Educação ambiental e enfermagem: uma integração necessária
INTRODUÇÃO
As questões ambientais são, atualmente, um problema de saúde, uma vez que a
sociedade busca se desenvolver economicamente, muitas vezes sem a devida
preocupação com o meio ambiente. Os seres humanos são responsáveis pelos danos
causados à natureza, por isso torna-se necessária a reflexão acerca do bem-
estar ecológico e humano.
Neste aspecto, a educação ambiental não é neutra e, tampouco, aceitará a
conformidade, almejando sempre a transformação de tudo que causa ou poderá
causar problemas ao bem-estar do planeta(1).
Diferentes campos de atuação interdisciplinar unem-se para alcançar medidas de
conscientização sobre os problemas ambientais, pois os prejuízos à natureza são
de responsabilidade de cada indivíduo. Neste contexto, a educação pode ser
vista como um meio que, efetivamente, contribuirá para um futuro sustentável, a
partir de intervenções coerentes com a contemporaneidade, como também
conduzindo os seres humanos a perceberem a importância da auto-determinação
para executar ações saudáveis em seu ambiente(2).
Inserem-se nessa discussão as atividades educativas que se propõem a capacitar
as pessoas para o compromisso com o meio ambiente, pois, quando estas
atividades são elaboradas de maneira eficaz, são capazes de levar as pessoas a
refletirem sobre a produção excessiva de lixo e a tornarem-se agentes ativos
para favorecer um ambiente saudável e sem prejuízo ambiental.
Ampliamos a visão sobre educação partindo da afirmativa que a educação em saúde
é uma forma de garantir a dignidade da pessoa humana a partir de elementos
teóricos direcionadores(3).
Nesse contexto, a educação ambiental precisa substancialmente conceber a
interdisciplinaridade, quando diferentes áreas de conhecimento se agregam para
tornar mais fácil a compreensão sobre a complexidade que envolve o ambiente.
A saúde ambiental, nas últimas décadas, está sendo vista como o conjunto de
condutas voltadas para a preservação do meio ambiente, sendo item norteador de
ética nas relações sociais, como também para a compreensão da realidade dos
problemas que afetam diretamente o ecossistema(4).
Para elaborar estratégias educativas sobre saúde ambiental, é necessário,
inicialmente, discutir sobre todo o processo de desequilíbrio ambiental,
buscando conhecer a realidade para interferir de forma eficaz, reavaliando
práticas sanitárias, para que, posteriormente, sejam executadas estratégias
concretas de educação em saúde, que permitam a proteção e a promoção da saúde
de forma integral às comunidades, como também capacitar o indivíduo e a
sociedade a realizarem ações saudáveis para o meio ambiente, levando-os a uma
consciência ecológica.
É responsabilidade de todos proteger o ambiente contra a degradação a fim de
que as gerações futuras não sofram com a inconseqüência deste agravo. Há,
portanto, a necessidade de que sejam formuladas políticas de proteção e de
promoção do ambiente saudável, e, além disso, é preciso que processos
participativos dos cidadãos sejam incentivados nos trabalhos de sensibilização
para as questões ambientais(5).
A sociedade deve tomar consciência dos diferentes aspectos ambientais que
colocam em perigo nosso planeta e as pessoas, pois o ser humano é diretamente
ligado à natureza e sem ela a vida seria inviável.
A enfermagem está diretamente relacionada ao cuidado humano e à qualidade de
vida por meio de ações de promoção da saúde, pois, assim como outras áreas,
objetiva manter o ambiente saudável. Nessa perspectiva, esse artigo se propõe a
refletir sobre promoção da saúde, educação ambiental e enfermagem.
Este artigo tem a intenção de refletir sobre Promoção da saúde ambiental e
humana; Ações educativas em saúde Ambiental e Enfermagem; e Educação em Saúde,
caracterizando-se como um artigo reflexivo.
PROMOÇÃO DA SAÚDE AMBIENTAL E HUMANA
A Promoção da Saúde identifica-se com um estilo de vida mais saudável, por meio
de ações que contemplem alimentação de qualidade, moradia e educação, bem como
a interação do homem com o meio em que ele vive, sendo o ambiente saudável um
dos fatores que colaboram com o seu desenvolvimento com vistas à saúde(6), como
também se configura como uma medida norteadora, em diferentes âmbitos, como
político, assistencial e educacional, para contribuir com as transformações das
ações de saúde(7).
