A aptidão dos pesquisadores brasileiros pertencentes aos programas de pós-
graduação stricto sensu em Administração para pesquisas quantitativas
1. INTRODUÇÃO
No mundo e crescentemente no Brasil, as universidades são reconhecidas pela
qualidade de seu corpo docente e pela qualidade da pesquisa acadêmica de seus
programas stricto sensu (Konrad & Pfeffer, 1990; Pfeffer & Langton,
1993; Im & Hartman, 1997; Kotrlik, Bartlett, Higgins & Williams, 2002).
Para a progressão e a estabilidade na carreira, o corpo docente, principalmente
dos programas de pós-graduação das universidades, buscam publicar suas
pesquisas em periódicos reconhecidos. A publicação nos periódicos de melhor
qualidade já é difícil e trabalhosa no Brasil, e ainda mais nos de
reconhecimento internacional (Serra, Fiates & Ferreira, 2008).
Os periódicos internacionais apresentam uma tendência de aumento de publicação
de artigos empíricos com análises quantitativas de dados em detrimento de
outros tipos de artigos, principalmente os baseados em trabalhos conceituais/
teóricos e trabalhos de natureza qualitativa (Phelan, Ferreira & Salvador,
2002; Serra, Fiates & Ferreira, 2008). Também no Brasil, considerando como
exemplo os artigos publicados no Encontro da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD) sobre o tema Resource-based
View (RBV), Serra, Ferreira, Pereira e Lisoni (2008) notaram um aumento
significativo do número de artigos empíricos apresentados em detrimento de
outros tipos de trabalhos. A possível justificativa é que grande parte dos
trabalhos qualitativos não publicados possua fraco desenvolvimento teórico, o
que inviabiliza sua publicação.
Em função dessa tendência, a despeito da emergência de correntes de pesquisa
qualitativa (por exemplo, Vaara & Whittington, 2012), a capacitação dos
pesquisadores em análise de dados é fundamental para que as pesquisas possam
gerar contribuição científica atual e futura (Shook, Ketchen Jr., Cycyota &
Crockett, 2003). Alguns trabalhos propuseram e investigaram a crescente
tendência de utilização de técnicas de análises de dados nos estudos de
estratégia (Camerer & Fahey, 1988; Hitt, Gimeno & Hoskisson, 1998;
Shook et al., 2003), que é consequência da existência e do crescimento de
muitas disciplinas de métodos quantitativos nos programas internacionais (Aiken
et al., 1990).
O tema tem confirmado sua importância pela tendência verificada de exigência de
maior rigor metodológico para aceitação dos artigos por periódicos
internacionais de grande relevância, com especial preferência por pesquisas com
abordagem quantitativa (Serra, Fiates & Ferreira, 2008). No entanto, a
aplicação bem-sucedida de uma abordagem quantitativa, com o uso de técnicas
estatísticas multivariadas, programação linear e outros métodos mais
sofisticados, requer conhecimento especializado e, em geral, recursos
computacionais adequados e cada vez mais disponíveis (Silva, 2004). Entretanto,
o conhecimento especializado sobre métodos quantitativos não é comum e tende a
concentrar-se em estatísticos, matemáticos, cientistas da computação e pessoas
formadas ou atuantes em cursos de pós graduação stricto sensu por seu
envolvimento com pesquisa (Veiga, 2006).
Nesse contexto, nesta pesquisa, o objetivo é investigar o nível de domínio dos
pesquisadores brasileiros dos programas de pós-graduação em administração em
relação ao uso de técnicas quantitativas para análise de dados. O trabalho
segue o estudo proposto por Shook et al. (2003), que verificou as tendências de
uso de técnicas de análise de dados em artigos e a capacitação dos
pesquisadores em relação às técnicas encontradas. Trata-se de uma pesquisa com
abordagem quantitativa, com base em dados coletados com 164 docentes de
programas na área de Administração recomendados pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Vale ressaltar que, neste
artigo, o objetivo não é dar ênfase ao produtivismo acadêmico, como discutido
por Godoi e Xavier (2012); pelo contrário, é discutir aspectos fundamentais
para a produção acadêmica relevante, como exposto por Serra, Fiates &
Ferreira (2008).
No trabalho, apresentam-se ainda mais quatro seções, além desta introdução: a
fundamentação teórica a seguir, a metodologia utilizada para a concretização
dos objetivos, a apresentação e análise dos dados e, finalmente, as
considerações finais.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Os programas de pós-graduação das universidades são, em geral, avaliados em
grande parte pela produção acadêmica de seus pesquisadores. Assim,
consequentemente, seus professores/pesquisadores são avaliados, e eventualmente
promovidos, por sua publicação em periódicos acadêmicos qualificados (Konrad
& Pfeffer, 1990; Pfeffer & Langton, 1993; Im & Hartman, 1997;
Kotrlik et al., 2002).
