Uma leitura da recente produção científica socializada pela REBEn
PESQUISA/RESEARCH/INVESTIGACIÓN
Uma leitura da recente produção científica socializada pela REBEn
A reading of the recent socialized scientific production of REBEn
Una lectura de la reciente producción científica socializada por la REBEn
Maria Helena Salgado BagnatoI; Rosa Maria RodriguesII; Maria Inês Monteiro
CoccoIII
IProfessora Doutora da Faculdade de Educação da UNICAMP - Coordenadora do
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Práticas de Educação e Saúde - PRAESA/
UNICAMP, E-mail: mbagnato@obelix.unicamp.br
IIEnfermeira, Mestre em Enfermagem - USP, Doutoranda em Educação na Faculdade
de Educação da UNICAMP - Campinas. Profª. da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná - UNIOESTE, Presidenta da ABEn-Regional Cascavel, Gestão, 2022-2004, E-
mail: rm.rodrigues@uol.com.br_
IIIProfª. Dra. Associada do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências
Médicas-UNICAMP, E-mail: inesmon@fcm.unicamp.br
1 Introdução
É notável o crescimento da produção científica na Enfermagem principalmente nas
duas últimas décadas. Nesse sentido, é importante destacar a contribuição
decisiva dos programas de pós-graduação, como espaço de apoio e desenvolvimento
da reflexão, da análise, da crítica na/da relação teórico-prática no campo da
Enfermagem. Esse movimento possibilita também, dar visibilidade à área na busca
da sua autonomia e identidade profissional, socializando maneiras de conhecer,
ser e fazer Enfermagem. Esta pesquisa traz uma primeira leitura sobre a
produção científica veiculada pela REBEn (Revista Brasileira de Enfermagem).
Ela se insere em um projeto de pesquisa mais abrangente que pretende elaborar
uma aproximação do estado da arte do conhecimento produzido em Enfermagem e
divulgado em alguns periódicos de circulação nacional indexados.
Este tipo de pesquisa está cada vez mais presente na produção científica
brasileira, em diferentes campos do conhecimento(1-4). Apoiando-se em materiais
como artigos de periódicos, textos e resumos de seminários, congressos,
dissertações de mestrado e teses de doutorado, entre outros. As análises destes
materiais colaboram para dar indicadores das tendências das pesquisas nas
áreas, explicitando aspectos relevantes da produção de conhecimentos, temas de
pesquisa emergentes ou ainda temas silenciados ou pouco explorados.
O recorte feito neste estudo tem como objetivo geral descrever e analisar
alguns elementos dos artigos publicados nos últimos cinco anos, na REBEn. O
trabalho se limitou neste momento a este periódico, uma vez que, a referida
revista, editada pela Associação Brasileira de Enfermagem, se constitui em um
dos periódicos que socializa de forma mais uniforme produções de diferentes
regiões do Brasil e, ainda seria uma forma de explicitar a contribuição deste
periódico no período em que ele completa 70 anos de existência.
2 Apontamentos metodológicos
Nesta etapa do trabalho, foi realizado um levantamento de todos os números da
REBEn de 1997 até 2001, totalizando dezenove exemplares nos quais foram
encontrados 250 resumos. Foram utilizadas na coleta de dados também as notas de
rodapé. Para efeito de análise foram excluídas aquelas publicações que não
contavam com resumos. Além disso, não foram inseridos na análise o número
especial, do volume 53, de 2000, e o número 2 do volume 54, de 2001, por serem
temáticos.
Visando uma possível sistematização dos dados para a análise, foi elaborada uma
matriz sob a qual foram submetidos todos os resumos e todos os números da
revista, no período delimitado. Para confecção da matriz foram elencados os
dados que poderiam dar elementos para identificar o estado da pesquisa na
Enfermagem. Os elementos eleitos para busca no periódico foram: gênero da
publicação, áreas temáticas privilegiadas, autoria(s), formação dos autores,
vínculo de estudo/trabalho, financiamento junto a órgãos de fomento.
Após a organização dos dados nas matrizes, os mesmos foram distribuídos em
tabelas para análise. Um trabalho desta natureza implica que se façam
afirmações a partir dos dados estatísticos que resultaram da sistematização.
