigor das plantas, variou na seguinte ordem, da mais alta lâmina de irrigação para a mais baixa: 74,4g; 74,0g; 78,9g; 60,6g e 52,0g. Seguindo a mesma ordem (da lâmina mais alta para a mais baixa), as estimativas de produtividade final para cada tratamento foram de 47,5 t/ha; 46,8 t/ha; 49,6 t/ ha; 43,1 t/ha; e 35,8 t/ha (Souza et al., 1998), o que reflete a estreita relação entre lâmina de água, vigor da planta e produção. Os resultados obtidos mostram ainda que o maior vigor das plantas, em função das lâminas de água mais altas, tornou-as mais sensíveis aos estímulos naturais para o florescimento, com a conseqüente antecipação na colheita dos frutos.

CONCLUSÕES 1. Houve efeito positivo das lâminas crescentes de irrigação sobre a diferenciação floral natural e antecipação no período de colheita do fruto, o que resultou no encurtamento do ciclo da planta.

2. A antecipação do florescimento e da colheita não prejudicou o peso médio do fruto, nas parcelas submetidas às maiores lâminas d'água.

3. As maiores lâminas de irrigação permitiram uma distribuição mais eqüitativa da colheita, no período em que ela ocorreu.


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