Caracterização da violência física sofrida por prostitutas do interior
piauiense
INTRODUÇÃO
Entre as atividades comerciais mais antigas da história da humanidade está a
prostituição, considerada, por alguns estudiosos, como a mais anosa. O
exercício do meretrício consiste em prática sexual remunerada, a qual,
geralmente, não requer a existência de vínculo afetivo entre as pessoas que a
realizam, ou seja, há uma troca de prazeres sexuais por bens materiais.
Na antiguidade, a prostituição configurava uma espécie de ritual de iniciação
de meninas quando atingiam a puberdade e, em algumas civilizações, as
prostitutas recebiam honras e presentes em troca de favores sexuais(1).
A prostituição constitui-se, pois, em uma prática milenar que tradicionalmente
tem subvertido o exercício 'controlado' da sexualidade via instituições
sociais. Tentativas de controle foram implementadas no passado, variando da
satanização, isto é, o controle exercido pela instituição religiosa, passando
pela proibição expressa em códigos civis, e chegando, no Brasil, à demanda pela
sua legalização, como atividade profissional(2).
Para se chegar ao exercício do trabalho sexual existem diversas circunstâncias,
entre elas o fator econômico que se relaciona com: serem mulheres separadas e
donas de casa; que tenham sido mães sem um companheiro estável ou sem apoio
econômico do pai de seus filhos; ou que necessitem de renda para custeio de
cursos universitários. Ou seja, estas mulheres se sentem responsáveis pela
sobrevivência da família e delas mesmas(3). Outras causas são: a necessidade e
a luta pela sobrevivência nos grandes centros urbanos, uma forma aparentemente
mais fácil de sobreviver; o baixo nível de escolaridade, com dificuldade de
ascensão por outros serviços; bem como pela constante necessidade de obtenção
material, mesmo em condição financeira estável, e busca por experiências
exitosas(4).
Ademais, é perceptível também que essas mulheres constituem um grupo que vive,
secularmente, à margem da sociedade, sendo estigmatizadas e vítimas constante
de violência, seja ela física, psicológica ou sexual. Tais agressões podem ser
afirmadas pela tamanha exposição das prostitutas; atuação das mesmas em
ambientes inseguros; ou ainda pela sensação do cliente de poder sobre o corpo
dessas mulheres, visto a realização do pagamento pela prática sexual. Em termos
gerais, a violência contra a mulher é um fenômeno universal que atinge todas as
etnias, religiões e culturas, ocorrendo em populações de diferentes níveis de
desenvolvimento econômico e social, sem excluir as prostitutas(5).
Com isso, define-se violência como o uso de palavras ou ações que machucam as
pessoas ou que provoque a ruptura de qualquer forma de integridade do indivíduo
abordado, podendo ser categorizada em violência psicológica, caracterizada por
atos de constrangimentos, ofensas, e/ou coações; violência sexual, quando a
vítima é obrigada a satisfazer os desejos sexuais do agressor; e violência
física, marcada pela presença de ações que atingem o corpo da vítima. No
Brasil, as mulheres tem sido as principais vítimas dessas formas de violência,
e ao longo do século XX estas adquiriram várias designações: nos anos 50, como
violência intrafamiliar; seguida de violência contra a mulher na década de 70;
como violência doméstica em 1980; e a partir de 1990, como violência de gênero
(6-7).
No Brasil, a agressão à mulher é considerado um problema de Saúde Pública, pois
gera grande impacto na vida do indivíduo e coletividade, representando uma das
causas freqüentes de morbimortalidade das vítimas. E em virtude dessa realidade
em âmbito nacional, foi sancionada, em 07 de agosto de 2006, a Lei nº 11.340,
conhecida como Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, e dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher(8).
Segundo o Ministério da Saúde, o atendimento à mulher vítima de violência nos
serviços de saúde deve incluir entrevista, registro da história da agressão,
exame clínico e ginecológico, exames complementares e acompanhamento
psicológico, bem como, e se necessário, a realização da anticoncepção de
emergência, devendo ser explicado o que será realizado em cada etapa do
atendimento e a importância de cada medida. Deve-se ainda respeitar a autonomia
e o sigilo da vítima, acatando à eventual recusa de algum procedimento. E nos
casos de gravidez, suspeita ou confirmada, deve-se considerar o desejo ou não
da interrupção da mesma(5).
