Influência do armazenamento refrigerado em associação com atmosfera modificada
por filmes plásticos na qualidade de mangas 'Tommy Atkins
Influência do armazenamento refrigerado em associação com atmosfera modificada
por filmes plásticos na qualidade de mangas 'Tommy Atkins1
Influence of refrigerated storage associated with plastic film-modified
atmosphere in quality of 'Tommy Atkins' mangoes
Joaci Pereira de SousaI, 2; Everardo Ferreira PraçaII, 3; Ricardo Elesbão
AlvesIII, 4; Francisco Bezerra NetoII, 3; Flávio Fernandes Dantas
IProfessor EAF de Sousa, PB, Mestrando ESAM-RN. Rua 13 de Maio 131, CEP 63 500
000, Iguatu, CE
IIProfessor ESAM, RN, Km 47 BR 100, B. Costa e Silva, CEP 59625-900, Mossoró,
RN
IIIPesquisador EMBRAPA Agroindústria Tropical, Rua Dra. Sara Mesquita, 2270,
Pici CEP 60511-110, Fortaleza, CE
IVBolsista Programa PIBIC-ESAM, Vila Acadêmica, casa 12, CEP 59625-900,
Mossoró, RN
INTRODUÇÃO
O Nordeste brasileiro oferece condições ideais para o cultivo das mais diversas
espécies frutíferas, de modo que a fruticultura contribui para o
desenvolvimento socio-econômico da região. Porém, o estudo de técnicas de
conservação pós-colheita de frutas ainda é bastante escasso. Devido à baixa
qualidade da manga, o Brasil vem perdendo o mercado externo. O transporte
marítimo é uma alternativa muito utilizada pelos exportadores brasileiros
devido ao baixo custo e possibilidade do transporte de grandes volumes. No
entanto, devido ao longo período de transporte (cerca de 12 dias) para a
Inglaterra e Holanda, a manga apresenta, no país importador, pouco tempo de
vida útil (10 dias). A manutenção da qualidade dos frutos deve-se às técnicas
de armazenamento pós-colheita que reduzem as taxas respiratórias e retardam o
amadurecimento e prevenção de desordens. A perda de água e a decomposição
natural do fruto podem ser evitadas pelo abaixamento da temperatura e
modificação da atmosfera ambiente ou mesmo à combinação de ambos, imediatamente
após a colheita. O uso de filme plástico à base de polietileno ou cloreto de
polivinila (PVC), devido sua praticidade, custo relativamente baixo e alta
eficiência, tem sido bastante utilizado, principalmente quando associado ao
armazenamento refrigerado para evitar perdas de frutas. Frutos tropicais podem
ter a vida pós-colheita prolongada, devido à redução da taxa respiratória, da
produção de etileno e, conseqüentemente, diminuição do amadurecimento por meio
da modificação da atmosfera (Chitarra & Chitarra, 1990; Awad, 1993). O
objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da modificação da atmosfera de
armazenamento por filmes plásticos no prolongamento da vida útil pós-colheita
de mangas cv. 'Tommy Atkins' sob refrigeração.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido com manga (Mangifera indica L) cv Tommy Atkins da
safra do ano 2000, produzidas na Fazenda Paulicéia Empreendimentos Ltda,
localizada no Pólo Agrícola Mossoró-Assu ' RN, situada a 5º 12' 48" de latitude
sul e 37º 18' 43" de longitude W. Gr., com 38 m de altitude, caracterizada por
uma região de clima quente e seco. Os frutos foram colhidos no estádio 2 de
maturação (7º Brix e casca 75% verde e 25% vermelha) de um pomar comercial de 5
anos, propagado por enxertia e irrigado por gotejamento. Na casa de embalagem,
os frutos foram selecionados quanto à uniformidade (tipo 12) e ausência de
danos. Em seguida, foram tratados com fungicida (procloraz a 0,45%), a fim de
evitar podridões causadas por fungos. Os frutos selecionados foram, em seguida,
transportados para o Laboratório do Núcleo de Pós-colheita do Departamento de
Química e Tecnologia da ESAM. Após a seleção, os frutos foram embalados em
filmes plásticos (cloreto de polivinila e polietileno) e mantidos em atmosfera
modificada. O experimento foi conduzido em um delineamento inteiramente
casualizado, com 7 períodos de armazenamento: 0; 7; 14; 21; 28; 35 e 42 dias,
usando-se 4 repetições. As análises de variância das características avaliadas
foram efetuadas com o software SPSSPC Norusis (1990). As regressões entre as
características avaliadas e o tempo de armazenamento nos diversos tipos de
embalagem foram realizados com o programa Table Curve Jandel Scientific (1991).
