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BrBRCVHe0034-71672016000100016

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variedadeBr
ano2016
fonteScielo

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Educação em enfermagem: avaliação da formação por egressos, empregadores e docentes INTRODUÇÃO A avaliação da formação profissional é um campo de estudo que tem desafiado pesquisadores a identificar mudanças que devem ser adotadas para aprimorar o processo de formação. As pesquisas nessa temática, embora desenvolvidas sobre diferentes focos e com objetivos e metodologias diversas, enfatizam a importância de se complementar o sistema de avaliação, dos processos educacionais, na perspectiva de egressos(1-3).

Por outro lado, o descompasso percebido entre teoria e prática, bem como entre ensino e aprendizagem, tem instigado educadores a desenvolverem pesquisas envolvendo outros atores que protagonizam esse processo(4-5).

Nesse contexto, uma avaliação mais acurada do cotidiano de trabalho do enfermeiro recém-formado se configura como um cenário possível de indicar ajustes que devem ser realizados no processo de formação dessa categoria profissional.

No presente artigo serão apresentados os resultados da segunda etapa de uma pesquisa realizada com egressos, empregadores e docentes que teve como desfecho a construção de um Plano de Ação apresentado à coordenação de um curso de enfermagem. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas, sendo que na primeira foram entrevistados os egressos e seus empregadores e na segunda foi realizado grupo focal e seminário com docentes do curso. Embora os resultados da primeira etapa não sejam relatados neste artigo, vale ressaltar que os depoimentos desses atores, após analisados, serviram de base para a reflexão docente que culminou na construção do Plano de Ação descrito sinteticamente neste estudo.

O objetivo geral que norteou a pesquisa relatada neste artigo foi "Subsidiar a avaliação e as transformações, se necessárias, no currículo de um curso de graduação em Enfermagem".

MÉTODO Estudo descritivo e exploratório desenvolvido na modalidade de pesquisa-ação (6), com uma abordagem qualitativa, utilizando a Análise de Conteúdo como referencial teórico de análise dos dados(7).

A coleta de dados foi realizada em duas etapas, sendo a primeira nos meses de setembro de 2009 a fevereiro de 2011, com 19 egressos graduados no ano de 2007, em um curso de Enfermagem de um centro universitário particular na cidade de São Paulo (SP) - Região Sudeste do Brasil, e com 15 empregadores, desses egressos, que aceitaram participar do estudo. Esses egressos foram escolhidos intencionalmente por fazerem parte da primeira turma que vivenciou as alterações propostas no currículo do curso em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN).

Na segunda etapa da coleta de dados, realizada nos meses de outubro e novembro de 2011, após a análise do material coletado na primeira etapa, foram convidados cinco componentes do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do Curso de Enfermagem, cenário deste estudo, sendo um deles a coordenadora do curso. Foram convidados também os coordenadores dos cursos de Fisioterapia e Nutrição por terem participado da reformulação do currículo integrado em vigor desde 2010.

Cada docente foi codificado com um número (Docente 1, Docente 2, etc.).

A primeira etapa da coleta de dados foi realizada por meio de entrevista, com roteiro semiestruturado, agendada em local, data e hora convenientes aos egressos e empregadores, gravada em fita magnética e transcrita posteriormente.

Os egressos foram questionados quanto à influência da instituição formadora nas decisões e nas ações profissionais por eles vivenciadas e quanto às facilidades e dificuldades de atuação, no cotidiano de trabalho, atribuídas ao processo formativo. Foram ainda solicitados a apresentar sugestões para o aprimoramento do currículo do curso. Aos empregadores foi pedido que discorressem sobre o perfil de enfermeiro demandado pela instituição e o perfil atribuído ao egresso do curso em questão. Foram também solicitados a contribuir, com sugestões, para a melhor formação acadêmica do enfermeiro.