No Brasil não é diferente, e o requisito principal para a evolução na carreira
como pesquisador nos programas de pós-graduação são os artigos publicados
(Serra, Fiates & Ferreira, 2008). Campanário (1996, p. 184) reforça: "A
publicação é um fator-chave numa carreira acadêmica de sucesso, e os
avaliadores têm influência sobre quem consegue a promoção, quem consegue os
financiamentos e até sobre quem consegue ser convidado para conferências
acadêmicas".
Outro aspecto importante é a qualidade do periódico. A esse respeito, Tsang e
Frey (2007) argumentam que a qualidade do periódico acadêmico é função do
impacto dos artigos nele publicados em pesquisas subsequentes. Esses
periódicos, cujo fator de impacto é alto, possuem muitos artigos submetidos a
avaliação, o que aumenta o rigor de avaliação, o alto índice de rejeição e a
grande demora para publicação (Serra, Fiates & Ferreira, 2008).
Pendergast (2007) ressalta a importância de três fatores para a publicação de
um trabalho acadêmico: o rigor teórico, o rigor metodológico e a contribuição
para a teoria e para a prática. Bacharach (1989), Whetten (1989) e Singh (2003)
reconhecem também esses fatores como fundamentais para a construção de um
trabalho acadêmico relevante. Como observado anteriormente, o rigor
metodológico, presente como fator fundamental, está relacionado aos métodos
utilizados para responder às questões de pesquisa (Pendergast, 2007). Embora
classificando-se os artigos empíricos pelo método utilizado, seja qualitativo,
seja quantitativo (Phelan et al., 2002), existe uma tendência nos principais
periódicos a privilegiar artigos com análises quantitativas (Serra, Fiates
& Ferreira, 2008).
Adicionalmente, apesar do peso para publicação de uma pesquisa quantitativa
relevante e, por diversos motivos, apesar da preferência dos principais
periódicos internacionais por esse tipo de pesquisa, parece haver uma
predominância significativa de trabalhos qualitativos na pesquisa brasileira em
administração e áreas afins (Serra, Fiates & Ferreira, 2008; Barbosa,
Ponte, Oliveira & Moura, 2008; Nascimento, Junqueira & Martins, 2010).
2.1. A pesquisa relevante e o produtivismo
Na carreira de pesquisador, exige-se a publicação de artigos em periódicos,
incentivando que os trabalhos de dissertação e tese sejam publicados pelos
alunos com seus orientadores e que a divulgação desses trabalhos aconteça na
participação em seminários e congressos. Essa publicação deixa de ser somente
voluntária e tem sido criticada pela existência do produtivismo acadêmico, que
tem sido bastante debatido em relação ao comportamento de entidades
governamentais, programas e pesquisadores (Godoi & Xavier, 2012). O
produtivismo acadêmico tem sido definido pela publicação em quantidade em
detrimento da qualidade e da relevância do trabalho realizado, com foco somente
na progressão acadêmica e no cumprimento de metas (Sguissardi, 2010). No
entanto, a ciência, para evoluir, precisa de estudo profundo, de dados
coletados de diferentes formas, de análise detalhada, enfim de tempo para
maturação. Na área de ciências sociais, mais especificamente na administração,
a construção de conhecimento novo parece caminhar a passos lentos e essa
preocupação permeia a discussão entre qualidade versus quantidade (Sguissardi,
2010; Godoi & Xavier, 2012). Nessa perspectiva, a preocupação com a
qualidade baseia-se no fato de que o "trabalho intelectual é a marca do humano"
(Freitas, 2011, p. 1158) e o humano de per si não é exato, é um mix de razão e
emoção, de objetividade e de subjetividade. Nesse sentido:
A pesquisa é um investimento social e deve ser colocada em debate no
que diz respeito àquilo que faz e como é feita. O compromisso maior
da pesquisa deveria ser produzir e elevar conhecimentos para a
melhoria da vida individual e coletiva em suas múltiplas dimensões e
interfaces, ou seja, o conhecimento acumulado deveria ser moralmente
responsável diante da vida e da sociedade (Freitas, 2011, p. 1160).
Neste trabalho, aborda-se apenas um dos aspectos que podem melhorar tanto a
produtividade como a qualidade, pois, concorda-se que a qualidade e a
relevância dos trabalhos científicos é fundamental. Assim, tendo a pesquisa
como elemento essencial, defende-se que pesquisadores brasileiros progridam no
sentido de diminuir suas dificuldades de publicação em periódicos nacionais com
mais fatores de impacto (Serra, Fiates & Ferreira, 2008), considerados mais
relevantes, pelo maior rigor na revisão e no processo de seleção de artigos.