Com isso, para promover ações e compromissos para prevenção da violência, os
profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, devem atuar principalmente
na atenção básica, com o intuito de promover reflexões acerca de crenças, tabus
e valores culturais que envolvam os papéis de gênero e poder na família; buscar
a deslegitimação institucional e/ou social da violência; promover modelos de
não violência; valorizar o papel ativo da comunidade na resolução não violenta
de conflitos; buscar a adoção e respeito à legislação internacional de direitos
humanos; e favorecer o acesso a serviços adequados e apoio institucional às
famílias e pessoas vulneráveis à situação de violência(9).
Em face de todo o exposto e considerando-se, pois, a violência contra a mulher
como problema de Saúde Pública, objetivou-se realizar um estudo que permitisse
conhecer a realidade das prostitutas da cidade de Picos-PI, a fim de
caracterizar a violência física sofrida por essas prostitutas, bem como
identificar a prevalência deste agravo.
REVISÃO DA LITERATURA
Em pesquisa realizada com os descritores: violência contra a mulher, saúde da
mulher, prostituição e enfermagem, nas bases de dados SciELO, LILACS, BDENF e
Pubmed, foi possível encontrar trabalhos que tratam de agressões contra a
mulher em seus diversos aspectos, pois é fundamental rever conceitos e
discussões acerca do assunto tratado, a fim de tornar prática as políticas que
contemplam a saúde da mesma.
Em nível mundial, um estudo realizado em 15 cidades de 10 países entrevistou
24.097 mulheres a respeito de violências física e sexual praticadas por
parceiro íntimo. A prevalência de violência física, ao menos uma vez na vida,
variou de 13%, em uma cidade do Japão; até 61%, na província do Peru; nas
demais cidades a média foi ente 23% a 49%(10).
Os casos de violência contra a mulher, em âmbito nacional, tinham como base,
até 2002, o Programa Nacional de Combate à Violência contra a Mulher, que era
gerenciado pela Secretaria de Estado de Direitos da Mulher (SEDIM), do Governo
Federal. O mesmo apoiava a construção de Casas Abrigo e a criação de Delegacias
Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM).
No ano de 2003, com a criação da Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres (SPM) tornou-se necessária a formulação da Política Nacional de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, redirecionando, assim, as ações
do programa. E com a realização da I Conferência Nacional de Políticas para as
Mulheres, em 2004, houve uma reafirmação da política, o que levou ao
estabelecimento do enfrentamento de todas as formas de violência contra as
mulheres.
Em estudo realizado no estado de São Paulo e na Zona da Mata Pernambucana
(ZMP), foram entrevistadas, na primeira, 940 mulheres e, na segunda localidade,
1.188, que tiveram ao menos um parceiro íntimo na vida. Em São Paulo, a
prevalência de violência física e/ou sexual durante a vida foi de 28,9%, e na
ZMP, 36,9%(11). E um centro de saúde distrital de Ribeirão Preto (SP), em
entrevistas com 265 mulheres, que tinham, em média, 34,6 anos de idade, 26,4%
delas, alguma vez na vida, foram vítimas de violência física. Destas 40%
relataram que a violência ocorreu nos últimos 12 meses(12).
Em estudo desenvolvido com 40 prostitutas do município de Sobral (CE), 13 (62%)
disseram que sofreram, às vezes, atitudes violentas e 8 (38%) afirmaram que são
violentadas sempre, com ocorrência de violência física em 12 (30%), sexual em 5
(12,5%) e psicológica em 4 (10%) das mulheres(13).
Diante dos elevados números, a violência contra a mulher constitui também sério
problema de Saúde Pública por gerar forte impacto sobre a saúde física, mental,
e sobre o bem-estar, das mulheres, dos filhos e demais membros da família(5).
Logo, é perceptível que é difícil resolver um problema somente na sua
singularidade ou no nível da atenção básica. Prontamente, os casos de violência
contra a mulher exigem abordagem e intervenção interdisciplinares e
intersetoriais, o que torna necessária a discussão da questão tratada no
cotidiano dos serviços de saúde, a definição de prioridades para capacitar os
profissionais e o estabelecimento de parcerias com outros serviços(14).
METODOLOGIA
Trata-se de estudo do tipo descritivo-exploratório, com abordagem quantitativa.
O público-alvo para a investigação do estudo foram prostitutas cadastradas na
Associação das Profissionais do Sexo do município de Picos-PI (APROSEP), que
possui 450 mulheres associadas, distribuídas em 850 pontos de prostituição
catalogados pela associação.
