Aplicação da Liderança Situacional em enfermagem de emergência
PESQUISA
Aplicação da Liderança Situacional em enfermagem de emergência
Applying Situational Leadership in emergency nursing
Aplicación del Liderazgo Situacional en la enfermería de emergencia
Grasiela WehbeI; Maria Cristina GalvãoII
IEnfermeira. Coordenadora da Fundação Waldemar Bransley Pessoa (Ribeirão Preto
- São Paulo)
IIEnfermeira. Professor Associado da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo. crisgalv@eerp.usp.br
1. INTRODUÇÃO
O trabalho desenvolvido pelo enfermeiro no contexto hospitalar é um dos temas
que vem sendo abordado na literatura nacional. O processo de treinamento de
enfermeiro recémadmitido, para atuar na sala de trauma nas instituições
hospitalares, é insatisfatório e não aborda o paciente em suas particularidades
(1).
Os profissionais que atuam em unidade de emergência (UE) deveriam cada vez mais
receber treinamento específico e aperfeiçoamento técnico-científico na prática,
pois é neste local que a equipe de enfermagem em conjunto com a equipe médica,
executam um atendimento sincronizado ao paciente vítima de trauma. Aliteratura
indica que a prática da enfermagem de emergência está inteiramente ligada a
competência clínica, desempenho, cuidado holístico e metodologia científica;
assim, salientamos a importância da capacitação do profissional para atuar
nesta área de atendimento(2,3).
Neste cenário, entendemos que para o enfermeiro desenvolver sua prática
profissional, principalmente, em setores onde o trabalho é dinâmico, a equipe
médica e de enfermagem precisam atuar de forma sincronizada, em muitas
situações o atendimento deve ser rápido, pois o pacienteencontra-se em estado
crítico com risco de vida; este profissional necessita desenvolver algumas
habilidades, salientamos aqui a liderança.
A liderança na enfermagem nacional tem sido foco de vários pesquisadores que
aplicaram nos seus estudos modelos de liderança diferentes tais como: sobre o
Grid Gerencial de Blake e Mouton(4,5); liderança situacional de Hersey e
Blanchard(6,7) e sobre a Teoria de Liderança Caminho-Objetivo(8).Os
pesquisadores afirmam a importância da liderança para o desenvolvimento do
trabalho do enfermeiro em suas diferentes áreas de atuação.
O enfermeiro é contratado na instituição para coordenar uma equipe e gerenciar
a assistência prestada ao paciente, consequentemente ele exerce influência na
equipe de enfermagem, médica e outros membros que integram o serviço, ou seja,
mais uma vez fica claro a importância da liderança(9) .No contexto hospitalar o
enfermeiro "desenvolve uma gerência mais orientada para as necessidades do
serviço, para o cumprimento de regulamentos, normas e tarefas reproduzindo o
que é preconizado pela organização e por outros profissionais, principalmente a
equipe médica". Esta forma de gerenciar muitas vezes acarreta o não atendimento
das reais necessidades do cliente e gera insatisfação na equipe de enfermagem
(10).
Em contrapartida, os resultados de uma recente pesquisa realizada em uma
unidade de emergência de um hospital privado evidenciaram que os enfermeiros
exercem e deveriam adotar com a equipe de enfermagem estilos de liderança
participativos. Em outras palavras, os sujeitos investigados (enfermeiros)
exercem uma liderança fundamentada no conhecimento das habilidades,
características individuais e necessidades dos membros da equipe de enfermagem
(7).
Procurando aprofundar o conhecimento sobre liderança do enfermeiro de unidade
de emergência, especificamente profissionais que atuam em uma instituição
hospitalar pública, desenvolvemos esta pesquisa, na qual selecionamos como
referencial teórico, o modelo de liderança proposto por Hersey e Blanchard,
denominado Liderança Situacional(11).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A Liderança Situacional "baseia-se numa inter-relação entre a quantidade de
orientação e direção (comportamento de tarefa) que o líder oferece, a
quantidade de apoio sócio-emocional (comportamento de relacionamento) dado pelo
líder e o nível de prontidão ("maturidade") dos subordinados no desempenho de
uma tarefa, função ou objetivo"(11).
O comportamento de tarefa é definido como "o tempo dedicado pelo líder a
explicar os deveres e as responsabilidades de uma pessoa ou de um grupo. Esse
comportamento inclui determinar a tarefa e como, quando, onde e por quem deve
ser realizada"(12). O comportamento de relacionamento "é definido de acordo com
a extensão do envolvimento do líder na comunicação bilateral ou multilateral.