Com o intuito de alertar para a necessidade de maior qualidade e consistência
nas publicações, o periódico Academy of Management Journal, durante os anos de
2011 e 2012, publicou uma série de editoriais alertando para os problemas de
qualidade de artigos científicos submetidos (ver Weick, 1989; Whetten, 1989;
Sutton & Staw, 1995), Assim sendo, o progresso na carreira e a busca pela
publicação nos melhores periódicos implicam melhorar a qualidade dos artigos
pelo desenvolvimento de competências dos pesquisadores nacionais.
Pelo exposto, para que a pesquisa acadêmica nacional em administração possa
melhorar em qualidade, parece ser necessário desenvolver nos docentes e nos
alunos dos programas competências que potencializem suas aptidões. Considera-se
competência como definido por Dolz e Ollagnier (2004, p. 81), "uma competência
é definida como um sistema de conhecimentos, conceituais e procedimentais,
organizados em esquemas operatórios, que permitem, com relação a uma família de
situações, identificar uma tarefa problema e sua resolução por meio de uma ação
eficaz". McClelland (1973), por sua vez, diferencia competências de aptidões.
Para o autor, competência está relacionada a características inerentes a uma
pessoa e pode ser relacionada a um desempenho superior na realização de
determinada tarefa, enquanto aptidão está relacionada a seus dotes (dons), ou
seja, trata-se de características inatas. Sendo assim, a competência requer
colocar essas aptidões em prol de resultados. No entanto, a competência pode
ser desenvolvida permitindo expandir as aptidões e mesmo superar suas
limitações.
Nesse sentido, pode-se complementar com Durand (1998) que define competências
com base em três dimensões - conhecimentos (aspectos cognitivos), habilidades
(questões técnicas) e atitudes (relacionadas à personalidade) - que, juntas,
podem levar a um alto desempenho. Da mesma forma, segundo Coll, Pozzo, Sarabia
& Valls (1998, p. 77), as competências abordam três tipos de conteúdos:
•os procedimentais, que os autores entendem como "[...] um conjunto
de ações ordenadas, orientadas para consecução de uma meta". Em
outras palavras, aqueles conteúdos relacionados ao saber fazer, isto
é, às técnicas, aos métodos, às estratégias e às habilidades que
possibilitam a execução de tarefas ou de ações;
•o conteúdo conceitual, que Coll et al. (1998) entendem como aquele
que se relaciona ao saber sobre determinado tema e abrange conceitos
e princípios;
•os conteúdos atitudinais, que dizem respeito a valores e atitudes.
Nesse contexto, acredita-se que o uso de métodos quantitativos de forma
adequada em pesquisas acadêmicas requer que docentes e discentes tenham não
apenas o conhecimento de métodos, mas também a habilidade para utilizá-los em
contextos pertinentes aos objetivos de seus estudos e, sobretudo, que tenham as
atitudes necessárias para o uso correto.
Sendo assim, no próximo tópico aborda-se a pesquisa quantitativa para que seja
possível compreender de que forma essas dimensões precisariam estar presentes
para garantir a qualidade requerida pelas publicações.
2.2. A pesquisa quantitativa
A pesquisa quantitativa nas ciências sociais tem como marco a Filosofia
Positivista de Augusto Comte (pai da Sociologia). Essa filosofia afirma que o
mundo pode ser compreendido segundo uma realidade objetiva, a qual pode ser
observada, medida ou quantificada de alguma forma (Seers & Critelton,
2011). Apesar da evolução dos métodos qualitativos com o uso de abordagens mais
subjetivistas, a Filosofia Positivista é considerada, até os dias atuais, a
base da pesquisa em Administração.
Algumas das características do pensamento positivista são seu caráter
eminentemente empírico e a forte influência estatística. Seu principal objetivo
é conferir com exatidão os resultados de indicadores e tendências observáveis
da realidade, reduzindo assim as distorções possíveis de ocorrer na fase da
análise e interpretação dos dados (Minayo & Sanches, 1993; Oliveira, 2002;
Diehl & Tatim, 2004; Creswell, 2007; Booth, Colomb & Williams, 2008).
Em síntese, para Minayo e Sanches (1993), o método quantitativo nada mais é do
que a expressão da concepção positivista de ciência, que, por sua vez, defende
que a única forma científica de apreender o social é a observação dos dados da
experiência, ou seja, dos caracteres exteriores, objetivamente manifestos nos
atos. Dessa forma, a lógica da pesquisa quantitativa baseia-se em seu caráter
comparativo e exterior aos sujeitos, o que garante a dissociação da pesquisa e
do pesquisador.
O método quantitativo, de acordo com Richardson (1999), emprega a quantificação
tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no tratamento delas por
meio de técnicas estatísticas, desde as mais simples - como percentual, média,
desvio padrão -, às mais complexas - como coeficiente de correlação, análise de
regressão e análises multivariadas. Marconi e Lakatos (2008) resumem essa
abordagem com três traços bem definidos: objetividade, sistematização e
quantificação dos conceitos, evidenciados na comunicação.
