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BrBRCVHe0034-71672006000300004

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variedadeBr
ano2006
fonteScielo

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Utilização de instrumento de registro de dados da saúde da criança e família e a prática do enfermeiro em atenção básica à saúde PESQUISA

Utilização de instrumento de registro de dados da saúde da criança e família e a prática do enfermeiro em atenção básica à saúde

Use of a tool for record of child and family health information and nurse's practice in basic health care

Utilización del instrumento de registro de datos sobre la salud del niño y de la familia y la práctica del enfermero en la atención básica a la salud

Juliana Coelho PinaI; Débora Faleiros de MelloII; Simone Renata LunardeloIII IEnfermeira. Pós-Graduanda, nível Mestrado, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP) IIEnfermeira. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da EERP/USP IIIEnfermeira. Mestre em Enfermagem em Saúde Pública. Núcleo de Saúde da Família IV CSE/FMRP/USP

1. INTRODUÇÃO O impacto de fatores biológicos, psicossociais (individuais e familiares) e ambientais no desenvolvimento infantil tem sido objeto de vários estudos, ampliando a idéia de contexto do desenvolvimento humano(1). Outro fato que contribuiu para essa ampliação é a evolução do estudo das interações e relações no contexto familiar que, inicialmente, se focalizava na díade mãe-criança e, posteriormente, na tríade mãe-pai-criança, sendo que, a partir do final dos anos 80, iniciou-se a preocupação com os sistemas familiares(2).

É de suma importância considerar as modificações na dinâmica familiar e o redimensionamento do espaço privado que o nascimento de uma criança traz consigo, alterando papéis, modificando antigas relações e delineando novas funções(3).

Para que uma criança cresça de maneira saudável, o contexto no qual ela se insere deve promover condições de proteção, atenção à saúde, socialização e educação(4), papéis que são desempenhados pela família, pelos setores de educação e saúde e pela comunidade.

Na literatura, os temas saúde, doença, famílias e enfermeiras foram estudados separadamente durante muito tempo. A reciprocidade e a relação entre esses elementos são relativamente novos e, a partir desse entendimento, é possível promover um cuidado de saúde individual e familiar(5). Com essa ampliação dos cuidados de enfermagem junto às famílias torna-se necessário, em saúde da criança, estruturar a avaliação que envolve a criança, o grupo familiar e o ambiente, buscando abordar o desenvolvimento infantil.

Este estudo visa descrever a elaboração e utilização de um instrumento de entrevista e observação da criança e da família em visitas domiciliares e consultas de enfermagem, com vistas a contribuir para a prática do enfermeiro em atenção básica à saúde.

2. METODOLOGIA Esta investigação configura um estudo descritivo sobre a elaboração e a utilização de um instrumento de registro de dados da saúde da criança e família para a prática do enfermeiro em visitas domiciliares e consultas de enfermagem.

A pesquisa descritiva objetiva a observação, descrição e documentação de aspectos de uma situação, sendo delineada para caracterizar um fenômeno(6).

A partir da revisão de literatura, buscando reconhecer os instrumentos de coleta, registro e avaliação de dados acerca de crianças, observando seus conteúdos, formas de apresentação, aplicação e tipos de dados que fornecem, elaboramos o conteúdo e a forma do instrumento que propomos neste estudo. Após a revisão de literatura e elaboração do instrumento proposto, passamos à etapa da utilização do mesmo em uma realidade contextualizada, com aprovação em Comitê de Ética em Pesquisa.

O local selecionado para o estudo foi o Núcleo de Saúde da Família IV (NSF-IV), vinculado ao Centro de Saúde Escola (CSE-FMRP/USP), na cidade de Ribeirão Preto SP, o qual foi escolhido por apresentar uma expressiva demanda de crianças.

Os participantes do estudo foram crianças de 0 a 24 meses de idade e suas famílias, cadastradas e acompanhadas no NSF-IV. As crianças foram selecionadas segundo mês de nascimento, a contar de 01 de abril de 2002 até 31 de março de 2004. Os responsáveis pelas crianças foram esclarecidos a respeito do caráter do estudo e seu objetivo, solicitando-se sua participação e consentimento, garantindo o sigilo dos dados coletados. Receberam também informações a respeito de sua liberdade em se recusar a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma. Tendo ciência do exposto acima, aqueles que aceitaram participar assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Após consentimento, participaram dez famílias, sendo duas crianças para cada uma das seguintes faixas etárias: 0 a 3 meses, 4 a 8 meses, 9 a 12 meses, 13 a 18 meses e 19 a 24 meses.

As informações para compor o instrumento proposto foram coletadas em prontuários dos sujeitos observados e entrevistados e durante consultas e visitas domiciliares, na prática de enfermagem em saúde da família. Sua aplicação deu-se por meio de entrevista com os membros da família e observação do ambiente, da criança e das relações intrafamiliares.

Neste estudo, a coleta de dados em prontuários e por meio de entrevistas e observações, originou um volume de informações descritivas e narrativas. A análise dos dados deu-se a partir dessas informações, com vistas a descrever aspectos contemplados ou não nos tópicos do instrumento proposto, segundo sua pertinência e relevância para a assistência do enfermeiro na atenção básica à saúde.

