Efeito da aplicação de cianamida hidrogenada e de óleo mineral em caquizeiro
Efeito da aplicação de cianamida hidrogenada e de óleo mineral em caquizeiro1
Effect of application of hydrogen cyanamide plus mineral oil on persimmon trees
Gisele Polete MizobutsiI; Cláudio Horst BrucknerII; Luiz Carlos Chamhum
SalomãoII; Rosilene Antonio RibeiroIII; Wagner Ferreira da MottaIII
IEng. Agr., M.S. Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, CEP
36571-000. e-mail: gpolete@alunos.ufv.br
IIEng. Agr., Dr., Dep. de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-
MG, CEP 36571-000. E-Mail: bruckner@mail.ufv.br e lsalomao@mail.ufv.br
IIIEng.Agr., Estudante de Doutorado Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa,
Viçosa-MG, CEP 36571-000.
INTRODUÇÃO
O caquizeiro (Diospyros kakiL.) é originário da Ásia, onde é cultivado há
séculos, notadamente na China e no Japão (Andersen & Pinheiro, 1974). No
Brasil, foi introduzido no final do século passado através do Estado de São
Paulo, que se destaca até hoje como maior produtor, sendo seguido pelo Rio
Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais (Anuário Estatístico do
Brasil, 1997).
Fruteira de clima tipicamente subtropical, é uma boa opção para a fruticultura
nacional, por apresentar excelente capacidade de adaptação às condições
brasileiras, sendo altamente produtiva e rústica, requerendo poucos tratos
culturais e adaptando-se aos mais variados tipos de solo (Andersen &
Pinheiro, 1974)
O caquizeiro é uma planta caducifólia, ou seja, perde as folhas e permanece em
dormência no inverno, a exemplo das fruteiras de clima temperado (Ragazzini,
1985). Por tratar-se de uma planta de clima subtropical, seu cultivo em
condições de pouco frio hibernal, tal como ocorre no Brasil e em outros países,
se dá com a utilização de cultivares pouco exigentes em frio e com a quebra de
dormência com produtos químicos (Arellano, 1991). Os produtos utilizados para a
quebra de dormência, como o óleo mineral, cálcio cianamida (CaCN2), nitrato de
potássio (KNO3), cianamida hidrogenada (H2CN2) e paclobutrazol, podem
uniformizar e antecipar a brotação e a floração em determinadas condições, como
verificado em pessegueiro, pereira, videira e macieira (Arellano, 1991; Mann et
al., 1994). Pesquisas realizadas demonstram que, dentre os produtos disponíveis
no mercado, a cianamida hidrogenada é o mais eficiente produto químico para a
quebra de dormência (George & Nissen, 1988, 1993; George et al., 1992; Mann
et al., 1994).
O modo de ação da cianamida hidrogenada como produto químico, para a quebra de
dormência, não é ainda conhecido (George & Nissen, 1993). Sabe-se,
entretanto, que a cianamida hidrogenada é rapidamente absorvida e metabolizada
(Goldback et al., 1988) e que causa diminuição da atividade da catalase, sem
modificar a da peroxidase (Shulman et al., 1986), o que resulta num aumento da
concentração de água oxigenada (H2O2) nos tecidos das gemas. Este aumento,
poderia ser responsável pela ativação do ciclo das pentoses e conseqüente
indução da quebra de dormência das gemas (Omran, 1980). A cianamida hidrogenada
induz a rápida mudança no conteúdo de glutationa reduzido (GSH), em gemas de
pessegueiro (Siller-Cepeda et al., 1992). Uma diminuição do nível de GSH dentro
de 12 horas após a aplicação de cianamida hidrogenada pode sugerir que GSH
presente nos tecidos foi provavelmente utilizada na desintoxicação de água
oxigenada gerada, quando a atividade da catalase foi inibida (Amberger, 1984)
Tendo em vista os efeitos positivos dos produtos químicos em substituir a ação
das baixas temperaturas, uniformizar e antecipar a brotação e a floração, os
objetivos deste trabalho foram estudar a eficiência da combinação de cianamida
hidrogenada e óleo mineral em quebrar a dormência e antecipar a colheita a
partir da antecipação da brotação, aumentando o período de oferta do caqui, que
normalmente ocorre entre fevereiro e abril.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em 1994, na Estação Experimental de Araponga, Minas
Gerais, situada em região de clima Cwa, segundo classificação de Köeppen,
coordenadas geográficas de 20o40 de latitude Sul e 42o31 de longitude Oeste e
880 metros de altitude.
As plantas de caqui, cultivar rubi, foram pulverizadas com o produto comercial
cianamida hidrogenada (Dormex), ao qual foi acrescentado óleo mineral. A
aplicação foi feita por meio da pulverização completa da planta, com
pulverizador acoplado ao trator, equipado com pistola, e o volume utilizado foi
aproximadamente de 10 litros por planta. A aplicação ocorreu quando as plantas
estavam dormentes, ou seja, durante o estádio fenológico A (Baggiolini, 1952).
