Contribuição das incubadoras tecnológicas na internacionalização das empresas
incubadas
1. INTRODUÇÃO
O cenário do desenvolvimento econômico mundial está em um processo de grandes
transformações nas últimas décadas devido a diversos fatores como globalização,
emergência de novos mercados, avanços tecnológicos e da informação, e uma
demanda crescente por inovações, causando um forte impacto socioeconômico e
provocando alterações nos mais diversos níveis das organizações. Paralelamente
a isso, a insegurança e o dinamismo afetam diretamente os mercados,
impulsionando e intensificando a concorrência, o que tem contribuído para o
crescimento dos desafios organizacionais, gerando a necessidade de as empresas
reformularem suas estratégias. A literatura sobre negócios internacionais tem
enfatizado que expandir internacionalmente significa uma oportunidade de
crescimento e de criação de valor para a empresa. Empreendimentos que entram em
mercados internacionais geralmente aumentam seus conhecimentos tecnológicos e
de mercado, melhoram seu desempenho e tornam-se muitas vezes mais inovadores e,
consequentemente, concorrentes mais fortes também em seus mercados domésticos.
Contudo as pequenas empresas, especialmente as nascentes, podem precisar de uma
ajuda significativa em seu processo de consolidação e também de
internacionalização. Em vez de deixar o esforço empreendedor desenvolver-se a
partir de uma dinâmica natural do mercado, o que pode acarretar muitos riscos
de fracasso, é importante criar um ambiente que aumente as chances de sucesso
das pequenas empresas.
Na experiência brasileira e de outros países, as incubadoras tecnológicas
representam um esforço para formação desse ambiente favorável. As incubadoras
são espaços compartilhados que proporcionam aos novos negócios espaço físico e
recursos organizacionais, monitoramento e ajuda empresarial. Os empreendimentos
são controlados no período de incubação e amparados em sua introdução e
consolidação no mercado, com o objetivo de transformar essas empresas em
empreendimentos de sucesso.
Após um período de consolidação das incubadoras, vários estudos procuraram
verificar suas contribuições e limitações, com o objetivo de desenvolver
melhorias, a fim de proporcionar melhores resultados às empresas e à sociedade,
visto que muitas dessas incubadoras utilizam recursos públicos. Além disso, as
empresas incubadas desfrutam de um ambiente privilegiado em relação aos novos
negócios, sendo assim, devem apresentar inovações e desempenho superior. Uma
forma de atingir esses objetivos pode ser pela busca por parceiros estrangeiros
e de novos mercados internacionais. Nesse sentido, a globalização dos mercados
sinaliza para que as incubadoras tecnológicas proporcionem às empresas
incubadas serviços e ações voltados a colaborar com sua internacionalização.
A ampla literatura a respeito das incubadoras tem abordado o processo de
incubação, a qualidade dos serviços prestados ou a repercussão regional desses
empreendimentos, mas pouca atenção tem sido dada às necessidades das empresas
incubadas ante os novos desafios competitivos, como a concorrência
internacional. Neste estudo, pretende-se preencher uma lacuna do conhecimento
em relação às contribuições das incubadoras na internacionalização das empresas
de base tecnológica. Para atingir esse objetivo principal, foram traçados os
seguintes objetivos específicos: identificar os fatores que influenciam a
internacionalização das pequenas e micro empresas de base tecnológica;
identificar os serviços e as ações das incubadoras tecnológicas brasileiras que
contribuem com a internacionalização das empresas incubadas e graduadas;
verificar a percepção dos gestores das incubadoras tecnológicas quanto ao
impacto desses estímulos na internacionalização das empresas incubadas e
graduadas. Nesse sentido, pressupõe-se que empresas incubadas e graduadas sejam
mais internacionalizadas, pois têm mais acesso às ações e aos serviços
necessários para tal.
Para atender aos objetivos, este estudo está organizado em mais cinco seções,
além desta introdução. Na seção 2, identificam-se, a partir da revisão da
literatura, quais fatores contribuem para a internacionalização de empresas; na
seção 3, quais são as ações e os serviços relacionados à internacionalização de
micro e pequenas empresas de base tecnológica (MPEBTs) as incubadoras
disponibilizam. Na seção 4, são apresentados e discutidos os resultados. Por
fim, na seção 5, são apresentadas as conclusões.
2. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS
As teorias que tratam do processo de internacionalização da firma podem ser
classificadas em dois grandes eixos, de acordo com sua perspectiva de análise.
As abordagens de internacionalização com base em critérios econômicos estão
orientadas para decisões que tragam a maximização dos lucros, especialmente no
que diz respeito às grandes empresas multinacionais. Já as abordagens
comportamentais consideram que o processo de internacionalização depende do
conhecimento da firma e das atitudes, percepções e comportamento dos tomadores
de decisão, na busca da redução de riscos (ANDERSEN e BUVIK, 2002).
Como o foco deste trabalho é a contribuição que as incubadoras de base
tecnológica proveem à internacionalização de empresas incubadas, que em sua
maioria são micro e pequenas empresas de tecnologia com recursos limitados,
será priorizada a abordagem comportamental, que tem como principais
representantes os modelos de estágios, modelo de Uppsala e I-Models; modelo de
Network; a perspectiva de Born Globals e o empreendedorismo internacional.
Com o modelo de Uppsala, a firma internacional passou a ser definida como uma
organização caracterizada por processos cumulativos de aprendizagem e que
apresenta uma complexa estrutura de recursos, competências e influências (HILAL
e HEMAIS, 2003). Esse modelo tem como foco o desenvolvimento da firma
individual, baseado principalmente na relação de aquisição, integração e uso do
conhecimento sobre mercados e operações estrangeiros e o comprometimento
crescente com esses mercados por meio de estágios sequenciais. Os conhecimentos
sobre os mercados externos dizem respeito às características específicas dos
mercados estrangeiros de interesse, como fornecedores, demanda, competidores,
canais de distribuição, condições e custos financeiros, legislação e políticas
públicas. O conhecimento pode ser obtido de duas formas: o conhecimento
objetivo, que pode ser ensinado; e o conhecimento experimental, que só pode ser
aprendido pela experiência (JOHANSON e VAHLNE, 1977).
