Técnica e custo para o ensacamento de frutos de pêra japonesa
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Técnica e custo para o ensacamento de frutos de pêra japonesa1
Technique and bagging cost of nashi fruit pears
Ivan Dagoberto Faoro
Eng.-Agrº, M.Sc., Cart.Prof.nº 4.699-D, CREA-SC, EPAGRI, Estação Experimental
de Caçador: Bairro Bom Sucesso, Estrada Geral s/n, e-mail: faoro@epagri.rct-
sc.br, Caixa Postal 591, Tel(0xx49)663-0211, Fax(0xx49)663-3211, 89500-000,
Caçador-SC
A técnica do ensacamento dos frutos vem sendo preconizada há muitos anos pela
pesquisa e já é utilizada por alguns produtores. No caso da pêra japonesa, as
cultivares de película verde-amarelada, como a 'Nijisseiki', exigem o
ensacamento; caso contrário, os frutos desenvolvem rugosidade
("russeting") e ficam com aparência comercial indesejável. Já nas
cultivares de película marrom, como a 'Housui' e 'Kousui', o ensacamento não é
necessário. No entanto, alguns produtores estão realizando esta prática, com a
qual existe a possibilidade de eliminar ou reduzir o uso de inseticidas e
fungicidas. Isso pode facilitar, no futuro, aliado a outras pesquisas, a
própria produção de pêra orgânica.
O ensacamento de frutos da pêra japonesa deve ser realizado para: a) evitar
danos de insetos, principalmente da mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) e
da grafolita (Grapholita molesta); b)controlar doenças, especialmente a Pinta
Preta (Alternaria spp.) na 'Nijisseiki'; c) reduzir ou evitar a rugosidade
("russeting"), principalmente em 'Nijisseiki' e suas mutações
(Kotobuki et al., 1992); d) obter frutos de melhor aparência e película mais
lisa; e) reduzir a quantidade de defensivos aplicados ou mesmo a rugosidade
eventualmente ocasionada por algum defensivo (White et al., 1990); f) evitar
danos ocasionados por pássaros; g) amenizar eventuais danos ocasionados por
chuvas leves de granizo (Faoro, 2000).
O raleio da pêra é feito manualmente, sendo mantido um fruto.racimo-1 espaçado
um do outro cerca de 20cm. Deve-se deixar somente o 3º ou 4º fruto do racimo,
já que as primeiras flores tendem a produzir frutos mais achatados e as últimas
produzem frutos mais compridos (Uraki et al., 1982).
Na opção de ensacamento dos frutos, deve-se levar em consideração o aumento da
demanda da mão-de-obra, sendo que, para 1 hectare, são necessários cerca de
1.680 horas (White et al, 1990) ou 954 horas para Nijisseiki, no Japão.
Na ausência de ensacamento, aproximadamente um mês após a polinização, os
frutos da pêra japonesa já desenvolvem uma cutícula, formando então a
rugosidade. Na terceira semana após a polinização, a alta umidade ou mesmo
alguns fungicidas também podem induzir a formação de rugosidade. A alta
umidade, provavelmente, é o maior agente causal da rugosidade dos frutos.
Existe correlação entre a rugosidade e o número de horas de exposição à alta
umidade e à precipitação, especialmente entre o 16º e 20º dia após a plena
floração. Nesse período, há intenso crescimento do fruto e, em conseqüência,
ocorrem aberturas na cutícula, favorecendo a penetração da água até as células
epidérmicas, que absorvem esta água e, por pressão de turgência, se rompem.
Assim, devido à oxidação de seu conteúdo celular, adquirem a coloração marrom-
bronzeada, característica da rugosidade (Gil, 1989). Por isso, o fruto deve ser
ensacado cerca de três a quatro semanas após a polinização, quando o pistilo já
está firme e o raleio já foi realizado.