A quantificação pode produzir generalizações acerca do comportamento humano a
partir da aplicação de testes com validade e fidedignidade. De modo específico,
pode-se argumentar que o método quantitativo tem por objetivo básico garantir o
máximo de precisão nos resultados obtidos e evitar distorções de análise e
interpretação, proporcionando maior margem de confiança na pesquisa (Teixeira
& Pacheco, 2005). Além disso, tendo como base a distinção positivista entre
fatos e valores, a pesquisa quantitativa apresenta-se bastante objetiva, o que
lhe confere grande reconhecimento na academia (Santos Filho, 2001). A
possibilidade de generalização, validade e confiabilidade potencializam a
geração de conhecimento novo.
Godoy (1995) corrobora essa perspectiva ao defender que, em um estudo com
abordagem quantitativa, o pesquisador conduz seu trabalho a partir de um
planejamento prévio, com hipóteses claramente especificadas e variáveis
operacionalmente definidas. Dessa forma, o pesquisador foca a medição objetiva
e a quantificação dos resultados, buscando o máximo de precisão em seu
trabalho.
Ressalta-se ainda que os estudos quantitativos permitem o uso de amostras
representativas para a mensuração de opiniões, reações, hábitos e atitudes em
um universo (Neves, 1996). Como a administração é uma das áreas de conhecimento
em que o caráter multidisciplinar apresenta-se de forma mais expressiva, pois
envolve diversos campos do saber, como Economia, Psicologia, Sociologia,
Matemática, Contabilidade e Filosofia, existem casos específicos em que os
métodos quantitativos são os mais indicados. Nesse contexto, os métodos bem
como seu uso evoluem para dar conta dos fenômenos cada vez mais complexos da
área da Administração.
Shook et al. (2003) avaliaram as principais técnicas de análise de dados
utilizadas pelo Strategic Management Journal no período de 1980 até 2001. Seu
estudo procurou avaliar o resultado de trabalhos anteriores que arriscaram
previsões sobre o uso de técnicas estatísticas para a produção de conhecimento
científico. Camerer e Fahey (1988) e Hitt et al. (1998) afirmavam que a
pesquisa em estratégia iria explorar técnicas mais avançadas para análise
quantitativa de dados, que o uso de técnicas de regressão - chamadas de General
Linear Models (GLM) usuais na época (Shook et al., 2003).
Apesar da previsão daquele grupo de autores, as técnicas GLM continuavam a ser
as mais utilizadas no estudo de Shook et al. (2003), correspondendo à
utilização em mais de 57% dos estudos nos anos 1990 e 63% deles nos anos de
2000 e 2001. Dentre as técnicas que compõem a GLM, no mesmo estudo,
considerando-se o mesmo período, as de regressão múltipla e de regressão
hierárquica eram as mais populares (45% nos anos 1990 e 56% nos anos 2000 e
2001).
Entretanto, a utilização de técnicas de análise de dados mais sofisticadas
também cresceu, concordando em parte com as previsões dos trabalhos de Camerer
e Fahey (1988) e Hitt et al. (1998). Técnicas para analisar dados
longitudinais, para a análise de eventos discretos e para descobrir estruturas
causais, tiveram um aumento consistente de utilização desde a década de 1990.
Dentre as diversas técnicas, as que mais se desenvolveram foram as de regressão
logística e de modelagem de equações estruturais.
Nesta parte do estudo, em relação às proposições de Camerer e Fahey (1988) e
Hitt et al. (1998), evidencia-se o crescimento dos métodos de análise de dados
mais sofisticados como previsto por esses autores, entretanto, ao contrário do
que argumentaram, isso não ocorreu em prejuízo das técnicas de regressão, mas
das técnicas básicas, como t-tests e outros.
2.3. Domínio das técnicas de análise de dados pelos pesquisadores norte-
americanos em estratégia
Tanto Camerer e Fahey (1988) como Hitt et al. (1998) argumentam que as técnicas
de regressão são inadequadas em muitas situações, e seu uso prejudicaria o
resultado da pesquisa e, consequentemente, o desenvolvimento de conhecimento
(Bergh, 1993). No entanto, apesar de as técnicas de regressão não serem
efetivas no teste de hipóteses em análises de dados não experimentais e com
muitas relações não recursivas, a maior parte dos pesquisadores não estaria
preparada para o uso de outras técnicas mais sofisticadas.
