Fatores ambientais como coadjuvantes na comunicação e no cuidar do idoso
hospitalizado
INTRODUÇÃO
A industrialização trouxe além da modernização, a valorização da ciência e o
avanço tecnológico. Esses avanços tem se expandido para todos os campos do
conhecimento, inclusive na área da saúde. A introdução da informatização e
desenvolvimento de equipamentos sofisticados sem dúvida trouxeram ganhos
inegáveis como o benefício diagnóstico e terapêutico para o enfrentamento dos
problemas de saúde(1). Esse ambiente novo permeado de tecnologia tem exigido
uma performance cada vez melhor e atualizada dos profissionais de saúde
e,ainda, afetado às relações humanas com o cliente(2).
A ocorrência de ações pouco humanizadas é uma condição presente no cenário do
cuidar em gerontologia, uma vez que o profissional envolvido relaciona a
ciência e técnica de maneira reduzida. A negligência dos aspectos específicos
da pessoa idosa tem ocorrido por desconhecimento da dinâmica existente que
perpassa neste tipo de cliente, dentre eles os aspectos comunicacionais
necessários e requeridos durante o processo de cuidar(3).
Sabe-se que os profissionais da saúde têm o compromisso de contribuir para o
aprimoramento das condições de viver e ser saudável, buscando uma melhor
qualidade de vida para todas as pessoas sob sua responsabilidade(2). Neste
sentido, cuidado e ambiente estão interligados e devem ser foco da atenção dos
profissionais de saúde nos diferentes espaços de cuidado no qual a pessoa idosa
está presente(3).
É interessante ressaltar que apesar do cuidar do ambiente ter sido uma
preocupação constante na Enfermagem, ele merece ser encarado com atenção e zelo
por todos os profissionais de saúde, uma vez ser ele constituído também como
espaço social de trabalho, consequentemente, deve possuir características que
favoreçam o cuidado com ser humano em sua totalidade e especificidades.
A teoria ambientalista concebe o ambiente em todos os seus aspectos, físico,
psicológico e social, uma vez que estes interferem diretamente no conforto e
bem estar das pessoas, influenciando na manutenção ou na restauração de sua
energia vital. Quando um ou mais aspectos do ambiente encontra-se
desequilibrado, o cliente precisa utilizar de maior energia para
contrabalancear os fatores estressantes do ambiente, o que consome esforços e
fornece desgastes. Sendo assim, é fundamental que os profissionais da saúde
organizem e mantenham o ambiente de forma a ajudá-lo(4).
Apesar da ênfase concedida ao ambiente físico, onde ventilação, iluminação,
limpeza constituem papel essencial já que, quando adequados, são capazes de
manter o organismo em condições favoráveis para o reestabelecimento da saúde,
as preocupações da referida teoria incluem os aspectos psicológicos e sociais
referentes aos relacionamentos estabelecidos entre profissionais e clientes(4-
5). Pode-se afirmar, então, que a comunicação se reveste de importância impar,
pois ratifica a ação do cuidar interativo.
Compreende-se comunicação como o agir humano que traz possibilidade das pessoas
se relacionarem, compartilhando suas ideias, experiências e emoções. Ao se
relacionar, elas sofrem influencias próprias, do outro e do ambiente que o
cercam(6); portanto, é uma "via de mão-dupla" que comporta etapas sucessivas
que, reunidas, integram-se e formam o que se denomina de comunicação
interpessoal.
O ambiente físico se constitui no conjunto de medidas físicas: meio térmico,
sonoro, vibratório e luminoso(7). Sua forma, cores, mobílias, bem como as
delimitações de espaços, podem ou não facilitar as relações entre os
profissionais de saúde e o cliente, aproximar ou distanciar as pessoas,
colaborar no processo efetivo da comunicação ou não. Em um sentido mais amplo,
o ambiente físico pode compreender tudo que rodeia uma pessoa, podendo instigar
fortes sentimentos e atitudes, tanto positivas como negativas nos indivíduos
(6).