A APROSEP foi fundada em 2004 com a finalidade de obtenção de melhor qualidade
de vida e de trabalho para as prostitutas. Os critérios de inclusão consistiam
em ser prostitutas em exercício na cidade de Picos-PI, estar associada à
APROSEP, estar disponível para participar da pesquisa no momento da
investigação e ter idade acima dos 18 anos. Como critérios de exclusão, foram
definidos: ser portadora de algum tipo de distúrbio mental e está em uso de
substâncias alucinógenas ou em exercício da atividade profissional no momento
da entrevista.
O total de participantes do estudo que contemplou os critérios de inclusão foi
76 prostitutas. Para a coleta de dados foi utilizado um formulário estruturado
elaborado com base na ficha de notificação compulsória de violência doméstica,
sexual e/ou outras violências, do Ministério da Saúde, adaptado para os
objetivos do estudo. A aplicação do mesmo foi realizada nas zonas de
prostituição, bem como na APROSEP, que se localiza próximo aos prostíbulos. O
período de coleta de dados foi de setembro a outubro de 2010. Os dados
encontrados foram tabulados no Microsoft Excel, e analisados pelo programa
estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 17.0.
O estudo foi submetido, inicialmente, ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Piauí (UFPI), a fim de contemplar as diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, propostas pela
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado sob Parecer nº
0176.0.045.00-10.
RESULTADOS
O presente estudo contou com a participação de 76 prostitutas cadastradas na
APROSEP. As características sociodemográficas, como idade, escolaridade, renda
e tempo de prostituição foram dispostas na tabela_1.
![](/img/revistas/reben/v65n6/a15tab01.jpg)
Conforme percebeu-se, a maioria das entrevistadas apresentava idade até 30
anos, o que denota uma população jovem, em plena capacidade laboral, vivendo da
prostituição. Em sua maioria, as mulheres participantes da investigação
possuíam escolaridade superior a 8 anos de estudo e renda individual mensal até
1 salário mínimo, com até 2 anos de exercício do meretrício.
Os dados concernentes à prevalência da violência na história de vida das
entrevistadas, bem como as informações sobre os episódios do tipo de violência
sofrida foram dispostos na tabela_2.
[/img/revistas/reben/v65n6/a15tab02.jpg]
A prevalência do agravo violência na história de vida das prostitutas foi
considerada elevada, 40,8%, fato que pode repercutir na saúde mental, física e
sexual das mesmas. As prostitutas estão mais sujeitas a sofrer violência por
estarem expostas em lugares determinantes de atos violentos, onde podem ser
vítimas de agressões verbais e físicas, tanto por parte de cidadãos comuns como
de agentes policiais(13).
Com relação à caracterização da violência física sofrida pelas prostitutas,
dados como local, agressor e atendimento especializado são relevantes de serem
identificados a fim de facilitar a elaboração de estratégias de prevenção de
agravos a essa população. Os mesmos foram dispostos na tabela_3.
[/img/revistas/reben/v65n6/a15tab03.jpg]
Na trajetória de vida das prostitutas observa-se que, quando crianças,
geralmente, são abusadas pelos pais ou parentes mais próximos; quando maiores,
por seus parceiros, e em exercício da profissão, por seus clientes e
empregadores(3).
Como identificado, as prostitutas são vítimas de diversos tipos de violência,
tendo como agressor principal os próprios conhecidos. No entanto, os dados
revelam que estes não são os únicos agressores, tendo em vista que essas
mulheres ainda são vítimas do preconceito pela sociedade, em virtude da
atividade que exercem.
DISCUSSÃO
Observou-se no estudo uma frequência considerável de mulheres jovens, pois 50
(65,8%) tinham até 30 anos. Em estudo realizado com 42 prostitutas em Fortaleza
(CE), a faixa etária manteve-se entre 18 e 58 anos, sendo comum a existência de
adolescentes (11 ' 26,2%) trabalhando nas ruas(15). Percebe-se, dessa forma,
que a prática do meretrício ainda atrai mulheres jovens, principalmente pela
beleza e juventude peculiar a essa fase da vida.
No que concerne ao nível escolar dessas mulheres, o mesmo pode ter associação
com o início da prática do meretrício ou às dificuldades encontradas para
continuarem os estudos quando ingressam nesse mercado de trabalho. O presente
estudo mostrou uma baixa escolaridade, com prevalência de até 11 anos de
estudo, dados semelhantes a outra pesquisa realizada com 40 prostitutas de
Sobral (CE), que apresentou 22 (67%) mulheres com seis a onze anos de estudo
(13).
