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BrBRCVHe0004-28032003000200012

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variedadeBr
ano2003
fonteScielo

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Comparação entre acalásia idiopática e acalásia conseqüente à doença de Chagas: revisão de publicações sobre o tema REVISÃO / REVIEWAcalásia é a mais conhecida doença motora do esôfago, caracterizada por relaxamento parcial ou ausente do esfíncter inferior do esôfago (EIE) e contrações não-peristálticas no corpo esofágico(44). No exame radiológico é encontrada retenção do meio de contraste no esôfago, incoordenação no trânsito, afilamento regular da transição esofagogástrica e esôfago dilatado. O sintoma mais freqüente é a disfagia, seguida pela regurgitação, pirose e dor torácica (44).

A doença primária, quando compromete somente o esôfago, não tem etiologia conhecida, sendo infecção por vírus a hipótese mais provável(20, 27). A doença secundária, quando doença sistêmica provoca a alteração motora do esôfago, tem grande número de causas(20, 27). No Brasil a doença de Chagas é a mais importante(36, 37).

Acalásia idiopática é doença pouco freqüente, com prevalência estimada de 7 a 13 casos por 100.000 habitantes(20, 35). Acalásia provocada pela doença de Chagas afeta de 7% a 10% das pessoas infectadas pelo Trypanosoma cruzi(37).

Durante muitos anos o número de pessoas no Brasil com doença de Chagas foi muito grande e, como conseqüência, a prevalência de megaesôfago no Brasil foi muito maior do que a observada em outros países. O combate intensivo visando diminuir a transmissão da doença ocorrido na segunda metade do século XX, fez com que a prevalência diminuísse rapidamente, estando atualmente restrita a casos crônicos e a algumas regiões do país.

O termo acalásia é referente à doença motora do esôfago e megaesôfago a sua conseqüência. Embora haja muita semelhança entre o megaesôfago idiopático e aquele provocado por doença de Chagas, têm sido observadas algumas diferenças entre elas(8). Não é surpresa que tal fato ocorra, pois, entre as várias doenças que podem provocar acalásia, existem diferentes graus de lesão no esôfago(27).

Nesta revisão foram incluídos trabalhos que estudaram as características do envolvimento do esôfago na acalásia idiopática e na acalásia conseqüente à doença de Chagas, principalmente aqueles que compararam as duas doenças utilizando o mesmo método.

De comum entre acalásia idiopática e chagásica a observação de perda dos neurônios do plexo mientérico do esôfago(23, 30). Entretanto, estudos da fisiopatologia da acalásia descrevem que a lesão do plexo mientérico ocorre mais intensamente nos neurônios inibitórios, sendo os neurônios excitatórios lesados em graus variáveis de intensidade(27), o que provoca variações na apresentação da doença motora do esôfago(28). A intensidade do comprometimento do plexo mientérico provoca grande variação na esofagopatia conseqüente à doença de Chagas(11, 12, 36). Os trabalhos que tiveram por objetivo o estudo da fisiopatologia e alterações manométricas observadas no megaesôfago sugerem que na acalásia idiopática prevalece a lesão da inervação inibitória e na doença de Chagas as lesões comprometem a inervação inibitória e também a excitatória (Tabela_1). Em sendo esta hipótese verdadeira, a pressão do EIE deveria ser alta na acalásia idiopática e normal ou baixa na doença de Chagas(27).

Vários estudos têm demonstrado que a pressão do EIE na acalásia idiopática está aumentada(6, 10, 20, 29, 31). Na doença de Chagas diferentes trabalhos descrevem resultados em que a pressão do EIE está diminuída(10, 38), normal(7, 15, 26, 31) ou aumentada(34, 40). As evidências de que na acalásia idiopática a inervação excitatória do EIE está íntegra ou parcialmente comprometida estão na observação de que na doença hipersensibilidade do EIE à gastrina(6, 29), de queda de pressão quando da injeção de toxina botulínica no esfíncter(39), da manutenção das respostas ao edrofônio(29) e à atropina(29), e predomínio da inervação a-adrenérgica, em detrimento da inervação b-adrenérgica(5). Também são encontradas redução do número de fibras com polipeptídio intestinal vasoativo(3, 41) e perda funcional dos receptores D2 da dopamina (inibitórios), com manutenção dos receptores D1 (excitatórios)(41).