1 ' frutos não embalados (Testemunha); 2 ' embalados individualmente em cloreto
de polivinila (PVC) flexível, 14 mm, marca PLASTFILM; 3 ' embalados em
polietileno de alta densidade (PEAD), 9 mm, marca SÁKKOS ' embalagem de 23 cm
por 38 cm (4 frutos/sacola); 4 ' embalados em polietileno de baixa densidade
(PEBD), 55 mm, marca SÁKKOS ZIP ' embalagem de 27 cm por 31 cm, com fechamento
hermético (4 frutos por embalagem). Os frutos foram armazenados sob condições
refrigeradas, com temperatura 11 ± 1º C e umidade relativa de 85-90%. As
análises de qualidade dos frutos foram realizadas aos 0; 7; 14; 21; 28; 35 e 42
dias. Foram estudadas as seguintes características qualitativas: a) Perda de
Matéria Fresca ' pela diferença entre o peso inicial e peso final e expressa em
valores percentuais (%); b) Firmeza da polpa ' através de penetrômetro da marca
Mc. Cornick, modelo FT 327, com ponteira de 8 mm de diâmetro. Os valores foram
obtidos em lb/pol2 e transformados em N(Newton) multiplicando-se por 4,45; c)
Sólidos solúveis totais (SST) com auxílio de refratômetro digital modelo PR-
100, Pallete e expresso em ° Brix; d) Açúcares solúveis totais (AST) - foram
determinados pelo método da Antrona, Disches (1962). Utilizou-se uma alíquota
de 0,05 mL de suco diluído para 100 mL de água destilada; os resultados obtidos
foram convertidos para percentagem (%) de açúcares solúveis totais (glicose,
frutose e sacarose) através de uma curva de padronização da Antrona; e)
Vitamina C ' determinada pelo método do iodeto de potássio, baseado na ação
redutora do ácido ascórbico sobre agentes químicos, como o iodo. Os valores
foram expressos em mg de vitamina C.100 mL-1; f) Aparências interna e externa '
através de uma escala crescente de notas que variou de 1 a 5, onde 1 equivale
ao fruto com manchas, depressões e extremamente deteriorado ("internal
breakdown") e 5 ausência de manchas, de depressões e de murcha; notas £ 3,0
classificam o fruto como indesejável para o consumo; g) Cor da casca ' através
de uma escala de notas que varia de 1 a 5, onde 1 - verde; 2 ' 75% verde e 25%
amarelo e/ou vermelho; 3 - iguais quantidades de verde e amarelo; 4 ' 25% verde
e 75% amarelo e/ou vermelho; e 5 ' 100% amarelo e/ou vermelho (Medlicott &
Jeger, 1987).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
a) Perda de Matéria Fresca: Durante o período de armazenamento sob condições
refrigeradas, houve perda de matéria fresca progressiva para o controle até o
final do experimento (42 dias), variando de 0,94%, nos primeiros 7 dias de
armazenamento, para 5,95% aos 42 dias, correspondendo a aproximadamente 60 kg/
ton (Figura_1). Nos tratamentos em atmosfera modificada com filmes plásticos,
os frutos mostram perda de matéria fresca significativa durante todo o
experimento. O comportamento dos frutos em atmosfera modificada mostra que,
provavelmente, a manutenção da matéria fresca durante todo o período de
armazenamento foi devido ao aumento da umidade relativa do ar no interior da
embalagem, saturando a atmosfera ao redor do fruto, o que leva à diminuição do
déficit de pressão de vapor d'água destes em relação ao ambiente.
b) Firmeza da polpa: Houve decréscimo da firmeza da polpa ao longo do tempo de
armazenamento. Só foi possível obter dados a partir de 28 dias de armazenamento
sob condições refrigeradas, pois o limite máximo de força no penetrômetro era
de 133 N. Verificou-se que houve diferença significativa entre os tratamentos.
Constatou-se maior firmeza para os frutos em atmosfera modificada pelo PEBD
(104,43N) aos 28 dias de armazenamento, permanecendo praticamente constante até
35 dias (96,33N), e diferindo significativamente dos demais tratamentos (Tabela
1). Nos frutos em atmosfera modificada pelo PEAD, a firmeza da polpa manteve-se
também estável de 69,25 N aos 28 dias de armazenamento para 68,81 N aos 35
dias. Apesar de não diferirem quanto aos tempos de armazenamento, constatou-se
uma diferença significativa deste tratamento com o PVC aos 28 e 35 dias de
armazenamento. Constatou-se que os frutos em atmosfera modificada pelos filmes
de polietileno diferiram da testemunha aos 28 e 35 dias de armazenamento. O
decréscimo na firmeza da polpa ocorreu devido à ação das enzimas PME
(pectinametilesterase) e PG (poligalacturonase) que atuam em nível de parede
celular. A atividade dessas enzimas promove solubilização das substâncias
pécticas da parede celular e, conseqüentemente, o amaciamento dos frutos,
segundo Kays (1991).