Esse comportamento abrange o ato de ouvir, facilitar e apoiar"(12).
A maturidade dos liderados é definida como "a capacidade e a disposição das
pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio comportamento"
(11). Este conceito inclue duas dimensões, a saber: maturidade de trabalho
(capacidade) e maturidade psicológica (disposição). A maturidade de trabalho
"está relacionada com a capacidade de fazer alguma coisa. Refere-se ao
conhecimento e capacidade técnica" e a maturidade psicológica "refere-se à
disposição ou motivação para fazer alguma coisa. Diz respeito à confiança em si
mesmo a ao empenho"(11).O modelo de liderança em questão, propõem quatro
estilos de liderança: determinar (E1), persuadir (E2), compartilhar (E3) e
delegar (E4), os quais são um combinação de comportamento de tarefa e de
relacionamento. A maturidade dos liderados é apresentada em quatro níveis:
baixo (M1), baixo a moderado (M2), moderado a alto (M3) e alto (M4).
Desta forma, o estilo de liderança determinar (E1) é adequado para liderado com
nível de maturidade baixo (M1). O líder define como, quando e onde a tarefa
deve ser executada pelo liderado. Esse estilo implica comportamento alto de
tarefa e baixo de relacionamento.
Para liderado com nível de maturidade baixo a moderado (M2), o estilo de
liderança correspondente é o persuadir (E2). O líder apesar de assumir um
comportamento diretivo, ele encoraja e reforça a disposição do liderado. Esse
estilo envolve comportamento alto tanto para tarefa como para relacionamento.
O estilo de liderança compartilhar (E3) é apropriado para liderado com nível de
maturidade moderado a alto (M3). Neste estilo líder e liderado participam
juntos do processo de tomada de decisão, frente a execução de determinada
atividade; o líder adota comportamento alto de relacionamento e baixo de
tarefa.
Para liderado com nível de maturidade alto (M4), o estilo de liderança delegar
(E4) é o mais eficaz, o liderado decide como, quando e onde desenvolver
determinada tarefa; o líder colabora somente quando é solicitado para
esclarecer dúvidas e/ou apresentar novas orientações. Esse estilo implica
comportamento baixo tanto para tarefa como para relacionamento.
3. OBJETIVOS
O estudo tem como objetivos:
. identificar a correspondência de opinião entre o enfermeiro de unidade de
emergência e o pessoal auxiliar de enfermagem em relação ao estilo de liderança
exercido pelo enfermeiro, frente as atividades assistenciais desenvolvidas no
setor.
. identificar a correspondência de opinião entre o enfermeiro de unidade de
emergência e o pessoal auxiliar de enfermagem sobre o estilo de liderança que o
enfermeiro deveria adotar frente ao nível de maturidade do pessoal auxiliar nas
atividades assistenciais desenvolvidas no setor.
4. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
A abordagem metodológica empregada é quantitativa, delineamento de pesquisa não
experimental, estudo do tipo descritivo/ exploratório. A elaboração ocorreu em
duas fases, a saber:
4.1. Primeira fase: construção e validação dos instrumentos
Para o alcance dos objetivos propostos neste estudo, foram construídos dois
instrumentos intitulados Integração de Maturidade e Estilo (avaliação do líder)
e Integração de Maturidade e Estilo (avaliação do liderado), tendo como
referência um dos instrumentos da série LEAD (Leadership Effectiveness and
Adaptability Description), o qual foi desenvolvido por Hersey, Blanchard e
Keilty. A elaboração dos instrumentos foi fundamentada na literatura
pesquisada, na pesquisa de Galvão(6), bem como na nossa vivência profissional.
