Reação de clones de umezeiro (Prunus mume sieb. et zucc.) e cultivares de
pessegueiro a Meloidogyne javanica (treub, 1885) Chitwood, 1949
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Reação de clones de umezeiro (Prunus mume sieb. et zucc.) e cultivares de
pessegueiro aMeloidogyne javanica (treub, 1885) Chitwood, 19491
Reaction of japanese apricot clones (Prunus mume sieb. et zucc.) and peach tree
cultivars to Meloidogyne javanica (treub, 1885) Chitwood, 1949
Newton Alex MayerI; Fernando Mendes PereiraII; Jaime Maia dos SantosIII
IEng. Agr., M.Sc., Aluno do Curso de Pós-Graduação em Agronomia da Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, Câmpus de Jaboticabal. FCAV/UNESP,
Departamento de Produção Vegetal, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane
Km 05, CEP 14884-900, Jaboticabal-SP. Fone: (016) 3209-2668. E-mail:
namayer@fcav.unesp.br
IIEng. Agr., Dr., Prof. Titular do Departamento de Produção Vegetal da FCAV/
UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP
IIIEng. Agr., Prof. Assistente Doutor do Departamento de Fitossanidade da FCAV/
UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP
No Brasil, a cultura do pessegueiro ocupa uma área de 22.039 ha, distribuída,
principalmente, nos Estados do Rio Grande do Sul (14.344 ha), Santa Catarina
(3.056 ha), São Paulo (2.133 ha), Paraná (1.796 ha) e Minas Gerais (696 ha). A
produção brasileira, no ano de 2000, foi de 145.968 toneladas, sendo o Rio
Grande do Sul o maior produtor, com 91.681 toneladas (Agrianual, 2003). Neste
Estado, a produtividade é muito baixa (Raseira & Nakasu, 1998), se
comparada à média obtida no Estado de São Paulo, que é, pelo menos, duas vezes
maior (Maia et al., 1996). Dentre os principais problemas que afetam o
pessegueiro, os nematóides fitoparasitas podem causar o declínio do pomar,
afetando a sua produtividade e, em casos extremos, levar a planta à morte. No
Brasil, não existem estimativas de perdas na produtividade do pessegueiro em
função do ataque de fitonematóides, mas, nos Estados Unidos, Anon (1971)
estimou em 15 %. Desta forma, o emprego de porta-enxertos resistentes a
nematóides pode diminuir os prejuízos causados por estes parasitas na cultura.
O nematóide das galhas (Meloidogyne spp.) é considerado um dos principais
nematóides que atacam o pessegueiro nas mais variadas regiões produtoras do
mundo. Plantas atacadas apresentam a formação de galhas nas raízes, a
paralisação do crescimento e morte de pontas de raízes. As plantas podem
apresentar depauperamento e declínio lento, deficiência nutricional, diminuição
do tamanho das folhas e frutos, e redução da produtividade (Carneiro, 1998).
No Estado de São Paulo, o cv. Okinawa é o porta-enxerto mais utilizado (Barbosa
et al., 1993), por apresentar, dentre outras características, resistência ou
imunidade ao nematóide de galhas (Menten et al., 1977; Scherb et al., 1994,
Fachinello et al., 2000). A propagação desse material é feita por sementes, o
que traz como conseqüência a variabilidade genética. Segundo Barbosa et al.
(1993), esta prática pode fazer com que certa porcentagem dos descendentes se
tornem suscetíveis aos nematóides do gênero Meloidogyne spp.
A variabilidade genética da cv. Okinawa, provocada pela propagação sexuada, e a
utilização, no Rio Grande do Sul, de sementes de diversas cultivares e sem
identidade genética conhecida, obtidas nas indústrias de conservas, acarretam
diferentes reações dos porta-enxertos aos fitonematóides, dificultando as
medidas de controle (Gomes, 2001). Face a esta realidade, pesquisas devem ser
realizadas no sentido de identificar fontes de resistência em materiais com
potencial para o Brasil e, a partir daí, propagá-los vegetativamente, mantendo
a identidade da planta-matriz.
O umezeiro (Prunus mume Sieb. et Zucc.) é uma frutífera de folhas caducas da
família Rosaceae e é típica de clima temperado. Alguns estudos foram realizados
no Brasil, objetivando sua utilização como porta-enxerto para pessegueiros e
nectarineiras. Os resultados iniciais foram bastante promissores, destacando-se
a compatibilidade com Prunus persica, o aumento da massa, teor de sólidos
solúveis e porcentagem de vermelho na película dos frutos, além da redução do
vigor das plantas em até 50 %, quando comparadas às plantas enxertadas na cv.
Okinawa (Campo Dall'Orto et al., 1992 e 1994, Nakamura et al., 1999).
Na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP, Câmpus de
Jaboticabal-SP, está sendo desenvolvido um amplo projeto de estudos sobre a
utilização de clones de umezeiro, propagados por estacas herbáceas, como porta-
enxerto para pessegueiro. Uma das etapas envolve estudos da reação destes
clones a fitonematóides nocivos à persicultura. A literatura, embora escassa,
sobre o assunto, classifica o umezeiro como altamente resistente a Meloidogyne
spp. (Sherman & Lyrene, 1983; Rossi et al., 2002), fato este que o coloca
como uma alternativa para o problema, mas que merece maiores investigações.
Assim sendo, o objetivo do presente trabalho foi estudar a reação de clones de
umezeiro e cultivares de pessegueiro a Meloidogyne javanica.
