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BrBRCVHe0034-71672012000400003

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variedadeBr
ano2012
fonteScielo

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Sobrevida de mulheres com câncer de mama, de uma cidade no sul do Brasil

INTRODUÇÃO Nos últimos anos a incidência de casos de câncer de mama tem aumentado notadamente no Brasil, e esse crescimento permanece apesar de um maior conhecimento dos fatores de risco, da ampliação dos serviços e de aparatos para diagnóstico dessa enfermidade.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é a segunda causa de morte entre as mulheres brasileiras, e a estimativa de casos novos da doença em nosso país para 2010, é de 49 a cada 100 mil mulheres. Na região sudeste, de acordo com esse Instituto esse tipo de câncer é o mais incidente na população feminina, em torno de 65/100 mil, seguidas das regiões sul (64/100 mil), centro-oeste (38/100 mil) e nordeste (30/100 mil), sendo que as suas taxas de mortalidade continuam elevadas. Muito provavelmente, pelo expressivo número de diagnósticos realizados em estádios avançados(1).

Autores têm demonstrado que um fator prognóstico importante para a sobrevida das mulheres é o estadiamento no momento do diagnóstico, associando os melhores padrões de sobrevida ao estadiamento inicial(2). Nessa mesma linha, para outros pesquisadores, o diagnóstico do câncer de mama em fases iniciais reduz o risco de morte de forma significativa. Ressaltam ainda que a sobrevida é um parâmetro importante para avaliar resultados na área oncológica, onde as taxas de mortalidade em séries históricas são de alta relevância analítica, sendo possível a análise estatística de sobrevida expressar a probabilidade de vida após um período determinado e revelar a qualidade dos serviços de saúde, como por exemplo, no caso do rastreamento precoce do câncer(3).

A análise de sobrevida, quando desenvolvida com base populacional, contribui para a descrição do comportamento da doença e dos fatores prognósticos a ela relacionados. Segundo os pesquisadores, este tipo de estudo permite ao profissional de saúde e ao paciente conhecer o comportamento da doença, possibilitando uma abordagem realista e que proporcione maior qualidade de vida aos indivíduos acometidos(4).

Considerando que os estudos confirmam a relevância de informações sobre a sobrevida das mulheres com câncer de mama enquanto indicador para servir de apoio, juntamente com outros indicadores na avaliação do impacto dos serviços de saúde, para o diagnóstico precoce e tratamento dessa enfermidade, e por identificar-se a necessidade de produzir indicadores que permitam conhecer a situação do câncer de mama em Joinville-SC, realizou-se por meio deste estudo a análise de sobrevida mediante o exame do indicador de sobrevivência das mulheres com câncer de mama nos estádios I, II, III e IV atendidas pelo Sistema Único de Saúde, no período compreendido entre 2000 e 2009.

MÉTODOS Realizou-se um estudo de coorte retrospectivo baseado em uma amostra constituída por mulheres que foram diagnosticadas com câncer de mama, no período compreendido entre 2000 e 2009, em uma Unidade de Especialidades Médicas do Sistema Único de Saúde em Joinville.

A Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que trata das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos norteou a coleta de dados e o anonimato das mulheres investigadas foi garantido (5).

Os dados coletados foram obtidos nos prontuários e atestados de óbito e foram inseridos em uma planilha Excel, desenhada para o estudo. O número de mulheres investigadas foi de 713; entretanto, foram excluídas 16 devido à ausência de dados no prontuário e 32 por terem sido categorizadas como estádio Tsi (carcinoma in situ). O universo da amostra deste estudo foi composto, portanto, por 655 (IC - 0,99, EA - 0,46) mulheres, em uma proporção estimada da amostra de 70%.

A partir do exame clínico, as mulheres foram estadiadas com base no sistema TNM proposto pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) em 1988(6). Quanto à classificação TNM foi considerado o tamanho do tumor: menor ou igual a 2cm (T1), 2 a 5cm (T2) e maior que 5cm (T3). O comprometimento dos linfonodos: N0 (sem comprometimento dos linfonodos), N1 (metástase em linfonodos axilares homolaterais móveis) e N2 (metástase em linfonodos axilares fixos uns aos outros ou a outras estruturas). E metástase classificada em: M0 (ausência de metástase à distância) e M1 (presença de metástase à distância) no diagnóstico da doença. Para a análise estatística do estadiamento foi utilizado o programa "R" e as variáveis quantitativas foram calculadas por meio de medidas de tendência central e dispersão.