Após a construção dos instrumentos realizamos a validação aparente e de
conteúdo; três juizes (um docente de universidade pública e dois enfermeiros
que atuam no contexto hospitalar) com experiência na temática liderança,
validação de instrumento, e vivência profissional no setor de emergência,
executaram a análise dos instrumentos elaborados quanto a forma de
apresentação, verificação sobre a mensuração do pretendido, bem como a clareza,
facilidade de leitura e compreensão dos itens contidos nos mesmos. Abaixo,
estão descritas as atividades assistenciais relativas ao cuidado do paciente
vítima de trauma que foram agrupadas ninstrumentos, em categorias a partir da
literatura e da vivência profissional, enquanto enfermeiro de unidade de
emergência de um hospital privado:
1. Categoria A - vias aéreas: compreende os cuidados relativos a
abertura das vias aéreas (aspiração, colocação de cânula de guedel) e
controle da coluna cervical;
2. Categoria B - respiração e ventilação: compreende os cuidados
relativos à oxigenação (colocação de ambu, máscara) do paciente
vítima de trauma;
3. Categoria C - circulação e controle de hemorragia: compreende os
cuidados relativos a punção de veias periféricas, coleta de sangue,
cateterização vesical e gástrica;
4. Categoria administração de medicação: compreende os cuidados
relativos com soroterapia, hemoderivados e medicamentos intramuscular
e endovenoso;
5. Categoria D - avaliação neurológica: compreende os cuidados
relativos a avaliação do padrão neurológico e nível de consciência
(escala de coma de Glasgow);
6. Categoria E - exposição do paciente: compreende os cuidados
relativos a retirada das vestes do paciente para exame completo e
controle de hipotermia;
7. Categoria procedimentos invasivos:compreende cuidados relativos a
toracocentese, lavado peritoneal, drenagem torácica, sutura,
pericardiocentese e entubação endotraqueal;
8. Categoria cuidados proporcionados ao paciente vítima de trauma no
encaminhamento a exames complementares: compreende os cuidados
relativos ao transporte e transferência ao RX, tomografia e
ultrassom;
9. Categoria assistência de enfermagem prestada ao paciente vítima de
trauma: compreende os cuidados relativos ao paciente em observação na
sala de trauma como monitorização por multiparâmetros, cuidados com
soro, sonda, curativo e higiene.
4. 2. Segunda fase: aplicação dos instrumentos
O trabalho foi desenvolvido em um hospital geral de caráter público da cidade
de Ribeirão Preto (SP), na sala de trauma da unidade de emergência; após
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.
A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação do instrumento Integração de
Maturidade e Estilo (avaliação do líder) nos enfermeiros e do instrumento
Integração de Maturidade e Estilo (avaliação do liderado) no pessoal auxiliar
de enfermagem da seguinte forma: num primeiro momento, explicamos o objetivo da
pesquisa, solicitamos a colaboração e a assinatura do termo de consentimento
livre e esclarecido dos sujeitos participantes; após a concordância dos
sujeitos em responder os instrumentos explicamos como deveriam proceder; cada
enfermeiro sorteou o nome de um componente do pessoal auxiliar de enfermagem e
preencheu o instrumento, tendo como referência esse sujeito, por sua vez, o
sujeito sorteado respondeu ao respectivo instrumento, tendo como referência o
enfermeiro que sorteou o seu nome; após esclarecermos as dúvidas que surgiram
sobre o procedimeto de resposta dos instrumentos, deixamos estes com os
sujeitos participantes e os recolhemos no dia seguinte.O procedimento de coleta
de dados foi realizado pelos pesquisadores no mês de setembro de 2003.
Na ocasião, na sala de trauma do hospital selecionado trabalhavam dezenove
enfermeiros, sendo que dois estavam de férias, dois não concordaram em
participar do estudo e três não responderam o instrumento solicitado, assim a
amostra desta pesquisa ficou constituída de doze enfermeiros, dois técnicos e
dez auxiliares de enfermagem.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na primeira parte dos instrumentos elaborados, encontramos dados gerais dos
sujeitos participantes; dos doze enfermeiros investigados, dez (83,3%) eram do
sexo feminino e dois (16,6%) do sexo masculino. Em relação a idade dois (16,6%)
encontravam-se na faixa etária de vinte a vinte cinco anos, nove (75%) na faixa
etária de vinte seis a trinta e um anos e um (8,3%) na faixa etária de trinta e
dois a quarenta anos. Do pessoal auxiliar de enfermagem investigado, nove (75%)
sujeitos eram do sexo feminino e três (25%) do sexo masculino; três (25%)
encontravam-se na faixa etária entre vinte e quatro a trinta anos, três (25%)
na faixa etária entre trinta e um a trinta e cinco anos e seis (50%) entre
trinta e seis a quarenta anos.
Na segunda parte dos instrumentos aplicados, abaixo de cada categoria de
atividades assistenciais existem quatro descrições, as quais retratam os
estilos de liderança propostos no modelo selecionado para embasar a presente
investigação, ou seja, a Liderança Situacional. A descrição "dá instruções
específicas e supervisiona estreitamente o desempenho" refere-se ao estilo
determinar (E1); "explica suas decisões e dá oportunidade de esclarecimento"
relaciona-se com o estilo persuadir (E2); "compartilha idéias e o processo
decisório" refere-se ao estilo compartilhar (E3) e "concede a responsabilidade
pelas decisões e pela implantação" ao estilo delegar (E4).
