Teores de nutrientes do mamoeiro 'Improved Sunrise Solo 72/12' sob diferentes
lâminas de irrigação, no Norte Fluminense
TEORES DE NUTRIENTES DO MAMOEIRO 'Improved Sunrise Solo 72/12' SOB DIFERENTES
LÂMINAS DE IRRIGAÇÃO, NO NORTE FLUMINENSE1
INTRODUÇÃO
A Região Norte Fluminense (NF) possui grande potencial de produção para
frutíferas, incluindo o mamão. Além de apresentar situação logística
apropriada, a região possui, também, condições edafoclimáticas semelhantes às
das principais regiões produtoras de mamão do País (Marin et al., 1995).
Todavia, a pouca tradição no cultivo do mamão e a ausência de informações sobre
o seu comportamento na região dificultam investimentos mais expressivos na
cultura.
Entre os fatores que limitam a produtividade do mamoeiro, destaca-se a
disponibilidade de água e de nutrientes minerais, uma vez que o mamoeiro
apresenta os processos de floração, crescimento e maturação dos frutos
simultaneamente, exigindo um suprimento constante e adequado de água e
nutrientes para atingir o potencial de produção (Cibes & Gaztambide, 1978).
A importância da água relaciona-se tanto à sua falta quanto ao seu excesso. A
restrição hídrica, além de reduzir o crescimento da planta, favorece a produção
de flores masculinas e estéreis, reduzindo a produção de frutos. Por outro
lado, o excesso de água no pé da planta diminui a aeração e afeta a absorção de
nutrientes, o aparecimento de doenças, além de possibilitar a perda de
nutrientes por lixiviação (Marin et al., 1995).
Há muita controvérsia na literatura sobre a parte da planta, limbo ou pecíolo
foliar, que deve ser usada para avaliar o estado nutricional do mamoeiro.
Alguns autores recomendam a análise do pecíolo para a avaliação do
"status" de N (Awada, 1969), de P (Awada & Long, 1969) e de K
(Awada & Long, 1971). Entretanto, Viégas (1997) verificou maior
sensibilidade do limbo foliar para detectar a disponibilidade de N para as
plantas. Pérez & Childers (1982) observaram que o limbo foliar, também, foi
mais sensível como indicador do nível de Mn no mamoeiro. Marinho (1999)
verificou que a melhor parte da folha para indicar o estado nutricional do
mamoeiro pode variar de acordo com o nutriente em questão. Para N, foi
verificado que o pecíolo se mostrou mais efetivo em detectar oscilações na sua
disponibilidade. Costa (1995) verificou que os teores médios de N na matéria
seca do pecíolo variaram quando foram amostrados no período da seca e das
chuvas, enquanto os teores no limbo se apresentaram mais estáveis.Os teores de
N no pecíolo aumentaram bastante nas amostragens feitas na época das chuvas.
A má distribuição de chuvas no NF e a precipitação inferior à demanda hídrica
do mamoeiro, próxima de 1500 mm anuais (Falaguasta, 1980), tornam a irrigação
imprescindível ao cultivo do mamoeiro e, sendo assim, o conhecimento das
interações entre irrigação e adubação é de extrema importância. Portanto, o
objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito das diferentes lâminas de
irrigação sobre os teores de nutrientes nas folhas (limbo e pecíolo) do
mamoeiro 'Improved Sunrise Solo 72/12', no município de Campos dos Goytacazes-
RJ.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no período de agosto de 1998 a dezembro de 1999,
na Fazenda Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de
Janeiro (PESAGRO-RJ), localizado na Região Norte do Estado do Rio de Janeiro,
onde o solo em questão é classificado como Cambissolo de origem fluvial, pouco
profundo, com drenagem moderada a imperfeita, e, ainda, segundo classificação
de Köppen, possui clima do tipo Aw, com estações secas e chuvosas definidas.