Na doença de Chagas ocorre hiposensibilidade do EIE à gastrina(38), predomínio da inervação a-adrenérgica em relação à inervação b-adrenérgica(21), resposta parcial à atropina(9) e à toxina botulínica(4). Nas duas formas de acalásia está demonstrada a perda da inervação não-adrenérgica não-colinérgica inibitória do esôfago(33)*.

O controle da pressão do EIE é dado pela ação própria da musculatura, o componente mais importante, a inervação colinérgica(27), o efeito de outros neurotransmissores(41) e a ação de hormônios(25). A participação de hormônios é duvidosa e, caso exista, é de pequena importância. No caso da acalásia a gastrina agiria na inervação colinérgica excitatória que, sem o antagonismo da inervação inibitória, exibe resposta aumentada(6). No caso da doença de Chagas, a resposta está diminuída(38), o que reforça a idéia de comprometimento da inervação excitatória, embora os níveis de gastrina circulantes estejam aumentados(42, 43), o que não ocorre na acalásia idiopática(6). Com a colecistocinina, que no esôfago normal provoca diminuição da pressão por agir na inervação inibitória, na acalásia provoca-se o efeito de grande aumento de pressão(17), conseqüente à ação direta na musculatura do esfíncter.

Anticorpos contra receptores muscarínicos M2 de acetilcolina são mais freqüentes em pacientes chagásicos com acalásia do que em pacientes com acalásia idiopática. Estes anticorpos aumentam in vitro o tônus da musculatura de EIE(22).

Não foram encontradas diferenças entre pacientes com acalásia idiopática e aqueles com doença de Chagas na amplitude das contrações esofágicas(1, 15), destacando-se que nas duas doenças ela está diminuída em relação a pessoas normais(15), e na amplitude das contrações em faringe, neste local sem diferença com pessoas normais(2). A proporção de pacientes com contrações de baixa amplitude (inferior a 37 mm Hg) é maior nos pacientes com doença de Chagas do que naqueles com acalásia idiopática(13). Trabalhos sobre a complacência esofágica também encontraram resultados semelhantes nas duas doenças, ou seja, aumento da complacência(19, 24). A duração da contração esofágica é maior nos pacientes com acalásia idiopática do que nos pacientes com doença de Chagas(1, 15) e deglutições seguidas de falha de contração(15), bem como o número de pacientes com falhas de contração(1), são maiores entre os pacientes com doença de Chagas do que entre os pacientes com acalásia idiopática (Tabela_2).

No estudo do esfíncter superior do esôfago foram encontradas pressões semelhantes nas duas formas de acalásia e em pessoas normais em um estudo(14) e pressão baixa na doença de Chagas em outro(2). Na pessoa normal a distensão do esôfago com ar faz a pressão do esfíncter superior do esôfago cair e o ar ser eliminado(32). Em pacientes com acalásia a pressão sobe e o ar é retido, o que pode provocar grande distensão do esôfago e dificuldades respiratórias, com vários casos descritos em pacientes com acalásia idiopática(32), não sendo do nosso conhecimento a existência de casos semelhantes em pacientes com megaesôfago provocado pela doença de Chagas. A amplitude de contração em parte proximal do esôfago, poucos centímetros abaixo do esfíncter superior, é menor nos pacientes com acalásia idiopática do que em controles(16, 18), fato não observado em pacientes com doença de Chagas(16).

Estas possíveis diferenças nas lesões presentes nas duas doenças não têm grande influência na apresentação clínica. Observações não controladas sugerem que na acalásia idiopática os sintomas são mais intensos e evoluem com maior rapidez do que na doença de Chagas, mas a confirmação desta hipótese aguarda estudos que visem o seu esclarecimento. Como as doenças têm semelhantes alterações motoras no EIE e corpo do esôfago, as possibilidades de tratamento são as mesmas, a escolha da melhor opção para cada paciente na dependência da apresentação clínica e radiológica e da experiência do serviço médico que vai realizar a terapêutica. Trabalho recente, que comparou as diferentes opções de tratamento em pacientes com acalásia idiopática (toxina botulínica, dilatação pneumática e esofagomiotomia laparoscópica), demonstrou que o melhor custo'benefício relacionado à melhora da qualidade de vida ocorre com a dilatação pneumática, considerando-se os primeiros 5 anos após o tratamento (35). Em conclusão, embora a apresentação clínica e o tratamento da acalásia idiopática e da acalásia provocada pela doença de Chagas sejam semelhantes, os trabalhos que estudaram as conseqüências do comprometimento do plexo mientérico do esôfago sugerem que entre as duas doenças diferenças neste comprometimento.


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