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BrBRCVHe0034-71672013000200006

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variedadeBr
ano2013
fonteScielo

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Diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação em unidade de alojamento conjunto

INTRODUÇÃO O leite materno é o alimento essencial e mais completo para a criança, pois é o único que oferece substâncias e nutrientes que esta precisa para crescer e se desenvolver com saúde. O tempo preconizado para o Aleitamento Materno Exclusivo (AME) é de seis meses, podendo se prolongar até dois anos junto com outros alimentos(1).

Essa prática possui importância fundamental para a saúde da criança, que apresenta valores nutricionais e imunológicos ao crescimento e desenvolvimento infantil, oferecendo também benefícios psicológicos para o binômio mãe-filho, auxiliando na formação do vínculo afetivo entre ambos(2).

Ademais, o aleitamento materno também apresenta vantagens para a mulher, pois auxilia no fortalecimento do vínculo afetivo com o bebê, ajuda na involução uterina, atua na diminuição do risco de hemorragia, contribui ainda para o retorno ao peso anterior ao da gestação, além de auxiliar no intervalo entre as gestações(1).

Para a criança, são muitas as vantagens da amamentação, pois recebe alimento completo, sem necessidade de qualquer acréscimo até os seis meses de idade, além de ajudar na excreção do mecônio e de conferir proteção contra infecções (1). É válido ressaltar que o aleitamento materno tem fundamental importância na promoção do contato entre mãe e filho, fortalecendo, assim, o vínculo entre ambos(3).

Diante disso, os enfermeiros devem incentivar o aleitamento materno e apoiar as mães para iniciá-lo o mais precocemente, auxiliando-as a adquirir autoconfiança em seu potencial para amamentar o filho(4).

Tendo em vista que a Enfermagem presta assistência juntamente a uma equipe multidisciplinar que se encontra capacitada para desenvolver a atenção humanizada ao binômio mãe-filho, torna-se significante o incentivo ao aleitamento materno, com vistas ao melhor desenvolvimento da criança e a promoção do apego eficaz.

Devido ao número insuficiente de enfermeiros, ou ao excesso de atividades administrativas, ocorrem lacunas na assistência ao binômio mãe-filho, que podem resultar em uma atuação pouco expressiva ou ausente do enfermeiro na assistência ao aleitamento materno durante o pós-parto(5). Contudo, as ações de enfermagem relacionadas ao aleitamento materno devem ser direcionadas e efetivas. Estas podem ser realizadas por intermédio da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) ou do Processo de Enfermagem (PE).

A Sistematização da Assistência de Enfermagem é relevante para a coordenação das atividades do enfermeiro, sendo útil tanto nas tarefas administrativas quanto nas assistenciais, dinamizando as ações de enfermagem. O Processo de Enfermagem (PE) auxilia o enfermeiro na organização e sistematização da prática de enfermagem, intensificando a valorização e o reconhecimento da enfermagem enquanto ciência(5-6).

Destaca-se que a insuficiente utilização de uma linguagem universal para descrever a prática profissional tem comprometido o desenvolvimento da Enfermagem como ciência(7). Neste sentido, observa-se a relevância da padronização da assistência de enfermagem por meio do Processo de Enfermagem.

A responsabilidade de cuidar em enfermagem exige que as decisões sobre as intervenções propostas sejam fundamentadas na avaliação do estado de saúde do indivíduo. Para tanto, esta avaliação requer a adoção do diagnóstico de enfermagem como referência para que ações de enfermagem sejam executadas(8). A assistência sistematizada representa uma opção adequada, pois oportuniza um cuidado mais individualizado, segundo as necessidades do cliente(9).

A NANDA Internacional (NANDA-I) define diagnóstico de enfermagem como o "julgamento clínico das respostas do indivíduo, da família ou comunidade a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais, proporcionando base para a seleção de intervenções de enfermagem para atingir resultados pela quais o enfermeiro é responsável"(10).

O diagnóstico de enfermagem é útil para estruturar o conhecimento da Enfermagem, direcionar a necessidade de cuidados do paciente e definir o papel do enfermeiro. A atividade diagnóstica aproxima o enfermeiro de seus clientes, facilitando, assim, o desenvolvimento de sua assistência, ao mesmo tempo em que se constitui em um instrumento facilitador das ações de enfermagem, uma vez que apontam as devidas intervenções de acordo com a necessidade do paciente(8-11).