A prática do meretrício tem como uma das causas de ingresso as condições
socioeconômicas, que podem levar algumas mulheres à prática duradoura de tal
ofício. No entanto, percebe-se que nem sempre as condições de saúde e de vida,
bem como financeira, melhoram. A prostituição é tida pelas prostitutas como uma
profissão perigosa, mas de fácil exercício, pois ganha-se dinheiro sem muito
esforço, sendo bem mais lucrativa que outras profissões que requerem baixa
qualificação(2).
Quanto ao tempo de exercício do meretrício, metade da amostra estudada tinha
acima de 2 anos de exercício da prostituição, com relato de até 34 anos, o que
mostra ser difícil sair do meretrício, principalmente devido às baixas
condições socioeconômicas. Estudo realizado em Fortaleza (CE), com 81
prostitutas, revelou que 35 (43,2%) mulheres estavam em atuação por um período
de um a cinco anos, enquanto as demais, entre seis até mais de 30 anos,
configurando uma longa permanência na prostituição(16).
A partir da análise dos dados sobre a violência vivenciada pelas prostitutas,
pode-se observar que quase metade das mulheres entrevistadas, 31 (40,8%),
afirmou ter sido vítima de algum tipo de agressão nos mais diversos ambientes.
Estes resultados são compatíveis com os encontrados em outra pesquisa, na qual
20 (47,6%) prostitutas foram vítimas de algum tipo de violência no domicílio,
enquanto 17 (40,5%) delas vivenciaram tal situação em ambiente de trabalho(15).
Percebe-se que as prostitutas podem ser vítimas de violência física, sexual e
psicológica. No primeiro tipo, elas podem ser agredidas fisicamente por seu
agressor com empurrões, espancamentos, queimaduras, uso de armas, dentre
outras. Na violência sexual, são obrigadas ou ameaçadas a ter relação sexual
contra sua vontade, bem como há imposição da prática de sexo anal ou oral sem o
uso de camisinha. Já na violência psicológica, são vítimas de ameaças, gritos,
humilhações e insultos(13).
As prostitutas entrevistadas relataram que existe uma rejeição de vizinhos,
familiares e amigos devido ao trabalho que exercem, o que as envergonha de seu
ofício. Isso pode resultar no aparecimento de sintomas de depressão, expressado
pelo alto consumo de álcool e drogas, e pelo isolamento(3). Quanto ao tipo de
violência, percebeu-se predominância da agressão psicológica, 26 (60,5%),
seguida da violência física, 13 (30,2%). O número de episódios mais frequentes
foi mais de quatro agressões psicológicas, 20 (46,5%). Em contrapartida, estudo
desenvolvido por outros pesquisadores evidenciou a agressão física como a mais
prevalente, 12 (30%)(13).
Quando indagadas em relação ao último episódio de agressão sofrida, a violência
psicológica, isoladamente, foi a mais predominante, com 19 (61,3%) relatos,
seguida de violência física, com 7 (22,6%). Cabe ressaltar que 4 (12,9%)
mulheres relataram que no último episódio foram vítimas de duas ou três
agressões diferentes, totalizando 36 agressões sofridas nas 31 mulheres vítimas
de violência.
Ao adentrar no âmbito da violência física, foco do presente estudo, notou-se
que as agressões ocorreram mais prevalentemente no município de Picos-PI, com
11 (100%) relatos, já que esta é a cidade de trabalho das mulheres
entrevistadas. O local mais comum foi a via pública, 6 (54,5%), sendo a força
corporal/espancamento, a forma de agressão mais prevalente.
Quanto ao perfil do agressor, esses eram conhecidos das prostitutas, como ex-
namorados, atuais parceiros ou mesmo amigos. O número predominante de
agressores envolvidos nos episódios de violência física era somente um, sendo
em sua maioria homens, que faziam uso de álcool e/ou outras drogas.
Pesquisas mostram que os agressores geralmente são conhecidos das vítimas.
Estudo realizado em um núcleo de atendimento imediato à vítima de violência
sexual de Sorocaba (SP), com 937 fichas de notificação, evidenciou que em 700
(76%) os agressores eram identificáveis pelas vítimas(17). Estudo revelou que
nos ambientes domésticos e laborais, as prostitutas foram violentadas,
respectivamente, por ex-companheiros, 12 (60%), e por clientes, 6 (35,3%)(14).