Na segunda etapa da coleta de dados foi adotada a técnica do Grupo Focal realizada em dois encontros com duração de 2 horas cada, que tiveram como temas disparadores do debate os dois relatórios-síntese provenientes da análise das entrevistas com os egressos e com os empregadores. O conteúdo deste debate também foi gravado e transcrito para análise.

Para análise dos dados, tanto do conteúdo das entrevistas com egressos e empregadores como do debate docente propiciado pelo Grupo Focal, utilizou-se a técnica de análise temática, que pressupõe três momentos: pré-análise, exploração do material e interpretação dos conteúdos(7).

Após tratamento e análise dos discursos docentes, foi realizado um seminário, em março de 2012, que contou com a participação de cinco componentes do NDE e da coordenadora do Curso de Enfermagem. Nesse encontro, foi construído um Plano de Ação que, posteriormente, foi apresentado à diretoria acadêmica da instituição de ensino para subsidiar possíveis transformações no currículo do curso.

O desenvolvimento do estudo atendeu às normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos. Os participantes foram ouvidos após aprovação, da pesquisa, pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, bem como do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

RESULTADOS O Grupo Focal contou com a participação de cinco docentes, sendo três componentes do NDE do curso e os coordenadores dos cursos de graduação em fisioterapia e nutrição. Destes, quatro eram do sexo feminino e um masculino, com a faixa etária predominante de 40 a 50 anos. Quatro componentes do grupo estavam no exercício da docência na instituição de ensino, cenário deste estudo, mais de dez anos e um menos de um ano, todos com título de doutor na área de atuação. Destes, quatro são docentes em tempo integral e um em tempo parcial.

A análise dos discursos dos docentes, produzidos no debate promovido durante os encontros para do Grupo Focal, possibilitou a composição de quatro categorias com suas respectivas Unidades de Significado (US). Destaca-se que nesses encontros foram utilizados dois relatórios-síntese contendo a representação dos egressos e empregadores, coletados na primeira etapa da pesquisa.

Categoria 1 - Perfil dos egressos e dos empregadores Nesta categoria foi analisado o perfil dos egressos e empregadores a partir dos relatórios- síntese apresentados aos docentes durante o Grupo Focal.

US 1 - Gestor comprometido com o "status quo" As US que fazem referência ao perfil dos gestores retratam um profissional comprometido com o "status quo" e com formação anterior à consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). Os docentes consideraram a influência desse perfil ao ponderarem que os gestores expressavam uma visão restrita para o contexto da própria área de atuação, ao apontar as competências requeridas aos egressos, que privilegiava a habilidade técnica.

[...] porque cada um vai olhar para sua própria realidade, restrita à instituição onde está trabalhando, preocupado em manter o "status quo". A formação desses gestores é anterior ao Sistema Único de Saúde (SUS), em sua maioria. Eles foram formados em uma lógica que dizia, "eu preciso ter uma boa capacitação técnica!". (Docente 5) US 2 - Egresso imaturo, influenciável e disciplinado Os docentes relacionaram a imaturidade dos alunos, cuja faixa etária prevalente era de 21 a 25 anos, ao fato de serem influenciáveis quanto à escolha profissional, como mencionado na fala: [...] os alunos têm motivos diferentes para fazer enfermagem: ou é porque a mãe quer, ou porque um irmão fez e então ele resolve fazer também, ou mesmo por influência de amigos. (Docente 1) Por outro lado, os egressos foram considerados disciplinados e respeitosos pelos docentes, quando se reportaram à fala dos enfermeiros que acompanham o Ensino Clínico.

[... ] o próprio profissional que recebe os estagiários no campo diz: "gosto do aluno que vem da sua faculdade porque eles são mais disciplinados, sabem se dirigir ao superior...". (Docente 2) Categoria 2 - Avaliação do currículo O currículo vivenciado pelos egressos, sujeitos desta pesquisa, era baseado no modelo tradicional, embora privilegiasse o ensino clínico em contextos diversos da prática, principalmente, referente ao estágio curricular supervisionado.