Assim, ressalta-se que a promoção da qualidade da assistência de enfermagem, através dos DE, compromete toda a equipe de enfermagem, que deverá empenhar-se com o objetivo de atender às necessidades dos pacientes, possibilitando a implementação de intervenções sistematizadas, contribuindo para melhoria da assistência(12-13).

O interesse em desenvolver um estudo que permitisse a identificação de diagnósticos de enfermagem relacionados ao aleitamento materno no alojamento conjunto deu-se em razão importância da sistematização do cuidar durante o processo de amamentação, uma vez que a amamentação constitui-se num processo complexo de interação mãe e filho.

Os diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação, de acordo com a taxonomia II da NANDA-I (2009-2011) são: amamentação eficaz, amamentação ineficaz, amamentação interrompida. Na estrutura da taxonomia II da NANDA-I, os diagnósticos supracitados são categorizados como Diagnósticos Reais pertencentes ao Domínio 7: Papéis e relacionamentos; Classe 3: Desempenho de papéis(10).

Amamentação eficaz é definida como a adequada proficiência e satisfação com o processo de amamentação para o binômio mãe-filho. Amamentação ineficaz representa a insatisfação ou dificuldade que a mãe, bebê ou criança experimenta com o processo de amamentação. Amamentação interrompida consiste na quebra do processo de amamentação como resultado de incapacidade ou inconveniência de colocar a criança no peito para mamar(10).

Para o processo de julgamento clínico dos diagnósticos reais, faz-se necessário a interpretação da definição do enunciado diagnóstico, características definidoras e fatores relacionados, uma vez que o enfermeiro deve se preocupar com a existência de riscos à exatidão das interpretações(10).

O enunciado e definição diagnóstica oferecem uma descrição clara e exata do enunciado que ajuda ao enfermeiro distinguir de outros diagnósticos similares.

As características definidoras são indícios/inferências passíveis de observação, agrupadas como manifestações clínicas de todos os Diagnósticos Reais, ou seja, da situação diagnóstica (Ex: sucção no peito regular). Os fatores relacionados mostram uma relação padronizada com o diagnóstico de enfermagem, e estes geram a elaboração das intervenções de enfermagem individualizadas (Ex: estrutura oral da criança normal) (10).

Diante do exposto, percebeu-se a necessidade da identificação dos DE relacionados ao aleitamento materno na unidade de Alojamento Conjunto (AC), uma vez que este estudo pode contribuir para a elaboração de uma assistência individualizada de acordo com as necessidades da mãe e filho. Objetivou-se identificar os diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação em recém- nascidos de uma unidade de Alojamento Conjunto, de acordo com a taxonomia II da NANDA-I(10).

METODOLOGIA Trata-se de pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem quantitativa, desenvolvida em uma Unidade de Alojamento Conjunto (AC), de um hospital público estadual, em Fortaleza-CE, credenciado pelo Sistema Único de Saúde, que tem o título de Hospital Amigo da Criança.

A Unidade de Alojamento Conjunto é uma unidade com enfermarias com dois ou quatro leitos, com pias, bancada para higienização dos recém-nascidos.

Atualmente, encontram-se credenciados 32 leitos. Prestam assistência por turno um Enfermeiro e um Técnico de Enfermagem para cada 15 recém-nascidos. Sessões de orientação sobre aleitamento materno são oferecidas diariamente pelos membros da equipe de enfermagem.

A população foi composta por 240 mães com bebês admitidas no AC. A amostragem, por conveniência, incluiu 83 mães, admitidas no AC, de acordo com a demanda do serviço, no período de fevereiro a abril de 2011, e que se encontravam com os filhos no processo de amamentação. Foram excluídas mães portadoras de HIV, recém-nascidos com idade gestacional menor do que 35 semanas e mães portadoras de distúrbios psiquiátricos.

As mães foram contatadas no AC pela pesquisadora e convidadas a participarem do estudo. Utilizou-se para a coleta de dados formulário semiestruturado, fundamentado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta(14), que serviu de roteiro para realização da anamnese e do exame físico da puérpera e do recém-nascido (RN). A partir dos dados coletados, realizou-se o julgamento clínico para a identificação dos diagnósticos de enfermagem relacionados com a Amamentação, bem como os fatores relacionados e características definidoras, baseando-se na taxonomia II da NANDA-I(10).

Atualmente, o sistema de classificação de Diagnósticos de Enfermagem, da Taxonomia II, da NANDA-I (10), tem sido o mais utilizado na prática clínica hospitalar, uma vez que proporciona a base para seleção de intervenções de enfermagem para alcançar resultados pelos quais a enfermeira é responsável.