Os I-Models também são baseados na abordagem comportamental e explicam a
internacionalização a partir de uma sequência de estágios de aprendizagem,
considerando a decisão de internacionalizar como uma inovação para a firma. Uma
característica comum nesses modelos é a importância atribuí-da ao tamanho da
firma, valorizando as particularidades das pe-quenas empresas e do tomador de
decisão, que tem papel principal neste processo já que suas expectativas,
experiência e motivações, assim como seu conhecimento, influenciam a entrada no
mercado externo (BILKEY e TESAR, 1977; CAVUSGIL, 1980; REID, 1981; CZINKOTA,
1982).
A escola nórdica de negócios internacionais sucedeu a escola de Uppsala,
abordando as principais controvérsias e ampliando suas linhas de pesquisa,
dando origem à abordagem de network, que considera que os próprios mercados
devem ser encarados como redes de empresas (HILAL e HEMAIS, 2003). Uma parcela
considerável dos estudos que relacionam pequenas empresas e internacionalização
mostra grande relevância das redes de relacionamentos em seu processo de
internacionalização (JONES, 1999; CHETTY e WILSON, 2003; SHARMA e BLOMSTERMO,
2003). Essas networks no exterior suprem os novos empreendimentos com
conhecimento sobre mercados e clientes e proporcionam a legitimidade e as
referências necessárias para seu crescimento, reduzindo o risco envolvido nas
operações internacionais (COVIELLO e MUNRO, 1997; JOHANSON e VAHLNE, 2003).
Ao contrário dos estudos sobre empresas grandes e maduras e sobre pequenas
empresas com uma internacionalização gradual, os novos empreendimentos
internacionais - global start-ups, ou born globals - caracterizam-se por serem
inter--nacionais desde o início. Muitos estudos examinaram ques-tões como
forças que direcionam a internacionalização, admi-nistração de conhecimento,
características comuns dessas firmas, efeitos da internacionalização no
desempenho da firma (RENNIE, 1993; OVIATT e MCDOUGALL, 1994; MADSEN e SERVAIS,
1997).
O empreendedorismo internacional enfatiza o papel dos indivíduos e a busca por
oportunidades, tentando explicar a expansão internacional de novas empresas por
meio da análise de como os empreendedores reconhecem e exploram essas
oportunidades (STYLES e SEYMOUR, 2006). A experiência internacional que os
empreendedores trazem para as novas empresas mostra-se de grande importância,
pois pode compensar a falta de experiência organizacional dessas organizações
que, por serem novas, simplesmente não a possuem (ANDERSSON, 2000). A
personalidade, as preferências e as motivações do empreendedor podem direcionar
os objetivos da empresa e revelar como os empreendedores definem o mercado em
que irão atuar, bem como suas estratégias (ANDERSSON, 2000; ZAHRA, KORRI e YU,
2005). Harveston, Kedia e Davis (2000) verificaram que os empreendedores com
orientação global, experiência internacional mais longa e maior nível de
tolerância ao risco, decidiam internacionalizar mais cedo. Nessa mesma
perspectiva, Oviatt e McDougall (1994), McDougall, Oviatt e Shrader (2003) e
Johnson (2004) identificaram diversos fatores que podem influenciar a
internacionalização dos novos empreendimentos.
Diversos estudos têm argumentado que, para a internacionalização das empresas
ser mais bem compreendida, é necessário um framework integrado dos diversos
modelos e teorias (COVIELLO e MUNRO, 1997, JOHNSON, 2004). Assim, os diversos
fatores que influenciam a internacionalização das MPEBTs foram primeiramente
identificados e a seguir, por congruência ou complementaridade, foram agrupados
sob a égide dos construtos representativos das diferentes teorias de
internacionalização constantes da literatura (quadro a seguir).
Quadro_1_-_Clique_para_ampliar
O construto empreendedores compreende as características e experiências dos
empreendedores das empresas incubadas em relação ao mercado externo, tanto
preexistentes à incubação como desenvolvidas na incubadora, e é composto pelos
fatores orientação internacional, tolerância ao risco, proatividade, habilidade
de coordenar as atividades globalmente, experiência na indústria, experiência
internacional. O construto características organizacionais refere-se às
capacidades internas das empresas incubadas que são importantes para a
internacionalização do empreendimento e é composto pelos fatores motivação
internacional, produtos e serviços inovadores, diferenciais e recursos únicos,
ênfase em inovação, ênfase em marketing, ênfase em qualidade, ênfase em
distribuição, estratégias internacionais, recursos da empresa. O construto
network inclui as redes de relacionamentos de negócios das empresas e da
incubadora, que influenciam a internacionalização das empresas incubadas e é
composto pelos fatores network nacional e internacional. O construto mercado
externo refere-se às características do ambiente e é composto pelos fatores
características do ambiente global e característica do mercado específico,
objeto da internacionalização da empresa.
3. AÇÕES E SERVIÇOS DAS INCUBADORAS VOLTADOS À INTERNACIONALIZAÇÃO
O movimento do empreendedorismo está normalmente relacionado ao movimento das
incubadoras, que surgem para fornecer apoio ao desenvolvimento de novas
empresas, colaborando com a geração de novas tecnologias. Segundo a National
Business Incubation Association (NBIA, 2009), as incubadoras são um instrumento
desenhado para acelerar o crescimento e o sucesso de novas empresas por meio de
apoio empresarial, serviços e recursos. No Brasil, a maioria das incubadoras
abriga micro e pequenas empresas de base tecnológica (ANPROTEC, 2005; 2006).
