Comportamento da laranjeira 'Pêra' sobre cinco porta-enxertos em ecossistema de
tabuleiros costeiros, Umbaúba-SE
PROPAGAÇÃO
Comportamento da laranjeira 'Pêra' sobre cinco porta-enxertos em ecossistema de
tabuleiros costeiros, Umbaúba-SE1
Behavior of Pera orange on five different roostocks in Brazilian coastal
tableland ecosystem
Roosevelt Menezes PrudenteI; Luiz Mário Santos da SilvaI; Almir P. da Cunha
SobrinhoII
IEng.-.Agron., M.Sc. Emdagro, contrato Embrapa/Emdagro, Av. Beira-Mar, 3250,
Caixa Postal 44, fone 079)226-1349, CEP 49001-970, Aracaju - SE. e-mail:
prudente@cpatc.embrapa.br e lmario@cpatc.embrapa.br
IIEng. Agron., M.Sc. Embrapa Mandioca e Fruticultura, Rua Embrapa, s/n, Caixa
Postal 007, CEP 44380-000, Cruz das Almas-BA. e-mail: almir@cnpmf.embrapa.br
INTRODUÇÃO
Em Sergipe, estima-se que 90% dos pomares são de laranjeira 'Pêra' enxertada
sobre os limoeiros 'Cravo' e 'Rugoso da Flórida', respectivamente, 55% e 40%,
complementados pelos porta-enxertos limoeiro 'Volkameriano' e tangerineira
'Cleópatra'. Esses porta-enxertos são recomendados aos citricultores e
viveiristas, em decorrência de resultados parciais de pesquisa e observações de
campo (Trindade et al., 1989).
Para uma variedade-copa proporcionar o máximo de produtividade, é necessário
que, além dos tratos culturais adequados, haja uma perfeita integração com o
porta'enxerto (Pompeu Júnior et al., l978). Esses autores também supõem que o
'Cravo' não satisfaz às necessidades de todas as copas, havendo porta-enxertos
que atendem melhor às exigências específicas de uma dada variedade.
Salibe (1987) destaca a significativa participação do porta-enxerto na
combinação, influenciando nas características da copa, tais como o crescimento,
a produção e a resistência à seca e ao frio. Pompeu Júnior (1991) foi mais além
ao assegurar que "o porta-enxerto induz à copa alterações no seu crescimento,
precocidade de produção, época de maturação e peso dos frutos, permanência dos
frutos na planta, capacidade de absorção , síntese e utilização de nutrientes,
tolerância à salinidade, resistência à seca e ao frio, resistência ou
tolerância a moléstias e pragas, além de outros".
Dada a escassez de resultados sobre a potencialidade das combinações copa/
porta-enxertos recomendadas para a região citrícola de Sergipe, o presente
trabalho objetivou estudar o comportamento produtivo e vegetativo de cinco
diferentes combinações submetidas às mesmas condições de ambiente físico e de
manejo.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em julho de l984 e conduzido sem irrigação, no
Campo Experimental de Umbaúba-SE, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em solo do
tipo Podzólico Acinzentado eutrófico com fragipan Tb A fraco, textura média/
argilosa fase floresta subperenifólia e com relevo plano (Cintra, 1997). O
clima é quente e úmido, tipo As', classificação Köppen (clima tropical chuvoso,
com verão seco), altitude de 109 m e precipitação média anual de l.263,6 mm,
com maior concentração nos meses de abril a setembro (Tabela_1).
Utilizou-se como copa a laranjeira 'Pêra' [Citrus sinensis(L.) Osb.], clone D6,
enxertada nos limoeiros 'Cravo' (Citrus limonia Osb.), 'Rugoso da Flórida'
(Citrus jambhiriLush.), 'Volkameriano' (Citrus volkamerianaTen. & Pasq.),
seleções Palermo e Catânia 2 e tangerineira 'Cleópatra' (Citrus reshniHort. ex
Tan.), espaçados de 7 m x 3,5 m, arranjados em blocos ao acaso, com três
repetições e quatro plantas por parcela.
As plantas receberam os tratos culturais necessários ao seu bom
desenvolvimento.
Foram coletados dados de produção (peso total), dimensão da planta (diâmetro e
altura da copa) e qualidade do fruto (peso médio do fruto, porcentagem de suco,
teor de acidez e de sólidos solúveis totais). Com os dados de produção e
densidade do plantio, foi estimada a produtividade (t/ha) dos porta-enxertos.