Contudo, a proposta não é a apresentação pura e simples de dados estatísticos,
buscando extrapolar esses dados, ou seja, que eles sejam apenas indicadores que
permitam uma análise aprofundada da temática da pesquisa na Enfermagem. Além
disso, isto poderá enriquecer a análise e a correlação com outros autores que
já tenham tratado direta ou indiretamente das questões levantadas na pesquisa.
3 Apresentação e análise dos resultados
Os dados apresentados são referentes à análise de 250 resumos da REBEn, dos
anos de 1997 a 2001. Assim, o primeiro aspecto sistematizado foi a busca nos
resumos pelos gêneros que são mais freqüentes na Enfermagem. Para tanto,
consideramos que os trabalhos poderiam ser distribuídos em trabalhos de
pesquisa(4), de análise ou reflexão teórico-metodológica, relatos de
experiência, revisões bibliográficas, ensaios, documentários e outros para
aqueles trabalhos que não se enquadrassem em nenhum desses gêneros.
A partir destes indicadores foi possível constatar, que a maioria dos artigos,
52,8%, são do gênero pesquisa; a reflexão teórica metodológica aparece em
segundo lugar, com 14,0%; relatos de experiência, com 17,6%; revisões
bibliográficas, com 7,6%; ensaios, com 5,6% e documentários, com 2,4%.
Este quadro dá indicadores de um predomínio de produção de conhecimento
respaldado em dados empíricos e parece explicitar o esforço que a enfermagem
tem feito, desde que iniciou sua trajetória pela pesquisa de se firmar como uma
área de conhecimento consolidada, tendo como referência o modelo tradicional de
ciência, ou o modelo empírico analítico. A partir das formulações de Habermas
sobre a produção de conhecimento e os interesses humanos a ela relacionados.
O conhecimento empírico analítico tem sua origem nas ciências naturais, tem
como método a explicação (procura das causas), tem como produto informações,
como aplicação o controle técnico, como orientação normativa as regras e leis
(normalidade) e como interesse propiciar um instrumental de controle, trabalho.
Considera-se importante essa atitude de busca para firmar essa prática como
ciência, mas ao mesmo tempo não é apenas a designação de ciência, suficiente
para garantir o status e a visibilidade almejada. Nesta mesma linha de
raciocínio pode ser afirmado que a medicina ou a odontologia em si também não
são ciências no modelo tradicional (elas são práticas sociais que, como a
enfermagem, utilizam-se de conhecimentos produzidos por elas próprias, mas
também têm o apoio de uma proporção significativa de conhecimentos produzidos
por outras áreas, tradicionalmente consideradas científicas, como a biologia, a
química e a física) e nem por isso elas deixam de gozar de um status elevado,
pelo contrário, são duas profissões da área da saúde que têm espaço e
visibilidade bem definidos.
Quanto às áreas temáticas foram buscadas as que se apresentam como centrais na
Enfermagem, tais como a questão do cuidado ou da assistência, sendo que sob
essa temática foram englobados todos os artigos que se referiam ao cuidado
explicitamente ou que eram referentes ao cuidado da Enfermagem em áreas
especializadas como cuidado nas Unidades de Terapia Intensiva, no Centro
Cirúrgico, as pesquisas sobre a sistematização da assistência, entre outras; a
gestão/administração na Enfermagem, na qual foram registrados todos os
trabalhos relacionados direta ou indiretamente a essa temática, como o tema
liderança, por exemplo; na temática educação/ensino, foram englobados todos os
artigos que tratassem do ensino, desde a formação de auxiliares, técnicos,
enfermeiros (na graduação e na pós-graduação), até a educação continuada e as
práticas educativas em espaços não formais; a temática saúde pública englobou
todos os artigos relacionados à saúde comunitária, saúde pública, etc.; as
temáticas saúde da mulher, saúde da criança e do adolescente, saúde do idoso,
saúde do trabalhador, HIV/AIDS, Enfermagem psiquiátrica e saúde mental, foram
apontadas de antemão também por serem áreas importantes. Teve-se o cuidado de
salientar o espaço em que acontece em maior amplitude a produção nessas
temáticas, ou seja, se elas se concentram em maior grau no espaço hospitalar ou
em espaços não hospitalares.
