Formação de mestres em enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina:
contribuições sob a ótica de egressos
INTRODUÇÃO
No meio acadêmico é reconhecida a importância de processos permanentes de
avaliação da formação profissional em todos os seus níveis, por considerar que
tais processos são instrumentais para se obter visões mais consistentes sobre a
qualidade dos produtos do trabalho institucional, ou seja, sobre o alcance dos
objetivos e a função social de instituições e cursos. Diversas são as
informações necessárias para alimentar um processo de avaliação, além de serem
também variados os possíveis participantes e interessados, envolvendo desde
gestores até beneficiários ou usuários. Por diferentes argumentos mais e mais
se reafirma a complexidade de processos avaliativos e se oferecem diferentes
marcos teórico-metodológicos para seu desenvolvimento.
Independente do uso de planos e métodos específicos, a avaliação é elemento
essencial de qualquer ação social, na medida em que subsidia a crítica e a
tomada de posição com informações sobre o funcionamento de determinado
programa, serviço ou ação, tanto em termos de resultados e impactos, como de
operatividade e processos aplicados, que poderão indicar novas demandas, metas
ou estratégias para a qualidade desejada.
No caso de processos avaliativos que se referem a programas de pós-graduação é
preciso considerar, pelo menos, duas importantes dimensões não excludentes e
cooperantes entre si: a avaliação externa e a avaliação interna. A avaliação
interna envolve a coordenação, o planejamento e a tomada de decisão, vistos
como atividades contínuas e inerentes ao próprio trabalho em andamento, não
apenas como etapa estanque e temporalmente isolada do restante da dinâmica de
um curso. Já a avaliação externa de programas de pós-graduação é desenvolvida
no cenário brasileiro pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) com comissões externas. Recentemente, incluiu na avaliação
externa, os egressos. Este será o enfoque tomado neste estudo, qual seja, dar
voz aos egressos.
Ao ter como foco a sistematização de subsídios para a coordenação acadêmica e
para a análise do processo de formação em desenvolvimento, o presente estudo
parte da premissa de que o Programa de Pós-graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina PEN/UFSC dispõe de diversos elementos de
avaliação, contudo, deve ser promovida a discussão sobre o que tais elementos
fornecem em termos de informações, a busca por novos subsídios, o cotejamento
de diferentes aspectos e, finalmente, a proposição de interpretações sobre
tendências e perspectivas. Um dos elementos importantes para análise do impacto
deste programa é conhecer a perspectiva dos egressos quanto a sua experiência
durante e após o curso.
Mesmo sem o caráter de um estudo avaliativo, é importante que sejam
considerados elementos contextuais do acervo de informações disponíveis, que se
referem ao Sistema Nacional de Avaliação da Pós-graduação e à própria
trajetória histórica do PEN/UFSC, mas especificamente de seu Curso de Mestrado,
objeto deste estudo. Assim, identificando as diretrizes da atual Política
Nacional da Pós-graduação, delineando o panorama da formação de mestres no
Brasil e reconhecendo a trajetória do Curso de Mestrado em Enfermagem do PEN/
UFSC, estabelecemos como objetivo deste estudo conhecer as percepções de
egressos do Curso de Mestrado em Enfermagem do PEN-UFSC acerca das
contribuições de sua formação para o trabalho profissional.
Panorama da Pós-graduação no Brasil
O programa de pós-graduação, no Brasil, surgiu na década de 60 e expandiu-se,
mais precisamente, a partir da década de 90, pela necessidade de qualificar
docentes para atender as demandas de expansão do ensino superior e ampliar a
formação e capacitação de novos pesquisadores(1). O CNPq -Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a CAPES, órgãos criados no ano de
1951, foram essenciais para a institucionalização e regulamentação da pesquisa
no Brasil através da criação da Política Nacional de Pós-graduação.
