Polinização natural e artificial da cherimóia (Annona cherimola Mill.) no
Estado de São Paulo
Polinização natural e artificial da cherimóia (Annona cherimola Mill.)no Estado
de São Paulo1INTRODUÇÃO
Escolheu-se estudar a cherimóia, por ser fruta muito saborosa e que apresenta
boas potencialidades econômicas de cultivo no Brasil (especialmente para
pequenos produtores). Estima-se que sejam cultivados 10.000 ha de anonáceas no
Brasil (Carmo, 2000), sendo que 1000 ha correspondem à atemóia, os quais são
distribuídos em aproximadamente 500 ha na região Nordeste do País e 500 ha no
Sudeste brasileiro. A cultura da cherimóia atualmente ocupa uma área de 25 ha
no Estado de São Paulo, principalmente na região da Serra da Mantiqueira e de
Itapetininga (Kavati, 1998). A cultura de atemóia, que é o híbrido entre Annona
squamosa L. (fruta-do-conde ou ata) e Annona cherimola Mill. (cherimóia),
proporciona boa remuneração ao produtor, pois uma planta adulta, manejada
adequadamente, pode produzir até 20 caixas de frutos de boa qualidade
(Tokunaga, 2000).
As flores de cherimóia possuem três pétalas carnosas de 4,0 cm, são
hermafroditas, aromáticas e pouco chamativas. A parte masculina da flor é
constituída de 200 estames, dispostos helicoidalmente. A parte feminina é
composta de 150 carpelos, dispostos em espiral, formando um cone compacto. As
flores apresentam o fenômeno de dicogamia protogínica, que é a falta de
sincronia no amadurecimento dos órgãos florais feminino e masculino dessas
fruteiras. O estádio feminino inicia-se às 13 h e dura aproximadamente 26 horas
e caracteriza-se pela receptividade dos estigmas. O estádio macho inicia-se
após o estádio fêmea e dura 2 horas, e caracteriza-se pela liberação do pólen,
com o estigma tornando-se não-receptivo.
A produtividade da cherimóia, porém, é baixa, devido à inexistência de
cultivares adaptadas às diferentes condições regionais, escassez de informações
a respeito dos tratos culturais, além da polinização natural deficiente, devido
à ocorrência da dicogamia protogínica.
Para incrementar a produtividade, Schroeder, citado por Richardson &
Anderson (1996), propôs, para as condições da Califórnia - EUA, o emprego da
polinização artificial ou manual. A polinização artificial, por sua vez,
apresenta a vantagem de produzir frutos em maiores quantidades, de maior
tamanho e de melhor forma. Com seu uso, pode-se aproveitar melhor a primeira
florada, escalonar a colheita dos frutos e manejar a colheita, polinizando as
flores das partes mais baixas da planta (Guirado, 1992). Por outro lado, esta
operação eleva os custos de produção da cultura, pois exige 200 horas de
trabalho para polinizar um hectare, visando a obter produtividade de 10 t/ha
(Farré & Hermoso, 1997).
O presente trabalho visou a comparar distintas maneiras de polinizar a
cherimóia nas condições climáticas paulistas e a verificar os efeitos da
polinização na quantidade e qualidade dos frutos produzidos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento de polinização em cherimóias foi realizado em pomar comercial, em
Pedra Bela, distante 30 km de Bragança Paulista, situada a 1150 metros acima do
nível do mar. O pomar atualmente é composto por 150 plantas de 20 anos de
idade, propagadas a partir de sementes obtidas na própria região. O experimento
ocorreu no período de novembro de 1999 a abril de 2000, sendo repetido no
período de novembro de 2000 a maio de 2001. No final de cada período, os frutos
foram colhidos e avaliados.