c) Sólidos Solúveis Totais: Houve interação significativa para os teores de
sólidos solúveis dos frutos em atmosfera modificada nos diferentes tempos de
armazenamento. Esses teores, inicialmente de 7º Brix, evoluíram durante o
período de armazenamento (42 dias), sob condições de refrigeração. Os
tratamentos não diferiram entre si (média de 9,73º Brix), porém, quando
comparados com a testemunha (11,23º Brix), verifica-se diferença significativa,
sugerindo que os frutos em atmosfera modificada induziram a um retardamento dos
processos metabólicos. Os valores de brix mantiveram-se estáveis até 21 dias de
armazenamento para os frutos tratado com PEBD, porém não diferiram
estatisticamente dos frutos tratados com PVC e PEAD (Figura_2). O aumento
significativo nos teores de sólidos solúveis com o avanço da maturação dos
frutos deve-se à transformação das reservas acumuladas durante a formação e o
desenvolvimento dos mesmos em açúcares solúveis, conforme Jerônimo &
Kanesiro (2000). Por outro lado, a diferença mostrada entre o teor de SST do
tratamento-controle e dos frutos em atmosfera modificada deve-se à inibição do
processo respiratório resultante do acúmulo de CO2 e diminuição do O2 no
interior da embalagem, provocando um retardamento no processo de maturação dos
frutos, conforme Chitarra & Chitarra (1990).
d) Açúcares Solúveis Totais: Os teores de açúcares solúveis totais dos frutos
armazenados sob refrigeração aumentaram com o amadurecimento (Figura_3). Não
houve diferença significativa quando a evolução dos teores de açúcares solúveis
totais entre os tratamentos foram comparados entre si (10,15%), no final dos 42
dias de armazenamento. Porém, houve diferença entre a testemunha (12,40%) e os
demais tratamentos. O aumento nos teores de açúcares solúveis totais teve o
mesmo comportamento dos sólidos solúveis totais, uma vez que quase a totalidade
de sólidos solúveis (75 a 95%) são compostos pelos açúcares (Figura_3).
e) Vitamina C: Durante o amadurecimento da manga, há diminuição nos teores de
ácido ascórbico, segundo Laksminarayana (1980). Nos frutos utilizados neste
experimento, constatou-se uma elevação nos teores de vitamina C até o 7o. dia
de armazenamento, chegando a um máximo de 61,43 mg de ácido ascórbico.100 mL-1,
decrescendo a partir daí até o final do experimento com valores de ácido
ascórbico de 36,99 mg de ácido ascórbico.100 mL-1. Do mesmo modo, o teor de
vitamina C também aumentou nos frutos em atmosfera modificada com PEBD, até o
14o. dia de armazenamento, mantendo os mesmos níveis encontrados para a
testemunha (máximo de 60,93 e mínimo 35,20 mg de ácido ascórbico.100 mL-1).
Houve um retardamento na síntese de ácido ascórbico e o máximo constatado foi
de 60,2 mg .100 mL-1 no 13o. dia de armazenamento. Nos outros tratamentos, o
comportamento foi semelhante ao dos frutos acondicionados em PEBD (Figura_4);
contudo, houve redução no teor máximo de ácido ascórbico produzido no
tratamento com PVC (54,56 mg de ácido ascórbico.100 mL-1) e (PEAD 53,00 mg de
ácido ascórbico.100 mL-1 ). A elevação dos níveis de ácido ascórbico observados
é devida à síntese dos principais precursores desse ácido (glicose e 1-
galactona-1,4-lactona) durante a maturação desses frutos (Evangelista, 1999).
f) Cor da Casca: Houve interação entre os filmes plásticos nos diferentes
tempos de armazenamento. Os frutos armazenados sob refrigeração sem embalagem e
os submetidos à modificação da atmosfera com PVC, PEAD e PEBD diferiram
significativamente quanto à evolução da cor da casca a partir do 14o. dia de
armazenamento. Do mesmo modo, houve diferença significativa entre os
tratamentos PEAD e os demais tratamentos (PVC e PEBD), cuja coloração da casca
de verde para amarelo-alaranjada ocorreu no final de 42 dias de armazenamento,
e os frutos dos demais tratamentos mantiveram a mesma coloração da casca do
início ao final do armazenamento. Gonzalez-Aguilar (1997) também verificou uma
evolução na cor da casca de manga 'Keitt' para frutos-testemunha (100%) com
diferença significativa para os frutos armazenados em atmosfera modificada e
controlada com filmes de PEBD. Os frutos em atmosfera modificada pelo PVC e
PEBD não diferiram entre si e mantiveram a mesma coloração do fruto desde o
início do armazenamento (Figura_5). O acondicionamento em atmosfera modificada
retardou o processo de amadurecimento das mangas Tommy Atkins armazenadas sob
refrigeração, concordando com Alves et al. (1998).
CONCLUSÕES
O armazenamento de mangas Tommy Atkins sob refrigeração, associada à atmosfera
modificada por filmes de PVC, PEAD e PEBD, reduziu a perda de matéria fresca,
proporcionou a manutenção dos teores de sólidos solúveis totais, açúcares
solúveis totais e acidez total titulável dos frutos. A atmosfera modificada
pelos filmes de polietileno reduziu as perdas na firmeza da polpa,
possibilitando uma vida útil pós-colheita de 42 dias. O uso de PEAD para
modificação da atmosfera, associado à refrigeração, promoveu o desenvolvimento
da coloração da casca e da polpa de mangas Tommy Atkins a partir dos 35 dias de
armazenamento, porém o uso de PVC e PEBD reteve a coloração da casca dos frutos
até o final do armazenamento.