Utilizando-se das médias do diâmetro e da altura das copas, calculou-se o
volume médio das plantas com a fórmula de Mendel, citada por Figueiredo et al.
(1981): V = 2 / 3 p. R2. H, onde: V = volume da copa; R = raio médio; H =
altura da copa. O índice de eficiência foi calculado dividindo-se a média da
produção de cada combinação pelo respectivo volume de copa. A percentagem de
sólidos solúveis totais (SST) foi determinada em refratômetro de campo,
ajustando-se os dados para a temperatura ambiente. A acidez total titulável
(ATT) foi calculada por titulação com Na0H a 0,1 N, tomando-se 25 ml de suco e
a fenolftaleína como indicador.
Os resultados foram submetidos à análise de variância aplicada às médias,
comparadas pelo teste de Tukey, a 5% e a 1% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela_2 mostra os dados da produtividade e peso médio dos frutos e os
resultados das análises estatísticas. As produtividades médias da laranjeira
'Pêra' sobre os cinco porta-enxertos não diferiram significativamente, no
período 1993 ' 97. Constatou-se também que o 'Cravo' e o 'Rugoso', os mais
utilizados nas regiões citrícolas de Sergipe e da Bahia, apresentaram
semelhante comportamento produtivo por quase todo o período, exceto nos anos de
1993 e 1994, quando alternaram suas colocações. As seleções do 'Volkameriano',
Palermo e Catânia 2 também apresentaram igual comportamento produtivo, exceto
em 1993 e 1996, quando o 'Palermo' superou o 'Catânia 2'. Esses porta'enxertos,
apesar de não diferirem significativamente da tangerineira 'Cleópatra' no
período de 1993-97, apresentaram maiores produtividades acumuladas: 'Palermo'
mais 29,8 t/ha (15,6%) e 'Catânia 2' mais 22,2 t/ha (11,7%). Com relação ao
'Cravo' e ao 'Rugoso', mesmo não diferindo estatisticamente, a 'Cleópatra'
produziu 12% menos que a média de produção no período, ou seja, foi inferior em
22,9 t (Tabela_2). Na Bahia, em solo de Tabuleiro Costeiro, de textura média,
segundo Cunha Sobrinho et al. (1980), a 'Cleópatra' induziu,
significativamente, igual vigor e produtividade à copa de 'Pêra', quando
comparada ao 'Cravo' e 'Rugoso'. Nesse mesmo solo, Cunha Sobrinho (1992)
constatou que a 'Cleópatra' sob copa de laranjeira 'Baianinha' C. sinensis (L.)
Osb., embora com início de produção menos precoce que o 'Cravo' e o 'Rugoso',
igualou-se ao primeiro a partir dos 12 e até aos 15 anos de idade. Por outro
lado, comparando-se a produtividade acumulada do 5º ao 15º ano do plantio, a
'Cleópatra' foi inferior ao 'Cravo' ' 11,2% e ao 'Rugoso' ' 30,6%. Resultados
semelhantes obtiveram Soares Filho et al. (1980) estudando porta-enxertos para
laranjeira 'Natal' C. sinensis (L.) Osb., nas mesmas condições do experimento
anterior. Essa tendência de produção também foi encontrada por Figueiredo
(1985), quando informa que em solos arenosos a 'Cleópatra' produziu menos que o
'Cravo'. Todavia, segundo Donadio et al. (1993), a 'Cleópatra' enxertada com
'Pêra', nas condições de Bebedouro-SP, apresentou maior produtividade quando no
espaçamento 7 m x 2 m, em período seco, contrariando as expectativas de ser
mais sensível à seca que o 'Cravo'. Esses autores também informam que as
"produções iniciais da 'Cleópatra' foram muito baixas, só atingindo um nível
razoável no 5º ano de plantio".
Os frutos da 'Pêra' sobre 'Rugoso' apresentaram maior peso médio que os
originados sobre 'Palermo', 'Catânia 2' e 'Cleópatra', mas não diferiram
significativamente dos produzidos sobre 'Cravo' (Tabela_2).