O delineamento experimental empregado foi o de blocos ao acaso (DBC), com 3
tratamentos e 12 repetições, cujos tratamentos foram os seguintes: 1)
Polinização natural; 2) Polinização manual (mistura de pólen de outras
plantas); 3) Autopolinização (incluído no ano 2000). Cada parcela foi
constituída de 20 flores. Os três tratamentos foram aplicados em cada planta de
cherimóia escolhida. A polinização foi iniciada às 6h30min e finalizada às 10h,
nos dias 18-11, 26-11, 3-12-99; 27-11-00, 3-12, 9-12 e 22-12-00. O referido
horário foi determinado com a intenção de evitar o ressecamento do estigma que
poderia ocorrer após as 10 horas, nos dias quentes e secos.
Foram escolhidas 12 plantas de mesma idade e vigor. Foram empregadas vinte
flores por tratamento em cada bloco (planta). As flores dos tratamentos 2 e 3
foram protegidas quando estivessem prestes a abrir-se (estádio pré-fêmea), com
saquinhos confeccionados com tecido chamado voil, que é usado para confeccionar
véus. Os saquinhos foram abertos no instante da polinização e imediatamente
fechados para assegurar que não haveria a interferência de agentes
polinizadores externos. Os saquinhos foram retirados no momento da primeira
avaliação, no décimo dia após a polinização.
Na área experimental, foi instalado um miniposto meteorológico para obter-se
dados sobre temperatura e umidade relativa do ar.
Para obter o pólen, foi adotada a metodologia, adaptada de Guirado (1992), que
consistiu do seguinte: A partir das 15 h, foi colhido aleatoriamente, número de
flores igual ao número que seria polinizado na manhã seguinte, as quais se
encontravam em antese, no estádio fêmea e que ainda não tivessem passado para o
estádio macho. Levadas ao galpão, as flores foram distribuídas em camada única
nos pratos plásticos, para evitar fermentação do pólen e mantidas em condições
ambientais naturais. Pela manhã seguinte, às 6 h, as flores nos pratos foram
transportadas para o campo e mantidas em caixa de papelão com tampa. Conforme a
necessidade do pólen, ele era extraído das flores com os dedos. A seguir, com o
auxílio de um pincel, o pólen era agrupado e colocado no aplicador de pólen. No
segundo ano do experimento, as flores a serem tratadas foram ensacadas um dia
antes, o que não ocorreu no primeiro ano.
Avaliou-se a porcentagem de vingamento de frutos 10 dias após a polinização; a
porcentagem de frutos perfeitos, quarenta dias após a polinização. Os frutos
colhidos foram pesados logo após a colheita, com o auxílio de uma balança com
precisão de 0,1 grama, de marca Marte. Para as avaliações a seguir, foram
amostrados, sempre que possível, dois frutos por planta no ano de 1999 e três
no ano de 2000: massa de polpa, massa das sementes e número de sementes por 100
gramas de polpa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observa-se, nos anos estudados, que o número médio de frutos vingados foi maior
para o tratamento 2 (polinização artificial) seguido do tratamento 1
(polinização natural) e do tratamento 3 (autopolinização), resultados
estatisticamente significativos, conforme se vê na Tabela_1. Rubi et al.
(1997), no México, trabalhando com cherimóia de pé-franco, obtiveram 50,0% de
vingamento com polinização artificial.
Rubi et al. (1997) obtiveram valores de 0,8 % para o vingamento natural em seus
experimentos de polinização, similares aos valores das porcentagens de frutos
vingados naturalmente aqui encontrados no ano de 2000. Entretanto, em 1999, os
valores de vingamento natural foram maiores do que os obtidos no tratamento de
polinização natural em 2000 e bastante superiores aos daqueles autores.
No ano de 2000, o vingamento natural diminuiu em relação a 1999, mas este valor
foi semelhante aos observados por Caldeira et al. (1995), que foram de 4,8 % de
vingamento natural, para a média das cultivares Madeira, Mateus I e
Reconversão, polinizadas na ilha da Madeira. Esses autores observaram que a
porcentagem de vingamento da polinização natural oscilou ao longo do
florescimento, variando de 0,0 % a 24,0 % para a cultivar Mateus I. Esse maior
vingamento ocorreu em condições de temperaturas mais amenas.