Conforme a cor da película dos frutos, o ensacamento pode ser realizado em uma
ou duas etapas:
A)Para frutos com película amarela (ex: 'Nijisseiki'), é dividido em duas
etapas: primeiramente, são colocados os sacos pequenos (7,0 x 10,0 cm) e,
posteriormente, os sacos grandes (13,0 x 22,0 cm). Os sacos pequenos são
colocados a partir da terceira semana após a plena floração e após o raleio,
quando os frutos possuem cerca de 1,0cm de diâmetro. O tipo de saco pequeno
mais utilizado é o de papel manteiga transparente, de preferência parafinado,
pois proporciona pouco aumento da temperatura interna. É citado que uma pessoa
treinada realiza cerca de 2.000 a 5.000 ensacamentos/dia (Uraki, 1982). Tem-se
observado em Santa Catarina que os frutos da cultivar Nijisseiki, por
apresentarem pedicelos curtos, devido à menor adaptação às condições
climáticas, ficam escondidos sob as folhas, dificultando o ensacamento. Por
isso, o rendimento por área fica prejudicado, situando-se entre 1.000 e 1.500
frutos ensacados/dia/homem. Pouco antes de os sacos pequenos apresentarem risco
de rasgarem devido ao crescimento do fruto, o que ocorre cerca de dois meses
após a plena floração, são colocados os sacos grandes sobre os sacos pequenos.
Ambos ficam até a colheita. Os sacos grandes podem ter dupla camada de papel,
sendo que o saco da camada interna pode conter inseticida e fungicida (Uraki,
1982). Preferencialmente, devem ser utilizados sacos de camada dupla e
coloração interna amarelada e cor externa bege-escura, ou sacos de papel Kraft
de coloração marrom-escura e não transparente. Uma pessoa treinada ensaca cerca
de 1.000 a 1.200 frutos/dia.
B) Para frutos de película marrom (ex: 'Housui' e 'Kousui'): neste caso,
somente são utilizados sacos grandes de papel Kraft de cor marrom, colocados
cerca de um mês após o final da floração, quando os frutos possuem diâmetro
superior a 2,5~3,0cm. Os sacos são deixados até a colheita.
Para facilitar o processo de ensacamento, os sacos pequenos devem ser
previamente confeccionados com fita adesiva dupla para que se possa fechá-los
rapidamente no campo, durante o ensacamento dos frutos. Os sacos grandes devem
receber previamente um arame fino preso por um pequeno pedaço de fita adesiva
na parte superior, para também facilitar o fechamento a campo. É importante que
os sacos possuam um pequeno corte em seu fundo, para permitir o escorrimento
d'água. Em virtude de os frutos de 'Housui' e 'Nijisseiki' serem maiores que o
da 'Kousui', os sacos também devem ser maiores.
Um fator de suma importância a ser analisado é a redução da quantidade de
agrotóxicos utilizados no pomar, principalmente de inseticidas. A redução ou
mesmo eliminação dos inseticidas devido ao ensacamento dos frutos deve-se ao
controle químico desnecessário da mosca-das-frutas e da grafolita. Em pomares
comerciais onde é realizado o ensacamento, o dano ocasionado por insetos e
podridões, conforme o ano, tem variado entre 1,1 e 3,8% dos frutos produzidos
(Faoro e Yasunobu, 2001). Na ausência do ensacamento e do controle químico, há
risco de os danos atingirem a totalidade dos frutos.
Financeiramente, o ensacamento ainda é uma prática que proporciona maiores
gastos que a aplicação de inseticidas e fungicidas. Nas Tabelas_1 e 2, são
apresentados os custos de confecção de sacos pequenos e grandes, e do
ensacamento, baseados em informações obtidas com produtores dos municípios de
Frei Rogério e Caçador, que já estão adotando esta prática, além da experiência
da pesquisa. Para a 'Housui', para a qual é necessário um ensacamento, mas a
quantidade de frutos/ha é maior, o custo estimado é de R$ 4.075,50/ha ou,
aproximadamente, R$ 0,04/fruto (Tabela_1). Já para a 'Nijisseiki', em função da
necessidade de dois ensacamentos, o custo é maior e situa-se em R$ 4.118,00/ha
ou, aproximadamente, R$ 0,06/fruto (Tabela_2).
O ensacamento dos frutos reduz a poluição ambiental, melhora a apresentação dos
frutos e reduz o risco de dano causado pela mosca-das-frutas e pela grafolita.
O aumento do custo de produção devido ao ensacamento é passível de ser
assimilado pelo produtor, desde que obtenha frutos de qualidade e com melhores
preços junto aos consumidores.