O delineamento foi inteiramente ao acaso, com uma planta por parcela e
bordadura. Os tratamentos foram constituídos de quatro épocas de aplicações,
realizadas em 9-6, 30-6, 21-7 e 11-8-1994, mais as plantas-testemunha, que não
receberam nenhuma aplicação. A dose utilizada foi 7,8 g. i.a.L-1 de cianamida
hidrogenada acrescido de 8,0 mL.L-1 de óleo mineral, com quatro repetições. O
espaçamento entre plantas foi de 6 x 6 metros.
Os frutos foram amostrados quando foi observada a mudança da coloração verde
para amarelo-avermelhada.
Foram avaliadas as datas da brotação, do florescimento e da colheita, a
fixação, a massa, a firmeza da polpa, o teor de sólidos solúveis e a acidez
titulável dos frutos. A partir das datas da brotação, florescimento e colheita,
calculou-se a antecipação em relação às respectivas datas da testemunhas.
O critério adotado para caracterizar-se o início da brotação e do florescimento
foi quando 50% das gemas se encontravam nos estádios fenológicos C e F,
respectivamente (Baggiolini, 1952). As anotações foram efetuadas com intervalos
de sete dias. A massa dos frutos foi obtida de vinte frutos, e cinco desses
foram usados para avaliar a firmeza da polpa, a acidez titulável e o teor de
sólidos solúveis. A acidez titulável foi determinada por titulometria
(A.O.A.C., 1975). O teor de sólidos solúveis foi determinado por refratometria,
seguindo o método descrito por Sugiura et al. (1983). A firmeza da polpa foi
determinada por meio do penetrômetro MAGNESS-TAYLOR, com ponta de 5/32, onde os
frutos foram avaliados em três locais na região equatorial, após a retirada da
casca do local. Obteve-se a frutificação efetiva a partir de cálculo percentual
do número de frutos no estádio de máximo crescimento sobre o de flores, ambos
existentes em cinco ramos escolhidos ao acaso nas plantas de cada tratamento.
A análise estatística foi realizada, utilizando-se o Sistema de Análise
Estatística e Experimental ' SAEG (Euclides, 1983). Os dados foram ajustados
através da análise de regressão, com base na significância dos parâmetros
linear e quadrático.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de regressão indica comportamento linear decrescente, para o período
entre a aplicação da cianamida hidrogenada e a brotação em relação às plantas
não pulverizadas, com a época de aplicação (Figura_1), alcançando 10,5 semanas
de antecipação quando a aplicação foi realizada em 9-6. A partir desses
resultados, pode-se confirmar o efeito da cianamida hidrogenada na quebra de
dormência e na uniformização da brotação e floração, como relatado por Walton
& Fowke (1993) em plantas de kiwi. A cianamida hidrogenada + óleo mineral
produziram antecipação da brotação quando comparado com as plantas não
pulverizadas; as primeiras brotações desses tratamentos podem estar
relacionadas com a superação precoce da dormência, devido a vários fatores,
como o balanço das substâncias inibidoras e promotoras de crescimento,
resultante da ação da cianamida hidrogenada, que promove a ativação da rota das
pentoses, levando à quebra de dormência das gemas. Pires (1991), avaliando o
efeito de agentes químicos na indução da brotação, no desenvolvimento dos ramos
e na produção da videira cv. Niagara Rosada, verificou que os tratamentos com
cianamida hidrogenada, independentemente das doses aplicadas, quebraram a
dormência das gemas e anteciparam o desenvolvimento vegetativo em vinte e um
dias.
Houve tendência de decréscimo linear para o período entre a aplicação da
cianamida hidrogenada e o florescimento em relação às plantas não pulverizadas,
com a época de aplicação (Figura_2), alcançando 11,25 semanas de antecipação
quando a aplicação foi realizada em 9-6 (Tabela_1). Mann et al. (1994)
verificaram que peras 'Baggugosha', tratadas com cianamida hidrogenada a 20, 30
e 40 mL.L-1 do produto comercial, tiveram o florescimento antecipado em dez
dias, e George & Nissen (1993) obtiveram dez dias de antecipação para o
florescimento de pessegueiro cultivar Flordaprince, pulverizando-os com 5 mL.L-
1 de cianamida hidrogenada. Com relação aos resultados obtidos, pode-se relatar
que, como a cianamida hidrogenada compensa a falta de horas de frio necessárias
para que a dormência seja rompida e proporciona rápida quebra de dormência das
gemas vegetativas, permite também que haja antecipação do florescimento (George
& Nissen, 1993; Petri, 1987; Petri & Stuker, 1995) e, como citado por
Walton et al. (1991), a cianamida hidrogenada causa aumento na concentração do
aminoácido prolina nas gemas das plantas tratadas, que pode favorecer o
florescimento precoce.