Nessa perspectiva, o Ministério da Educação e Cultura - MEC elaborou em 1975, o
I Plano Nacional de Pós-Graduação - PNPG. As diretrizes previam a
institucionalização do sistema, consolidando-o como atividade regular no âmbito
das universidades e garantindo-lhe financiamento estável(2). O II PNPG,editado
em 1982(3), priorizou a formação de recursos humanos qualificados para as
atividades docentes, de pesquisa e técnicas visando o atendimento dos setores
público e privado,enfatizou a importância da avaliação, da participação da
comunidade científica e do desenvolvimento da pesquisa científica e
tecnológica. Em 1986 foi apresentado o III PNPG, tendo como principal ênfase o
desenvolvimento da pesquisa pela universidade e a integração da pós-graduação
ao sistema de ciência e tecnologia(4). O IV PNPG, consolidado em 1998(5),
estava baseado na avaliação do desempenho da CAPES, na expansão da pós-
graduação em relação ao crescimento das áreas e desequilíbrios regionais, nos
financiamentos e na atenção à demanda por estudos profissionalizantes, entre
outros princípios.
O V PNPG, o qual compreende o período de 2005-2010, tem como um dos seus
objetivos fundamentais uma expansão do sistema de pós-graduação que leve a
expressivo aumento do número de pós-graduandos requeridos para a qualificação
do sistema de ensino superior do país, do sistema de ciência e tecnologia e do
setor empresarial(6).
Destacamos dentro das Diretrizes Gerais dos PNPG a avaliação, foco deste
estudo, a qual deve estar baseada na qualidade e excelência dos resultados, na
especificidade das áreas de conhecimento e no impacto dos resultados na
comunidade acadêmica e empresarial e na sociedade(6).
O Sistema Nacional de Avaliação da Pós-graduação integra todos os programas e
cursos de Pós-graduação no Brasil; foi implantado pela CAPES em 1976 e hoje
desempenha um papel reconhecido por sua relevância no desenvolvimento da pós-
graduação e da pesquisa científica e tecnológica no Brasil. A Avaliação dos
Programas, segundo a CAPES, compreende o acompanhamento anual e a avaliação
trienal do desempenho, visando estabelecer o padrão de qualidade exigido dos
cursos de mestrado e de doutorado, contribuindo para o aumento de sua
eficiência, o atendimento das necessidades nacionais e regionais de formação de
recursos humanos de alto nível e para as definições de políticas na área.
Os dados da pós-graduação brasileira indicam que todas as áreas do conhecimento
apresentaram crescimento expressivo ao longo dos anos. O número de cursos
recomendados pela CAPES era 673 em 1976, 2.993 em 2004 e 3.855 em 2008. O
Sistema Nacional de Pós-Graduação(7), em junho de 2008, possui 2.581 Programas,
responsáveis por 2.319 cursos de mestrado (60,1%), 1.312 de doutorado (34,0%) e
224 de mestrado profissionalizante (5,9%). A maior área é a da saúde, como 434
programas. Enquanto em 1987, em todas as áreas de conhecimento, se titularam
3.647 mestres e 868 doutores, esse número subiu para 32.899 e 9.919,
respectivamente, em 2007. Atualmente conta com 51.000 bolsistas e 50.509
docentes. Apesar desta expressiva expansão, com impacto importante na produção
científica brasileira no cenário mundial, o desenvolvimento da pós-graduação
continua a demandar investimentos(8).
A Pós-Graduação em Enfermagem no Brasil e o Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem/UFSC
Com a aprovação da Lei 5.540(9) que instituiu a Reforma Universitária
Brasileira ao final da década de 1960, observou-se o interesse por implantação
de cursos de pós-graduação na área de enfermagem com vistas a qualificar
docentes para apoiarem a expansão do ensino da enfermagem em nível de graduação
recomendado(1).
Desse modo, segundo a CAPES, o primeiro programa de pós-graduação strict-
sensu,na modalidade de mestrado, foi implantado em 1972, na Escola de
Enfermagem Ana Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e
posteriormente em 1973 e 1975 nas Escolas de Enfermagem da Universidade de São
Paulo em São Paulo e em Ribeirão Preto, respectivamente(10).
A partir daí observou-se um gradativo aumento de pós-graduações strictu-sensuem
enfermagem, sendo que o primeiro doutorado foi autorizado em 1981 na Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo-SP.
Atualmente, o Brasil conta com 33 programas de pós-graduação strictu-sensu na
área da enfermagem, dos quais 12 são de mestrado e doutorado, 19 de mestrado
(17 acadêmicos e 2 profissionalizantes) e 2 de doutorado(10), conforme
distribuição apresentada na tabela abaixo.
