Qualidade de mudas de berinjela submetida a diferentes métodos de produção
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Introdução
Na cadeia produtiva de hortaliças de boa qualidade, a formação de mudas é uma
das fases mais importantes para o ciclo da cultura, influenciando diretamente
no desempenho final da planta, tanto do ponto de vista nutricional como do
produtivo, pois existe uma relação direta entre mudas sadias e produção a campo
(CAMPANHARO et al., 2006). Mudas bem formadas podem incrementar a produção,
enquanto que mudas mal formadas, segundo Guimarães et al. (2002) podem ampliar
o ciclo da cultura e, conseqüentemente, causar prejuízos ao produtor.
A produção de mudas em sementeira ocasiona lesões no sistema radicular durante
o transplante e permite a entrada de patógenos, comprometendo o desenvolvimento
da planta. Com a modernização da horticultura e a formação de mudas em bandejas
em cultivo protegido, utilizando substratos, obteve melhor qualidade e
padronização das plântulas a serem levadas a campo e, conseqüentemente, maiores
uniformização nos canteiros e maiores produtividades. Os diferentes volumes
celulares das bandejas proporcionam padrões de qualidade distinta das plântulas
conforme observado por Marques et al. (2003) e Trani et al. (2004) em mudas de
alface, onde obtiveram melhores mudas em bandejas com maiores volumes
celulares.
Com o cultivo protegido passou-se a produzir mudas com melhor qualidade
fitossanitária, precoces e em diferentes épocas do ano (BEZERRA, 2003). Aliada
à proteção das plantas, requisito como substrato passou a ser elemento
importante na formação da futura planta, devendo possuir características
desejáveis como baixo custo, fácil aquisição de nutrientes, capacidade de troca
catiônica, esterilidade biológica, porosidade, retenção de umidade e
uniformidade (SCHMITZ et al, 2002).
A berinjela (Solanum melongena L.) pertence à família das solanáceas, que
compreendem o tomate, batata, pimentão, pimenta e jiló. Originária das regiões
tropicais do Oriente, sendo cultivadas pelos chineses e árabes há séculos
(FILGUEIRA, 2003). Devido à riqueza nutricional e propriedades medicinais está
cada vez mais presente na mesa dos brasileiros (OLIVEIRA et al., 2009).
Esta hortaliça é uma espécie termófila que necessita de alta temperatura para
seu desenvolvimento vegetativo e reprodutivo (SOUSA et al., 1997),
proporcionando o cultivo na região do alto pantanal sul-mato-grossense. Em
função dessa característica especial e considerando a necessidade de ampliar a
oferta de hortaliças de qualidade no Estado de Mato Grosso do Sul, este
trabalho teve como objetivo avaliar a formação de mudas de berinjela em
substratos com porcentagens de manivas de mandioca triturada e vermiculita,
utilizando bandejas com diferentes volumes celulares em dois ambientes de
cultivo protegido.
Material e métodos
O experimento com berinjela, cultivar Embu, foi conduzido de março a julho de
2009 na área experimental da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS), Unidade Universitária de Aquidauana, que se localiza na altitude de 174
m, longitude de -55,67º e latitude de -20,45º, região de interface entre
Cerrado e Pantanal. O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen
é Aw, sendo definido como clima tropical úmido, com temperatura média anual de
29 ºC.
Foram avaliados dois ambientes de cultivo: (A1) viveiro agrícola telado, de
estrutura em aço galvanizado (6,40 x 18,00 x 3,50 m), fechamento em 45º, com
tela de monofilamento, malha com 50% de sombreamento (Sombrite®) e (A2) estufa
agrícola em arco (6,40 x 18,00 x 4,00 m) de estrutura em aço galvanizado, com
abertura zenital na cumeeira, coberta com filme polietileno de 150μm, difusor
de luz, possuindo tela termorrefletora de 50% de sombreamento sob o filme e
fechamentos laterais e frontais com tela de monofilamento, malha para 50% de
sombreamento.
Em cada ambiente de cultivo as mudas foram testadas em 2 recipientes, sendo as
bandejas de poliestireno de 72 e 128, designados por R1 e R2, com as seguintes
dimensões: 72 células (5,0 cm de largura por 12,0 cm de altura e volume de
121,2 cm3 por célula) e 128 células (3,5 cm de largura por 6,2 cm de altura e
volume de 34,6 cm3 por célula). Estas foram preenchidas com substratos contendo
mistura de vermiculita e manivas (ramas) de mandioca triturada nas seguintes
proporções, em volume: (S1) "0% vermiculita e 100% ramas"; (S2) "20%
vermiculita e 80% ramas"; (S3) "40% vermiculita e 60% ramas"; (S4) "60%
vermiculita e 40% ramas"; (S5) "80% vermiculita e 20% ramas" e (S6) "100% de
vermiculita e 0% ramas".
Para a avaliação dos experimentos se utilizou o delineamento inteiramente
casualizado (DIC), em esquema de parcelas sub-subdivididas, com oito
repetições, sendo a média de duas plântulas por repetição. As parcelas
principais foram os ambientes de cultivo, as subparcelas as bandejas e as sub-
subparcelas os substratos (dois ambientes x dois recipientes x seis substratos
= 24 tratamentos).