Cabe ressaltar que não foram avaliadas e descritas as informações individuais das crianças e famílias, apenas realizamos uma breve caracterização geral da população estudada, demonstrando como as informações obtidas contribuem para o conhecimento da estrutura e dinâmica das famílias por parte da equipe. A confecção de um instrumento e sua utilização é o foco deste estudo, visando uma aproximação da realidade das famílias e ampliação da prática do enfermeiro.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir de uma revisão bibliográfica acerca do desenvolvimento infantil no contexto familiar, realizada anteriormente, as temáticas abordadas com maior freqüência nas produções foram aquelas relativas à família, ao contexto físico e social do desenvolvimento - englobando ambiente, interação, apego, comunicação e cultura - entrelaçando-se ao papel do enfermeiro no desenvolvimento infantil.

Ainda como fruto dessa revisão, identificamos a utilização de instrumentos no estudo do desenvolvimento infantil. Tais instrumentos são roteiros para observação, anamnese e entrevista, escalas, questionários e ainda um instrumento para apresentar os resultados da avaliação do crescimento e desenvolvimento. Eles têm a finalidade de analisar aspectos relativos à criança e às atividades que ela realiza, à relação mãe-filho, à estrutura e dinâmica familiares, ao ambiente e aspectos sócio-culturais. Alguns estudos utilizam vários instrumentos para alcançar seus propósitos, especialmente quando buscam realizar uma análise global do desenvolvimento infantil.

Esses aspectos levantados pela revisão bibliográfica nos apontam para a necessidade da construção de instrumentos que se destinem não apenas à avaliação do desenvolvimento infantil, mas à abordagem desse complexo processo, considerando todos os aspectos envolvidos biológicos, sociais, culturais e interacionais.

Entre os 29 instrumentos levantados por revisão bibliográfica, 13 (44,8%) foram localizados na Biblioteca Central do Campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e em outras bibliotecas brasileiras através do Programa de Comutação Bibliográfica (Comut), sendo adquiridos. São eles: Denver Developmental Screening Test (DDST)(7); Home Observation Measure of the Environment (HOME)(8,9); Ficha de Acompanhamento do Desenvolvimento do Ministério da Saúde(10); Procedimentos para Observação dos Organizadores da Psique de Spitz(10); Roteiro para Observação do Ambiente Familiar(10); Anamnese da Criança(10); Anamnese da Família(10); Roteiro de Entrevistas com as Mães quanto ao Sentido atribuído ao Desenvolvimento Infantil(10); Roteiro de Observação da Relação Mãe/Criança(10); Anamnese de Acompanhamento(10); Instrumento GAPEFAM (Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação na Área da Saúde da Família) para Apresentação de Resultados da Avaliação do Crescimento e Desenvolvimento da Criança e suas Interações com a Família, Escola e Comunidade (11); Inventario de Hechos y Eventos Vitales de la Vida Familiar (FILE)(12); Guia Washington para promover o desenvolvimento de crianças pequenas(13). Deve- se ressaltar que o Denver Developmental Screening Test (DDST) foi substituído pela sua nova edição, o Denver II(14), que foi adquirido para esse estudo em detrimento do DDST.

Com base nesses instrumentos e também na experiência do Grupo Hospitalar Conceição Porto Alegre, que utiliza um instrumento relevante para o seguimento de crianças, foram selecionados aspectos, agrupando-os nos seguintes tópicos: Histórico da Criança; Desenvolvimento Psicomotor; Histórico da Família; Apego e Interação Mãe-Filho-Família; Ambiente Físico e Social.

No tocante ao trabalho do enfermeiro em atenção primária à saúde, no Brasil, as ações e/ou intervenções de enfermagem são pouco estruturadas em relação a ter instrumentos para guiar a assistência. É preciso que haja a compreensão de que uma linguagem padronizada sobre a prática de enfermagem faz-se necessária, mas não se configura como um gesso. Ao contrário, visa colocar o fazer do profissional sob observação de forma ordenada, favorecendo, assim, seu refinamento, desenvolvimento e transformação constantes(15). Nesse sentido, associações de classe, conselhos profissionais, instituições de ensino e órgãos governamentais têm preconizado e incentivado a sistematização da assistência de enfermagem (SAE). Tal sistematização contribui para a organi-zação dos serviços de saúde, planejamento de ações e estabelecimento de prioridades, repercutindo em melhoria da qualidade da atenção à saúde da população.

Considerando-se que o presente estudo explora um instrumento em potencial para viabilizar a sistematização da assistência de enfermagem em saúde da criança, na estratégia saúde da família, espera-se que o produto dessa pesquisa seja utilizável na prática. Para tanto, faz-se necessário considerar as expectativas e necessidades do serviço de saúde em relação a esse instrumento.

As expectativas que nos foram manifestadas pelos profissionais de saúde do NSF- IV relacionavam-se com a estruturação do seguimento da criança, ou seja, a sistematização das consultas de puericultura, entrelaçada ao acompanhamento da família.