As três últimas décadas, notadamente as de 1980 e 1990 foram marcadas pela
expansão de cursos e programas de pós-graduação em enfermagem, entretanto,
observa-se que as regiões Sul e Sudeste detêm o maior número de cursos em nível
de mestrado, sendo que a Sudeste se destaca em número de doutorados.
O PEN/UFSC, constituído pelos Cursos de Mestrado e Doutorado, é reconhecido
pela CAPES, e ao completar trinta anos de existência, em 2006, consolida-se
enquanto Programa de excelência, titulando profissionais em nível de mestrado e
de doutorado, não só da região sul, como também de outras regiões do Brasil e
da América Latina.
Alguns indicadores merecem destaque pelos avanços significativos obtidos,
dentre eles, a qualificação do corpo docente, a produtividade, a diminuição do
tempo de titulação e a internacionalização. No que diz respeito à
produtividade, de 1976 até setembro de 2007,foram titulados 470 Mestres e 143
Doutores.
O Curso de Mestrado em Saúde do Adulto, criado em 1976, foi submetido a
avaliações periódicas, resultando, em 1986, na mudança da Área de Concentração,
para Mestrado em Assistência de Enfermagem. A perspectiva adotada foi de
aplicação e avaliação de referenciais teóricos na prática de Enfermagem,
resultando em um impacto social positivo(11).
Com a criação da Rede de Pós-Graduação em Enfermagem da Região Sul (REPENSUL),
em 1992, iniciou-se parcerias entre a UFSC e as universidades UFPR, UFSM, FURG,
UFPEL, UFRGS, implantando-se a modalidade de Mestrado Expandido. Em 1996, foi
introduzido o Mestrado Interinstitucional (MINTER) e os reflexos do trabalho de
expansão do Programa em prol do desenvolvimento da Enfermagem da Região também
se expressaram pela criação de seis novos Programas de Pós-Graduação (UFRGS em
1998, FURG em 2001, UFPR em 2002, UEM em 2003, UFSM em 2006 e UFPEL em 2007) e
pela elaboração de projetos para implantação de Programas de Pós-Graduação em
outras Universidades da Região(11).
O investimento crescente na formação de mestres e doutores tem sido uma
estratéria no intuito de contribuir para o desenvolvimento de uma prática
profissional voltada para a busca de soluções relativas aos problemas de saúde
vivenciados pela população brasileira(11).
A partir de 2002, o curso passa a dirigir-se a profissionais de Enfermagem e de
saúde, tendo como objetivo geral "promover o repensar das práticas de
Enfermagem e de saúde, com base em referenciais teórico-metodológicos,
apresentando contribuições crítico-inovadoras para o cuidado no processo de
viver humano, e como objetivos específicos propor, aplicar e avaliar projetos
assistenciais com base em reflexões críticas sobre as práticas de Enfermagem e
de saúde; analisar de forma crítica os resultados de pesquisas com vistas a sua
utilização no ensino, na gestão e na assistência em saúde no âmbito local,
regional, nacional e internacional; desenvolver conhecimentos e habilidades de
pesquisa na área de Enfermagem e de saúde; instrumentalizar os profissionais
para a participação crítica no redirecionamento e/ou fortalecimento de
políticas e práticas de Enfermagem e de saúde(11).
MÉTODO
Tratou-se de um estudo de natureza qualitativa, tendo como sujeitos mestres em
enfermagem egressos do curso, que concluíram sua formação entre janeiro de 2003
e setembro de 2007 (últimos 5 anos), totalizando 88 egressos. O método de
coleta de dados foi um questionário do tipo auto-aplicável, composto por dados
de identificação e questões abertas e fechadas, enviado via correio eletrônico,
sendo utilizado o cadastro do PEN/UFSC para acesso aos endereços dos egressos,
no período de outubro a dezembro de 2007. No estudo, os egressos foram
codificados como P (participante) e o número de acordo com a seqüência de envio
do questionário (P3).
Os dados coletados foram submetidos à técnica de análise de conteúdo de Bardin
(12), considerando os estágios de pré-análise, constituição do corpus, seleção
das unidades de análise, classificação, codificação e categorização e os
resultados apresentados em gráficos e quadros analisados descritivamente.