O experimento foi conduzido em casa de vegetação com cobertura plástica e
laterais teladas, pertencente ao Departamento de Fitossanidade da FCAV/UNESP,
Câmpus de Jaboticabal-SP. Foram utilizados vasos de cerâmica de 10 litros de
capacidade, contendo substrato constituído de uma mistura de solo e areia (1:1,
v/v), previamente autoclavada a 121ºC e 1kgf.cm-2, por 2 horas.
Estacas herbáceas dos Clones 05; 10 e 15 de umezeiro e de pessegueiro cv.
Okinawa, enraizadas em vermiculita, foram obtidas em câmara de nebulização
intermitente e transplantadas para os vasos contendo o substrato esterilizado.
As estacas de umezeiro foram obtidas de plantas-matrizes jovens mantidas em
vasos sob ripado com 50 % de luz natural. Utilizaram-se também plântulas das
cultivares Aurora-1 e Dourado-1, cujas sementes foram obtidas de pomares
localizados em Taiúva-SP e Jundiaí-SP (Estação Experimental de Jundiaí-IAC),
respectivamente.
Foi utilizada como inóculo uma população de Meloidogyne javanica(Treub, 1885;
Chitwood, 1949; Taylor & Netscher, 1974; Hussey & Barker, 1974;
Eisenback et al., 1981), proveniente de um plantio comercial de tomateiro em
Pelotas-RS. Sessenta dias após o transplante das mudas para os vasos, nove
plantas de cada clone de umezeiro e das cultivares de pessegueiro foram
inoculadas, individualmente, com uma suspensão de 3.000 ovos e juvenis de
segundo estádio de M. javanica, aplicados com pipeta automática em quatro
orifícios de 3 cm de profundidade, eqüidistantes entre si, no substrato ao
redor da base das plantas. Cinco plantas de tomateiro cv. Santa Cruz Kada
também foram inoculadas para a comprovação da eficiência do inóculo.
O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado, com 6
tratamentos (Clones 05; 10 e 15 de umezeiro e cultivares Okinawa, Aurora-1 e
Dourado-1 de pessegueiro) e 9 repetições, sendo cada parcela constituída por
uma planta. Transcorridos 100 dias após a inoculação, as plantas foram
desenvasadas para avaliação das seguintes variáveis: massa de matéria fresca do
sistema radicular, número de galhas por sistema radicular, número de ovos e
juvenis por 10 g de raízes, número de ovos e juvenis por sistema radicular e
fator de reprodução (FR), segundo Cook & Evans (1987). Os dados foram
transformados para Log (x+1) e submetidos à analise de variância pelo teste F.
As médias foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5 % de
probabilidade. A definição dos graus de resistência dos diferentes genótipos
foi baseada em Canto-Sáenz (1985).
De acordo com os resultados apresentados na Tabela_1 (médias originais),
verificou-se que os três clones de umezeiro não apresentaram formações de
galhas nas raízes. Entretanto, após a extração e contagem, foram encontradas
médias entre 9,4 e 17,5 ovos e juvenis por sistema radicular, não diferindo
estatisticamente entre si. Rossi et al. (2002) também não verificaram formação
de galhas ou massa de ovos nas raízes de umezeiro provocadas por M. javanica,
mas foi encontrada uma média de 6,3 nematóides por sistema radicular, o que
pode indicar a existência de um mecanismo de resistência que envolve aspectos
fisiológicos pós-penetração de juvenis de segundo estádio, conforme mencionado
por Scherb et al. (1994) para 'Okinawa' e 'R-15-2', em relação a M.
incognita.Entretanto, em função de os valores do fator de reprodução (FR) serem
muito inferiores a 1, os clones foram considerados resistentes a M. javanica
(Canto-Sáenz, 1985), o que concorda com relatos de Sherman & Lyrene (1983)
e Rossi et al. (2002) sobre a resistência do umezeiro a esta espécie de
fitonematóide, sendo esta mais uma vantagem do uso deste material como porta-
enxerto na persicultura moderna e intensiva. As raízes dos tomateiros foram
severamente atacadas pelo nematóide, apresentando fator de reprodução igual a
1546, confirmando a viabilidade do inóculo utilizado.
Não foram encontrados galhas, ovos ou juvenis nas raízes de pessegueiro cv.
Okinawa, confirmando a resistência deste porta-enxerto, previamente observada
por Menten et al. (1977), Scherb et al. (1994) e Fachinello et al. (2000).
Nas cultivares-copa de pessegueiro Aurora-1 e Dourado-1, detectou-se um pequeno
número de galhas de reduzido tamanho, que não diferiram estatisticamente entre
si, mas diferiram de todos os outros genótipos testados. Entre as cultivares de
pessegueiro testadas, um reduzido número de ovos e juvenis por 10 g de raízes e
por sistema radicular foi encontrado somente nas raízes da cultivar Aurora-1
(Tabela_1), diferindo estatisticamente das demais. Entretanto, considerando-se
os valores do fator de reprodução, todas as cultivares de pessegueiro testadas
mostraram-se resistentes ao nematóide, conforme a terminologia proposta por
Canto-Sáenz (1985). A cultivar Dourado-1 tem como origem o cruzamento 'Tutu' x
'Maravilha', sendo que este último tem como um dos progenitores a cv. Okinawa
(Ojima et al., 1985), o que pode explicar a reação de resistência da cv.
Dourado-1 ao nematóide.
Nas condições experimentais utilizadas, os clones 05; 10 e 15 de umezeiro,
assim como as cultivares de pessegueiro Okinawa, Aurora-1 e Dourado-1,
mostraram-se resistentes a Meloidogyne javanica. A resistência dos clones de
umezeiro a Meloidogyne javanica, aliada às demais qualidades agronômicas como
porta-enxerto, pode contribuir para o aumento da produtividade da cultura do
pessegueiro.