Além disso, após a aplicação do instrumento inicialmente proposto a duas crianças/famílias, notou-se a sua característica relativamente focada no tempo, pois sua estrutura não permitia um real seguimento dos sujeitos em estudo, à medida que não havia espaço para o registro de mudanças ocorridas (excetuando- se o tópico Desenvolvimento Psicomotor). Fazia-se necessário, sim, um registro histórico da criança e da família, porém aliado a uma flexibilidade à dinâmica e evolução características da criança e do grupo familiar.

Diante desse quadro, optou-se por realizar modificações no conteúdo e na forma do instrumento inicialmente proposto, visando atender à demanda dos profissionais de saúde daquela unidade e à necessidade de adequação para o seguimento de crianças e suas famílias, detectada pelas pesquisadoras. Essas modificações dizem respeito a: - Agrupamento dos tópicos Histórico da Criança, Histórico da Família, Apego e Interação Mãe-Filho-Família e Ambiente Físico e Social nas primeiras páginas, de modo a facilitar o acesso a essas informações para direcionar a intervenção; - Confecção de tabelas para o histórico da alimentação e vacinação da criança e para a estrutura familiar, organizando as informações e propiciando melhor acesso visual; - Inclusão de um espaço de anotações, para serem registradas mudanças na estrutura/dinâmica familiares; - Valorização do Acompanhamento, passando de subtópico do Histórico da Criançaa um grande tópico, com uma folha para cada época da puericultura ( semana de vida visita domiciliar - , 15 dias, mês, mês, mês, mês, mês, 12º mês, 18º mês e 2 anos), compondo um roteiro para a realização das consultas de puericultura com anamnese, exame físico, orientações a serem dadas e elementos aos quais o profissional deve dirigir sua atenção. O Desenvolvimento Psicomotordeixa de ser um tópico e é incorporado dentro do Acompanhamento.

Feitas essas modificações, prosseguiu-se com a aplicação do instrumento final (APÊNDICE 1), que se demonstrou eficaz em reunir as informações desejadas.

Nesse ponto, pode-se questionar se o instrumento que propomos destina-se apenas à coleta de dados ou realmente consiste em um instrumento de abordagem mais ampla do desenvolvimento infantil no contexto familiar. Quanto a isso, ressaltamos que a obtenção de dados não se um em único momento, mas é um processo que requer vários encontros, dentro da dinâmica do Programa de Saúde da Família (visitas domiciliares, consultas, acompanhamentos, etc.), pressupondo a criação de vínculo e conhecimento entre os profissionais e a família. Além disso, os próprios dados coletados nos traduzem o modo de vida de cada família, como ele poderia influenciar o desenvolvimento de cada criança e nos conduzem a uma reflexão de como agir.

Nesse sentido, o levantamento de dados que realizamos nos indicam que, em geral, a população do estudo mora em microárea de risco (favela), com condições de saneamento básico precárias, sem espaço potencial para as crianças nos cômodos e recebem ajuda do governo. Os pais possuem baixa escolaridade ( grau incompleto), não são ligados por laços oficiais, sendo comum a mãe ter filhos de pais diferentes e ser solteira. Na divisão das responsabilidades, prevalece o cuidado da casa e dos filhos a cargo da mulher e o sustento da família a cargo do homem, embora a administração do dinheiro seja compartilhada por ambos. Outra particularidade é a tendência dos filhos mais velhos (porém ainda crianças) serem responsáveis pelo cuidado dos mais novos, enquanto os pais trabalham, pois a creche do bairro não absorve toda a demanda.

Apesar de se tratar de uma população pobre, na qual o aleitamento materno traria benefícios não somente à saúde das crianças mas também financeiros, pela economia de alimentos, o que se observa é a introdução precoce de outros líquidos e alimentos, especialmente quando a avó mora com a família e tende a assumir o lugar da mãe.

Mesmo em meio a situações socioeconômicas precárias, a maioria das crianças estudadas encontra-se dentro do esperado para o desenvolvimento neuropsicomotor, sugerindo que podem haver fatores protetores e de enfrentamento eficazes no grupo familiar e na comunidade.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nesse estudo descritivo, julgamos que o instrumento final tem o potencial de propiciar uma base segura para o seguimento da criança e sua família, pois nele o enfermeiro encontra, de forma ordenada, informações sobre antecedentes pré-natais, parto, histórico alimentar e vacinal, estrutura e dinâmica familiares, ambiente físico, relações intrafamiliares e sociais e acompanhamento da criança até o ano de vida. Acreditamos que, desse modo, o profissional capacitado poderá interligar as informações disponíveis, guiando a assistência prestada a nível individual e familiar.

Consideramos, no entanto, que a viabilidade dessa situação depende de análises mais profundas sobre o produto final desse estudo, aplicando-o em amostras maiores, em um seguimento contínuo desde o nascimento, a fim de verificar sua capacidade de armazenar e disponibilizar as informações necessárias ao acompanhamento de enfermagem às crianças menores de dois anos e suas famílias, na atenção básica à saúde.


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