As incubadoras devem dispor de infraestrutura, disponibilizar treinamentos,
recursos humanos, assessorias e consultorias com serviços especializados que
auxiliem as empresas residentes em suas atividades, como elaboração de plano de
negócios, gestão empresarial, gestão da inovação tecnológica, engenharia de
produção, contabilidade, marketing, assistência jurídica, propriedade
intelectual, captação de recursos e acesso a mecanismos de financiamento, apoio
ao e-business e aspectos relacionados a tecnologias de comunicação e
informação, acesso e comercialização de produtos e serviços no mercado
doméstico e externo, incluindo apoio à exportação e busca de parceiros no
exterior (ANPROTEC e SEBRAE, 2002; EUROPEAN COMMISSION, 2002; HACKETT e DILTS,
2004; CELTA, 2007).
Um bom processo de seleção de empreendimentos a serem incubados é fundamental e
utiliza vários critérios, como características do produto ou serviço da
empresa, viabilidade técnica e econômica do projeto, retorno comercial, perfil
dos empreendedores, qualificação da equipe, previsão de autonomia da empresa,
aplicação de novas tecnologias, potencial para rápido crescimento,
possibilidade de interação com a universidade ou centro de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) e número de empregos criados (LUMPKIN e IRELAND,
1988; ANPROTEC, 2003). O ambiente deve ser flexível e encorajador, promovendo o
desenvolvimento dos empreendedores, acesso a instituições que desenvolvem
atividades tecnológicas, acesso a bancos de dados; e facilitar a interação
sistemática entre empresas e instituições de ensino e pesquisa, fortalecendo e
ampliando as diversas redes de relacionamentos (CELTA, 2007; IDISC, 2008).
De acordo com a Eastern European and Central Asian Business Incubators Network
(ECABIT, 2008), rede de incubadoras de empresas e parques tecnológicos do Leste
Europeu e da Ásia Central, diversas incubadoras ao redor do mundo fornecem
algum tipo de serviço voltado especificamente à internacionalização das
empresas. Em estudo realizado com incubadoras de dez países, identificou-se que
a maior parte oferece contatos de negócios internacionais, por meio de net-
works e parceiros internacionais das incubadoras, facilitação na participação
em networks e programas internacionais e serviços de informação. Algumas ainda
proveem serviços de transferência internacional de tecnologia, consultorias e
serviços de importação e exportação. As redes de relacionamentos internacionais
das incubadoras têm duas formas, por meio de projetos formais que envolvem
várias organizações ou por associações e relacionamentos. Ao mesmo tempo, a
pesquisa identificou que a maioria das empresas incubadas está interessada em
contatos internacionais, visando achar e selecionar parceiros (ECABIT, 2008).
O InfoDev Incubator Support Center (IDISC, 2008), plataforma virtual de apoio
ao desenvolvimento de novos negócios conceituada internacionalmente, e a
European Commission (2002) estão promovendo oportunidades de network
internacional visando facilitar o acesso a mercados estrangeiros para empresas
em mais de 80 parques tecnológicos, incubadoras e centros de inovação em todo o
mundo.
Em estudo comparativo com incubadoras dos Estados Uni-dos, França e Brasil,
Stainsack (2003) identificou ações e serviços oferecidos pelas incubadoras
estrangeiras como relações internacionais, incentivo às exportações, busca de
empresas internacionais para se instalarem na incubadora, assessoria em
propriedade industrial e comércio exterior. Aerts, Matthyssens e Vandenbempt
(2007), em pesquisa com 107 incubadoras europeias, identificaram que 52%
proporcionavam auxílio nas exportações ou na busca por parceiros no exterior.
No Brasil, tanto as ações como os estudos voltados a investigar a
internacionalização de empresas incubadas ainda são incipientes. Em 2004,
Sbragia e Pereira identificaram que o mercado internacional ainda era pouco
explorado pelas empresas localizadas em incubadoras brasileiras, mas as
empresas já atribuíam grande importância às relações e alianças estratégicas
voltadas ao exterior.
Algumas incubadoras nacionais de software contribuem com a internacionalização
das empresas incubadas por meio da Softex, programa nacional de software para
exportação criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPq) em 1993, que tem como ações a geração de novas empresas, a
capacitação para exportação, os recursos para investimento em exportação, o
apoio à participação em eventos nacionais e internacionais, a pesquisa de
mercado e o apoio à comercialização no exterior (SOFTEX, 2008).
Em análise feita a partir de dados secundários, coletados em estudos
brasileiros sobre internacionalização em incubadoras até 2004, Baeta, Borges e
Tremblay (2006) identificaram que a visão global dos empreendedores desde o
início do pro-je-to e a estreita ligação entre produtos e serviços são uma
carac---terística presente. Já equipe de direção da empresa com experiência no
mercado internacional, rede de relação de negócios internacionais da
incubadora, seleção de tecnologias ou mercados e controle sobre algum recurso
intangível único por parte das empresas foram características identificadas
como pouco presentes. A principal dificuldade identificada foi a de acesso a
financiamento de risco, o que prejudicaria a inserção internacional (BAETA,
BORGES e TREMBLAY, 2006).
Em pesquisa realizada em 2003, a Associação Nacional de Entidades de
Empreendimentos de Tecnologia Avançada (Anprotec) identificou que 69% das
incubadoras ofereciam apoio em propriedade intelectual, e 41% ofereciam apoio à
exportação. Mais recentemente, em dezembro de 2008, a Apex Brasil e a Anprotec
estabeleceram um convênio no valor de R$ 6 milhões para incentivar as
exportações das empresas de tecnologia de informação e comunicação que estão em
incubadoras ou parques tecnológicos. O foco é alavancar estratégias de
internacionalização, atrair investimentos estrangeiros produtivos para o setor
e promover o intercâmbio tecnológico orientado para negócios. A parceria entre
as duas entidades prevê diversas ações para o desenvolvimento da cultura
exportadora e a internacionalização das empresas, além das ações de promoção
comercial como participação em feiras, missões empresariais e visitas de
jornalistas especializados aos parques tecnológicos nacionais, durante um
período de dois anos (APEX BRASIL, 2009).