O tempo de sobrevida foi definido como o período entre o diagnóstico de câncer de mama e a ocorrência de óbito. O evento de interesse foi o óbito atribuído apenas ao câncer de mama, segundo a declaração de óbito. Aplicou-se o método estatístico de Kaplan-Meier para obter a probabilidade de sobrevida estimada e a curva de sobrevida acumulada. Para a comparação entre a sobrevivência e distribuição da sobrevivência segundo os estádios foi utilizado o Teste de Log- rank. As probabilidades estimadas de sobrevivência para os diferentes estadiamentos foram traduzidas em anos decimais e sua distribuição foi apresentada por meio de curvas, com intervalo de confiança de 95. Para estimar os efeitos da idade e de cada estadiamento na sobrevida das pacientes utilizou- se o modelo de risco proporcional de Cox, sendo testadas as interações entre as variáveis, I-II, I-III e I-IV e os resultados foram expressos por meio da razão de risco entre elas, levando-se em conta o nível de significância estatística de 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO As informações da variável idade das mulheres pesquisadas, obtidas pela revisão dos prontuários, demonstraram que a população estudada possuía entre 21 e 90 anos e a média de idade de 55,09 anos ± 13,30. A maior parte das mulheres com câncer de mama encontrava-se na faixa etária de 40 a 50 anos (28%). Duas séries de casos demonstram esse perfil etário para o câncer de mama, onde a média de idade foi de 56 e 53,85 anos com desvio padrão de 16 e 13,06, respectivamente (7-8).

Com respeito aos estadiamentos, foram encontrados os percentuais de 20%, 48%, 27% e 5% concernentes aos estádios I, II, III e IV. Referente às mulheres investigadas, 32% possuíam a doença localmente avançada ou metastática. Um estudo de base hospitalar com 252 mulheres realizado em Santa Maria/RS mostrou que 26,6% da população pesquisada encontravam-se nos estádios clínicos III e IV (9). Outras três pesquisas encontraram percentuais de 13%, 23,6% e 11,2% (10- 12). Ao examinar em conjunto estes percentuais e os de Joinville, constata-se que no município os casos adiantados da doença são elevados, entretanto abaixo, por exemplo, do Estado de Santa Catarina e do Município de Juiz de Fora/MG que apresentam os percentuais de 35,7% e 34,7%, respectivamente(8,13).

Outro dado igualmente importante identificado em Joinville-SC é que, no primeiro qüinqüênio do estudo (2000-2004), o percentual de casos avançados era de 29,5%, ao passo que, no segundo (2005-2009), este percentual subiu para 33,9%. Este último dado mostra, no âmbito do setor público de saúde, indícios reveladores da capacidade dos serviços de ampliarem a detecção precoce do câncer de mama. A tendência observada neste estudo ao longo de 10 anos é que o percentual dos casos avançados do câncer de mama vem crescendo no município.

Tal tendência contraria os dados de um estudo que trata da evolução temporal dos estádios do câncer de mama em mulheres residentes em Goiânia-GO, no período entre 1989 e 2003, que revela um aumento dos casos de carcinoma in situ e de carcinomas invasores localizados somente na mama em detrimento de uma redução de 17,7% dos casos avançados no ultimo período investigado(7).

Aqui, é necessário chamar a atenção para algumas pesquisas que tratam do rastreamento populacional para o diagnóstico precoce do câncer de mama - por meio da mamografia - realizado em três países, Estados Unidos, Suíça e Alemanha (14-16). Tais estudos revelam um impacto considerável sobre a diminuição do número de mulheres com diagnóstico de estádio avançado, com conseqüente aumento de sobrevida dessas mulheres.

Na tabela_2 constata-se que a sobrevivência das mulheres segundo o estadiamento resultou ser significativamente diferente de acordo com os resultados do teste de log rank, cuja probabilidade (p) esteve abaixo do nível crítico aceitável α = 0,05. O tempo de sobrevida foi superior para o estádio I com uma probabilidade de sobrevida mediana maior do que 120 meses. Para o estádio II o tempo mediano de sobrevida foi de 118 meses. Nos casos dos estádios III e IV a sobrevivência foi menor. O estádio III e IV obtiveram um tempo mediano de sobrevida de 51,26 ± 2,38 e 29,05 ± 2,23 meses, respectivamente.

Um conjunto de estudos corrobora os achados desta pesquisa, mostrando que o estadiamento avançado da doença se encontra associado a uma pior sobrevida por câncer de mama(4,7,13,17).

A sobrevida global em Joinville-SC obtida pela estimativa de Kaplan-Meier foi de 57,8% ao final do período de 10 anos, enquanto que, em cinco anos, a sobrevida estimada foi de 78,6%. A comparação dos percentuais de sobrevida encontrados em outros dois estudos mostra que a sobrevida em 5 anos no município de Joinville-SC é inferior àquela observada no estudo de mulheres com câncer de mama do Hospital Universitário de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que identificou um percentual global de sobrevida de 87,7%. Entretanto, é superior à encontrada numa coorte retrospectiva de base hospitalar com mulheres de New South Wales que identificou 76%. Com relação a 10 anos, ambas pesquisas revelam percentuais de sobrevida acima de Joinville-SC, àquele mostra o percentual de 78,7%, ao passo que esta exibe em seus achados o percentual de 65%(9,18).