Para avaliar essa hipótese, a segunda parte do trabalho de Shook et al. (2003)
avalia um levantamento realizado com 77 pesquisadores norte-americanos de
renome em um consórcio doutoral da Academy of Management, em dois momentos
distintos de sua formação. Na Tabela_1, sintetizam-se seus resultados,
mostrando o nível de competência segundo a percepção do próprio entrevistado
acerca de várias técnicas quantitativas. Os entrevistados atribuíam a si
próprios notas crescentes que variavam de 1 a 5. Os autores concluem que muitos
pesquisadores, pelo uso ainda significativo de técnicas de regressão, podem não
desenvolver outras competências e por isso perdem a oportunidade de explorar
seus dados adequadamente.
Shook et al. (2003) argumentam também que, embora os estudantes de doutorado
não precisem ser experts em todas as técnicas, nos resultados evidencia-se que
a preparação dos futuros doutores e o aperfeiçoamento dos pesquisadores
aparentemente não estão adequados às tendências em relação às técnicas de
análise de dados e às necessidades futuras de geração de conhecimento.
Na Tabela_1, mostra-se que os pesquisadores se percebiam como competentes em
todas as técnicas simples de análise: correlações, testes que envolviam médias
e modelos lineares em geral; no entanto, em relação às técnicas mais
sofisticadas, apontavam competência apenas em regressão logística (referente ao
método de eventos discretos) e análise exploratória de fator.
3. METODOLOGIA
Neste estudo, parte-se de uma filosofia positivista com uma abordagem
quantitativa. Quanto aos objetivos, ele classifica-se como descritivo, pois
nesse tipo de pesquisa é possível descrever o comportamento do fenômeno de
interesse, no caso a aptidão dos docentes dos programas de pós-graduação em
Administração (Collis & Hussey, 2005, p. 24).
A estratégia de pesquisa foi o survey, a coleta de dados foi realizada por meio
de um questionário eletrônico, cujo acesso era fornecido aos pesquisados por um
convite para participação enviado a todos por e-mail, nesse convite havia um
link que permitia ao pesquisador ir facilmente à página da Internet em que o
questionário estava sediado e em poucos minutos finalizar sua participação na
pesquisa.
Para possibilitar a comparação com os resultados obtidos por Shook et al.
(2003), as mesmas questões foram utilizadas. Nesse sentido, o respondente era
convidado a responder acerca de quão competente ele era em cada método
quantitativo relacionado, conforme a Tabela_1, em dois momentos distintos de
sua vida: quando terminou seu doutorado e atualmente. Para as respostas,
utilizou-se uma escala de 1 a 5 com os seguintes significados: 1 = Quase Nada;
2 = Pouco; 3 = Razoavelmente; 4 = Bem; e 5 = Muito Bem. Adicionalmente,
acrescentaram-se algumas questões para conhecer melhor o perfil dos
respondentes e suas intenções e percepções acerca dos métodos quantitativos. As
questões adicionais contemplaram as variáveis elencadas na Figura_1.
A população de interesse é composta por todos os professores que atuam em
programas brasileiros de pós-graduação stricto sensu em Administração
recomendados pela CAPES. Foi realizado um levantamento no site dessa
instituição para a identificação dos programas e, posteriormente, realizou-se
pesquisa nos sites de todos os programas para identificar o corpo docente e
seus contatos de e-mail. Infelizmente nem todos os programas mantêm seus sites
atualizados, e alguns dos docentes ou não divulgavam seu contato ou o e-mail
fornecido não era mais utilizado. Nesses casos um e-mail adicional era enviado
ao coordenador do curso solicitando-lhe que divulgasse a pesquisa junto a seus
docentes.
Apesar dos esforços e da insistência dos pesquisadores (três lembretes para a
participação da pesquisa foram enviados em um intervalo de 15, 30 e 45 dias,
respectivamente), apenas 164 docentes deram retorno, quatro dos quais não
responderam a todas as questões. O prazo de coleta dos dados totalizou dois
meses. A amostra então foi composta por esses respondentes e, dessa forma,
pode-se considerar a amostra como probabilística. Ressalta-se que alguns
participantes tiveram dificuldade em responder a pesquisa no site disponível,
mas fizeram questão de solicitar o questionário por e-mail e responderam pelo
mesmo meio.
Os dados coletados foram agrupados em uma planilha Excel e tratados com o uso
de estatística descritiva, para que fosse possível a comparação com os
resultados obtidos na pesquisa de Shook et al. (2003) dispostos na Tabela_1.
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Antes de passar à análise dos dados dos respondentes, é importante ressaltar
que somente 164 respondentes na população de pesquisadores da área responderam.
Esse nível de resposta pode levar a duas suposições: há falta de cooperação dos
pesquisadores para com o trabalho realizado e a maior parte dos pesquisadores
não usa métodos quantitativos em seus estudos. Acredita-se que a segunda
suposição seja o motivo, não só na experiência dos autores em relação ao
acompanhamento de publicações e na avaliação de artigos para periódicos
acadêmicos nacionais, assim como pelo resultado encontrado em trabalhos
realizados que investigaram dentre outros aspectos os tipos de artigo segundo o
método (Barbosa et al., 2008; Serra, Ferreira, Pereira & Lisoni, 2008;
Nascimento et al., 2010). Fica aqui ressaltada uma limitação do método em não
colocar essa questão de controle logo ao início da pesquisa.