Atendendo às normas que regem pesquisas que envolvem seres humanos, notadamente
a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o projeto foi submetido e
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFSC (Processo nº 313/2007) e os
participantes expressaram sua adesão por meio de Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente trabalho se propôs levantar percepções de egressos do Curso de
Mestrado (2002-2007) do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Catarina, acerca das contribuições de sua formação para o
trabalho profissional. O Quadro_1 ilustra a percepção ou avaliação geral dos
egressos do Curso de Mestrado, em relação aos aspectos: currículo do curso,
carga horária do curso e disciplinas, disciplinas obrigatórias, disciplinas
optativas, seqüência de oferecimento das disciplinas, interação entre as
disciplinas, corpo docente, interdisciplinaridade do corpo docente, estrutura
física e de apoio ao ensino, grupos de pesquisa e oportunidades de vivência
acadêmica.
Os egressos, de modo geral, consideram como excelentes ou muito bons à maioria
dos aspectos anteriormente expostos. Destacam-se, nessa avaliação, a
qualificação e competência do corpo docente e as oportunidades de vivência
acadêmica que, do ponto de vista dos participantes da pesquisa, deve ser
estimulada e incrementada. As falas refletem estas percepções ao mencionarem:
"Apenas, gostaria de parabenizar o corpo docente e técnico
administrativo da PEN/UFSC pelo trabalho realizado, mesmo sabendo das
dificuldades que passam as instituições publicas de ensino"
(P1).
"Embora a característica do Mestrado seja, na minha concepção,
de um Mestrado Profissionalizante, creio que os conhecimentos
teórico-filosóficos adquiridos possibilitaram enxergar novas
modalidades de saber e fazer saúde, enfermagem e cuidado" (P2).
"Porque não nos limitamos a um só conhecimento, o mestrado nos
mostra como refletir e modificar uma pratica profissional, seja no
âmbito coletivo ou individual" (P3).
O Quadro_2 retrata as contribuições do Curso de Mestrado para a mudança no
trabalho dos egressos. As manifestações dos informantes foram agrupadas de
acordo com as categorias apresentadas nesse quadro e demonstram as
possibilidades de uma reestruturação político/acadêmica a partir de uma análise
sobre as contribuições do curso no cotidiano profissional dos egressos.
É consenso que a qualificação para atuação como docente e como pesquisador
ainda se constitui um dos principais focos dos cursos de pós-graduação Stricto-
Sensuno Brasil, entretanto nesse estudo se verificou uma significativa inserção
de profissionais que atuam no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e pelas
falas dispostas a seguir, é possível observar a ocorrência de mudanças
significativas no cotidiano profissional dos egressos do curso avaliado.
"Pude agregar à minha formação, como fisioterapeuta, toda uma
nova forma de assistir o ser humano e de transformar a reflexão do
fazer em um novo fazer, ainda melhor e mais humano. Como professora,
posso ter competência para trabalhar com pesquisa qualitativa com
mais propriedade".(P4)
"Em relação ao meu aprendizado, posso dizer que me tornei uma
pessoa mais reflexiva e mais crítica e competente em meu ser e fazer.
Além disso, o mestrado me despertou o interesse por projetos
assistenciais e investigativos. Hoje os projetos representam uma
constante do meu trabalho. Tudo o que faço é inicialmente planejado e
avaliado".(P5)
"Uma nova forma de assistir o ser humano e de transformar a
reflexão do fazer em um novo fazer, ainda melhor e mais humano...
Competência para trabalhar com pesquisa qualitativa com mais
propriedade".(P6)
Um Curso de Pós-Graduação na área de saúde tem uma influencia importante no
contexto social no qual está inserido, pois, além das exigências da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação(13), as configurações da Lei Orgânica da Saúde
(14) e a Lei Complementar 8142/1992(15) convergem para a necessidade de
desenvolvimento de pesquisas no âmbito do SUS como forma de aproximar a oferta
de serviços e ações de saúde das necessidades apresentadas pela demanda.
Aliado a esses fatores, nos últimos anos convivemos com uma rápida modernização
na estrutura e formação do conhecimento e no aprimoramento de técnicas e
procedimentos no campo da saúde, exigindo do profissional um olhar
investigativo, reflexivo e crítico no âmbito de sua atuação profissional.