A Carta de Otawa, documento que direcionou as bases operacionais de promoção da
saúde, afirma que as condições e requisitos para a saúde são: paz, educação,
habitação, justiça social, como também, um ecossistema estável e recursos
sustentáveis(8). Completando esses requisitos, existe a necessidade de conceber
a promoção da saúde de forma ampla, relacionando-a a políticas públicas e à
intersetorialidade, para implementar estratégias visando a melhorar os níveis
de saúde(9).
Os eixos da promoção da saúde, também descritos na Carta de Otawa (a saber:
Elaboração e implementação de Políticas Públicas saudáveis, Criação de
ambientes favoráveis à saúde, Reforço da ação comunitária, Desenvolvimento de
habilidades pessoais e Reorientação do sistema de saúde), têm íntima relação
com a saúde ambiental, caracterizando-se por favorecer o desenvolvimento de
habilidades pessoais para impulsionar as pessoas para lutarem por melhores
condições, servindo de pilar para o reforço da ação comunitária. Outro eixo
capacita as comunidades a serem atuantes nos problemas específicos que a
impedem de ser saudáveis. E mais outro eixo da promoção dá seguimento à criação
de ambientes favoráveis à saúde. Esta é uma luta constante, uma vez que o
prejuízo ambiental e humano pode desequilibrar o ecossistema. Esses êxitos
também se articulam com a elaboração de políticas públicas saudáveis, por meio
de estratégias sustentáveis no município e da reorientação do serviço de saúde,
sendo estes últimos consequências de ações de indivíduos e de coletividades
empoderadas de sua ação social.
Empoderamento, conceituado por o Paulo Freire, é a capacidade de um grupo ou
pessoa de realizar, por si, mudanças e atitudes que levam ao desenvolvimento
próprio(10-11). Logo, tornam-se importantes medidas que favoreçam a geração de
ambientes apropriados ao bem-estar humano e ecológico, assim como propostas
pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade
e da cidadania, orientadas para ações cuja essência está na melhoria da
qualidade de vida e na promoção do ser humano.
Neste contexto, a Educação em Saúde é uma estratégia que está inserida nesse
campo de atuação, uma vez que visa capacitar o indivíduo a uma melhor qualidade
de vida, ampliando o processo que abrange a participação de toda a população no
contexto de sua vida cotidiana, e não apenas das pessoas sob o risco de
adoecer, levando-os a refletir sobre sua condição real no ambiente na qual
vivem(10).
Para Souza e Grundy(12), a promoção da saúde tem sido conceituada como o
processo que capacita a comunidade a exercer e aumentar o controle sobre a sua
saúde, favorecendo ao empode-ramento.
O desenvolvimento próprio do indivíduo e da comunidade favorece sua atuação em
diferentes espaços, dentre eles o meio no qual está inserido. Na saúde
ambiental, para que se possam explorar adequadamente os diversos po-tenciais, é
necessário, antes de tudo, garantir a manutenção de um ecossistema equilibrado,
sen-do fundamental tanto a implementação de mecanismos de conservação
ambiental, valorizando a água, o ar e a terra, quanto compreender as relações
sociais de cada contexto.
A inter-relação dos conceitos de Educação em Saúde e de Promoção da Saúde
atinge um significado ampliado do processo de capacitação das pessoas, haja
vista proporcionar uma abordagem sócio-educativa. Dessa forma, são assegurados
os conhecimentos, as habilidades e a formação da consciência crítica do cidadão
para a tomada de decisões com maior responsabilidade sócio-ambiental, incluindo
políticas públicas e a luta por ambientes saudáveis. Sob esse enfoque,
trabalha-se com a idéia de que as ações de Educação em Saúde fundamentam-se
numa concepção de qualidade de vida do cotidiano dos indivíduos(10).
Inserido no contexto das ações de educação, o pensamento de Paulo Freire
conceitua a educação como princípio da ação cultural, relacionada ao processo
de consciência crítica, visto como uma educação apresentadora de problemas,
tendo a pedagogia crítica, como práxis cultural, contribuído para elevar a
consciência das pessoas, como também uma revolução pedagógica em sua essência e
significativa para todos(12).