US 1 - Estrutura curricular A avaliação que o egresso fez do currículo do curso foi referendada por um dos docentes, durante o Grupo Focal, ao se expressar: Eu achei interessante quando eles (os egressos) falam que deveria começar a formação em Saúde Coletiva desde o início do curso, acho que vai ajudar bastante a gente. é a questão do currículo estruturado por níveis de complexidade que essa matriz nova vem atendendo ...

da Atenção Básica, vai para nível secundário chegando no nível terciário. (Docente 1) US 2 - Formação de valores A formação de valores teve o reconhecimento dos empregadores como um diferencial positivo observado nos egressos. Os docentes validaram a opção de se enfatizar este aspecto durante a graduação.

[...] quando eles (os empregadores) falam "ênfase na formação de valores" é essa questão do respeito ao próximo, de delimitar os espaços ... os estudantes são mais respeitosos com o professor e são incentivados a levar esse tipo de comportamento para o seu local de trabalho. (Docente 2) A estrutura do curso privilegia, com base na filosofia institucional, o enfoque das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no estudante atitudes e valores orientados para a solidariedade e valorização do ser humano.

Categoria 3 - Aspectos intervenientes do processo formativo Nesta categoria se destacaram aspectos que interferem na formação do enfermeiro que na maioria das vezes não tem sido contemplado no planejamento das ações educativas relacionadas ao currículo adotado pela Instituição de Ensino.

US 1 - Interação ensino-serviço A prática inserida precocemente na formação impactou positivamente a avaliação dos egressos, embora as condições de alguns campos de Ensino Clínico tenham sido consideradas pouco favoráveis. Na opinião dos docentes, os enfermeiros das unidades assistenciais que recebiam os estudantes para o Estágio Curricular Supervisionado nem sempre desempenhavam o papel de educador. Essa defasagem foi considerada pelo docente ao mencionar que: O enfermeiro que recebe o aluno teria que atuar ativamente durante o estágio curricular supervisionado, junto do docente que acompanha os estudantes. Deveria também acompanhar o aluno em seu desenvolvimento, dar suporte para ele e participar da avaliação. Eles querem o profissional pronto ao final da graduação, mas querem se eximir de qualquer responsabilidade na formação do aluno. (Docente 5) US 2 - Complexidade do processo de formação Apesar do processo de trabalho dos enfermeiros ser predominantemente gerencial, suas ações devem garantir uma assistência de qualidade aos clientes e não pode ser desconsiderado pelos que planejam e executam um programa de ensino. Existe também uma variedade crescente de funções e atribuições desenvolvidas pelos enfermeiros nas diversas frentes de trabalho que se abrem continuamente. Ao refletir sobre este aspecto, um dos docentes comenta: [... ] Pensando ainda na diversidade de áreas ... qual é a carga horária em cada área específica que o egresso teve para desenvolver dentro da graduação? é muito pouco! Ele tem uma vivência inicial de cada área de atuação, mas ele não tem a experiência da vivência profissional de quem está no mercado. (Docente 4) Categoria 4 - Sugestões para aprimoramento do currículo Os docentes fizeram sugestões durante o processo reflexivo promovido durante o Grupo Focal que foram consideradas relevantes para melhorar o currículo do curso e consequentemente o processo de formação do enfermeiro.

US 1- Ampliar a formação para além da competência técnico-científica Com base no discurso de um dos empregadores, os docentes que participaram do Grupo Focal reforçaram a ideia de que a formação do profissional enfermeiro, no contexto atual, deve ir além das competências técnicas ou mesmo das habilidades relacionadas à liderança e gerenciamento.