Assim, é primordial que os conteúdos acessados e elaborados no decorrer de um
curso de mestrado sejam propulsores de processos reflexivos que impulsionem a
capacidade e a vontade de se envolver com o entorno social no qual está
inserido, no intuito de estabelecer vínculos entre a prática profissional e a
dinâmica social. A fala abaixo nos remete a essas reflexões
"O Mestrado me fez repensar sobre a vida, a profissão, podemos
ver que há outras formas de se fazer a assistência e a própria
docência em saúde".(P7)
É preciso reconhecer, no entanto, que as possibilidades de mudanças nesses
contextos não estão vinculadas apenas a capacitação e a vontade do
profissional, mas também ao envolvimento político/institucional que contribua
para estimular uma revitalização constante dos conhecimentos necessários ao
desenvolvimento do processo de trabalho diante dos novos desafios que se impõem
a uma nova configuração do fazer saúde cotidianamente, exigindo uma constante
interação entre a vontade pessoal e a vontade social.
Na fala a seguir, percebemos que a informante se deparou com as dificuldades
impostas pela instituição na qual atuava, levando-a a optar pela mudança de
emprego.
"Para mim o mestrado foi ótimo, mas na instituição de ensino
pouco mudou, possivelmente porque fora desencadeado em nós
expectativas que não foram cumpridas e, desta forma, agora estou
buscando um novo emprego, penso inclusive em mudar de cidade ou de
estado".(P6)
Apesar da idéia de convivência social integrada veiculada na sociedade
globalizada, de uma sociedade influenciada pelas constantes transformações
tecnológicas e científicas, a maioria dos Programas de Pós-Graduação em saúde
ainda está distanciada dos serviços de saúde e, ao retornar de uma qualificação
e perceber a impossibilidade de mudar a práticas no seu contexto, o
profissional se sente desestimulado. Daí decorre a importância periódica das
avaliações internas nesses programas.
Conforme apresentado um processo avaliativo deve abranger "o ensino, a
formação profissional e cidadã, [...] o destino dos ex-alunos, a adequação dos
critérios de aprovação e promoção de estudantes em seus cursos e de professores
na carreira docente, [...] a integração/desintegração entre teoria e prática,
entre o que a universidade produz e as necessidades"(16).
No que se refere à conceituação dos objetivos propostos no Projeto-Pedagógico
do Curso avaliado, obteve-se uma média de conceito igual a 7,37 (sete e trinta
e sete), conforme pode ser observado no Quadro_3.
Ao analisar os objetivos propostos e seus respectivos conceitos, constatamos a
necessidade de reestruturação do projeto político-pedagógico do curso avaliado
de modo que a nova proposta se aproxime mais das mudanças sociais pelas quais a
realidade de saúde vem passando. Essa reestruturação, de fato desencadeada logo
após o estudo, seguiu na direção de estabelecer um diálogo permanente entre as
potencialidades e as fragilidades identificadas no processo de avaliação
contínuo entre discentes e docentes e, periódico, com os egressos.
Os informantes, de modo geral, salientaram a importância da instrumentalização
para o mercado de trabalho. Compreendem que o profissional precisa estar
preparado para visualizar a realidade de forma ampla e, ao mesmo tempo, estar
inserido na realidade de forma socialmente responsável. Na avaliação dos
egressos, o objetivo do mestrado de propor, aplicar e avaliar projetos
assistenciais com base em reflexões críticas sobre as práticas de Enfermagem e
de saúde, foi considerado como ponto de maior relevância, conforme reflete uma
fala a seguir:
"Resolvi fazer o mestrado após uma jornada de 20 anos na
assistência, já me encontrando desiludida profissionalmente. O
retorno a Academia revigorou o prazer de ser enfermeira, mostrou
novas aptidões, reafirmou alguns valores, remodelou outros. Enfim a
profissional que entrou, não foi a mesma que saiu, foi bem
melhor!"(P8).
Nessa direção, os egressos deixam clara a necessidade de um preparo não somente
para a área acadêmica, mas também um preparo que seja relevante para a área
assistencial. Evidenciam que o egresso deve ter um conhecimento diferenciado no
que se refere a sua inserção no fazer reflexivo-crítico, tanto no que diz
respeito ao planejamento como também no assessoramento e avaliação de projetos
político-assistenciais relacionados às práticas saúde/cuidado de saúde e
enfermagem.