As temáticas denominadas como Pesquisa e Produção do Conhecimento, Ética, Ética
Profissional e Bioética, Enfermagem e Trabalho, surgiram na leitura dos
resumos. Na temática Enfermagem e Trabalho foram englobados todos os resumos
que faziam referência à prática da Enfermagem, à organização da Enfermagem, os
problemas da profissão; além disso, emergiu da análise a temática, História da
Enfermagem, com um número considerável de resumos. Foram reunidos sob a
denominação de Outros, aqueles temas que não se enquadravam em nenhuma dessas
temáticas.
Na construção da matriz de análise para identificação das temáticas prevalentes
na produção dos conhecimentos em Enfermagem não foram consideradas as áreas
temáticas definidas pelo CNPq para a indução de pesquisas na área da saúde, nem
a elaboração de Linhas de Pesquisa e Prioridades de Enfermagem apresentada no
Fórum Nacional de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Enfermagem,
que aconteceu em Salvador em 13 de junho de 2000. Esses dois documentos
encontram-se no texto de Leite. Os referidos parâmetros não foram utilizados,
pois são formulações recentes e, provavelmente, não foram incorporadas no
período estudado, tendo em vista que as publicações têm uma defasagem entre sua
produção e publicação.
Na tabela_1 as áreas temáticas se apresentam com a seguinte configuração:
Cuidado/Assistência em Enfermagem, 14,4%; Educação/Ensino, 13,6%; Saúde da
Criança e do Adolescente, 7,6%; Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental, 7,6%;
Enfermagem, profissão e Trabalho com 7,2%; Saúde da Mulher, 6,0%; Gestão/
Administração em Enfermagem, 7,6%; História da Enfermagem, 4,0%; Enfermagem em
Saúde Pública, 3,2%; Saúde do Trabalhador, 2,8%; Pesquisa e Produção do
Conhecimento, 2,8%; Saúde do Idoso, 2,0%; HIV/AIDS, 2,0%; Ética Profissional e
Bioética, 2,0% e outros temas, 17,2%.
É importante ressaltar ainda que a temática Saúde da Mulher foi encontrada em
igual distribuição entre os espaços hospitalares e os de saúde coletiva.
Indicando que a temática está sendo considerada pelos pesquisadores/estudiosos
da área nas suas dimensões, ou seja, tanto na atenção individual quanto na
perspectiva coletiva, o que pode ser avaliado como um ponto positivo neste
campo. Por outro lado, um tema que tem uma certa atenção por parte das
investidas oficiais através dos programas ministeriais é a saúde da criança, e
neste estudo ela se apresenta com uma tendência de concentração no espaço
hospitalar. Esse dado merece uma ressalva, dado que, a Enfermagem desenvolve,
quase que integralmente as ações de atenção à saúde da criança, principalmente
nos espaços não hospitalares, como os programas de puericultura, de imunização,
os quais não têm sido explorados em toda sua potencialidade como alvo da
pesquisa ou de divulgação/socialização por parte dos profissionais que
desenvolvem essa prática. Se for considerado esse dado com o que se apresenta
na tabela_2, tratando do vínculo de trabalho e/ou estudo, pode ser oferecida
uma possível explicação a isso, pois a grande produção dos resumos estava
concentrada nas universidades e, nos centros de saúde, locais privilegiados
destas práticas, as pesquisas são quase inexistentes. Cabe indagar se os
profissionais que estão diretamente ligados à assistência nesses espaços estão
produzindo, mas não estão publicando suas pesquisas.
Da mesma maneira é a temática da Saúde do Trabalhador que tende a se concentrar
no âmbito hospitalar, uma vez que os dois artigos que aparecem como
inespecíficos para a localização tratavam de condições de trabalho de
trabalhadores de enfermagem de forma genérica, não podendo ser enquadrados
apenas como localizados no espaço hospitalar. Contudo, sabemos que o que tem
chamado em maior amplitude a atenção no que se refere à saúde do trabalhador
são aqueles trabalhos mais delimitados como os que acontecem nos hospitais,
embora na prática a saúde do trabalhador esteja predominantemente nas empresas
e não nos hospitais. Por outro lado, a temática HIV/AIDS, aparece tendendo a se
concentrar no espaço extra-hospitalar, assim como a a temática Enfermagem
Psiquiátrica e Saúde Mental.
Podemos afirmar que a distribuição das temáticas se apresenta de maneira rica e
diversificada, mas ressaltamos que áreas significativas como a Saúde Pública ou
outras áreas emergentes como AIDS/HIV e Saúde do Trabalhador mereceriam ser
mais apropriadas como objeto de pesquisa.