Passa-se agora à análise dos dados, iniciando-se pela caracterização da amostra
pesquisada. Quanto à formação dos docentes, percebe-se, na análise da Tabela_2,
uma diversidade em relação às áreas de conhecimento de origem. Apesar de a
maioria dos docentes ser oriunda da área de ciências sociais aplicadas, a área
da engenharia também apresenta boa representatividade, o que, de certa forma,
poderia garantir maior competência dos docentes no uso de métodos
quantitativos, já que esses profissionais desenvolvem em sua trajetória
acadêmica essencialmente raciocínio lógico e sistêmico, e proficiência em
cálculo avançado e modelos matemáticos.
Como a amostra é composta de docentes de programas de pós-graduação e há
requisitos mínimos de pesquisa e produção científica para o credenciamento de
docentes nesses programas, a presença de recém-doutores não é ainda muito
comum, o que explica que a maioria dos docentes pesquisados tenha defendido seu
doutorado há mais de cinco anos, conforme pode ser constatado pelos dados da
Tabela_3.
![](/img/revistas/rausp/v49n2/13t03.jpg)
Como o interesse da pesquisa está na competência do docente, e devido à
complexidade de vários dos métodos quantitativos, o fato de o docente já ter
cursado disciplinas relacionadas a esse tema seria importante. Como consta na
Tabela_4, na análise evidenciou-se que a maioria dos entrevistados (65,85%)
cursou disciplinas dessa natureza. Saunders, Lewis e Thornhill (2009)
argumentam que a escolha do que pesquisar é influenciada não só pelos tópicos
que atraem o pesquisador, mas também pela forma como coleta as informações e
pelas habilidades que possui ou é capaz de desenvolver.
[/img/revistas/rausp/v49n2/13t04.jpg]
Na Tabela_4, evidencia-se que a maior parte dos entrevistados cursou
disciplinas de métodos quantitativos. Destaca-se que três respondentes deixaram
essa questão sem resposta, e que 53 não cursaram disciplina alguma. Quanto ao
número de disciplinas, conforme a Tabela_5, observa-se que 57 respondentes
deixaram essa questão sem resposta. Esse número significativo de questionários
sem resposta ou com somente uma disciplina cursada reforça o fato de haver
poucos trabalhos publicados em função das habilidades dos pesquisadores
(Saunders et al., 2009).
[/img/revistas/rausp/v49n2/13t05.jpg]
Com relação às competências para o uso de métodos quantitativos, sabe-se que a
proficiência e a verdadeira aprendizagem acontecem a partir da experiência e do
uso prático que permitam a reflexão e a internalização dos conhecimentos
(Lewin, 1965; Kolb, 1984). Nesse contexto, o uso efetivo de métodos
quantitativos na própria pesquisa de doutoramento poderia ser considerado um
aspecto de potencialização do desenvolvimento no docente de competências nos
métodos de interesse nesse estudo.
Como consta na Tabela_6, os resultados foram bastante otimistas, pois a maioria
dos docentes afirma ter utilizado em sua pesquisa de doutoramento métodos
quantitativos, o que indica uma maior intimidade com esse tipo de abordagem
metodológica e maior segurança para o uso frequente desses métodos e de sua
indicação para os alunos que orienta.
[/img/revistas/rausp/v49n2/13t06.jpg]
Buscou-se, adicionalmente, verificar a existência de associação entre a área de
formação do doutorado e o uso de pesquisa quantitativa no desenvolvimento da
tese. O testeχ2 (Qui-quadrado) mostrou que essas duas variáveis apresentam
associação. A estatística do testeχ2 foi calculada em 10,622 e a probabilidade
de significância do teste, 0,014, mostrando que a probabilidade de cometer um
erro, aceitando-se a existência dessa associação, é de apenas 1,4%, ficando
abaixo dos aceitáveis 5%. Essa associação mostra a importância de que, nos
cursos de pós-graduação stricto sensu, se mantenha uma política
multidisciplinar tal que os docentes desenvolvam competências complementares.
Buscou-se, ainda, verificar a existência de associação entre a área de formação
do doutorado e o número de disciplinas cursadas de pesquisa quantitativa nesse
período de formação. O testeχ2 mostrou que essas duas variáveis apresentam
associação. A estatística do testeχ2 foi calculada em 31,554 e a probabilidade
de significância do teste, 0,0016, mostrando que a probabilidade de cometer um
erro, aceitando-se a existência dessa associação, é de apenas 0,16%, ficando
bem abaixo dos aceitáveis 5% (Tabela_7). Essa associação mostra que a oferta de
disciplinas de métodos quantitativos é significativamente diferente nas
diversas áreas de conhecimento dos cursos de pós-graduação stricto sensu
cursados pelos pesquisados.