Conforme já mencionado, o objetivo neste trabalho é ve--rificar a contribuição
das incubadoras tecnológicas para a in-ternacionalização das empresas
incubadas. Nesse sentido, desenvolveu-se um modelo que, além de oferecer
suporte à pesquisa, poderá servir de base para os estudos sobre
internacionalização em incubadoras e auxiliar seus gestores. Uma vez agrupados
os fatores influenciadores da internacionalização das MPEBTs identificados na
seção 2, passa-se para a etapa de construção do modelo, relacionando-o com as
principais ações e serviços proporcionados pelas incubadoras às empresas
incubadas, conforme a revisão na seção 3. Os serviços e as ações das
incubadoras tecnológicas que contribuem com a internacionalização das empresas
incubadas aparecem sintetizados no quadro da página 168.
Em relação ao construto empreendedores, a incubadora deve selecionar empresas
para a incubação utilizando critérios que considerem as experiências e
características do empreendedor e também deve possibilitar experiência
internacional aos empreendedores.
Para o construto características organizacionais, a incubadora contribui
utilizando critérios de seleção de empresas para a incubação que considerem
produtos e serviços inovadores, bem como recursos únicos da empresa. A
incubadora precisa criar um ambiente que seja motivador da internacionalização
e deve viabilizar o acesso das empresas incubadas a recursos. É importante ter
membros na equipe com experiência internacional; proporcionar o desenvolvimento
de e-business, cursos, capacitações e tutorias para o desenvolvimento de
capacitações da empresa; e disponibilizar consultorias, assessorias e serviços
voltados à internacionalização das empresas incubadas.
Sobre o construto network, a incubadora deve utilizar como critério de seleção
para a incubação se as empresas têm redes de relacionamento de negócios e quais
são. A incubadora também contribui possibilitando a participação das empresas
em redes de relacionamentos de negócios nacionais e internacionais, bem como
participando ela mesma de networks nacionais e internacionais, e a partir dos
relacionamentos dos próprios membros da equipe da incubadora. Também é
importante promover a participação das empresas em programas formais de
internacionalização e proporcionar a participação em feiras, eventos e missões
internacionais e captar empreendimentos incubados estrangeiros.
No que diz respeito ao construto mercado externo, as incubadoras contribuem com
ações e serviços relacionados a desenvolver o conhecimento das empresas
incubadas sobre o ambiente global e sobre mercados estrangeiros específicos. A
incubadora também deve disponibilizar consultorias, assessorias e serviços de
importação e exportação e de transferência internacional de tecnologia. Também
é de grande importância identificar e prospectar negócios e parceiros no
mercado externo, e divulgar projetos e produtos das empresas incubadas no
exterior.
4. MÉTODO
Em relação à dimensão temporal, este estudo caracteriza-se como descritivo
transversal, em que a coleta de dados ocorre em um único momento. Segundo Hair
Jr. et al. (2005), a pesquisa descritiva é assim denominada, pois faz uso de
estatísticas descritivas para caracterizar uma amostra ou população. Esse tipo
de pesquisa, também chamada de survey, possui caráter essencialmente
quantitativo. Assim, caracteriza-se por dados de frequência de respostas,
apresentados em formas de tabela, cumprindo com o objetivo de generalizar os
resultados da amostra para a população-alvo (MALHOTRA, 2001).
O universo desta pesquisa é composto pelo total de 339 incubadoras brasileiras,
das quais, segundo a Anprotec (2005), 40% são incubadoras tecnológicas. Assim,
pode-se estimar um número aproximado de 135 incubadoras tecnológicas no Brasil,
que constituem a população deste estudo. As incubadoras foram identificadas a
partir de pesquisas pela Internet nas redes de incubadoras locais e regionais,
em websites de incubadoras, parques científicos e tecnológicos, bem como demais
websites relacionados à temática em questão. Foram investigados todos os
elementos da população que atenderam aos seguintes critérios: estar em efetiva
operação há um tempo superior a dois anos e com pelo menos uma empresa
graduada. Chegou-se ao número total de 80 incubadoras que atendiam aos
critérios de seleção.
As entrevistas foram realizadas por telefone com o gestor de cada incubadora
tecnológica, utilizando-se uma equipe especializada para a coleta de dados, com
a devida supervisão do pesquisador. Dessas 80 incubadoras, 40 responderam ao
questionário, perfazendo um total de 50%, o que, de acordo com Malhotra (2001),
constitui uma taxa de retorno frequente em pesquisas telefônicas. Devido à
participação ser espontânea, não se tem segurança para afirmar que a amostra
seja representativa, embora o índice de respostas possa ser considerado alto.
Para obtenção de informações, foi utilizado um questionário, que torna a coleta
de dados mais sucinta e permite uma padronização no processo de coleta,
facilitando sua análise quantitativa. O quadro da página 168 serviu de base
para a elaboração do instrumento de pesquisa, que foi avaliado junto a um grupo
de quatro especialistas e gerentes de incubadoras. O instrumento foi testado
quando da realização de um caso piloto, em agosto de 2009, na Incubadora ITEF,
pertencente à Universidade Feevale. Antes da aplicação do questionário, foram
utilizadas três questões filtro para verificar se a incubadora atendia aos
critérios de seleção. Nenhum questionário precisou ser descartado.
A apresentação dos resultados da pesquisa survey com as incubadoras contemplou
análise descritiva das variáveis que compuseram os blocos de avaliação, a
partir do modelo de análise proposto. Para as questões referentes às ações e
aos serviços das incubadoras que contribuem com a internacionalização das
empresas incubadas, utilizou-se a estatística descritiva, com os dados de
frequência. Também foi utilizado um conjunto de testes estatísticos para
verificar a relação existente entre as variáveis, a partir dos testes de
cruzamento, e as diferenças de percepções entre os respondentes da amostra, a
partir dos testes de comparação de média - ANOVA. Essa técnica estatística
univariada foi utilizada para determinar se as amostras dos diferentes grupos
surgem de populações com médias iguais, a partir de uma única variável
dependente métrica. A margem de erro considerada foi de 5%.