Tabela 1 - Distribuição dos resumos publicados na REBEn no período de 1997 a
2001, quanto às áreas temáticas.
Em relação à autoria há uma tendência de produção coletiva, expressa pelos
seguintes dados: artigos com duas autorias, 39,2%, com três autores, 24,4%; com
4 autores, 11,6%; com cinco autores, 2,4% e, com seis autores, 0,4%; que
somados perfazem um total de 78,1%; em contraposição aos 22,0%, de autoria
individual. Tal distribuição parece que pode ser justificada pelo crescente
incentivo à formação de grupos de pesquisa, sendo cada vez menos incentivada a
produção individual. Isso sem dúvida é um aspecto importante, pois pode
favorecer a discussão e produção coletiva. Contudo, dado que a produção está
bastante concentrada nos programas de pós-graduação, essa produção coletiva
acaba sendo as parcerias entre docentes doutores e alunos de pós-graduação e,
portanto, localizadas no período da pós-graduação.
A questão da produção coletiva tem sido um dos itens avaliados pelos órgãos de
fomento como, por exemplo, o CNPq que, segundo Leite (2001, p. 91), pretende
com isso "estimular estudos interdisciplinares, voltados para resolução de
problemas sociais, tanto através de propostas tecnológicas como estudo de
estratégia de sobrevivência". Assim, parece ocorrer, por parte dos órgãos
financiadores, uma tendência a direcionar os recursos para trabalhos realizados
em grupos. Da mesma forma, a CAPES, em suas últimas deliberações, direcionou
todos os recursos para financiamento apenas de pesquisas que estejam vinculadas
a grupos e parcerias entre universidades.
Considerando a formação dos autores, 27,7% eram doutores; 22,0%, alunos de pós-
graduação; 12,1%, mestres; 12,3%, alunos de graduação; 3,9%, enfermeiros
graduados; 2,7%, especialistas; 2,9%, outros profissionais e 16,2% não
explicitam a titulação acadêmica. Estes dados explicitam que há uma relação
direta entre titulação acadêmica e produção do conhecimento na Enfermagem.
Permitem retomar a afirmação feita no início deste texto de que é preciso
buscar na produção do conhecimento uma das possibilidades para propiciar maior
visibilidade à Enfermagem. Outro aspecto importante a ressaltar é o elevado
índice de autores não identificados quanto à titulação. Isso aconteceu em
função de que muitos profissionais, se identificavam com o grau específico da
instituição a qual pertencem como, por exemplo, professor titular, auxiliar,
assistente, pesquisador do CNPq, o que nos impossibilitava de identificar com
certeza se eram especialistas, mestres ou doutores.
Os dados apresentados nesta tabela devem nos suscitar um importante alerta de
que, no periódico estudado, foi encontrado um déficit de publicação da produção
do conhecimento produzido pelos trabalhadores que estão na assistência direta
ou desenvolvendo a prática da Enfermagem nos diversos espaços em que ela
acontece efetivamente, uma vez que a produção é bastante concentrada nos
programas de pós-graduação.
O vínculo de trabalho e/ou estudo dos autores se configurou da seguinte forma:
87,2% situavam-se em universidades públicas; 3,2%, em hospitais públicos; 2,1%,
em universidades privadas; 1,2%, em centros de saúde; 0,5% em hospitais
privados; 0,3%, em instituições de ensino médio; 1,4%, em outras instituições e
3,9%, não identificaram seus vínculos de trabalho e/ou estudo. Algumas
instituições encontradas não eram de nosso conhecimento no aspecto da
vinculação administrativa. Para definição deste item utilizamos o recurso de
pesquisa na internet, encontrando as instituições citadas e verificando se eram
privadas ou públicas. Mesmo assim não foi possível identificar todas, havendo,
portanto, este percentual de instituições não identificadas. Porém, a maioria
das instituições foi de fácil identificação, pois eram referências às escolas
de enfermagem vinculadas às universidades do Estado de São Paulo, locus
privilegiado da produção do conhecimento em enfermagem, ou das universidades
federais espalhadas por todo o país.
