Adubação com potássio e nitrogênio em três cíclos de produção da bananeira cv.
prata-anã
INTRODUÇÃO
A produção de banana é influenciada por fatores internos da planta, como os
genéticos, e fatores externos, que são as condições de clima, solo e manejo
agronômico praticado na cultura, como a adubação. Segundo Lopez & Espinosa
(1995), a nutrição é um fator de produção de extrema importância para a
bananeira devido à alta eficiência destas plantas em produzir grandes
quantidades de fitomassa em curto período de tempo.
A bananeira é uma planta sensível ao desequilíbrio nutricional. Para elevar a
produtividade e melhorar a qualidade dos frutos de banana, é importante manter
no solo o equilíbrio entre os nutrientes, evitando que ocorra consumo excessivo
de um elemento, induzindo deficiência de outro (Gutierrez, 1983).
O nitrogênio, depois do potássio, é o elemento mais exigido pela bananeira
(Silva, 1994). Ele é mais importante no início do desenvolvimento da planta até
a emissão da inflorescência; além disso, influencia não somente o número de
frutos e de pencas por cacho, como também o desenvolvimento radicular quando
associado ao potássio (Gomes, 1988).
O desbalanço entre N e K causa problemas na pós-colheita, pois o baixo
suprimento de potássio favorece o acúmulo de nitrogênio amoniacal, que induz o
amadurecimento precoce e a produção de frutos magros. O excesso de N atrasa a
emergência do cacho, o que favorece a produção de cachos fracos e pencas
separadas. Nos vários países produtores de banana, as doses de potássio
recomendadas variam de 100 a 1200 kg de K2O ha-1ano-1 e a de nitrogênio de 100
a 600 kg de N ha-1ano-1.
Em experimento conduzido por Guerra et al. (1986), com a banana-"Branca"
(Subgrupo Prata), verificaram que não houve efeito do N no peso do cacho;
entretanto, para o potássio, observaram aumento significativo em relação à
testemunha a partir da dose de 400 kg de K2O/ha. Ferreira (1995) verificou que
o excesso de calagem na bananeira cultivar "Myssore" resultou em queda na
concentração do potássio na folha, com decréscimo no peso do fruto e no peso do
cacho.
Segundo Silva (1994), os programas de adubações para as bananeiras c.v. Prata-
Anã (AAB) sob irrigação, no Norte de Minas Gerais, são baseados em
recomendações utilizadas para o cultivo da bananeira em condições de sequeiro,
o que tem induzido o aparecimento de sintomas de desbalanço nutricional e,
conseqüentemente, queda na produtividade e na qualidade do fruto de banana.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência das adubações com nitrogênio
e potássio na produção da bananeira c.v. Prata-Anã (AAB).
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido de maio/1994 a julho/1999, em Latossolo Vermelho-Amarelo
(Tabela_1), no município de Nova Porteirinha, localizado na região Semi-árida
do Norte de Minas Gerais. A temperatura e a pluviosidade média anual nesta
região são de 26ºC e 910 mm, respectivamente.
No plantio da bananeira c.v Prata-Anã, do grupo genômico (AAB), utilizaram-se
mudas originadas de cultura de tecido. O espaçamento utilizado no plantio das
mudas foi 4,5 x 3,5 x 2,0 m (1.250 plantas/ha). O ensaio foi irrigado
diariamente por microaspersão, onde foram aplicadas lâminas equivalente a 80%
da evaporação do tanque Classe A. Os tratos culturais foram realizados conforme
Souto et al. (1997). Os tratamentos foram distribuídos no delineamento
experimental de blocos casualizados, com quatro repetições, em esquema fatorial
5 x 5, correspondentes a cinco doses de N (0; 200; 400; 800 e 1600 kg ha-1ano-
1) e cinco doses de K2O (0; 200; 400; 800 e 1600 kg ha-1ano-1). Estas doses
foram parceladas e aplicadas mensalmente. As fontes de nitrogênio e potássio
foram uréia e cloreto de potássio, respectivamente.
Cada parcela do ensaio foi constituída de 8 plantas, em 64m2, e a parcela útil
constituída de quatro plantas, em 32m2. A adubação de plantio foi realizada com
aplicação de 90 g de P2O5 na cova, sendo 40 g de P2O5 na forma de superfosfato
simples e 50 g de P2O5 na forma de termofosfato de Yoorin'Mg. Em cada cova de
plantio, foram aplicados, também, 50 g de FTE BR-12 como fonte de
micronutrientes. O ensaio foi conduzido até o 4ºciclo de produção. Os
resultados do 1º ciclo encontram-se em Borges et al. (1997).
Foram coletadas amostras de folhas nas plantas úteis de cada parcela conforme
Silva et al. (1999). Os teores foliares de macro e micronutrientes foram
determinados seguindo metodologia descrita por Malavolta et al. (1989) .
Os dados de produção de banana e de teores de macro e micronutrientes das
folhas foram analisados estatisticamente, mediante análise de variância (teste
F). Foram ajustadas curvas de regressão, considerando os níveis de N e K como
variáveis independentes, e a produção de banana e os teores de macro e
micronutrientes das folhas como variáveis dependentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de variância dos dados revelou que houve efeito significativo da
aplicação de N no solo sobre a produção de banana no 2º e 3º ciclos. O aumento
das doses de N não influenciou a produção de banana no 4º ciclo (Tabela_2).