5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS
5.1. Caracterização da amostra
O perfil da amostra demonstra que as incubadoras tecnológicas estão presentes
em todas as regiões do Brasil: 57,5% estão localizadas na região Sudeste; 22%,
na região Sul; 7,5%, na região Centro-Oeste; 7,5%, na região Nordeste e 5%, na
região Norte do País. Identificou-se que 50% das incubadoras são privadas sem
fins lucrativos e 40% públicas, das quais 25% são de natureza pública federal;
7,5%, de natureza pública estadual; 7,5%, de natureza pública municipal. Além
disso, 10% têm outro tipo de natureza jurídica.
A expressiva maioria, 92,5% das incubadoras, possui vínculo com universidade ou
centro de pesquisa. Dessas 37 incubadoras, 51,4% possuem vínculo com
universidades públicas; 29,7%, com universidades privadas; 16,2%, com centros
de pesquisa públicos e 2,7%, com centros de pesquisa privados.
Em relação à capacidade máxima de incubação, 15 incubadoras têm capacidade
entre 6 e 10 empresas; 13 incubadoras têm capacidade entre 11 e 20 empresas; 7
incubadoras, entre 21 e 30 empresas; 3 incubadoras, até 5 empresas; e 2
incubadoras, para mais de 30 empresas. Além disso, 23 incubadoras têm empresas
associadas (incubadas externas): a maior parte, 21 incubadoras, tem até 10
empresas associadas; uma incubadora tem 23 empresas associadas e uma incubadora
tem 60 empresas associadas.
A maior parte das incubadoras (77,5%) tem tempo médio de incubação de um a três
anos; 15% têm período de incubação de quatro anos. As demais têm período de
incubação de cinco anos ou mais. Metade das incubadoras graduou até 10
empresas; seis incubadoras graduaram de 11 a 20 empresas; seis incubadoras
graduaram de 21 a 30 empresas; e cinco incubadoras graduaram mais de 30
empresas.
Quanto à experiência em comércio internacional, 65% (26) das incubadoras da
amostra contam com pessoas com experiência em comércio internacional. Destas,
14 incubadoras têm alguém da equipe com experiência, e em 13 incubadoras o
próprio gerente tem experiência. Em 22 incubadoras, há assessores ou
consultores externos com experiência em comércio internacional.
A partir das entrevistas com os gestores, identificou-se que 40% (16) das
incubadoras da amostra possuem programa formal voltado para a
internacionalização das empresas incubadas, e 60% (24) ainda não o possuem.
Empresas de 24 (60%) incubadoras da amostra iniciaram processo de
internacionalização, ou seja, realizaram transações comerciais com clientes no
mercado externo. Dessas, 17 incubadoras têm empresas incubadas que iniciaram o
processo de internacionalização, e 14 têm empresas já graduadas que iniciaram o
processo de internacionalização. Assim, oito incubadoras, mesmo não tendo
programa formal voltado à internacionalização, têm empresas que atuam no
mercado externo.
Aproximadamente 10% das empresas incubadas e graduadas iniciaram o processo de
internacionalização. Quanto às formas de internacionalização adotadas pelas
empresas, em 13 incubadoras as empresas adotaram a exportação direta de bens ou
serviços; em 11, alianças estratégicas (joint ventures); em 7 incubadoras, a
exportação indireta de bens ou serviços; em cinco, as empresas utilizaram o
licenciamento; em quatro, abriram franquias no exterior (franchising); em três
incubadoras, abriram uma filial no exterior; em uma incubadora, a empresa
adquiriu uma empresa estrangeira. As empresas atuam nos cinco continentes.
O conhecimento do mercado externo foi apontado como o fator mais importante
para a internacionalização das empresas por 13 gerentes (42% dos 36 que
responderam essa parte do questionário). As características organizacionais
foram apontadas por 13 (42%) gerentes como sendo um fator muito importante,
especialmente a capacidade de inovação, recursos financeiros, maturidade da
empresa e organização interna. Esses dois últimos fatores, apesar de aparecerem
pouco na literatura sobre internacionalização, foram citados por 20% dos
respondentes. Da mesma forma, as redes de relacionamentos de negócios
(networks) também foram apontadas por 20% dos respondentes como um fator
relevante.
5.2. Ações e serviços das incubadoras
De acordo com o modelo de análise construído a partir da literatura, as
incubadoras disponibilizam diversos serviços e ações, agrupados em quatro
construtos, como será apresentado a seguir.
5.2.1. Construto empreendedores
A respeito dos critérios de seleção de empresas para incubação que contribuem
para a internacionalização das empresas incubadas, das 16 incubadoras que têm
programa voltado para a internacionalização, a expressiva maioria (87,5%)
utiliza critérios que consideram as experiências e as características do
empreendedor. Dessas, 11 incubadoras (68,75%) utilizam como critério a
orientação internacional dos empreendedores; nove (56,25%) utilizam a
proatividade dos empreendedores; sete (43,25%), a experiência dos
empreendedores no setor. Esses dados refletem a importância atribuída pelos
gerentes das incubadoras à influência das características dos empreendedores
sobre o processo de internacionalização.
Das incubadoras que utilizam como critério de seleção a orientação
internacional dos empreendedores, 63,6% têm empresas internacionalizadas; das
que utilizam como critério a tolerância dos empreendedores ao risco, 100% têm
empresas internacionalizadas; das que utilizam como critério a proatividade dos
empreendedores, 77,7% têm empresas internacionalizadas; das que utilizaram como
critério a experiência dos empreendedores no setor, 71,4% têm empresas
internacionalizadas.
A partir da percepção dos gerentes das incubadoras, tem-se que 40% proporcionam
aos empreendedores alguma experiência internacional, por meio de intercâmbios e
programas internacionais.
A partir do teste de comparação de média - ANOVA - realizado com a afirmativa
sobre a experiência internacional dos empreendedores por meio de intercâmbios e
programas internacionais, proporcionada pelas incubadoras, verifica-se que
existe diferença de percepção em relação às incubadoras que têm programa
voltado para a internacionalização das empresas incubadas, e aquelas que não o
têm (p = 0,004). O grupo que manifestou maior média foi o de incubadoras que
possuem programa. Contudo, a incubadora proporcionar experiências
internacionais aos empreendedores não apresentou influência em relação a ter ou
não empresa internacionalizada (p = 107).