Estes dados reforçam a afirmação acima da correlação entre produção de
conhecimentos e titulação acadêmica. Por outro lado, oferecem um importante
argumento em defesa da universidade pública como espaço privilegiado de
produção científica. Assim, se há um discurso oficial de que as universidades
públicas muitas vezes não cumprem com sua função, essa afirmação, no que se
refere à Enfermagem, tem que ser relativizada. Há que se fazer uma leitura
crítica, inclusive questionando a quem interessa este discurso, uma vez que a
universidade pública é, na Enfermagem, o locus,quase exclusivo, da produção de
conhecimento.
Quanto ao financiamento das pesquisas 80,0%, não explicitaram em seus artigos a
fonte de financiamento e somente 20,0% mencionaram financiamento. Destes, 64,9%
foram apoiados financeiramente pelo CNPq; 17,5%, pela CAPES; 5,3%, FAPESP e
12,3, por outras fontes de financiamento, como pode ser visto na tabela 6. Isso
pode indicar que a produção de conhecimento, na sua grande maioria, não tem
sido financiada ou que os autores não destacam sua fonte de financiamento.
Podemos afirmar que as fontes de financiamento da pesquisa em enfermagem, por
excelência, foram aquelas vinculadas ao sistema de Educação Superior e órgãos
de fomento à pesquisa de nível federal, aqui representados pelos trabalhos
financiados pela CAPES e CNPq. De acordo com as informações encontradas, há uma
pouca participação dos órgãos de fomento estaduais como a FAPESP (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que financia pesquisas no Estado de
São Paulo. Sob a denominação de "outros" também inserimos fontes de
financiamento de outros Estados como a FAPERJ do Rio de Janeiro, órgãos de
estados do Nordeste, do Rio Grande do Sul, mas com pequena ocorrência, nestes
textos da REBEn.
Tabela 2 - Distribuição dos resumos publicados na REBEn no período de 1997 a
2001, quanto ao vínculo de trabalho ou estudo dos autores.
Neste aspecto pode ser inserida a discussão sobre os direcionamentos das
políticas públicas para a Educação Superior, inclusive em relação ao fomento de
pesquisas. Neles está presente uma tendência à progressiva desobrigação do
Estado para com este nível de educação, deixando para as leis de mercado a
definição dos caminhos da produção e reprodução do conhecimento.
No que tange à área da Enfermagem essa questão é preocupante, pois, nesta
lógica, se os temas que são objetos de pesquisa, não se configurarem em uma
mercadoria de grande aceitação no mercado, não haverá interesse em se financiar
pesquisas dessa natureza. Está aí uma arena de conflitos e embates dos
pesquisadores preocupados com uma produção científica que contemple
prioritariamente os problemas e as necessidades sociais.
O estágio atual do estudo dá indicadores do predomínio de alguns locus da
produção de conhecimento, bem como das temáticas que têm sido privilegiadas
como objeto de estudo pela Enfermagem, denunciando presenças e ausências de
importantes temáticas a serem debatidas no cenário atual. Contudo, essas
afirmações serão reforçadas ou não após a conclusão da pesquisa e da análise
dos resumos dos outros dois periódicos selecionados.
4 Considerações finais
Apesar dessa pesquisa ter contado apenas com os resumos veiculados pela REBEn
nos anos de 1997 a 2001, podemos identificar algumas tendências da produção e
socialização do conhecimento na Enfermagem. Assim, concluiu-se que a maior
concentração de artigos é relativa a pesquisas, entendendo esta atividade como
uma produção e organização sistemática, do processo de pesquisa e dos seus
resultados.
Pode ser observado também que houve uma certa diversidade nas temáticas
abordadas pela Enfermagem, bem como uma tendência à produção coletiva dos
trabalhos.
Reafirmamos que houve forte predominância do espaço público representado pelas
universidades, como quase únicos, na produção e socialização dos conhecimentos
em Enfermagem, o que leva a reforçar a defesa da permanência e ampliação desses
espaços em contraposição ao seu desmonte, como tem sido a tendência das
políticas públicas para este setor. Esta defesa se apresenta mais clara quando
se observam as fontes de financiamentos que foram, na sua totalidade,
vinculadas a órgãos públicos federais e estaduais.
A REBEn tem sido um importante veículo de divulgação e socialização da produção
da Enfermagem Brasileira. A análise dos resumos deste periódico ofereceu um
panorama inicial da situação da pesquisa nesta área que, como em outras, deve
buscar na produção e socialização cada vez mais ampla de sua prática e de sua
produção, uma das formas de conquistar ou consolidar um espaço de atuação e a
visibilidade.