E no que concerne à violência conjugal, esta reflete uma concepção social de
gênero, na qual o homem prevalece em posição superior à ocupada pela mulher,
esperando sua subserviência e subordinação(18).
Ainda durante a investigação, as prostitutas vítimas de violência física foram
questionadas quanto à procura por algum serviço, e somente 2 (18,1%) buscaram
por este, sendo 1 (50%) Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, e 1
(50%) outras delegacias. Constata-se a infreqüente denúncia da violência
sofrida por este grupo de mulheres, que, talvez, por sentirem-se excluídas
socialmente, sentem-se também excluídas de serem merecedoras do direito de
denunciarem uma agressão sofrida(19).
No Brasil, existem atualmente diversos serviços especializa-dos no atendimento
de vítimas de violência, são eles: Delegacias Especializadas de Atendimento à
Mulher (DEAM), Centros de Referência de Atendimento às Mulheres em Situação de
Violência, Defensorias Públicas da Mulher, Casas Abrigo, Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, bem como Centros de Referência de
Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência Especializados de Assistência
Social (CREAS)(20).
Em relação ao tempo de procura pelo serviço, 1 (50%) entrevistada levou menos
de 24 horas para efetivar a denúncia, e 1 (50%), um dia. O atendimento prestado
foi somente a notificação da agressão sofrida. Tais achados vão ao encontro de
uma pesquisa que revelou que depois de violentadas, 10 (25%) prostitutas
entrevistadas não tomaram nenhuma atitude, 7 (17,5%) revidaram com violência
física e 4 (10%) fugiram do agressor(13).
Dentre as consequências sofridas, esteve mais prevalente a variável lesões
físicas, 5 (45,4%), enquadrado nesta categoria hematomas e arranhões conforme
respondido pelas entrevistadas. Foi comum também a não existência de
consequências após a agressão, 4 (36,4%). No entanto, sabe-se que as formas de
violência cometidas às prostitutas, consequentemente, causam-lhes danos à
saúde, trazendo sequelas físicas e mentais(13).
Em suma, como observado pelo estudo, a situação das prostitutas atuantes no
município de Picos-PI é repleta de riscos e vulnerabilidades, entre eles a
violência. Assim, torna-se necessário implementar os direitos dessas mulheres
vítimas de violência, independente de questões sociais e culturais, bem como
estimular a participação das mesmas na promoção de uma cultura de paz e na
denúncia de seus agressores.
CONCLUSÕES
Tendo em vista o objetivo proposto no início da pesquisa, os resultados foram
esclarecedores e levaram a afirmar que é comum a ocorrência de violência em
mulheres prostitutas, já que trabalham em lugares determinantes de atos
violentos. No entanto, vale ressaltar que embora a violência física esteja
presente na realidade de parte dessas mulheres, a mesma não se configurou como
prevalente, pois atos de constrangimentos, ofensas e insultos foram os mais
relatados pelas vítimas.
Observou-se que as prostitutas eram solteiras, pertenciam a um grupo
socioeconômico desfavorável e possuíam baixo nível de escolaridade, o que
dificultava a inserção das mesmas em outras atividades comerciais.
Notou-se também que essas mulheres estão sujeitas à violência, seja por seus
clientes, que entendem que o pagamento lhes confere poderes, até mesmo para
agredi-las, bem como pela sociedade, que as marginalizam como sendo pessoas não
dignas de direitos. Cabe ressaltar como fator preocupante a pouca procura,
enquanto vítimas de violência, pelos serviços jurídico, policial e de saúde,
seja por medo da recidiva das agressões ou pela vergonha. Sendo assim, torna-se
imprescindível a divulgação das ações de apoio realizadas por esses órgãos, a
fim de que as prostitutas exercitem seus direitos.
Assim, torna-se necessário implementar os direitos dessas mulheres vítimas de
violência, independente de questões sociais e culturais, bem como estimular a
participação das mesmas na promoção de uma cultura de paz e na denúncia de seus
agressores. Diante disso, torna-se fundamental a elaboração de projetos com
vistas à prevenção da violência e promoção da saúde neste grupo de mulheres,
bem como capacitações que permitam aos profissionais de saúde, principalmente
aos enfermeiros, estarem mais sensibilizados e preparados a atendê-las enquanto
cidadãs merecedoras de direitos e vítimas sociais.