É oportuno mencionar a proposta do Ministério da Saúde(7), estabelecida por
meio de ambiência na saúde. Esse termo refere-se ao tratamento dado ao espaço
físico entendido como espaço social, profissional e de relações interpessoais
que deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e humana. Existem
componentes como, por exemplo: morfologia, luz, cheiro, som, arte e cor que
atuam como modificadores e qualificadores do espaço, estimulando a percepção
ambiental e, quando utilizados com equilíbrio e harmonia, criam ambientes
acolhedores, propiciando contribuições significativas no processo de produção
de saúde.
Alguns questionamentos foram mobilizados e acabaram por culminar nesse estudo;
são eles: onde termina e começa o corpo do cliente hospitalizado uma vez que
ele está num ambiente repleto de máquinas e acessórios necessários ao cuidado?
Até que ponto os profissionais de saúde tem refletido sobre o quanto os fatores
ambientais, no âmbito do cuidar efetivo da clientela idosa, influenciam no
resultado do cuidado prestado? Como utilizar o meio ambiente sem negligenciar
as atribuições profissionais, os valores humanísticos e os recursos
comunicacionais de forma a favorecer o cuidado?
A referida pesquisa baseou-se no referencial de estudos sobre a codificação não
verbal da comunicação humana(6), tendo os fatores ambientais como uma das
dimensões que permeiam e transmitem informações sobre as pessoas (objetos de
decoração, escolha das cores, disposição da mobília e uso do espaço). Nesta
perspectiva, refletir constantemente sobre como que as implicações do ambiente
interferem no desenvolvimento do cuidado de enfermagem em gerontologia efetivo
é um caminho adequado na busca da comunicação humana de qualidade na saúde.
OBJETIVO
Verificar os fatores ambientais, identificados por graduandos e graduados da
área de saúde, que interferem na comunicação com o idoso.
MATERIAL E MÉTODO
Estudo exploratório com abordagem qualitativa, desenvolvido no interior
paulista após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
(Processo CEP/HRA nº 167/2008) com 117 graduandos e profissionais da saúde
(medicina, enfermagem, fisioterapia, psicologia, educador físico, serviço
social) que participaram da capacitação em comunicação não verbal em
gerontologia(8).
O programa de capacitação respeitou uma matriz pedagógica que continha as bases
teóricas, os recursos e procedimentos pedagógicos que incluíram leitura de
poemas, exibição de imagens do idoso com texto reflexivo, discussão em arena
das vivências e aula dialogada. A matriz foi elaborada de forma que, ao final
de cada encontro, o participante pudesse revelar seu grau de assimilação.
Dentre os objetivos dessa capacitação estavam a identificação dos aspectos/
fatores ambientais capazes de auxiliar na comunicação não verbal com a pessoa
idosa. Para obtenção dos dados apresentados neste estudo utilizou-se a questão:
"Identifique fatores ambientais que podem interferir na comunicação com idoso".
A questão foi aplicada pela primeira autora deste estudo, que desenvolveu o
programa, imediatamente após o segundo encontro, que teve a duração de 4 horas
e foi realizado em janeiro/2009 (dentre um total de três encontros realizados
na capacitação), quando essa temática foi discutida(8).
Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com todos os
itens da Resolução 196/96, para garantir o anonimato dos participantes, foram
recolhidas as folhas de resposta, sem fazer anotações que pudessem identificá-
los, somente com a letra P de participante seguida do número arábico
sequencial. As respostas foram lidas e corrigidas frente ao gabarito teórico
utilizado na capacitação(6,7). O tratamento dos dados foi realizado por meio da
leitura e classificação das respostas de cada pergunta existente na avaliação,
quando a pesquisadora destacou a essência do pensamento escrito. Diante disso,
foi possível agrupar as respostas e definir os títulos dos agrupamentos.
Ressalta-se que uma resposta pode pertencer a mais de um tipo de agrupamento,
pois mais de um fator ambiental pode ter sido citado em cada resposta.
RESULTADOS
Foram submetidos à capacitação em comunicação não verbal em gerontologia 117
pessoas sendo: 71,8% (84) de profissionais de saúde e 28,2% (33) de graduandos
na área da saúde. Em relação ao gênero e idade 80,3% (94) eram mulheres com
idade média de 35,7 anos e 19,7% (23) homens com 29,6 anos em média, de idade.