A cultivar de mamoeiro utilizada foi a 'Improved Sunrise Solo 72/12', plantada
em fileiras duplas, com espaçamento 3,6 x 2,0 x 2,0 m.
Foi adotado o delineamento experimental em blocos casualizados, com três
repetições. A parcela experimental foi composta por cinco plantas úteis. Os
tratamentos foram constituídos por sete lâminas de irrigação, ou seja, 0; 40;
80; 120; 160; 200 e 240% da evapotranspiração de referência (estimada pelo
tanque Classe A). As lâminas foram aplicadas por meio de um sistema de
irrigação por microaspersão, com uma faixa molhada contínua.
Na época da implantação da cultura, a análise química do solo indicou a
seguinte adubação de plantio, por cova: 350 g de superfosfato simples, 30 g de
cloreto de potássio, 150 g de calcário e 5 L de esterco bovino curtido (Marin
et al., 1995).
A adubação em cobertura foi baseada nas recomendações de Marin et al. (1995),
sendo feitas alternadamente entre um mês e outro, uma adubação NK e outra NPK,
ou seja, no 1°, 3°, 5°, 7°, 9°, 11°, 13°, 15° mês fazia-se a mistura de 100 kg
de sulfato de amônia, 50 kg de cloreto de potássio, aplicando 100 g.pl-1 da
mistura, e no 2°, 4°, 6°, 8°, 10°, 12°, 14°, 16° mês fazia-se a mistura de 100
kg de sulfato de amônio, 100 kg de superfosfato simples e 50 kg de cloreto de
potássio, aplicando 100 g.pl-1 da mistura. Para controle de pragas, doenças e
plantas daninhas, foram feitas constantes vistorias no pomar, sendo aplicados
os defensivos necessários.
As avaliações dos teores de nutrientes no mamoeiro foram realizadas por meio da
amostragem de folhas recém-maduras (com uma flor recém-aberta em sua axila) em
junho de 1999. Foram retiradas amostras de duas plantas por parcela e
analisados, separadamente, o limbo e o pecíolo foliar, sendo estes divididos
logo após o corte da folha.
As duas partes das folhas foram, então, secas, em estufa de circulação forçada
de ar, à temperatura de 70oC, por 48 horas. Em seguida, o material foi
triturado em moinho (tipo Wiley) com peneira de 20 mesh. A matéria seca, assim
obtida, foi submetida às análises químicas. Os elementos analisados foram N, P,
K, Ca, Mg, S, B, Cl, Na, Fe, Cu, Mn e Zn. As análises foram realizadas de
acordo com metodologias descritas por Malavolta et al. (1997) e Jones Jr. et
al. (1991). O N foi determinado pelo método de Nessler (Jackson, 1965), após
digestão da matéria seca com H2SO4 e H2O2. A produção de frutos foi avaliada
por meio da pesagem individual dos frutos na colheita, durante o período de
realização do experimento. Os dados foram submetidos a análises de variância.
As regressões para as médias dos tratamentos foram testadas a 5% de
significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os teores de N, P, K, Ca, Mg, B, Na, Fe e Cu, no limbo, e os teores de N, P,
Ca, Mg, S, B, Na e Fe, no pecíolo, variaram significativamente com a lâmina
total aplicada (Tabela_1 e Figuras_1 e 2).
No presente trabalho, houve variação do N em relação às lâminas de irrigação,
tanto no pecíolo (regressão quadrática) quanto no limbo (regressão linear). A
significância da variação deste nutriente foi maior no pecíolo, corroborando as
observações feitas por Costa (1995) e por Marinho (1999). Entretanto, ao
contrário do observado por Costa (1995), os teores de N no pecíolo diminuíram
com o aumento da lâmina de irrigação.
Para aqueles nutrientes cujos teores nas folhas variaram em resposta às
diferentes lâminas de irrigação, as equações de regressão ajustadas foram em
sua maioria lineares. Exceções foram verificadas para os teores de N e Fe no
pecíolo e para os de Ca e Cu no limbo, que apresentaram equações de regressão
quadráticas (Tabela_1 e Figuras_1 e 2).