Portanto, a ideologia de Freire preocupa-se com a inserção do indivíduo na
sociedade, levando-o a uma reflexão crítica de sua condição de vida. Nesse
cenário, os educadores buscam favorecer maior qualidade de vida para as
pessoas, famílias e comunidades por meio de ações dialógicas.
Logo, a Educação é um importante instrumento para as ações de intervenção na
saúde ambiental capacitarem o individuo e a comunidade a refletirem sobre os
problemas ambientais existentes.
AÇÕES EDUCATIVAS EM SAÚDE AMBIENTAL
As práticas educativas devem alicerçar-se em ações multidis-ciplinares, havendo
uma convergência na integração dos problemas socioambientais com sua prevenção
e solução. Tal processo deve orientar-se por uma dinâmica que permita um
caminhar metodo-lógico de ações que favoreçam o trabalho em equipe e a formação
de condutas conscientes, relacionadas a valores pessoais como respeito,
solidariedade, prudência e cidadania em vista da sustentabilidade sócio-
ambiental(13).
Complementando os valores acima, a educação é essencial para que haja atitude
ética perante a questão ambiental. O educador é compreendido como a pessoa
capaz de desenvolver e exercer papel ativo de troca na construção de novas
relações no mundo e inter-relações da sociedade com o meio ambiente para a
consolidação do compromisso ecológico, cabendo essa atuação educativa a todas
as pessoas, grupos e comunidades, uma vez que um ambiente saudável é inerente à
vida.
Na ação para promoção da saúde no contexto da saúde ambiental, diversas
profissões interligam-se, utilizando instrumentos próprios com um só propósito:
promover saúde. Daí a importância de discutir o tema, que engloba o bem-estar
humano e ecológico, tendo como finalidade elaborar medidas consistentes
cabíveis. Neste contexto, o cuidado de enfermagem integra-se por ser capaz de
direcionar intervenções educativas sobre as vulnerabilidades ambientais a fim
de diminuir a possibilidade de acarretar danos ecológicos e, consequentemente,
humanos.
A Enfermagem preocupa-se com o bem-estar do indivíduo, de sua família e da
comunidade, devendo ser executado juntamente com um sentimento de
solidariedade, sem desconsiderar que o ambiente é um fator relacionado à saúde
humana.
É preciso compreender que a tensão entre ampliação e/ou redução da esfera
pública evidencia a pergunta sobre as possibilidades de crescimento,
necessitando de uma política orientada pelo ideário ecológico, uma vez que seu
apelo busca legitimar-se a partir dos riscos dos desequilíbrios ambientais(14).
A degradação ambiental coloca em risco as gerações futuras, que sofrerão com a
inconseqüência das ações, necessitando de intervenções que minimizem os
prejuízos à natureza por meio de atitudes conscientes que concebam a saúde
ambiental como alicerce para o bem-estar humano.
Além da necessidade permanente de integração entre educação em saúde e educação
ambiental devido à complexidade do tema, também deve ser enfatizada a
integração entre outros seguimentos da sociedade na tentativa de relacionar
educação e meio ambiente(13).
Outro aspecto tocante a essa temática é a ética, que deve alicerçar a reflexão
coletiva sobre o compromisso ambiental, favorecendo discussões acerca de saúde,
cidadania e meio ambiente na busca de solucionar os desafiantes problemas sobre
esses temas.
Essa reflexão deve oportunizar a compreensão da formação de novos atores
sociais, articulados para a apropriação da natureza, para um processo educativo
articulado e compromissados com a sustentabilidade, apoiando-se numa lógica que
privilegie o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber contra a
degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema. Isto envolve uma
necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental
(15).
Existe a necessidade da ação intersetorial articulada para resolver o problema
voltado para o ecossistema, favorecendo os indivíduos e levando a comunidade ao
empoderamento diante das questões ambientais, fazendo com que as pessoas
percebam a problemati-zação, dando ênfase à complexidade dos processos sócio-
ambientais.
A saúde ambiental, com base na vida cotidiana, nas suas necessidades e nos
interesses pessoais e coletivos que envolvem a ecologia, permite a reflexão
crítica sobre a importância da formação de um espaço que propicie a
problematização sobre a saúde ambiental, visando o preparo de sujeitos
comprometidos com o meio ambiente.