A média geral de idade dos participantes, independentemente do gênero, foi de
34,5 anos, tendo o mais novo 20 anos e o mais velho 59 anos.
As respostas dos participantes da capacitação, no que tange aos fatores
ambientais que poderiam auxiliar na comunicação, puderam ser ordenadas e
analisadas em sete agrupamentos distintos, a saber: sonoros e vibratórios;
decorativos e espaciais; luminosos; cores e texturas; térmicos e ventilatórios;
higiênicos e de segurança profissionais e sinalizadores visuais.
O primeiro agrupamento, sonoros e vibratórios (97 - 82,9%), agregou respostas
que citaram os ruídos e barulhos desencadeados pelo uso de carrinhos de banho,
carrinhos de limpeza, carrinhos de distribuição de refeições, carrinhos de
recolhimento e entrega de roupas, equipamentos de uma maneira geral, uso de
celulares com toques fortes e até inadequados, uso de sapato barulhento pela
equipe de profissionais; música alta e inadequada para o ambiente hospitalar,
televisores e rádios ligados até tarde da noite. Exemplos de respostas:
Tudo bem que precisamos de celular, mas será que não dá para escolher
toque mais adequado e menos alto, uns até assustam o coitado do
idoso; o barulho da caldeira vem direto para algumas enfermarias e
esses carrinhos da nutrição são um escândalo (P23)
Várias pessoas no mesmo lugar, falando ao mesmo tempo, barulho
produzido pelo carrinho de banho e de alimentação. (P108)
Decorativos e espaciais (67 - 57,3%) foi o agrupamento que englobou respostas
que mencionaram a ocupação dos espaços pela distribuição dos mobiliários;
presença de obstáculos nos corredores; espaçamento entre os leitos, não
garantindo conforto e privacidade ao idoso; tipo, qualidade e disposição dos
objetos; qualidade e adequação (tamanho e altura) dos mobiliários. Exemplos:
... mesa do profissional no momento da entrevista e o que tem em cima
dela pode ser uma barreira, pois se é muito sofisticada e bacana, o
idoso fica com vergonha e não conta o que precisa contar. (P69)
A maioria dos idosos usa cadeira de rodas ou andador e tanto os
corredores como os espaços entre os leitos são estreitos, um invade o
espaço do outro. (P112)
O grupo intitulado de luminosos(51 - 43,6%) reuniu as respostas que
referenciaram o tipo, qualidade e intensidade da luz do quarto, da cabeceira e
do próprio equipamento médico hospitalar. Eis dois exemplos:
Confesso que descobri que eu já fiz coisa errada, principalmente para
quem está usando monitor cardíaco. Vou lá e vejo o traçado e, muitas
vezes, esqueço de olhar o paciente...luminosidade demais na UTI
irrita, pois impede de dormir.(P05)
Parece simples, porém a luz na cabeceira ajuda o idoso a levantar de
noite da cama, mas ela acesa na cara dele, impede até dele dormir e
enxergar a gente.
O agrupamento cores e texturas (38 - 32,5%) foi composto pelas respostas que
recordaram a influência na comunicação das cores usadas em paredes e portas,
nos consultórios, corredores, e até nas roupas de cama.
... tudo que está no ambiente pode ajudar ou atrapalhar na conversa
com o idoso, desde a estrutura arquitetônica até os aspectos ligados
às cores usadas; não é à toa que centro cirúrgico não é vermelho. (P
15)
Corredor com cor forte pesa no ambiente e pode até deprimir. Então
ele já chega aqui triste, porque está percebendo que o lugar não é
aconchegante e dependendo da cor atrapalha para saber se está ou não
ictérico (P91)
Já o agrupamento denominado térmicos e ventilatórios (29 - 24,8%) reuniu as
respostas que mencionaram a temperatura alta ou baixa do ambiente, o uso
indiscriminado de ar condicionado nas unidades de Centro Cirúrgico e de Terapia
Intensiva, aeração e ventilação dos quartos e banheiros, além da abertura das
janelas como fatores que interferem na comunicação. Eis exemplos:
Não podemos esquecer que o ar condicionado deixa o ambiente bom, mas
na verdade fica bom para o pessoal. No fundo, não lembramos que os
pacientes precisam de cobertor, não percebemos que ele está com frio
e, assim, ele não se sente confortável, consequentemente, não
interage. (P34)
Não só o visual pode ser observado pela janela, mas o frescor que vem
dela traz ao idoso recordação que pode auxiliar na comunicação dele
com os demais pacientes do quarto e com os demais (P75)
Higiênicos e de segurança profissional (14 - 11,9%) foi o agrupamento que
englobou as respostas que valorizaram a limpeza e organização do quarto e
banheiro, retirada de lixo por conta da liberação de odores, e pisos
escorregadios como pontos que influenciam a comunicação e a segurança.