Resultado semelhante foi obtido no 1º ciclo (Borges et al.,1997). A regressão
linear foi o modelo que mostrou melhor ajuste para o efeito de N sobre a
produção de banana. Ao contrário do que se esperava, o aumento das doses de N
reduziu a produção de banana no 2º e 3º ciclos (Figura_1). Guerra et al. (1986)
não observaram efeitos do N sobre a produção de banana. Entretanto, Hegde &
Srinivas (1991) verificaram que o aumento das doses de N elevou o número de
frutos/penca, o de pencas/cacho e a produção. Resultados semelhantes a esses
foram obtidos por Brasil et al. (2000), em trabalho realizado com a bananeira
c.v Pioneira no Estado do Pará. Nas regiões produtoras de banana em todo mundo,
as doses de N recomendadas para bananeira variam de 100 a 600kg ha-1ano-1,
dependendo do solo, da cultivar e das condições climáticas de cada área. Em
trabalhos realizados na Costa Rica, por vários anos, as maiores produções de
banana foram obtidas com aplicação de 300 a 320 kg de N ha-1ano-1 (Lopez &
Espinosa, 1995).
A análise de variância dos dados de teores de macro e micronutrientes nas
folhas da bananeira mostrou que houve efeito da aplicação de N no solo sobre os
teores foliares de N no 2º ciclo; de Ca no 2º e 3º ciclos; de K e Mn no 2º, 3º
e 4º ciclos (Tabelas_2 e 3). A aplicação de doses crescentes de N elevou
linearmente os teores de N nas folhas no 2º ciclo e de Mn no 2º, 3º e 4º ciclos
(Figuras_2 e 3, respectivamente). Entretanto, o aumento das doses de N reduziu
os teores de Ca nas folhas no 2º e 3º ciclos e de K no 2º, 3º e 4º ciclos
(Figuras_4 e 5, respectivamente).
Segundo Malavolta & Neptune (1983), a utilização de adubos fisiologicamente
ácidos, a exemplo da uréia e sulfato de amônio, reduz o pH e o teor de Ca+2
trocável do solo, determinando, por outro lado, aumento no teor foliar de Mn
que chega a atingir níveis tóxicos. A redução dos teores de K e Ca nas folhas,
causada pelo aumento das doses de N, não teve influência na queda de produção
de banana, pois, mesmo assim, os teores de Ca e K mantiveram-se em níveis
adequados nas folhas para obter-se alta produção de banana conforme Silva et
al. (2001). Entretanto, o aumento do teor de Mn nas folhas, com o aumento das
doses de N, influenciou na queda de produção da bananeira. Segundo Silva et al.
(2001), o teor adequado de Mn nas folhas de bananeira c.v Prata-Anã, cultivada
no Norte de Minas, está na faixa de 250 a 500 mg kg-1. De acordo com a
regressão da Figura_3, quando se aplicou a dose de 1600 kg de N ha-1 ano-1, os
teores de Mn encontrados nas folhas foram de 875; 714 e 498 mg kg-1, no 2º, 3º
e 4º ciclos respectivamente. Portanto, infere-se que os teores de Mn nas folhas
atingiram níveis tóxicos no 2º e 3º ciclos, reduzindo a produção da bananeira.
O interessante é que, no 4º ciclo, não houve efeito significativo do N sobre a
produção de banana, isto porque o teor de Mn nas folhas estava dentro da faixa
adequada. Silva (2001) verificou que a aplicação de doses crescentes de N,
utilizando uréia como fonte, reduziu o pH do solo, que, por sua vez, favoreceu
a elevação do teor de Mn nas folhas da bananeira. O autor observou correlação
negativa entre a produção de banana e o teor de Mn nas folhas.
A análise de variância mostrou que houve efeito significativo da aplicação do K
sobre a produção de banana apenas no 4º ciclo ( Tabela_2). De acordo com a
análise de regressão, o modelo quadrático foi o que melhor se ajustou aos dados
de produção da bananeira em função das doses de K, no 4º ciclo (Figura_6). A
estimativa da produção máxima foi obtida com aplicação de 962,5 kg de K2O ha-
1 ano-1, promovendo um aumento de 11,2% na produção de banana em relação à
testemunha. Segundo Lahav & Turner (1983), a elevada demanda de K pela
bananeira favorece a resposta desta planta à aplicação deste elemento mesmo em
solos com teores de até 0,4 cmolc dm-3. O solo utilizado no presente trabalho
apresentava teor de K acima de 0,50 cmolc dm-3 (Tabela_1). Este elevado teor de
K disponível no solo foi o principal motivo para a baixa resposta da bananeira
à aplicação deste elemento no solo. No 1º ciclo, não houve efeito significativo
do K sobre a produção de banana, ocorrendo um aumento de apenas 0,4 t ha-1ano-
1 em relação à testemunha (Borges et al.,1997). A aplicação de doses crescentes
de K no solo elevou o teor deste elemento, significativamente, nas folhas da
bananeira no 2º e 4º ciclos (Figura_7). Aumentos significativos de produção de
banana com a aplicação do K a partir de 400 kg de K2O ha-1ano-1 foram obtidos
por Guerra et al. (1986). Brasil et al. (2000) obtiveram produção ótima da
bananeira c.v Pioneira com aplicações de 370 e 270 kg de K2O ha-1, obtendo
aumentos de produção da ordem de 73 e 39%, no 2º e 3º ciclos, respectivamente.
De acordo com os autores, o solo no qual foi realizado o experimento
apresentava baixa disponibilidade de K, da ordem de 0,05 cmolc dm-3.
Não ocorreu interação significativa entre N e K, nos três ciclos de produção
estudados.
CONCLUSÕES
1) A aplicação de N no solo elevou o teor de Mn nas folhas para níveis acima do
adequado, reduzindo a produção da bananeira no 2º e 3º ciclos.
2) Houve efeito da aplicação de K sobre a produção de banana no 4º ciclo, e a
produção máxima foi obtida com a aplicação de 962,5 kg de K2O ha-1ano-1.