Mesmo que o primeiro objetivo do mestrado tenha sido pontuado como de maior
relevância, os demais aspectos como a capacitação para a atuação na área
educacional, assistencial, gerencial, bem como para o campo da pesquisa e do
planejamento das ações de saúde se mostraram importantes do ponto de vista dos
egressos. Percebe-se, com isso, que o mestrando busca uma noção globalizada, ou
seja, uma projeção de dentro para fora, que remete para uma capacidade bem
sucedida de mobilizar e fazer valer o conhecimento e ampliar o espaço de
referência dos enfermeiros.
Somado às reflexões já expostas é possível acrescentar que o mestrado em
enfermagem se constitui num espaço de construção importante e apropriado para a
consolidação de um conhecimento estimulador e inovador de um saber-fazer
enfermagem para o pleno exercício de uma profissão que preconiza a capacidade
de atender as demandas sociais, nas mais diferentes esferas e nos mais
diferentes contextos.
Os egressos tornam evidente o desejo e, ao mesmo tempo, a necessidade de
realizar pesquisas e análises em serviços de saúde estaduais ou nacionais, ou
seja, a necessidade de ampliar o foco de atuação profissional e da importância
de considerar uma articulação mais ativa entre a produção do conhecimento e o
conhecimento aplicado e divulgado.
O dilema da articulação entre a produção de conhecimento e a sua
aplicabilidade, ou entre a prática científica, técnica, política e as
alternativas desenvolvidas para o seu equacionamento, fazem parte da história
da avaliação de programas como prática institucional(17). É possível dizer, em
síntese, que as avaliações e alternativas metodológicas diversas devem fazer
parte das preocupações de gestores e/ou responsáveis tanto do setor público
como do privado, no sentido de promover a participação e incrementar os
processos decisórios dinâmicos e sistemáticos, como importante contribuição
para o fortalecimento da responsabilidade e compromisso social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de avaliação é, geralmente, um processo complexo, mais
especificamente nos programas de pós-graduação, onde estão presentes diversos
interesses políticos, ideológicos, desempenho dos cursos, imagem perante a
classe, avaliações externas como as promovidas pela CAPES, dentre outros(18).
Mas, é fundamental que este processo seja assumido com seriedade pelas
instituições, de modo geral, com o objetivo de confrontar interesses e,
principalmente, incrementar o processo interativo e participativo entre os
diferentes atores envolvidos.
A importância que os processos avaliativos vêm adquirindo na consolidação do
sistema de ensino e pesquisa são decisivos para a promoção e monitoramento da
qualidade e responsabilidade face à missão social. Destaca-se nessa direção, o
importante papel que a CAPES vem desempenhando no sentido da introdução,
manutenção e incremento de um sistema de avaliação que vem contribuindo de
forma decisiva para a consolidação - no plano objetivo e subjetivo - de um
processo permanente de avaliação dos programas de pós-graduação(19). Sabe-se
que esse processo, pode, em muito, contribuir para que os cursos aumentem e
mantenham sua qualidade.
A avaliação da CAPES, no entanto, não pode ser a única via avaliativa. É
preciso que os programas tenham, cada vez mais, uma atitude pró-ativa no
sentido de preverem lacunas, visualizarem novas possibilidades e,
crescentemente, estimularem a participação dos diferentes atores sociais.
Instaurar um processo avaliativo com os egressos se constitui, nessa
perspectiva, numa estratégia criativa, inteligente e perspicaz no sentido de
detectar fragilidades e antecipar mudanças face às necessidades sociais
emergentes.
A avaliação geral possibilita compreender a importância da contribuição ou
integração da opinião dos egressos como complemento desse processo, entendendo
que a posição destes possibilita evidenciar suas dificuldades e êxitos, bem
como contribuir com novas propostas para a qualificação dos programas.
Compreender a visão dos egressos é contribuir para que uma outra posição
possibilite uma reflexão e amplie as formas de pensar e projetar o futuro dos
programas de pós-graduação de enfermagem, principalmente, no sentido de prever
e antecipar mudanças(20). Assim, importa neste processo, deixar falar, fazer
rupturas, problematizar, consolidando a avaliação educacional numa perspectiva
de ação social formativa e construtiva com práticas integradoras, mesmo quando
se utiliza de práticas reguladoras.