Desta forma, os enfermeiros ao responderem o instrumento Integração de
Maturidade e Estilo (avaliação do líder) determinaram o estilo de liderança
exercido com o liderado (pessoal auxiliar de enfermagem) em cada categoria de
atividades assistenciais estudadas. O pessoal auxiliar de enfermagem ao
responder o instrumento Integração de Maturidade e Estilo (avaliação do
liderado) determinou o estilo de liderança adotado pelo enfermeiro com o
integrante da equipe de enfermagem, frente a cada categoria de atividades
assistenciais pesquisadas na sala de trauma.
Apresentamos no Quadro_1, a distribuição dos estilos de liderança dos
enfermeiros, segundo os sujeitos investigados (enfermeiro e pessoal auxiliar de
enfermagem), nas nove categorias de atividades assistencias. Assinalamos os
pares de sujeitos que obtiveram correspondência de opinião com asteriscos (*),
ou seja, líder e liderado tiveram a mesma opinião em relação ao estilo de
liderança do enfermeiro frente a uma determinada categoria de atividade
assistencial.
Conforme podemos observar no Quadro1, 30 pares de sujeitos obtiveram
correspondência de opinião, ou seja, líder e liderado tiveram a mesma opinião
em relação ao estilo de liderança exercido pelo enfermeiro nas categorias de
atividades estudadas. Destes 30 pares, 24 estavam relacionados ao estilo de
liderança E3 (compartilhar), 3 pares ao estilo E2 (persuadir) e 3 pares ao E1
(determinar); assim constatamos que o estilo de liderança mais adotado pelos
enfermeiros deste estudo foi o E3. Neste estilo, a direção do que deve ser
feito é dada pelo liderado e não mais pelo líder, o enfermeiro encoraja o
integrante da equipe de enfermagem a tomar decisões. A comunicação neste estilo
é bilateral, onde o enfermeiro incentiva e apóia o liderado no desenvolvimento
da atividade
Na literatura nacional identificamos uma pesquisa, na qual analisou-se a
correspondência de opinião entre o enfermeiro e um membro da equipe de
enfermagem sobre o estilo de liderança exercido pelo enfermeiro de unidade de
internação cirúrgica frente a seis categorias de atividades assistenciais
desenvolvidas em dois hospitais gerais. No hospital público houve predominância
dos estilos de liderança E1 e E2, sendo que no hospital filantrópico ocorreu
predominância dos estilos E3 e E1. Os resultados da investigação apontaram que
os enfermeiros têm exercido estilos de liderança mais diretivos, centrando seu
comportamento na tarefa e sugerindo que o pessoal auxiliar tem nível de
maturidade baixo e baixo a moderado, ou estes profissionais têm utilizado de
forma inadequada o seu estilo gerencial(13).
Em contrapartida, analisamos outra pesquisa que utilizou a Liderança
Situacional como referencial teórico para identificar o estilo de liderança
exercido pelo enfermeiro de unidade de emergência de um hospital privado. Os
resultados indicaram que os sujeitos participantes da pesquisa (enfermeiros e
pessoal auxiliar de enfermagem) apontaram que o enfermeiro de unidade de
emergência tem exercido estilos de liderança mais participativos, ou seja, E3
ou E4(7).
A Liderança Situacional também foi adotada como referencial teórico em uma
pesquisa, cujo objetivo foi analisar o estilo de liderança principal ou
primário e secundário de enfermeiros líderes de um hospital filantrópico.
Constatou-se que o estilo principal de liderança utilizado pelo enfermeiro foi
o E2 e o estilo secundário o E3. O enfermeiro, no contexto hospitalar, tem como
tendência exercer estilos mais diretivos mas assinalam sinais de mudança para
estilos mais participativos. Essa afirmação coincide com os resultados
evidenciados na presente pesquisa, uma vez que os sujeitos investigados
apontaram que os enfermeiros da unidade de emergência de um hospital público
exercem estilo de liderança participativo E3 - compartilhar(14).
O estilo de liderança de enfermeiros responsáveis pelo ensino de administração
foi analisado sob a percepção destes profissionais e seus liderados (alunos de
graduação). Evidenciou-se que os sujeitos participantes da pesquisa emitiram a
mesma percepção, ou seja, o estilo de liderança principal dos enfermeiros era o
E3 (compartilhar) e o estilo secundário era o E2 (persuadir)(15).