Para o vingamento dos frutos, a umidade relativa do ar (UR) influencia os
resultados, pois, no ano de 1999, a maior porcentagem de vingamento foi obtida
para a polinização realizada no dia 26-11 (Tabela_2), quando a UR era de 70 a
80% e a temperatura entre 17ºC e 22ºC (Tabela_3). O vingamento foi menor para
polinizações feitas em 18-11 e 3-12. Nesses dias, as oscilações de temperatura
e umidade no período de polinização, respectivamente, foram 12,3 ºC a 22,8 ºC e
97% a 61% e 15,5 ºC a 23,1 ºC e 93% a 62% (Tabela_3).
Diante do que foi observado no experimento, é possível deduzir que esta baixa
porcentagem de vingamento pode ser compensada polinizando-se mais flores.
No ano 2000, o melhor resultado foi alcançado no dia 27-11 (Tabela_4), quando a
UR variou de 100% a 67% e a temperatura entre 17,5ºC e 25ºC (Tabela_5). O
vingamento foi menor para polinizações realizadas nos dias 3-12, 9-12 e 22-12
(Tabela_4). Nessas datas, as oscilações de temperatura foram, respectivamente:
17,5ºC e 27,5ºC e 100% a 57%; 17,5ºC e 28,2ºC e 98% a 53% e finalmente 18ºC e
26,9ºC e 99% a 65% (Tabela_5).
Os tratamentos não influenciaram a porcentagem de frutos perfeitos em 1999
(Tabela_6). Os tratamentos apresentaram diferenças significativas em termos de
porcentagem de frutos perfeitos no ano de 2000, sendo o tratamento de
polinização artificial superior aos demais, reforçando a importância desta
prática cultural no incremento da renda do produtor rural, ao produzir maior
quantidade de frutos comercializáveis.
Os tratamentos 1 e 2 mostraram diferenças significativas para massa dos frutos
(Tabela_7). O tratamento 2 produziu frutos de maior tamanho em 1999 e 2000.
Nota-se que o número de sementes não foi diferente no ano de 1999, mas diferiu
significativamente entre os tratamentos 1 e 2 em 2000, apresentando o
tratamento 2 (polinização artificial) um número de sementes significativamente
superior ao tratamento 1. Isso demonstra, conforme Duarte e Escobar (1997) já
haviam constatado anteriormente, que a polinização artificial fecundou maior
quantidade de estigmas, formando maior número de sementes, que, por sua vez, se
traduziram em frutos de maior tamanho. Com relação à autopolinização, não foi
possível analisar os dados, devido ao pequeno número de frutos obtidos (dois).
Os intervalos de confiança da massa de sementes e massa de polpa demonstraram
que não houve diferenças significativas em 1999 e 2000 (Tabela_7).
Verificou-se, em 1999, que os tratamentos não influenciaram o número de
sementes por 100 gramas de polpa, mas o tratamento 2 apresentou índice de
sementes superior a 10 sementes por 100 gramas de polpa, que é uma
característica negativa, conforme Scheldeman e Van Damme (1999). No ano
seguinte, para o tratamento 2, o índice número de sementes por fruto por 100 g
de polpa foi maior e estatisticamente significativo, demonstrando que a
polinização artificial aumentou o número de sementes. Como também ocorreu o
aumento da massa de polpa (Tabela_7), o índice de sementes foi mantido abaixo
do limite considerado indesejável.
CONCLUSÕES
1.A polinização artificial foi mais efetiva quando realizada em condições de
temperatura de 17 ºC até 22 ºC e umidade relativa do ar entre 70 e 80%.
2.A polinização artificial aumentou o vingamento dos frutos e,
conseqüentemente, a produção.
3.A polinização artificial aumentou a porcentagem de frutos perfeitos em 2000,
a massa do fruto e da polpa e o índice de sementes/100 g de polpa.