Exemplos:
... limpeza do quarto, cheiro do quarto e do banheiro. (P49)
O cheiro bom aproxima as pessoas, mas o cheiro do papagaio, lixo
aberto e ares do banheiro acabam afastando o profissional de ficar
perto do paciente; encurtamos a conversa com ele. Além de ainda
oferecer risco para doenças e infecções. (P102)
Finalmente, o sétimo agrupamento denominado sinalizadores visuais (2 - 1,8%)
foram as respostas que expressaram o quanto a comunicação visual com o uso de
placas expõe ou confunde o cliente; o uso de faixas no chão, nem sempre
privilegia o entendimento ou garante a informação atualizada.
Excesso de informação visual, monte de faixas coloridas no chão, até
que ponto isso é informação?. (P10)
A maioria dos idosos que tem problemas de visão fica perdida dentro
do serviço. Muitos tem letra pequena que não localiza ele, ao
contrário, atrapalha. ( P 93)
DISCUSSÃO
Os aspectos sonoros e vibratórios foram os fatores ambientais mais citados
(82,9%), sendo que as respostas mais frequentes referiam-se aos ruídos e
barulhos desencadeados pelo uso de carrinhos e bater das portas, ao uso de
celulares com sinais inadequados, à utilização de rádios e televisores ligados
até o avançar da noite, dentre outros.
Durante os últimos anos o desenvolvimento e o acesso às técnicas e dispositivos
que facilitam e melhoram as condições de atendimento ao cliente tem trazido
benefícios no sentido de diminuir o tempo de internação e aumentar a resposta
terapêutica, entretanto, trouxe também um ambiente físico superestimulante(1).
Os resultados estão de acordo com autores(9) que afirmam que o meio ambiente
pode influenciar positiva ou negativamente a comunicação das pessoas idosas,
dependendo da quantidade de estímulos a que estão expostas. Refletem o estudo
desenvolvido em um hospital de São Paulo(10) onde se revelou que a queixa da
maioria dos clientes em não conseguir dormir adequadamente estava associada às
conversas em voz alta e ao barulho frequente e intenso, provocando ansiedade e
apreensão e, ainda, o não desejo de interação com a equipe.
Parte da clientela idosa possui presbiacusia(11) e o barulho acaba por diminuir
ainda mais sua habilidade auditiva. Além disso, interfere na fase do sono,
causa irritabilidade e instabilidade das funções fisiológicas, como aumento da
pressão arterial, alteração do ritmo cardíaco, vasoconstricção periférica e
outros, o que atrapalha na sua recuperação(1).
Interessante citar pesquisa desenvolvida na Unidade de Terapia Intensiva(1) que
registrou no período da manhã níveis de ruídos sonoros mais altos, relacionado
ao fluxo maior de pessoas, quantidade maior de atividades realizadas, como
troca de equipamentos que facilitam o disparo de alarmes, coleta de exames e
organização de leitos. Os autores ressaltam que os profissionais precisam se
recordar dessa condição e atentar ao tom de voz tanto quando atendem aos
telefones e conversam com as demais pessoas que lá trabalham.
Para 57,3% dos participantes, os aspectos decorativos e espaciais como tipo e
disposição dos objetos ornamentais, os obstáculos de corredores e espaçamento
entre leitos foram os mais recordados como fatores de interferência na
comunicação.