Na literatura internacional detectamos uma pesquisa cujo objetivo era
identificar o estilo de liderança dos diretores de enfermagem da área rural,
concluiu-se que esses profissionais exerciam estilos com ênfase no
relacionamento, ou seja, estilos com alto comportamento de relacionamento por
parte do líder. Os resultados demonstraram que o estilo de liderança principal
dos enfermeiros era o E2 (persuadir) e o secundário o E3 (compartilhar)(16).
Na Austrália foi desenvolvido um estudo com o objetivo de identificar o estilo
de liderança de administradores, os resultados demonstraram que estes sujeitos
apresentaram clara preferência em utilizar estilos de liderança onde o
comportamento de relacionamento do líder é alto, ou seja, exerciam como estilo
de liderança principal o E3 (compartilhar), seguido pelo E2 (persuadir) como
estilo secundário. Os sujeitos participantes da pesquisa evitavam os estilos de
liderança E4 (delegar) e o E1 (determinar). Em contrapartida, os liderados
apontaram que os administradores australianos exerciam estilos de liderança
mais diretivos(17).
Por meio de entrevistas investigou-se como os administradores australianos
utilizavam a Liderança Situacional no seu local de trabalho. Esses
administradores realizaram anteriormente a pesquisa (2 a 24 meses) um programa
educativo sobre a utilização deste modelo de liderança no contexto
organizacional. Os resultados evidenciaram que apesar dos sujeitos
compreenderem a necessidade de uso dos quatro estilos de liderança, de acordo
com o nível de maturidade dos liderados e a atividade específica, mais uma vez
o estilo de liderança E3 foi apontado como o de preferência de uso dos
administradores australianos(18).
Com o objetivo de investigar a relação entre estilo de liderança e a
produtividade dos liderados, foi conduzida uma pesquisa em uma grande
organização da área de construção em Taiwan. A amostra foi composta de dois
grupos de líderes, um denominado tradicional (n=25) e o outro adaptativo
(n=33). Os resultados apontaram que o nível de adaptabilidade do líder tem
impacto na produtividade dos liderados. Os líderes estudados (tradicionais e
adaptativos) exerciam com maior predominância o estilo de liderança E3; outro
aspecto evidenciado foi o elevado nível de correspondência entre líder e
liderados, ou seja, a imagem que os líderes tinham sobre si era a mesma
percebida pelos liderados, frente ao estilo de liderança exercido pelo líder no
contexto organizacional(19).
Ao visualizarmos os resultados evidenciados nesta investigação e os dos estudos
mencionados anteriormente, os quais utilizaram a Liderança Situacional como
referencial teórico, constatamos que os líderes têm exercido estilos de
liderança com ênfase no comportamento de relacionamento. Ao nosso ver, para o
desenvolvimento eficaz do trabalho na sala de trauma é necessário que o líder e
liderado trabalhem em equipe e que tenham qualificação para atingirem o
objetivo final que é o atendimento ao paciente vítima de trauma seguindo o que
é preconizado no protocolo específico.
Na terceira parte dos instrumentos aplicados, abaixo de cada categoria de
atividades assistenciais existem duas escalas, as quais mensuram a maturidade
profissional (capacidade) e a psicológica (disposição) dos liderados. Os
enfermeiros ao responderem o instrumento Integração de Maturidade e Estilo
(avaliação do líder) determinaram o nível de maturidade do liderado (pessoal
auxiliar de enfermagem) em cada categoria de atividades assistenciais
estudadas. O pessoal auxiliar de enfermagem ao responder o instrumento
Integração de Maturidade e Estilo (avaliação do liderado) determinou o seu
nível dematuridade frente a cada categoria de atividades assistenciais
pesquisadas.
Frente a Matriz de Integração entre Maturidade e Estilo desenvolvida pelos
autores da Liderança Situacional, e os escores assinalados nos instrumentos
pelos sujeitos participantes (enfermeiros e pessoal auxiliar de enfermagem)
identificamos os estilos de liderança que o enfermeiro deveria adotar em
relação ao nível de maturidade do pessoal auxiliar, nas categorias de
atividades assistenciais investigadas.
No Quadro_2 demonstramos a distribuição dos estilos de liderança que os
enfermeiros deveriam adotar em relação ao nível de maturidade do pessoal
auxiliar, nas nove categorias de atividades assistenciais estudadas; novamente
assinalamos com asteriscos os pares de sujeitos que obtiveram correspondência
de opinião entre si.