O empregador fala da demanda "por um profissional com conhecimento técnico adequado, motivado a adquirir novos conhecimentos e desenvolver habilidades para enfrentar mudanças com agilidade e decisões assertivas, criativas, inovadoras, agregando valor econômico à empresa e social ao indivíduo". Nesta fala o empregador aponta as características de como deve ser a formação. (Docente 1) [...] a formação deve promover o senso de missão na área da saúde, a responsabilidade social e pessoal, que são aspectos que os egressos precisariam levar ao serem inseridos no mercado de trabalho. (Docente 4) US 2 - Estratégias ativas de Ensino A utilização de metodologias ativas e inovadoras de ensino pode ser uma estratégia eficaz para se conseguir melhores resultados na aprendizagem significativa. Durante o processo reflexivo, os docentes se sentiram desafiados a se apropriarem de novas abordagens pedagógicas para a condução do ensino. Os discursos relatados a seguir retratam esse desafio.

Se a gente lembrar que essa matriz é a de 2007 eu penso que, talvez, uma minoria dos professores utilizava metodologias inovadoras. No começo da matriz de 2007, ainda era muito difícil mudar essa consciência de que existem estratégias mais adequadas ... de que existem estratégias novas que facilitam o aprendizado e o ensino.

(Docente 3) [...] o grande desafio da educação é dar as ferramentas para que o aluno possa continuar no processo formativo. Porque como Paulo Freire fala, "a formação é a obra de uma vida, ninguém se educa e para de se educar ...". A gente está aprendendo o tempo todo. Usar ferramentas eficazes de aprendizado, essa é a função da escola. (Docente 1) US 3 - Capacitação docente Aos docentes tem sido atribuída a responsabilidade pelo ato pedagógico, bem como a busca por capacitação para o exercício competente desta ação. O compromisso dos docentes pelo próprio aprendizado motiva o aluno a se aplicar ao processo de aprender, como é retratado no depoimento.

Precisa começar com a formação dos professores, trabalhar a questão pedagógica, otimizar as aulas para que o aluno se envolva mais.

(Docente 2) A escola está em um processo de transformação, mas ainda temos os nossos professores com os paradigmas antigos e não é fácil promover a transformação na instituição sem investir no docente. (Docente 5) Plano de Ação Descrito sinteticamente na sequência, o Plano de Ação foi construído tomando como base a análise do material coletado durante o processo reflexivo no Grupo Focal. Nesse plano, os docentes elencaram seis propostas a serem implementadas no currículo do curso visando melhorias efetivas no processo de formação do enfermeiro.

A primeira proposta consistiu em promover a "flexibilização curricular" possibilitando a entrada de alunos em qualquer módulo do currículo e facultando a eles escolher as disciplinas a serem cursadas em todos os semestres do curso.

Esse aspecto deveria concomitantemente oferecer os módulos do primeiro e segundo semestres, tendo os conteúdos direcionados para o desenvolvimento de competências gerais, comuns aos cursos de Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição, e ofertar módulos optativos oferecidos na modalidade presencial e à distância.

O "redimensionamento dos conteúdos" também foi incluído e sugeriu equalizar a distribuição dos conteúdos das grandes áreas, com base nas competências apontada no perfil do egresso definido no Projeto Pedagógico do Curso. Deveria se garantir a presença e a visibilidade de temas transversais, por exemplo, segurança do paciente, ética, humanização, administração e liderança. Esses temas são considerados como seivas que nutrem os demais. Os conteúdos que embasam o raciocínio clínico do estudante deveriam ser repensados.

A "educação permanente" deve ser incorporada conceitualmente no processo de formação, ao se ampliar o diálogo com gestores dos serviços de saúde, por meio de reuniões sistemáticas para identificar lacunas, suprir demandas e fortalecer vínculos sociais. A pesquisa com egressos deveria ser oficializada como mecanismo para propiciar crescimento acadêmico. Deveriam ainda organizar programas de capacitação envolvendo profissionais da ativa e estudantes, realizando o planejamento de atualizações contínuas, com base nos problemas cotidianos dos serviços de saúde, considerando o contexto social e político.

A "valorização da prática" foi proposta visando ao desenvolvimento de ações conjuntas com a rede de serviços e o incentivo à implementação de projetos em novos cenários de prática, como escolas, creches e igrejas. Deveria também possibilitar a integralização das horas dedicadas a projetos de extensão à carga horária prevista no currículo do curso. E, ainda, aplicar conceitos teóricos em cenários simulados de prática.