5.2.2. Construto características organizacionais
A respeito dos critérios de seleção de empresas para incubação que contribuem
para a internacionalização das empresas incubadas, das 16 incubadoras que têm
programa voltado para a internacionalização, menos da metade (7) utiliza
critérios que consideram as características das empresas. Dessas, sete
incubadoras utilizam como critério se as empresas possuem produtos e serviços
inovadores e três valorizam os diferenciais e recursos únicos das empresas. Das
incubadoras que utilizam como critério de seleção os produtos e serviços
inovadores das empresas, 85,7% têm empresas internacionalizadas; das que
utilizam como critério os diferenciais e recursos únicos da empresa, 100% têm
empresas internacionalizadas.
Quanto aos cursos, capacitações e tutorias proporcionados pelas incubadoras
durante o processo de incubação, 34 incubadoras (85%) proporcionam algum
treinamento em gestão de tecnologia e inovação; 31 (77,5%), em gestão
mercadológica; 26 (65%), em gestão da qualidade e 16 (40%), em gestão de
distribuição. A partir dos resultados, é possível perceber um esforço
considerável por parte das incubadoras em capacitar as empresas incubadas,
contribuindo para o desenvolvimento de características organizacionais
importantes para o processo de internacionalização. É possível verificar que
existe relação entre proporcionar capacitação para desenvolver as
características das incubadas e a internacionalização dessas empresas. Das
incubadoras que porporcionam capacitação em gestão de tecnologia e inovação, 20
têm empresas internacionalizadas; das que proporcionam capacitação em gestão
mercadológica, 20 têm empresas internacionalizadas; das que proporcionam
capacitação em gestão da qualidade, 17 têm empresas internacionalizadas.
Grande parte dos entrevistados (70%) concorda de alguma forma que a incubadora
proporciona às empresas incubadas ambiente motivador da cultura exportadora e
da internacio-nalização. Nesse sentido, mais de 85% das incubadoras pro--
porcionam às empresas incubadas de alguma maneira o de-senvolvimento de
aspectos relacionados a tecnologias de co--municação e informação e mais de 90%
proporcionam-lhes consultorias, assessorias ou serviços de propriedade
intelectual e industrial. Em relação ao acesso das empresas incubadas a
recursos humanos capacitados, 95% das incubadoras o proporcionam. Ainda, 75%
das incubadoras viabilizam o acesso das empresas incubadas a captação de
recursos para exportação, investimentos estrangeiros e capital de risco, embora
40% façam isso de forma moderada.
A partir do teste de comparação de média - ANOVA - realizado com o bloco de
afirmativas do construto características organizacionais, verifica-se que
existe diferença de percepção em relação às incubadoras que têm programa
voltado para a internacionalização das empresas incubadas e as incubadoras que
não têm programa (p = 0,008). O grupo que manifestou maior média foi o de
incubadoras que possuem programa.
Por outro lado, como é possível verificar na tabela_1, sobre as relações entre
ações e serviços do construto características organizacionais e ter empresas
internacionalizadas, o teste de comparação de média - ANOVA - não apresentou
diferença de percepção, com exceção de viabilizar o acesso das empresas
incubadas à captação de recursos para exportação, investimentos estrangeiros e
capital de risco, que obteve significância próxima de 5% (p = 0,061).
Tabela 1
Relação entre Ações e Serviços do Construto Características Organizacionais e
Internacionalização das Empresas
[/img/revistas/rausp/v48n1/12t01.jpg]
5.2.3. Construto network
A respeito dos critérios de seleção de empresas para incubação que contribuem
para a internacionalização das empresas incubadas, 11 incubadoras (33,3%)
utilizam como critério as redes de relacionamento de negócios das empresas.
Dessas, cinco possuem programa voltado para a internacionalização das empresas
e três não possuem. Das incubadoras que utilizam as networks como critério,
três têm empresas internacionalizadas.
A maior parte das incubadoras (97,5%) participa de networks nacionais com
parceiros, associações, redes de incubação e redes de relacionamentos de
negócios. Por outro lado, 45% participam de algum tipo de network internacional
com parceiros, associações, redes de incubação e redes de relacionamentos de
negócios. No mesmo sentido, 92,5% das incubadoras proporcionam às empresas
incubadas fortalecimento e ampliação das networks nacionais com parceiros,
associações e redes de incubação, e 42,5% proporcionam às empresas incubadas
fortalecimento e ampliação das networks internacionais com parceiros,
associações e redes de incubação, sendo 17,5% de forma moderada.
A maioria das incubadoras (92,5%) proporciona às empresas incubadas, de alguma
forma, o fortalecimento e ampliação das networks nacionais com outras empresas.
Por outro lado, 42,5% proporcionam às empresas incubadas, de alguma forma, o
fortalecimento e ampliação das networks internacionais com outras empresas,
sendo 27,5% de forma moderada. Em relação à incubadora proporcionar às empresas
incubadas participação em feiras e eventos, mais de 90% delas proporcionam
participação em eventos nacionais; e 27,5%, em eventos internacionais. Apesar
disso, 20% do apoio a eventos internacionais é realizado de forma moderada.
Grande parte das incubadoras (95%) proporciona às empresas incubadas
fortalecimento e ampliação das networks com instituições de ensino e centros de
pesquisa nacionais. Entretanto, 40% proporcionam fortalecimento e ampliação das
networks com instituições de ensino e centros de pesquisa internacionais. Em
relação ao fortalecimento e à ampliação das networks com instituições
financeiras e governamentais, 92,5% os proporcionam às empresas incubadas. Em
relação à participação das empresas incubadas em programas formais de
internacionalização como Softex, Apex Brasil e outros projetos, 57,5% das
incubadoras proporcionam, sendo 30% de forma moderada. Pouco mais da metade das
incubadoras possui equipe, assessores e consultores com redes internacionais de
relacionamentos de negócios, sendo 27,5% de forma moderada. Ainda, 12
incubadoras (30%) tentam captar empreendimentos/empresas estrangeiras para o
processo de incubação.