A análise de regressão mostra o comportamento linear decrescente, para o
período entre a aplicação da cianamida hidrogenada e a colheita em relação às
plantas não pulverizadas, com a época de aplicação (Figura_3), alcançando 11,50
semanas de antecipação quando a aplicação foi realizada em 9-6. A colheita
ocorreu a partir da segunda quinzena de dezembro até final de fevereiro para as
plantas pulverizadas, e em março para as plantas não pulverizadas, antecipando
a colheita em dois meses e meio. O resultado obtido foi muito satisfatório,
pois a colheita coincidiu com a época em que a oferta de caqui é mais baixa e
conseqüentemente o preço é menor. O início precoce da colheita e sua
antecipação em relação às plantas não pulverizadas foi devido à eficiência da
cianamida hidrogenada e do óleo mineral em quebrar a dormência, antecipar a
brotação e o florescimento, e isso pode ser verificado no trabalho realizado
por Pires et al. (1995), em que a colheita de uva 'Itália' foi antecipada em 20
dias, com a aplicação de cianamida hidrogenada. É fundamental verificar que o
efeito da cianamida hidrogenada, varia em função de vários fatores, como
concentração, época, modo de aplicação, espécie, cultivar e condições
climáticas.
Observou-se tendência linear decrescente para a frutificação efetiva, com a
época de aplicação (Figura_4) alcançando o valor máximo de 92,5%, quando a
aplicação foi realizada em 9-6 (Tabela_2). Os valores médios obtidos
assemelham-se, em parte, aos resultados obtidos por Miele (1991), onde a
pulverização de cianamida hidrogenada por ocasião da poda seca, nas
concentrações de 0; 10; 30 e 50 mL.L-1 do produto comercial, causou efeito
altamente significativo sobre o número de cachos de uva por planta. Porém, os
valores diferem dos resultados encontrados por George et al. (1992), onde a
cianamida hidrogenada, aplicada a 20 mL.L-1 do produto comercial em pessegueiro
cultivar Flordaprince, reduziu a frutificação efetiva. A aplicação de cianamida
hidrogenada e óleo mineral pode ter aumentado a aderência dos frutos ao
pedúnculo, por estabelecer alta taxa de atividade metabólica no ovário,
resultando na fluência de metabólitos para os frutos e reduzindo a queda
(George & Nissen, 1993), o que também foi verificado no trabalho realizado
por Schuck & Petri (1995), em que a cianamida hidrogenada causou efeito
altamente significativo na fixação dos frutos de kiwi.
A análise de regressão indica o comportamento linear decrescente, para o teor
de sólidos solúveis, com a época de aplicação (Figura_5) alcançando o maior
teor de sólidos solúveis (15,2%) quando a aplicação foi realizada em 9-6, e o
menor quando a aplicação foi realizada em 11-8 (13,65%), (Tabela_2). As
diferenças podem ser consideradas insignificantes para afetar a qualidade do
caqui.
Observou-se tendência de redução linear para a acidez titulável, com a época de
aplicação (Figura_6) alcançando a menor acidez titulável 0,16 g.eq. ácido
cítrico/100 mL suco quando a aplicação foi realizada em 11-8 (Tabela_2). A
acidez titulável apresentou comportamento diferenciado, onde os frutos que
apresentaram maior acidez foram os pulverizados na primeira época de aplicação,
não comprometendo a qualidade dos demais frutos, devido à pequena variação
entre as demais épocas de aplicações. Os resultados obtidos estão de acordo com
os encontrados por Fonseca (1973), que classificou o caqui como pobre em
acidez, e Costa (1984), que verificou que o nível de acidez variou da ordem de
0,16% a 0,28% para seis variedades. Estes resultados, em parte, assemelham-se
aos encontrados por Mann et al. (1994), onde verificaram um correspondente
decréscimo na acidez de frutos de pêra 'Baggugosha' pulverizadas com cianamida
hidrogenada.
A firmeza da polpa e a massa dos frutos não foram influenciadas pela aplicação
de cianamida hidrogenada + óleo mineral e épocas de aplicação dos produtos,
atingindo valores médios de 38,88N e 132,37 g, respectivamente.
CONCLUSÕES
1) A cianamida hidrogenada + óleo mineral quebram a dormência e antecipam a
brotação, o florescimento e a colheita no caquizeiro variedade Rubi.
2) O teor de sólidos solúveis e a acidez titulável são maiores para a aplicação
realizada em 9-6.
3) Cianamida hidrogenada + óleo mineral não alteraram a firmeza da polpa, nem a
massa dos frutos de caquizeiro cv. Rubi.