Verificou-se, no limbo, um decréscimo no teor de N e K, e um aumento nos teores
dos demais nutrientes com o aumento da lâmina de irrigação. Todavia, no
pecíolo, o teor de N apresentou decréscimo com o aumento das lâminas aplicadas,
até 160% da ETo, aumentando um pouco para as lâminas superiores. Comportamento
semelhante foi observado para o Fe no pecíolo, enquanto, para os demais
nutrientes, houve um aumento linear nos teores com o aumento da lâmina de
irrigação.
A absorção de nutrientes pelas plantas está diretamente relacionada à
disponibilidade destes e da água no solo. Dessa forma, um incremento na
aplicação de água para uma mesma adubação pode levar a maior absorção de
nutrientes pelas plantas, resultando em maiores teores de nutrientes nestas.
Entretanto, o aumento na aplicação de água pode levar a menores teores de
nutrientes na planta, em função de um maior crescimento e/ou produção,
provocando um efeito de diluição dos nutrientes nos tecidos da planta e, ainda,
devido a perdas de nutrientes por lixiviação.
Neste trabalho, os teores de N e K (no limbo) e N (no pecíolo) diminuíram com o
aumento da lâmina de água. A variação dos teores de N no pecíolo foi inversa à
variação da curva de produção, evidenciando que a exportação preferencial desse
nutriente para os frutos pode ter contribuído para esse resultado. O Nitrogênio
e o potássio são os nutrientes mais exportados para os frutos (Cunha &
Haag, 1980; Marinho, 1999).
Quanto aos outros nutrientes, que apresentaram crescimento significativo dos
teores em função do aumento da lâmina de água, o aumento da disponibilidade de
água no solo pode ter contribuído para otimizar sua absorção.
A obtenção de diferentes teores de nutrientes e também de produção em função de
vários níveis de aplicação de água é fato verificado por vários autores, não só
na cultura do mamão (Awada et al., 1979), como também na cultura do
maracujazeiro (Carvalho, 1998), o que demonstra a existência de uma interação
entre lâminas de irrigação e adubação como fatores de produção.
Um outro fato a destacar é que, para a quase totalidade dos nutrientes, os
teores encontrados para o tratamento de maior produção (T5) apresentaram
valores inferiores aos de outros tratamentos, indicando uma necessidade de
ajuste da adubação. Os teores de N e K, abaixo dos citados como adequados na
literatura, podem demonstrar uma possível deficiência nas adubações
estabelecidas.
A produtividade encontrada para a lâmina de 160% ETo está dentro dos padrões de
produtividade das principais regiões produtoras do País, embora os teores de N,
K, Ca, Mg , B e Cu estivessem abaixo dos teores citados como adequados na
literatura. Na avaliação do estado nutricional de várias cultivares de mamão
para o Norte Fluminense, foram encontradas, também, boas produtividades, porém,
com possível deficiência nutricional (Marinho, 1999), indicando que os níveis
críticos ou as faixas de teores adequadas estabelecidos por Reuther &
Robinson (1986) e por Costa (1995), para o mamoeiro, podem não estar sendo
representativos para essa região.
CONCLUSÕES
1 - Os teores de N, P, K, Ca, Mg, B, Na, Fe e Cu, no limbo, e os teores de N,
P, Ca, Mg, S, B, Na e Fe, no pecíolo, variaram significativamente com as
lâminas aplicadas.
2 - As equações de regressão encontradas para a maioria dos nutrientes em
função do aumento das lâminas de irrigação foram lineares, sendo decrescentes
para N, K e Fe e crescentes para os demais.
3 - A constatação da variação significativa da maioria dos teores de nutrientes
com as diferentes lâminas aplicadas mostra a necessidade de ajuste das
adubações em função das lâminas de água.