A partir do teste de comparação de média - ANOVA - realizado com o bloco de
afirmativas do construto ntwork, verifica-se que existe diferença de percepção
em relação às incubadoras que têm programa voltado para a internacionalização
das empresas incubadas e aquelas que não têm (p = 0,002). O grupo que
manifestou maior média foi o de incubadoras que possuem programa.
É possível verificar nos resultados do teste de comparação de média - ANOVA - ,
na tabela_2, as diferenças de percepção sobre as relações entre ações e
serviços do construto network e ter empresas internacionalizadas. Em todas
essas afirmativas em que houve diferença de percepção, o grupo que manifestou
maior média foi o de incubadoras que têm empresa internacionalizada.
Tabela 2
Relação entre Ações e Serviços do Construto Network e Internacionalização das
Empresas
[/img/revistas/rausp/v48n1/12t02.jpg]
A partir desses resultados, também é possível perceber que as diferenças de
percepções são normalmente em relação às redes de relacionamento de negócios
internacionais, que parecem contribuir de maneira mais efetiva para a
internacionalização das empresas incubadas e graduadas.
5.2.4. Construto mercado externo
Quanto aos cursos, capacitações e tutorias proporcionados pelas incubadoras
durante o processo de incubação, 15 incubadoras (37,5%) proporcionam algum tipo
de treinamento sobre o mercado externo às empresas incubadas. Por meio do teste
de cruzamento, é possível notar que, dessas, 12 têm empresas
internacionalizadas. Entretanto, das incubadoras que não proporcionam
capacitação sobre o mercado externo, 12 também têm empresas
internacionalizadas.
A maior parte das incubadoras (70%) viabiliza o acesso das empresas incubadas a
informações sobre o mercado externo por meio de pesquisas e bancos de dados. Em
relação aos serviços e ações proporcionados pelas incubadoras às empresas
incubadas, 62,5% proporcionam consultorias, assessorias ou serviços de
importação e exportação, sendo 35% de forma moderada; 62,5% proporcionam
consultorias, assessorias ou serviços de transferência internacional de
tecnologia, sendo 27,5% de forma moderada; 45% proporcionam a divulgação dos
projetos e produtos das empresas incubadas no exterior, sendo 25% de forma
moderada; 57,5% proporcionam identificação e prospecção de negócios e parceiros
no mercado externo, sendo 35% de forma moderada.
A partir dos dados apresentados, é possível verificar que, na maioria das
vezes, mais da metade das incubadoras proporciona ações e serviços que permitem
às empresas desenvolver o conhecimento sobre o ambiente global e sobre mercados
estrangeiros. Entretanto, uma parte considerável somente o faz de forma
moderada.
A partir do teste de comparação de média - ANOVA - realizado com o bloco de
afirmativas do construto mercado externo, verifica-se que existe diferença de
percepção em relação às incubadoras que têm programa voltado para a
internacionalização das empresas incubadas e as que não têm (p = 0,000). O
grupo que manifestou maior média foi o de incubadoras que possuem programa.
É possível verificar nos resultados do teste de comparação de média - ANOVA - ,
na tabela_3, as diferenças de percepção sobre as relações entre ações e
serviços do construto mercado externo e ter empresas internacionalizadas. Em
todas essas afirmativas em que houve diferença de percepção, o grupo que
manifestou maior média foi o de incubadoras que têm empresa internacionalizada.
Tabela 3
Relação entre Ações e Serviços do Construto Mercado Externo e
Internacionalização das Empresas
[/img/revistas/rausp/v48n1/12t03.jpg]
É possível verificar que todas as ações e serviços realizados pelas incubadoras
em relação ao mercado externo influenciam a internacionalização das empresas
incubadas e graduadas.
6. CONCLUSÃO
De acordo com a literatura, para uma empresa internacionalizar, é importante
que os empreendedores tenham características e experiências voltadas ao mercado
internacional, que as características e as capacidades organizacionais estejam
adequadas para o mercado externo, que a empresa esteja motivada e formule boas
estratégias internacionais, que participe de redes de relacionamentos de
negócios tanto nacionais como internacionais e que tenha conhecimento do
ambiente global e das características específicas de cada mercado estrangeiro
no qual tenha interesse em desenvolver suas atividades.
Para atender aos objetivos de pesquisa, elaborou-se a partir da revisão da
literatura um modelo de análise da contribuição das incubadoras na
internacionalização das empresas incubadas. O modelo mostrou-se útil para que,
a partir dos fatores que contribuem com a internacionalização das empresas, as
ações e os serviços das incubadoras fossem identificados. A divisão dos fatores
em construtos mostrou-se importante, tanto para operacionalizar a coleta de
dados, como para proporcionar melhor visualização da teoria e dos pontos nos
quais as incubadoras podem desenvolver-se para serem mais efetivas em relação à
internacionalização das empresas.
Os resultados demonstram que a incubação afeta positivamente a
internacionalização de empresas, visto que aproximadamente 10% das empresas
incubadas e graduadas iniciaram o processo de internacionalização,
independentemente de ter ou não programa de internacionalização formalizado.
Esse índice pode ser considerado alto em relação a menos de 2% de MPEs
exportadoras do País e, se atentar-se para o fato de que a maioria das MPEs
exportadoras são do ramo do comércio e da indústria e que somente uma pequena
parcela das exportações são de média e alta tecnologia, esse índice é ainda
mais expressivo (MDIC, 2010; SEBRAE, 2011).
Em todos os construtos, o grupo que apresentou maior média foi o de incubadoras
que possuem programa formal voltado à internacionalização. Contudo somente os
construtos mercado externo e network apresentaram relação direta com a
internacionalização de empresas.