As manivas de mandioca foram trituradas em moinho de martelo (marca TRAPP,
modelo TRF 650), utilizando a peneira de 8 mm, posteriormente secadas a sol por
uma semana, sendo revirada diariamente (TAB. _1 e 2). Foi utilizada vermiculita
comercial de textura média.
![](/img/revistas/rca/v42n4/a26tab02.jpg)
Os substratos foram adubados com 2,5 kg de superfosfato simples (18% de P2O5),
0,3 kg de cloreto de potássio (60% de K2O) e 1,5 kg de calcário dolomítico
(100% de PRNT), por metro cúbico de substrato (RIBEIRO et al., 1999).
A semeadura foi realizada em 02/06/2009, com três sementes por célula. O início
da emergência se deu no dia 13/06/2009, onze dias após a semeadura (11 DAS). O
desbaste foi realizado em 28/06/2009. A irrigação foi manual com regador.
Foram mensuradas, com régua milimetrada, a altura de plântula (AP) nos dias 29/
06 (27 DAS), 06/07 (34 DAS), 13 (41 DAS), 20 (48 DAS) e 27/07 (56 DAS). Para
esta variável foi realizada análise de regressão em função do tempo utilizando
o software Excel.
Aos 56 DAS foram mensurados, também, o diâmetro do colo (DC), massa seca da
parte aérea (MSPA), massa seca do sistema radicular (MSSR) e massa seca total
(MST). Foram determinadas as relações altura diâmetro do colo-1 (RAD), massas
secas aéreas.radiculares-1 (RMS) e índice de qualidade de Dickson (IQD = MST /
(RAD + RMS) (DICKSON et al., 1960).
Foram coletadas as temperaturas de bulbo seco e bulbo úmido, nos horários de
09h:00 min, 12h:00 min e 15h:00 min de cada ambiente de produção, no período de
02 de junho a 27 de julho de 2009. Posteriormente, obteve a umidade relativa
com o software Psychrometric Function Demo® (TAB._3).
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias ao teste de Tukey,
ao nível de 0,05 de probabilidade, utilizando o software Estat (1994).
Resultados e discussão
A relação entre a altura da plântula e o seu diâmetro do colo (RAD), nas
bandejas, e o diâmetro do colo na interação entre ambiente e recipiente, não
apresentaram diferenças significativas. Para as demais variáveis todos os
tratamentos foram significativos. Esses resultados revelam que existe
influência do tipo de ambiente, recipiente e substrato na formação da muda de
berinjela, bem como esses fatores interagem entre si para promover melhor
desenvolvimento da plântula (TAB._4).
Nas interações entre ambientes e recipientes, o maior volume celular da bandeja
de 72 células, independente do ambiente de cultivo, sempre apresentou maiores
valores nas variáveis analisadas, exceto na relação altura e diâmetro do colo
na estufa agrícola, onde os recipientes não diferiram. Para a bandeja de 72
células o viveiro agrícola foi o ambiente mais adequado para o crescimento
inicial da berinjela e para a bandeja de 128 células foi a estufa agrícola
(TAB._5).
O maior volume celular, por disponibilizar maior espaço para as raízes e maior
quantidade de nutrientes, propiciou melhor desenvolvimento à muda de berinjela,
concordando os resultados de Marques et al. (2003) e Trani et al. (2004) em
mudas de alface, Echer et al. (2007) em mudas de beterraba, Modolo et al.
(1999) em mudas de quiabeiro, Piovesan e Cardoso (2009) em mudas de abóbora e
Seabra Júnior et al. (2004) em mudas de pepineiro.
Dependendo do tipo de recipiente, os ambientes de cultivo promoveram
crescimento e desenvolvimento distinto das mudas de berinjela. Para a bandeja
de 128 células, foram verificadas mudas menos vigorosas no viveiro telado, em
que a própria estrutura da malha de sombreamento, a qual permitiu a entrada de
água pluvial, pode ter carreado os nutrientes do menor volume de substratos e
influenciado no desenvolvimento das plântulas. Fato não verificado para a
bandeja de 72 células, pois neste recipiente as plântulas apresentaram melhor
desenvolvimento no viveiro telado. Mesmo estando na mesma condição de ambiente
de cultivo que as bandejas de 128 células, o maior volume celular da bandeja de
72 células permitiu menos carreamento de nutrientes e melhor desenvolvimento às
mudas.
A umidade relativa no viveiro com tela de monofilamento foi maior que a da
estufa agrícola nos horários de coleta (TAB. _3). Essa maior umidade
possibilitou menor quantidade de água de irrigação, pois a estrutura da tela
permitiu a entrada de água pluvial. Além desse aspecto, a maior umidade
relativa nesse ambiente diminui a evapotranspiração (COSTA et al., 2009),
permitindo às mudas melhor acondicionamento ambiental.
As condições ambientais do viveiro, com maior umidade relativa, propiciaram
condições mais adequadas para o desenvolvimento da muda de berinjela, sendo
mais vigorosas e propícias para enfrentarem as condições adversas a campo.