O ambiente físico e os objetos que o compõem são um constructo social, que
revelam apropriação e demarcação da identidade do sujeito e do poder que ele
exerce no meio. Quanto mais personalizado um espaço é, maior a margem de
autonomia que se busca, pois de certa forma revela o grau de empoderamento e de
influência que se tem(6,12).
Os aspectos luminosos (43,6%) englobaram as respostas que identificaram a
presença da luz no ambiente como possibilidade de ajuda na interação com o
cliente e o cuidado que o profissional deve tomar quando, sem perceber, cuida
do equipamento existente, como um monitor cardíaco, e se esquece do cliente no
ambiente. Esta situação nos leva a trazer a contribuição de autores(13) que
ressaltam que não é raro defrontar com excelentes técnicos, sumidades na
habilidade de manipulação de equipamentos de ponta, mas que acabam comportando-
se como calouros na arte de confortar o cliente, pois o identificam como um
caso ou número e restringem sua atenção no que os aparelhos revelam.
A luz, seja natural ou artificial, além de necessária para a realização de
atividades, contribui para a composição de uma ambiência aconchegante;
entretanto, cabe ao profissional ater-se no sentido de respeitar a privacidade
e o descanso do cliente. Não se pode esquecer também que a luz natural, quando
presente no ambiente, ajuda o cliente a manter a noção de tempo (dia e noite,
chuva ou sol) e isso influencia no seu estado de saúde(7).
A Política Nacional do Idoso(14) considera que adequadas instalações
geriátricas, ou seja, uma planta física que favoreça não só a instalação de
equipamentos para a segurança e locomoção do idoso hospitalizado, mas que
facilite sua adaptação e convivência, sejam valorizadas e devam constituir uma
realidade nos serviços de saúde que atendam as pessoas idosas.
Corrobora para este aspecto o documento sobre ambiência na saúde elaborado pelo
Ministério da Saúde(7), que trata dos fatores ambientais e cria três eixos,
como busca contínua, que são: a confortabilidade focada na privacidade e
individualidade das pessoas envolvidas, valorizando elementos do ambiente que
interagem com as pessoas como: cheiro, cor, som, iluminação e morfologia; o
espaço para reflexão, uma vez que constitui um lugar onde as pessoas se
encontram, convivem e se relacionam; e o processo de trabalho, como uma
ferramenta que possa favorecer e otimizar um atendimento acolhedor e
resolutivo.
Como fator de influencia na comunicação com o idoso, as cores e texturas foram
apontadas por 32,5% dos participantes, principalmente as usadas nas paredes e
na própria roupa de cama. Esse ponto é defendido por autora(15), quando afirma
que a cor do ambiente é um dos principais fatores determinantes da forma como
as pessoas se relacionam com o ambiente e o que ele acaba transmitindo.
Acrescenta que a cor interfere no estado emocional, na produtividade e na
qualidade das atividades desenvolvidas, pois atrai a atenção de acordo com sua
visibilidade, contraste e pureza.
Importante salientar que as cores neutras, suaves e foscas das paredes de áreas
como centro cirúrgico, por exemplo, são para evitar a emissão de reflexos
luminosos, a fadiga visual, o cansaço e os estímulos nervosos(16).
Os aspectos ambientais ligados à temperatura e ventilação constituem uma
realidade recordada por 24,8% dos participantes da pesquisa. Esse resultado
remete ao estudo desenvolvido num hospital universitário carioca(5) que revelou
o quanto o cliente é submetido às baixas temperaturas advindas da ventilação
artificial necessária à manutenção do ambiente asséptico. Ressalta-se que
apesar dos objetivos do uso do ar condicionado ser a remoção de gases
anestésicos e partículas em suspensão, controle da temperatura e umidade,
promoção da troca de ar adequada, bem como conforto ambiental, isto não
justifica o esquecimento em manter o aquecimento corporal do cliente que lá se
encontra e de repensar até que ponto o conforto está voltado para ambos
(profissional e cliente).