Desmembrando os construtos em ações e serviços, os que se mostraram mais
relevantes à internacionalização das empresas foram: a utilização de critérios
de seleção como a orientação internacional dos empreendedores; a tolerância dos
empreendedores ao risco; a proatividade dos empreendedores; a experiência dos
empreendedores no setor; os produtos e serviços inovadores da empresa; os
diferenciais e os recursos únicos da empresa; o proporcionar capacitação em
gestão de tecnologia e inovação, em gestão mercadológica, em gestão da
qualidade, em gestão de distribuição e logística e sobre o mercado externo.
Também se mostrou importante proporcionar às empresas incubadas participação em
programas formais de internacionalização como Softex, Apex Brasil e outros
projetos; consultorias, assessorias ou serviços de importação e exportação;
consultorias, assessorias ou serviços de transferência internacional de
tecnologia; divulgação dos projetos e produtos das empresas incubadas no
exterior; identificação e prospecção de negócios e parceiros no mercado
externo, além de viabilizar o acesso das empresas incubadas a captação de
recursos para exportação, investimentos estrangeiros e capital de risco.
Quanto aos cursos, capacitações e tutorias proporcionados pelas incubadoras
durante o processo de incubação, grande parte das incubadoras proporciona algum
treinamento e é possível perceber um esforço considerável em capacitar as
empresas incubadas, o que contribui para o desenvolvimento de características
organizacionais importantes para o processo de internacionalização e
conhecimento do mercado externo. As capacitações proporcionadas pelas
incubadoras apresentaram influência sobre a internacionalização das empresas.
Mesmo assim, apesar do grande número de ações e serviços voltados ao
desenvolvimento das características organizacionais, alguns não apresentaram
grande influência sobre a internacionalização das empresas. Mesmo que na
literatura essas características sejam apontadas como importantes para a
internacionalização, esse resultado indica que também são características
voltadas a inovação e competitividade, proporcionadas pelas incubadoras de
forma geral e, portanto, não se destacaram.
A maioria das incubadoras que tem programa voltado para a internacionalização
utiliza critérios de seleção de empresas para incubação que contribuem para a
internacionalização das empresas incubadas. A utilização de critérios de
seleção baseados nas características dos empreendedores apresentou alta
influência sobre a internacionalização de empresas. Por outro lado, as
experiências internacionais dos empreendedores, ao contrário do que aponta a
literatura, apresentaram baixa influência sobre a internacionalização das
empresas. Isso pode indicar que, conforme a abordagem de network, as redes de
relacionamentos de negócios suprem essa falta de experiência.
A incubadora proporcionar às empresas incubadas fortalecimento e ampliação das
networks internacionais com outras empresas, fortalecimento e ampliação das
networks internacionais com parceiros, associações e redes de incubação,
fortalecimento e ampliação das networks com instituições de ensino e centros de
pesquisa internacionais também influenciou a internacionalização, assim como a
própria incubadora participar de networks nacionais e internacionais com
parceiros, associações, redes de incubação e redes de relacionamentos de
negócios. Possuir equipe, assessores e consultores com redes internacionais de
relacionamentos de negócios também se mostrou relevante.
Quanto às redes de relacionamentos de negócios, percebe-se que há várias ações
e serviços voltados ao ambiente nacional. Por outro lado, ações e serviços e
participação tanto das incubadoras como das empresas diminuem aproximadamente
pela metade nos relacionamentos internacionais. Ainda assim, o fortalecimento
das redes de relacionamento nacionais das empresas não demonstrou grande
relevância em sua internacionalização, pois, assim como outras ações e
serviços, já são realizadas de forma geral pelas incubadoras. Já as redes de
relacionamento de negócios internacionais das empresas apresentaram grande
influência sobre sua internacionalização. As redes de relacionamento das
próprias incubadoras também apresentaram influência sobre a internacionalização
das empresas.
A partir dos dados apresentados, é possível verificar que, na maioria das
vezes, mais da metade das incubadoras proporciona ações e serviços que permitem
às empresas desenvolver o conhecimento sobre o ambiente global e sobre mercados
estrangeiros. Essas ações e serviços mostraram-se muito importantes na
internacionalização das empresas incubadas e graduadas. Entretanto, uma parte
considerável das incubadoras proporciona essas ações e serviços somente de
forma moderada.
Por fim, o estudo evidenciou que é proporcionada uma gran--de quantidade de
ações e serviços que contribuem para a internacionalização das empresas
incubadas, mas nem todos têm a mesma efetividade. Mesmo nas incubadoras que não
têm um programa formal voltado à internacionalização de empresas, há várias
ações e serviços que contribuem para esse processo, o que se reflete também na
internacionalização das empresas. Percebe-se que algumas ações e serviços de
incubadoras voltados ao desenvolvimento de inovação e competitividade das
empresas, mesmo que intencionalmente não visem ao mercado externo, acabam por
impactar na internacionalização das empresas incubadas e graduadas, mesmo que
de forma mais branda do que as ações e serviços mais específicos.
Essas ações e serviços podem orientar estratégias quanto ao que pode ser
proporcionado às empresas, ainda antes de elas se internacionalizarem,
incentivando sua entrada em mercados internacionais. Também servem de
recomendação para incubadoras tecnológicas e programas governamentais que visem
contribuir para a internacionalização das empresas incubadas e graduadas. Maior
ênfase deve ser dada aos construtos mercado externo e network, que se mostraram
mais eficazes na internacionalização de empresas.
A pesquisa forneceu indicações de ações e serviços que são mais efetivos na
internacionalização das empresas. Entretanto, este estudo não é conclusivo,
pois considera as percepções apenas dos gerentes das incubadoras. Nesse
sentido, recomenda-se que estudos futuros sejam realizados com empresas
incubadas e graduadas a fim de pesquisar a percepção dos empreendedores.
Espera-se, assim, que este estudo tenha contribuído para a ampliação da
compreensão sobre a contribuição das incubadoras na internacionalização das
empresas incubadas, e que novos estudos venham somar-se à construção deste
debate, especialmente no Brasil.