Aliada a estas condições ambientais favoráveis e ao maior volume celular que
permitiu maior disponibilidade de nutrientes, água e espaço poroso, assim as
raízes se desenvolveram melhor, as plantas acumularam maior biomassa seca e
inferiram melhor qualidade às mudas formadas na bandeja de 72 células.
Segundo Gomes (2001) a fórmula que determina o IQD é balanceada, pois inclui
parâmetros morfológicos de altura, diâmetro e biomassas (IQD = MST/(RAD + RMS).
Quanto maior o valor do índice maior é o padrão de qualidade das mudas. As
maiores mudas, com maiores biomassas e melhores índices de desenvolvimento
(IQD) foram obtidas nas proporções medianas de vermiculita e ramas de mandioca
(S3 e S4), tanto para os ambientes de cultivo como para as bandejas de
poliestireno, com pequena superioridade pelo S4 (TAB._6 e 7).
Provavelmente as proporções medianas (entre 40 e 60%) dos materiais que
constituíram os substratos S3 e S4, em comparação com os demais, apresentaram
superioridade por proporcionarem maior fixação e crescimento das raízes. Nestas
proporções, a granulometria (TAB._2) possibilitou melhor disponibilidade de
umidade e aeração, refletindo em maior crescimento das raízes, promovendo
plântulas com maiores biomassas, e conseqüentemente mais vigorosas. Oliveira et
al. (2008) obtiveram mudas de pimentão e alface com maiores matérias secas,
quando utilizaram vermiculita pura ou na proporção de 50% em mistura com
substrato comercial. Negreiros et al. (2004) e Costa et al.(2009) destacaram as
propriedades da vermiculita como excelente condicionador do sistema radicular
de mudas, devido sua grande capacidade de retenção de água em função da alta
porosidade, promovendo melhor desenvolvimento da muda.
A rama de mandioca triturada, possuindo 50% de partículas entre 2,0 e 4,0 mm e
aproximadamente 48% de partículas menores que 2,0 mm (TAB._2), foi uma
alternativa na produção de mudas de berinjela, quando misturada a 50% de
vermiculita, diminuindo custo de produção com o substrato. Por ser um resíduo
novo, em estudo para composição de substratos, abrem-se outras possibilidades
para testar a rama de mandioca com tempo maior de secagem (acima de 7 dias),
possível compostagem ("cura") visando diminuir a relação carbono e nitrogênio,
carbonizada como se faz com a palha de arroz e em outras granulometrias. Estas
modificações poderão permitir o uso de maior porcentagem do material de fácil
aquisição e baixo custo.
O diâmetro do colo estima a sobrevivência das mudas após o plantio (GOMES,
2001). Nesse raciocínio, as plântulas mais propícias para terem sucesso a campo
foram produzidas nos substratos S3 e S4, em ambos ambientes e na bandeja de 72
células. Segundo o mesmo autor a relação altura/diâmetro exprime o equilíbrio
de crescimento, sendo considerado um índice de qualidade que exprime dois
parâmetros morfológicos simultaneamente. Para mudas florestais, quanto menor
seu valor maior será a capacidade das mudas sobreviverem a campo. Para as mudas
de berinjela esse parâmetro isolado não exprimiu com rigorosidade a qualidade
da muda, ficando entre 1,87 e 2,31 (TAB._6). No entanto o IQD, que envolve
vários parâmetros de crescimento, foi um bom indicador do padrão de qualidade
das mudas de berinjela.
Todos os substratos permitiram crescimento uniforme das plântulas nos
recipientes e ambientes avaliados, apresentando alto coeficiente de
determinação (R2) e inferindo incremento linear na altura da muda em função do
tempo (FIG._1; 2; 3 e 4). Para a bandeja de 72 células no viveiro, e para a
bandeja de 128 células na estufa, as maiores correlações (acima de 99%) foram
verificadas nos substratos S3 e S4 (FIG._1 e 4). Esse crescimento mais uniforme
nos substratos com proporções medianas dos dois componentes, observado desde a
emergência até aos 56 DAS, revelam que as plântulas se adaptaram melhor nessas
composições. Conforme verificado, também, através de outros parâmetros de
avaliação.
[/img/revistas/rca/v42n4/a26fig01.jpg]
Observa-se que os coeficientes angulares das equações estão entre zero e um,
pois as datas de coletas correspondem aos dias após a semeadura (27; 34; 41 e
48 DAS) e as plantas atingiram altura máxima próximo de 6,0 cm.
Conclusões
1. A tela de monofilamento é o melhor ambiente de cultivo quando utiliza-se a
bandeja de 72 células e, quando se utiliza a bandeja de 128 células a estufa
agrícola propicia melhores condições;
2. O melhor recipiente para formação de mudas de berinjela é a bandeja de 72
células;
3. As composições medianas de vermiculita e ramas de mandioca, entre 40 e 60%,
formam o melhor substrato para as mudas de berinjela;
4. O índice de qualidade de Dickson é um bom indicador do padrão de qualidade e
do vigor de mudas de berinjela.