A pesquisa foi desenvolvida em consonância com a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde que discorre sobre a pesquisa envolvendo seres humanos, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, conforme número 091202/10. Cada participante assinou um Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), sendo informado acerca da garantia do sigilo que assegurava a privacidade quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa.

Após identificação dos DE, os dados foram organizados e apresentados em tabelas com frequência absoluta e percentual, e discutidos conforme literatura pertinente ao tema.

RESULTADOS

Tabela 1 - Descrição das características das puérperas de uma unidade de Alojamento Conjunto. Fortaleza, CE, 2011.

A amostra foi composta de 83 mães, com predominância na faixa etária de 20 a 34 anos, representando 47 (56,6%), seguido da faixa etária de 14 a 19 anos, com 25 (30,2%), a faixa etária acima de 35 anos esteve entre 11 (13,2 %) mães participantes do estudo. A escolaridade foi diversificada, predominando o Ensino Fundamental incompleto, 41 (49,4%), e Ensino Médio completo, com 23 (27,7%) mães. Em relação ao estado civil, 44 (52,4%) das mães encontravam-se em união consensual, seguido do estado civil casada, com 21 (25,3%). A maioria das mães realizou consulta de pré-natal na instituição de realização do estudo, 51 (60,7%). O total de mães que recebeu orientação sobre aleitamento materno foi de 53 (63,9%), portanto, constituindo a maioria das mães.

Tabela 2 - Descrição das características dos recém-nascidos em uma unidade de Alojamento Conjunto. Fortaleza, CE, 2011.

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Em relação ao sexo dos recém-nascidos, predominou o masculino, com 56 (67,5%).

O parto cesáreo ocorreu em 54 (65,1%) das mulheres, seguido do parto normal, 29 (34,9%). A idade gestacional predominante foi de 38 a 42 semanas de gestação 62 (74,7%). O nascimento de recém-nascido com peso acima de 2.500g foram 70 (84,3%).

Tabela 3 - Descrição dos Diagnósticos de Enfermagem em uma unidade de Alojamento Conjunto. Fortaleza, CE, 2011.

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O diagnóstico de enfermagem prevalente foi Amamentação eficaz, identificado em 65(78,3%) dos casos, seguidos de Amamentação ineficaz 11(13,3%) e Amamentação interrompida com 7(8,4%) dos casos.

Tabela 4 - Distribuição de frequência das características definidoras e dos fatores relacionados segundo diagnósticos de enfermagem. Fortaleza-CE, 2011.

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O DE Amamentação eficaz a característica definidora (CD) mais frequente foi a criança está satisfeita após a mamada 55(84,6%) e o fator relacionado (FR) foi a estrutura oral da criança normal 65 (100%). O DE Amamentação ineficaz a CD mais frequente foi a criança exibe agitação 11 (100%) e FR foi ansiedade materna, 8(72,7%). A amamentação interrompida foi verificada em sete participantes, da qual teve como CD separação mãe-filho e desejo da mãe de oferecer o seu leite, 5(71,4%), e FR prematuridade, 6(85,7%).

DISCUSSÃO Caracterizou-se a amostra como de puérperas jovens, ressaltando-se a presença de adolescentes (30,2%) na amostra, o que representa um dado considerável, pois requer do serviço de pré-natal a disponibilidade de estratégias e tempo para o acompanhamento destas gestantes, a fim de melhorar os índices de AME(15). Vale destacar que neste período, a mulher vivenciou ajustamentos sociais e psicológicos, o que provoca mudanças, que influenciam e melhoram o autoconceito, pois se tratam de mães adultas, das quais possuem maturidade para cuidar de seus filhos.

Ademais, destaca-se que a maioria das puérperas não concluiu o Ensino Médio.

Estudos apontam a escolaridade como fator para a dificuldade da amamentação(16- 17). As puérperas informaram que durante as consultas foram orientadas sobre a realização da amamentação. Vale ressaltar que, as mães que realizaram o pré- natal na instituição onde se realizou a pesquisa, participam de sessões educativas na sala de espera ministradas por enfermeiros do Núcleo de Aleitamento Materno (NUAM) e acadêmicos de enfermagem. Ao serem admitidas no AC, foram incentivadas e recebiam apoio da equipe de multiprofissional, em particular da enfermagem para amamentar.