Os fatores ambientais ligados ao odor e a segurança foram lembrados por 11,9%
dos participantes. Vale ressaltar que as percepções olfativas são fundamentais
no espaço do cuidar nos serviços de saúde, tendo em vista os inúmeros fatores
existentes no seu cotidiano. Quando os odores se apresentam desagradáveis ao
sentido, causam no indivíduo a sensação de desconforto geral, daí a importância
que medidas sejam adotadas no sentido de contenção, dispersão ou eliminação dos
mesmos. A literatura revela que as sensações olfativas interferem nas reações
de caráter afetivo e terapêutico (humor, depressão, euforia, irritação,
sedução), sendo a variação decorrente da percepção subjetiva e a interpretação
da memória olfativa que todo indivíduo possui podendo ganhar representações
distintas (positivas ou negativas)(17).
Apesar de pouco citada, a comunicação visual feita por placas que expõem e
confundem o idoso merece destaque (1,8%), visto o grau de importância que esta
pode assumir na comunicação. Estudiosos(18) na área ressaltam que a comunicação
visual, desenvolvida por meio de sinalização, possui o intuito de informar,
direcionar e orientar as pessoas para que consigam se locomover e encontrar o
que procuram. Os autores destacam que em um ambiente hospitalar, a comunicação
visual permite o poder de decisão e acesso à informação em um espaço onde a
situação de desconforto emocional está quase sempre presente. Uma sinalização
inadequada causa confusão, desorientação, irritação e perda de tempo, que no
ambiente hospitalar é um item precioso. Contudo, para cada hospital é
necessário um sistema de sinalização que se seja ajustado ao perfil que possui.
Sendo assim, os profissionais de saúde precisam se ater a essa vertente que,
muitas vezes, passa despercebida no cotidiano, como revela o relato de um dos
participantes: "se nós ficamos confusos com tantas faixas coloridas nos
corredores e com placas desatualizadas, imagina eles" (P 10).
No caso de idosos, além da visão geralmente acometida(11), existem os aspectos
ligados ao grau de instrução, uma vez que a maioria no País é analfabeta
funcional, o que acaba por dificultar o acesso às informações(9). Portanto, o
uso adequado de tipografia e tamanho de letras, dimensão, posição, localização
e altura das placas, até dos crachás dos profissionais, cores e figuras de
fundo, em pontos estratégicos que facilite a compreensão, devem ser respeitados
pela administração e pelos profissionais, pois precisam ser utilizados de
maneira peculiar à clientela(19).
Concordamos como o defendido por autores(20) que afirmam que o que determina se
o ambiente físico desumaniza ou despersonaliza não é a mobília traduzida pela
presença dos equipamentos, organização dos espaços físicos ou a própria
tecnologia existente nele, mas como as interações dos profissionais se dão com
eles e por meio deles nos mais diferentes contextos do cliente, bem como os
significados e intenções que são atribuídos à tecnologia em si. Se for a favor
do humano terá resultado satisfatório, pois houve a inclusão do cliente nessa
realidade, o que é efetivo e positivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o objetivo proposto os fatores ambientais citados que interferem
na comunicação com idoso foram àqueles ligados aos ruídos e barulhos, ocupação
e organização do espaço, luminosidade, cores usadas, temperatura e ventilação e
condições higiênicas que garantam a segurança do cliente.
A realidade presente aos profissionais que estão inseridos nos serviços de
saúde é do enfrentamento do ambiente de trabalho com inúmeras possibilidades de
criar e recriar o cuidado tecnológico e humano com o idoso. Utilizar os fatores
ambientais como uma possibilidade efetiva de assistência é importante e real,
pois ela interfere no bem estar do idoso, na sua recuperação e no
relacionamento entre o binômio profissional-idoso; o resultado positivo ou não
dessa relação é dependente de como focamos e desejamos que a comunicação seja
estabelecida e mantida.
Este estudo avança no conhecimento da área de enfermagem uma vez que expõe a
percepção e a compreensão dos profissionais e graduandos de saúde do quanto os
aspectos ambientais podem ser usados como coadjuvantes no tratamento holístico
e integral do indivíduo. Aspecto esse defendido desde o primórdio da profissão
por Florence Nightingale, quando afirma que as condições e influências
externas, próprias do meio ambiente, afetam a vida e o desenvolvimento do
organismo, sendo capazes de anteceder, eliminar ou contribuir para a saúde.