No entanto, ao analisar-se a existência de associação entre o número de
disciplinas cursadas no doutorado e a utilização de pesquisa quantitativa na
tese, essa associação não pôde ser comprovada, pois o erro de aceitá-la seria
muito alto (30,20%). Esse aspecto pode suscitar alguns questionamentos: a
escolha das disciplinas cursadas pode não estar associada ao trabalho de tese
pretendido; as disciplinas cursadas podem não estar desenvolvendo as
competências necessárias para o uso efetivo dos métodos; e as disciplinas
cursadas podem não estar desenvolvendo a segurança necessária para o uso
efetivo dos métodos. Contudo, esses questionamentos precisam ser analisados
mais profundamente para testes e comprovação futura.
4.1. Análise das competências em métodos quantitativos
Nesta parte introdutória da análise evidencia-se que os docentes, em sua
maioria, cursaram disciplinas de métodos quantitativos e os utilizaram em suas
teses de doutorado. No entanto, chama a atenção o número de docentes que não
tiveram em sua formação disciplina alguma relacionada a métodos quantitativos
de pesquisa. Infelizmente, esses números parecem refletir-se nas competências
dos docentes nos diferentes métodos quantitativos, conforme a Tabela_8. Com
relação às técnicas especializadas, métodos quantitativos um pouco mais
sofisticados, em nenhum dos métodos a média atinge o nível de conhecimento
razoável (3). Esses resultados aparecem tanto no momento em que o docente
finaliza seu doutoramento como nos dias atuais, o que mostra que não houve
nesse intervalo nenhum tipo de aperfeiçoamento; pelo contrário, a maior parte
dos resultados indica que a competência decresceu um pouco para quase todos os
métodos, mostrando que a falta de uso leva à perda da proficiência e da
segurança. Já com relação às técnicas tradicionais, os docentes pesquisados
mostram maior conhecimento, atestando competência nos métodos de correlações,
testes de diferenças de médias (Teste T), regressão simples e regressão
múltipla. Embora importantes, esses resultados não são suficientes para
garantir o desenvolvimento de pesquisas mais significativas que levem ao avanço
da área e à internacionalização das pesquisas desenvolvidas nesses programas de
pós-graduação.
Em uma análise comparativa em relação aos pesquisadores norte-americanos,
conforme trabalho de Shook et al. (2003), percebe-se que, assim como os
pesquisadores norte-americanos, os brasileiros possuem competência maior em
técnicas quantitativas mais simples, as chamadas técnicas tradicionais. Porém,
diferentemente dos norte-americanos, que dominam todas as técnicas, os docentes
brasileiros apresentam competência em apenas quatro: métodos de correlações,
testes de diferenças de médias (Teste T), regressão simples e regressão
múltipla, e em um nível mais baixo do que o apresentado na pesquisa de Shook et
al. (2003). Em síntese, nos resultados deste estudo demonstra-se que os
docentes não apresentam destaque significativo em nenhuma das técnicas
avaliadas, ficando em média em todas as técnicas abaixo dos níveis (4) Bem e
(5) Muito Bem (Tabela_9).
Camerer e Fahley (1988) reforçam o fato de que somente técnicas de regressão
não levam à realização de trabalhos acadêmicos que possibilitem o
estabelecimento de relações causais, por exemplo. Hitt et al. (1998)
acrescentam que essas técnicas são deficientes para o teste de hipóteses.
Nos resultados encontrados, explicam-se os achados de Martins (1997) que, em
uma análise de 126 dissertações e teses, defendidas no período entre 1980 e
1993 em programas de pós-graduação em Administração, registrou que 1,6% adotava
uma abordagem empirista (uso de testes estatísticos); 37,1% podiam ser
consideradas como positivistas (estudos essencialmente descritivos, apoiados em
níveis estatísticos de significância, testes de hipóteses e relações entre
variáveis); e 7,2% adotavam uma abordagem sistêmica (com técnicas estatísticas
descritivas), enquanto as demais eram qualitativas.
Para analisar a importância atribuída pelos pesquisados ao uso e ao
desenvolvimento de competências em métodos quantitativos, buscaram-se novas
informações compiladas na Tabela_10, com relação à média das respostas e a seu
desvio padrão (sendo 1 pouca importância e 5 muita importância) e ao percentual
de respondentes que atribuíram notas 4 e 5 (importante e muito importante).