Estudo realizado com bebês em idade gestacional de 35 a 37 semanas, considerados prematuros que se encontravam com suas mães no AC, identificou a idade gestacional como fator definidor para ocorrência da amamentação materna, pois bebês prematuros necessitam de maiores cuidados. Vale ressaltar a importância do apoio ao abordar a mãe sobre amamentação, pois o bebê pode apresentar dificuldades em relação à pega e coordenação de sucção, respiração e deglutição. Faz-se necessário fornecer informação positiva sobre o bebê, pois isto minimiza os sentimentos de ansiedade, frustração, incertezas e culpa relacionados à amamentação, tornando as puérperas menos vulneráveis(18).

Convém referir que prematuros com funções vitais estabilizadas são encaminhados ao AC. Dos sete casos com DE Amamentação interrompida, seis apresentaram a prematuridade como fator relacionado.

Na unidade de Alojamento Conjunto, o aleitamento materno é incentivado e estimulado pelas inúmeras vantagens apresentadas tanto para mãe quanto para o filho. Este cuidado tem início nas primeiras horas de vida, o mais precocemente possível, com orientações adequadas sobre o AM(19).

O peso foi um dos principais indicadores para avaliação do crescimento pós- natal. O baixo peso ao nascer (peso inferior à 2500g) foi o fator de risco mais comumente associado às mortes perinatais. Mais de 80% das crianças do estudo apresentaram peso acima de 2500g, portanto o processo de amamentação sofreu pouca ou nenhuma influência deste fator.

Quanto ao tipo de parto, identificou-se que a maioria das puérperas teve parto cesariano. Apesar da separação imediata entre mãe e filho que este tipo de parto oferece, além de outros fatores, como recuperação mais demorada e dolorosa, o parto cesariano não impossibilitou o aleitamento materno.

A Amamentação eficaz pode ser percebida quando o binômio demonstra adequada proficiência e satisfação com o processo de amamentação. Isto significa que mãe e o filho estão em harmonia, bem adaptados ao ambiente do Alojamento Conjunto, que tem como principal função promover esta interação. Este DE foi o mais presente na unidade de AC investigada. Assim, reforça-se que o leite materno nas primeiras semanas de vida é de grande importância, pois este representa fator de proteção a crianças de zero a cinco anos contra o sobrepeso(20).

O segundo DE mais frequente foi Amamentação ineficaz relacionado, principalmente, à ansiedade materna e ao déficit de conhecimento. Outro estudo comprovou que amamentação ineficaz esteve relacionada ao conhecimento deficiente(21).

A Amamentação interrompida esteve presente quando houve descontinuidade no processo de amamentação. Esteve principalmente relacionada à prematuridade e caracterizada pela separação entre mãe e filho, além do desejo da mãe em oferecer o leite materno.

CONCLUSÃO O desenvolvimento desta pesquisa favoreceu a identificação de DE relativos à amamentação em 83 mães e seus RN em uma unidade de alojamento conjunto de um hospital público estadual. O diagnóstico mais encontrado foi Amamentação Eficaz, seguido de Amamentação Ineficaz e Amamentação Interrompida.

O presente estudo ressaltou a importância do processo de elaboração e julgamento clínico dos diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação, uma vez que estes são a base para elaboração apropriada das intervenções e alcance dos resultados positivos na assistência de enfermagem à mãe e seu RN.

Considera-se a amamentação um processo que envolve desafios na interação mãe e filho, bem como exige dos profissionais de enfermagem qualificação para atuar no AC. De acordo com os resultados encontrados, este estudo evidenciou o sucesso da amamentação para a mãe e seu RN, uma vez que o DE que mais ocorreu foi Amamentação Eficaz, e isso pode ter sido resultado de ações educativas implementadas através de um programa específico para o incentivo ao aleitamento materno existente na referida instituição do estudo.

A participação do enfermeiro se sobressai no desenvolvimento de habilidades técnicas e, sobretudo, na orientação aos usuários dos serviços de saúde e à equipe de enfermagem acerca das ações desempenhadas, de modo a ampliar o conhecimento, os argumentos científicos, além da humanização da atenção prestada, a fim de promover a qualidade da assistência.

Acredita-se que esta pesquisa poderá contribuir para direcionar ações de cuidado individualizadas para responder às necessidades das mães e seus RN, uma vez que os diagnósticos encontrados permitem o delineamento das ações de cuidado e o envolvimento não apenas da mãe e filho, mas também da família.


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