Nesse cenário, torna-se necessária a construção do conhecimento científico para
colaborar na formação de um pensamento crítico, baseado em conceitos
atualizados, que favoreçam uma postura participativa das comunidades a fim de
que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida, tendo como objetivo
comum a educação em saúde e a educação ambiental(16).
ENFERMAGEM E EDUCAÇÃO EM SAÚDE
A Enfermagem, como profissão educadora, deve inserir-se nesse campo de atuação
efetivamente por meio de ações de Promoção da Saúde que capacitem o indivíduo e
a comunidade a exercerem empoderamento e autonomia, bem como reflexão crítica
para uma mudança de comportamento comprometida com a saúde ambiental. Trata-se,
contudo, do desafio de capacitar pessoas para realizarem condutas
ecologicamente corretas, uma vez que o desenvolvimento se encontra
continuadamente estimulado, muitas vezes deixando a sustentabilidade à margem.
Os enfermeiros buscam um equilíbrio na realização de ações de promoção da saúde
contextualizados na situação real, sendo valiosa a compreensão dessas ações nos
cuidados de saúde primários(17). Diante desta conduta, torna-se necessário
refletir sobre como atividades educativas na saúde ambiental podem inserir.o
enfermeiro em seu campo.
Mediante ações de promoção da saúde, os enfermeiros têm papéis diferentes na
contribuição da saúde dos indivíduos e das comunidades, sendo eles os mais
adequados para efetuarem essas implementações(18). Enfermeiros integrados à
equipe da Estratégia da Saúde da Família encontram-se próximos à comunidade e
convivem com suas dificuldades, sejam sociais, econômicas ou ambientais,
podendo buscar alternativas que as minimizem ou solucionem.
É preciso que o enfermeiro busque um caminho para a estruturação de ações
coletivas, identificando a realidade, bem como articulando diferentes aspectos
que englobam a integração intersetorial em prol da saúde ambiental,
necessitando de uma prática comprometida com o bem-estar ecológico.
É preciso, também, realizar ações de educação em saúde que gerem oportunidade
de reflexão sobre os hábitos da população, para que se tornem aptos a
transformar a realidade(19). A consciência ambiental é uma decisão particular
que promove mudança de comportamento.
O profissional de Enfermagem pode capacitar comunidades por meio de ações
pedagógicas a partir da vida cotidiana, das necessi-dades e dos interesses
pessoais e coletivos que envolvem a saúde ambiental, pois este fato é uma
necessidade global. Deve-se refletir sobre a importância da abertura de um
espaço de formação que propicie reflexão, problematização, crítica e
articulação, apontando o comprometimento com a construção de sujeitos que
incorporem posturas éticas, de solidariedade, de consciência cidadã e de
compromisso social, atuando de forma responsável com o meio ambiente, tudo isso
alicerçado em práticas pedagógicas efetivas para o processo de mudança(20).
Atualmente, observa-se, com frequência, a má qualidade de vida causada pela não
conservação a natureza. Esta realidade gera a preocupação com a vitalidade e
com a diversidade do planeta Terra, bem como com o cuidado de seu próprio meio-
ambiente. Para isso torna-se necessário construir uma alfabetização ecológica,
implicando numa ética do cuidado. Logo, o enfermeiro pode intervir nas questões
ambientais, uma vez que o cuidado é uma ação essencial da enfermagem(21).
As ações educativas desenvolvidas por enfermeiros devem compreender a
significação de sujeito e incentivar as pessoas a refletirem sobre seu
compromisso sócio-ambiental, permitindo uma conduta ativa na transformação do
processo de aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente reflexão teceu uma inter-relação entre a promoção da saúde, a
educação ambiental e a Enfermagem. Nesse contexto, as mediações educativas
devem favorecer a capacitação da comunidade à responsabilidade sócio-ambiental,
com vistas ao bem-estar ecológico.
O enfermeiro pode atuar nesse espaço, trazendo informações acerca da saúde
ambiental e, consequentemente, humana. As atividades educativas sobre a saúde
ambiental devem seguir os eixos da Promoção da Saúde descritos na Carta de
Otawa, permitindo o desenvolvimento de habilidades pessoais para fortalecer o
reforço da ação comunitária numa articulação coletiva e rever a formulação de
políticas públicas para a criação de ambientes saudáveis e livres de poluição.