A adoção de "metodologias ativas" visa à capacitação docente com abordagem teórico-prática utilizando estratégias que reúnam recursos para vivenciar as potencialidades dessas metodologias; à otimização da utilização do espaço virtual, promovendo a interatividade e incentivando as iniciativas e projetos dos alunos; à implementação da utilização de portfólios como ferramenta pedagógica; e à adoção da avaliação formativa como estratégia de ensino que privilegia o protagonismo dos atores envolvidos.

Para alcançar a "autonomia do estudante", sugeriu-se promover a formação de pequenos grupos de estudo com tutoria para trabalhar projetos interdisciplinares, incentivando as atividades extraclasse com fins sociais, por exemplo, ações de voluntariado e participação em "feiras de saúde" promovidas pela instituição de ensino. Deve-se também desmitificar a crença de que o enfermeiro não comete erros, levando o aluno a refletir sobre a falha de maneira processual e a trabalhar a proposição de situações-problema, estimulando o discente a buscar, por iniciativa própria, os conteúdos pertinentes para a solução dos problemas que devem ser abordados.

DISCUSSÃO No que diz respeito aos limites do método escolhido para orientar a condução deste estudo, registra-se que poderia ter sido incluída também a perspectiva dos usuários dos serviços de saúde que, por receberem os cuidados prestados, poderiam apontar com mais propriedade as competências que devem ser priorizadas na formação profissional do enfermeiro. Contudo, esta pesquisa agregou conhecimentos considerados essenciais à formação do enfermeiro, elencados no Plano de Ação proposto.

Referente à flexibilização curricular, os participantes deste estudo concordaram que ela constitui um desafio a ser enfrentado pelos educadores com determinação, uma vez que possibilita ao estudante um envolvimento maior e aponta caminhos para uma formação protagonizada pelo seu ator principal. Quando o estudante se responsabiliza pela condução de seu percurso acadêmico, ele confere singularidade ao seu processo de formação, gerando assim um aprendizado significativo. Um dos caminhos que se coloca com bastante ênfase é o da educação à distância, que utiliza tecnologias da informação e comunicação. No entanto, tem se constatado inabilidade dos docentes ao utilizarem essas ferramentas(8-9).

Para o redimensionamento dos conteúdos, os egressos sugeriram uma carga horária maior para o desenvolvimento de competências gerenciais e de liderança, enquanto os empregadores argumentaram que preferiam receber um profissional despreparado tecnicamente, mas que demonstrasse competências ético-políticas embasadas em valores humanísticos. Em estudo que objetivou investigar o ensino da humanização nas disciplinas que compõem os currículos de Enfermagem da cidade de São Paulo (Brasil), a análise do currículo de 13 escolas levou à observação de intencionalidade ambígua no conteúdo descritivo de 588 disciplinas oferecidas, destacando que apenas 3% demonstravam coerência conceitual relacionada à humanização(10).

Vale ressaltar que o conceito de humanização adotado foi o de "encontro entre sujeitos no e pelo ato de cuidar" significando o encontro de subjetividades.

Destacando que o papel social do enfermeiro se concretiza na assistência, mas este papel não pode ser confundido em sua subjetividade sob risco de que essa atividade não seja humanizada(10).

Em estudo que analisou os conhecimentos, habilidades e atitudes de egressos relativos ao processo de trabalho em gestão, os aspectos relacionais e de gerenciamento de conflitos foram apontados como defasagem principal. Sugeriu- se, então, propiciar situações de aprendizagem que estimulassem o estudante a buscar conhecimentos para embasar seu exercício profissional(1).