Conforme podemos constatar no Quadro_2, 73 pare de sujeitos apresentaram
correspondência de opinião, sendo que a maioria (45pares) indicou o estilo de
liderança E4 (delegar).
De acordo com os conceitos da Liderança Situacional, o estilo E4 é o mais
eficaz para liderado com nível de maturidade alto (M4), ou seja, essa pessoa
tem capacidade e disposição para desempenhar determinada atividade. Compete ao
enfermeiro identificar a atividade necessária e o membro da equipe de
enfermagem decide como, quando e onde executá-la. O enfermeiro colabora somente
quando o liderado solicita, por exemplo quando ocorrem complicações.
A maioria dos sujeitos participantes (enfermeiros e pessoal auxiliar de
enfermagem) indicou que os estilos de liderança E3 e/ou E4 deveriam ser
adotados pelo enfermeiro de unidade de internação cirúrgica, sugerindo que a
equipe de enfermagem investigada apresenta nível de maturidade moderado a alto
(M3) e/ou alto (M4)(20). Esses resultados também foram evidenciados em uma
pesquisa (7), na qual investigou-se sobre a liderança do enfermeiro de unidade
de emergência de um hospital privado.
Os resultados desta investigaçãoacrescido dos estudos(7-20) apresentados
apontaram que a equipe de enfermagem tem apresentado nível de maturidade
moderado a alto (M3) ou alto (M4) na execução de diferentes atividades
assistenciais do contexto hospitalar. Assim, entendemos que além de compreender
o processo de liderança, o enfermeiro necessita conhecer e conciliar o nível de
maturidade dos liderados, com o estilo de liderança apropriado frente a uma
atividade específica para o exercício eficaz da liderança no cotidiano da
enfermagem.
Nesta pesquisa apresentamos a Liderança Situacional como referencial teórico
para fundamentar a liderança do enfermeiro de unidade de emergência.
Acreditamos que a relevância deste modelo reside na sua perspectiva
contigencial uma vez que o exercício eficaz da liderança não seria fruto apenas
de elementos relacionados às características do líder e liderados, mas também
do contexto particular onde ocorre o processo de liderar.
O exercício eficaz da liderança pelo enfermeiro que atua em unidade de
emergência é fundamental para este profissional conduzir a equipe de
enfermagem, em um local onde a tomada de decisão deve ser rápida, o atendimento
ao paciente vítima de trauma deve ser sincronizado, exigindo do enfermeiro
conhecimento científico e competência clínica.
O enfermeiro da unidade de emergência é elemento chave da equipe responsável
pelo atendimento ao paciente vítima de trauma durante cada fase do cuidado
prestado neste setor. Assim sendo, ele deve continuamente buscar seu
aprimoramento em relação as habilidades de liderança (relacionamento
interpessoal, trabalho em equipe, comunicação, motivação e a tomada de
decisão), e ao mesmo tempo se atualizar nos moldes preconizados pelos programas
educativos específicos para atuação nesta área de atendimento.
6. CONCLUSÃO
A pesquisa desenvolvida possibilitou as seguintes conclusões: a) em relação ao
conjunto de pares de sujeitos (enfermeiros e pessoal auxiliar de enfermagem)
que obtiveram correspondência de opinião, constatamos que o estilo de liderança
mais adotado pelo enfermeiro de unidade de emergência frente as atividades
assistenciais estudadas, foi o E3 (compartilhar); b) em relação ao conjunto de
pares de sujeitos (enfermeiros e pessoal auxiliar de enfermagem) que
demonstraram correspondência de opinião, evidenciamos que a maioria dos
sujeitos indicou que o enfermeiro de unidade de emergência deveria adotar em
relação ao nível de maturidade do pessoal auxiliar, nas categorias de
atividades assistenciais investigadas, o estilo de liderança E4 (delegar),
sugerindo que os liderados pesquisados apresentam nível de maturidade alto
(M4).
Após análise dos resultados evidenciados, entendemos que a Liderança
Situacional poderá fornecer contribuição para fundamentar o exercício da
liderança do enfermeiro de unidade de emergência. A eficácia da prática da
liderança vai depender da habilidade do enfermeiro em adaptar o seu estilo de
liderança em relação ao nível de maturidade do membro da equipe de enfermagem
frente a uma determinada atividade, ou seja, o seu sucesso como líder depende
da articulação entre maturidade do liderado e o seu estilo de liderança
adotado.