Estratificando-se as pacientes de acordo com os estádios constatamos diferenças significativas de sobrevivência entre elas de acordo com o valor estatístico do Teste de Log-rank que foi de 7,81, com grau de liberdade três e valor de p associado de 0,0001. A probabilidade de sobrevida para os estádios I, II, III e IV foi de 94%, 66%, 41% e 0%, respectivamente, ao final do período de 10 anos, enquanto que em cinco os percentuais apontam para 97%, 88%, 51% e 17%.

Constata-se uma queda acentuada das probabilidades de sobrevida do estádio III e IV quando comparadas aos estádios I e II.

Três estudos que apresentam a sobrevida das mulheres com câncer de mama segundo os estádios permitem a confrontação com a situação encontrada em Joinville. O primeiro, realizado no Hospital Universitário de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, mostra os seguintes percentuais de sobrevida em cinco anos para as pacientes nos estádios I, II, III, e IV: 97%, 93%, 73% e 57%, respectivamente (9). O segundo, que trata de uma coorte de base hospitalar com pacientes do sexo feminino, em Juiz de Fora-MG, indica as porcentagens de 92,7%, 88,3%, 67%, 54% para os estádios acima referidos(13). A comparação dos percentuais dos estádios II, III e IV desses dois estudos mostra que estes são superiores aos percentuais encontrados em Joinville-SC. Por último, comparando-se com um terceiro estudo, realizado na Irlanda com os percentuais de 91%, 83%, 72% e 11% (17), constata-se que as mulheres em Joinville-SC, tiveram uma sobrevida superior àquelas nos estádios I, II e IV. Entretanto, para as mulheres no estádio III a sobrevida foi inferior.

Em relação ao modelo de riscos proporcionais de Cox para a variável estádio, observou-se que a hazard risco instantâneo de morte das mulheres em Joinville nos estádios II, III e IV em relação ao estádio I foi maior em 3,26 (IC95%: 1,29-8,22; Teste Log-rank, p=0,012) para o II; 15,40 (IC95%: 6,22-38,12; Teste Log-rank, p=0,0001) para o estádio III; e 25,51 (IC95%: 9,64-67,51; Teste Log- rank, p=0,0001) para o estádio IV.

Uma série de casos que investiga a proporcionalidade do risco de morte por câncer de mama segundo o estádio revela menores índices de risco em relação aos encontrados em Joinville. Essa série mostra que o risco de óbito das mulheres em estádio III é 7,18 vezes maior, e as em estádio IV o risco é de 19,49 vezes maior que as em estádio I(8). Ao comparar os resultados de Joinville com essa série observa-se que as mulheres no estádio III tiveram 8,22 e as em estádio IV, 6,02 vezes menos risco de morte em relação às mulheres de Joinville-SC Em se tratando da variável idade, o modelo de risco proporcional de Cox demonstrou que não houve significância estatística na curva de sobrevida para as diferentes idades consideradas, dado que o valor estatístico do Teste Log- rank foi de 0,58 e o valor de p associado foi de 0,4461. Corroborando, desta forma, uma coorte histórica de 10 anos de seguimento de mulheres com câncer de mama pelo serviço de oncologia do Hospital Geral da Cidade do México, que indica que a idade não é um fator prognóstico significativo para a determinação da sobrevida(19). Entretanto, discorda de outros estudos que apontam a influência da idade para o prognóstico de sobrevida. Segundo estas investigações, as mulheres com 40 a 50 anos apresentam melhor prognóstico quando comparadas às mais jovens(8,20).

CONCLUSÕES Os achados deste estudo encontram-se em consonância com os dados da literatura, apontando que o estadiamento do câncer de mama é uma variável importante que explica as disparidades na sobrevivência entre as mulheres portadoras desse agravo.

Os resultados mostraram, no âmbito do setor de Saúde em Joinville-SC, a problemática condição de saúde das mulheres com câncer de mama no município. A expressiva incidência de casos avançados reforça a necessidade de implantar medidas para detecção do câncer de mama em estádios os mais precoces possíveis, como forma de diminuir a mortalidade e aumentar a qualidade de vida das mulheres acometidas por esta doença.

Por fim, por se tratar de um problema que em Joinville-SC tem uma magnitude importante, seria notável e desejável que fossem realizados estudos que aprofundassem a análise com maior precisão de outros fatores que poderiam estar contribuindo para a diminuição importante de sobrevida observada neste estudo.

As possibilidades de análise estão, portanto, totalmente abertas.


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