A educação permanente, que é favorecida na interação ensino-serviço e possibilita a adequação do ensino às condições reais encontradas no mundo do trabalho, é outro fator que deveria ser considerado na formação do futuro enfermeiro. Para que a educação permanente seja efetiva, tornam-se necessários investimentos e comprometimento dos dois setores, ensino e serviço, o que deve ser estabelecido se, nas interações intersubjetivas, os atores envolvidos considerarem o ser humano em sua integralidade(15).

No currículo vivenciado pelos egressos deste estudo, a prática na Atenção Primária e em hospitais era inserida a partir do terceiro semestre do curso como forma de promover um aprendizado significativo. Vale salientar que, além dessa prática inicial, os egressos participantes desta pesquisa vivenciaram o Estágio Curricular Supervisionado nos dois últimos semestres do curso. O desempenho dos egressos impactou positivamente na avaliação dos gestores empregadores. No entanto, segundo os docentes, com base no depoimento dos egressos, os enfermeiros das unidades de serviço nem sempre desempenharam o papel de educador esperado deles.

Em revisão bibliográfica sobre o Estágio Curricular Supervisionado, identificou-se que os enfermeiros experimentaram sentimentos de desconforto ao se confrontarem com alunos e professores que, por vezes, questionavam o fazer e o saber desses profissionais. Com base nos estudos analisados, defendeu-se que o Estágio Curricular Supervisionado traz o aprendizado mútuo para os envolvidos como vantagem. Além de constituir um laboratório vivo e dinâmico, esse estágio promove a interação do estudante com os membros da equipe de saúde, levando-o a desenvolver responsabilidade, ética, liderança, capacidade de comunicação e tomada de decisão(11).

Por outro lado, para que o estudante chegue ao Estágio Curricular Supervisionado habilitado para o desempenho das atividades requeridas, recomenda-se que ele desenvolva a prática utilizando simuladores como recurso para aprendizagem, uma vez que a escola tem o dever de promover o respeito integral ao ser humano, oportunizando experiências clínicas simuladas para enriquecimento do currículo(12).

A utilização de metodologias ativas e inovadoras de ensino, como a problematização, são estratégias eficazes que podem gerar aprendizagem significativa. O cenário real para exercício do cuidado é o principal espaço para a formação ética, além de contribuir para o desenvolvimento do raciocínio clínico(4-13-14).

O planejamento de determinada temática utilizando o ambiente virtual é outra estratégia que merece destaque, pois proporciona a construção de tópicos organizados, objetivos, claros, detalhados e ricos em relação à temática proposta, mas sua aplicação requer um tempo maior para planejamento, elaboração prévia com um programador técnico e adequações desse recurso tecnológico ao contexto educacional de enfermagem. Pesquisa realizada em 2011 constatou que, no Brasil, apenas 35 cursos de graduação em Enfermagem ofereciam disciplinas relacionadas à informática em sua grade curricular(15-16).

No que tange à construção da autonomia do estudante, os docentes, participantes deste estudo, reconheceram dificuldades em estabelecer limites de segurança para o paciente, quando o estudante inicia a prática assistencial. No entanto, propuseram a aplicação de recursos metodológicos diversos e o estabelecimento de redes de relacionamentos que propiciassem, ao estudante, liberdade para agir, com comprometimento e responsabilidade a despeito de, por vezes, se sentir inseguro durante esse processo. Outra pesquisa propõe a metateoria curricular neossistêmica que busca trazer novas perspectivas para se trabalhar a autonomia do estudante, o ensino significativo, contextualizado e globalizado do enfermeiro(17-18).

CONSIDERAÇÕES FINAIS A avaliação do processo educativo envolvendo egressos, empregadores e docentes possibilitou refletir sobre as especificidades para a formação do enfermeiro no contexto atual, bem como realinhar o currículo às demandas apontadas pelos participantes. O Plano de Ação construído coletivamente, contendo propostas de mudanças consideradas essenciais, forneceu subsídios concretos para melhorar o currículo do curso, cenário deste estudo.

Como citar este artigo: Meira MDD, Kurcgant P. Nursing education: training evaluation by graduates, employers and teachers. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016;69(1):10-5.


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