Os porta-enxertos não diferiram significativamente quanto à porcentagem de
suco, mas o 'Cravo' e a 'Cleópatra' apresentaram tendência para induzir a
produção de frutos mais suculentos (Tabela_3). Estimando-se o volume de suco,
em t/ha, produzido no período de 1993-97, em cada combinação, obteve-se:
'Cravo' ' 26.0, 'Palermo' ' 24.9, 'Catânia 2' ' 24.0, 'Rugoso' ' 23.8 e
'Cleópatra' ' 23.2 t/ha. Esses resultados demonstram que a 'Cleópatra', apesar
de não diferir estatisticamente, ofereceu maior rendimento de suco que o
'Rugoso', compensando a sua menor produção de frutos (Tabelas_2 e 3). Com
relação à percentagem de suco, Donadio et al. (1993) obtiveram valores pouco
maiores para o 'Cravo' em relação à 'Cleópatra' (plantas com 8-9 anos),
respectivamente, 55 e 51%, diferentes dos 60,7 e 61% apresentados na Tabela_3;
no entanto, registraram ocorrência de secas, o que contrasta com as boas
precipitações ocorridas durante o presente estudo (Tabela_1).
Na Tabela_4, as médias do período de 1993'97 mostraram que a combinação com
'Rugoso' apresentou maior volume de copa, sem diferir significativamente do
'Cravo', 'Cleópatra' e 'Palermo', diferindo apenas do 'Catânia 2', que
apresentou o menor volume de copa. As combinações apresentaram diferentes taxas
de desenvolvimento vegetativo no período: 'Cleópatra' ' 79,7%; 'Rugoso' '
52,3%; 'Catânia 2' ' 51,2%; 'Cravo' ' 48,3% e 'Palermo' - 44,2%, demonstrando o
maior desenvolvimento vegetativo da 'Cleópatra', seguida do 'Rugoso'. O maior
volume de copa da 'Cleópatra', em relação ao 'Cravo', também foi encontrado por
Donadio et al. (1993). No que tange à produção de frutos por volume de copa, os
porta-enxertos apresentaram diferenças significativas, com destaque para o
'Catânia 2', que diferiu da 'Cleópatra' e do 'Rugoso', enquanto o 'Cravo',
'Cleópatra' e 'Rugoso' não diferiram entre si, mas apenas este último diferiu
do 'Palermo' (Tabela_4).
Quanto aos teores de sólidos solúveis totais (SST), acidez total titulada (ATT)
e relação SST/ATT "ratio", apresentados na Tabela_5, os porta-enxertos
apresentaram variações significativas, apenas para ATT e "ratio". Não se
observou diferença significativa entre as combinações com relação ao teor de
sólidos solúveis, embora o 'Cravo' e o 'Catânia 2' tenham induzido aos frutos
maiores teores de açúcar. Nesse sentido, Soares Filho et al. (1980)
apresentaram resultados com tendência semelhante quando informaram que o
'Cravo' sob copa de 'Natal' induziu a formação de frutos com teores mais
elevados de açúcares que o 'Rugoso'. Neste estudo, com relação à acidez total,
o 'Rugoso' apenas diferiu do 'Palermo', mas ambos não diferiram dos demais
porta-enxertos. Quanto à relação SST/ATT, os porta-enxertos apresentaram
pequenas variações, mas apenas o 'Rugoso' diferiu do 'Palermo', 'Catânia 2' e
'Cleópatra', enquanto os demais não diferiram entre si. Donadio et al. (1993),
comparando o 'Cravo' à 'Cleópatra', informaram que, para a qualidade do fruto
de 'Pêra', não houve diferença entre eles; também Cunha Sobrinho (1992),
comparando dados de SST, ATT e relação SST/ATT, obteve resultados semelhantes
com laranja 'Baianinha' sobre 'Cravo', 'Rugoso' e 'Cleópatra', exceto com
relação à SST/ATT, quando informou que o 'Rugoso' não diferiu da 'Cleópatra'.
Com relação aos problemas fitossanitários, não se observou a ocorrência da
gomose de Phytophthora e do declínio dos citros nas diferentes combinações
copa/porta-enxertos. A incompatibilidade entre 'Volkameriano' e 'Pêra' não foi
constatada através de inspeções na região da enxertia.
CONCLUSÕES
As seleções do limoeiro 'Volkameriano', 'Palermo' e 'Catânia 2', e a
tangerineira 'Cleópatra' apresentaram comportamento semelhante aos limoeiros
'Cravo' e 'Rugoso da Flórida', os mais utilizados nas regiões citrícolas de
Sergipe e do litoral norte da Bahia.