Esse resultado coincide com o argumento de Hitt et al. (1998) de que o domínio
dessas técnicas é vital para o progresso do conhecimento. Vale uma observação:
os autores acreditam que muito mais do que o domínio das técnicas, o domínio na
problematização para o uso de métodos adequados à pergunta de pesquisa seja
mais importante, visto que as técnicas podem ser utilizadas com ajuda de
especialistas. Vejam-se os resultados do trabalho de Shook et al. (2003), que
também denotam essa fraqueza nos estudos norte-americanos, apesar de uma
extensa publicação quantitativa.
Em sintonia com o observado no trabalho de Serra, Fiates e Ferreira (2008) que
pesquisaram os atributos para publicação com revisores e editores de periódicos
internacionais, nos dados, evidencia-se que todos os pesquisados atribuem
grande importância ao estudo de métodos estatísticos, bem como à necessidade de
dominar esses métodos para potencializar as chances de internacionalização de
suas pesquisas.
Gouvêa, Prearo e Romeiro (2012) concordam que, de fato, os cursos de pós-
graduação em Administração precisam preocupar-se com o uso de técnicas
estatísticas, não apenas para incrementar seu uso nas pesquisas da área, mas,
sobretudo, para qualificá-lo. Ao analisar a adequação no uso de técnicas
estatísticas multivariadas em teses e dissertações de duas instituições de
ensino superior na área de marketing na temática do comportamento do
consumidor, Gouvêa et al. (2012, p. 352) constataram que:
Quanto à qualidade de aplicação dessas técnicas, destaque-se que a
verificação de todas as suas premissas só foi constatada em 6,7%
(regressão linear), 0% (discriminante), 50% (logística), 0%
(correlação canônica), 0% (MANOVA), 15,8% (modelagem de equações
estruturais), 11,4% (análise fatorial), 8,3% (análise de
conglomerados), 0% (análise de correspondência) e 0% (escalonamento
multidimensional).
É interessante notar que os docentes percebem que, ainda mais importante que
oferecer formação a seus estudantes de pós-graduação em métodos quantitativos,
seria eles próprios fazerem cursos de aprofundamento na área, o que mostraria
um amadurecimento quanto ao reconhecimento de suas limitações e da importância
que isso representa para a evolução de seu trabalho.
No entanto, apesar desse amadurecimento, a média mais alta foi atribuída à
percepção da importância de que o curso do qual fazem parte disponibilize uma
equipe de suporte para o uso de métodos quantitativos avançados.
"Sobre isso parece pertinente a sugestão da disponibilização pelos programas de
pós-graduação em Administração de infraestrutura de suporte ao pesquisador
quando da utilização da pesquisa quantitativa" (Gouvêa et al., 2012, p. 352).
Isso decorre da ciência de que o desenvolvimento de competências nesses métodos
demanda um tempo significativo que o pesquisador não tem disponível já que ele
tem o compromisso presente e contínuo de publicar em periódicos bem
qualificados.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Administração é uma área de conhecimento bastante complexa, pois, além de seu
caráter multidisciplinar, conta com a complexidade de seu objeto de estudo.
Nesse contexto, pesquisadores interessados em desenvolver pesquisas que possam
promover a geração de conhecimento novo, e dessa forma trazer evolução para a
área, são compelidos a buscar métodos de pesquisa que sejam mais adequados a
seus objetivos, entre eles figuram os quantitativos, que apresentam grande
variedade de possibilidades para tratamento de dados. Contudo, embora seus
resultados sejam confiáveis e generalizáveis, condições que garantem sua
relevância acadêmica, seu uso depende das competências dos pesquisadores.
Nesse sentido, o objetivo neste trabalho foi analisar a competência de docentes
de programas de pós-graduação em Administração, recomendados pela CAPES, no uso
de métodos quantitativos diversos. Seguindo procedimentos metodológicos
similares aos utilizados por Shook et al. (2003), pesquisaram-se 164 docentes
de programas de pós-graduação em Administração, dentre toda a população de
pesquisadores.
Quanto à existência de associação entre a área de formação de doutorado do
docente pesquisado e o uso de pesquisa quantitativa no desenvolvimento de sua
tese, no testeχ2, evidenciou-se que essas duas variáveis apresentam associação.
Quanto à existência de associação entre a área de formação de doutorado do
pesquisado e o número de disciplinas cursadas de pesquisa quantitativa nesse
período de formação, no testeχ2, mostrou-se que essas duas variáveis também
apresentam associação. Essas associações corroboram a premissa de que é
importante que os docentes dos programas de pós-graduação tenham formação
heterogênea, o que traz uma contribuição mais rica, complementando-se uns aos
outros. Ou que exista um suporte adequado aos programas para que, a partir do
problema e da questão de pesquisa a ser respondida, os docentes possam utilizar
a técnica adequada e da forma correta.
Nos resultados da análise das competências, mostrou-se que os docentes
brasileiros amostrados, que representam grande parte dos pesquisadores da área,
não apresentam competência significativa em métodos avançados, corroborando os
resultados de Shook et al. (2003). No entanto, os resultados encontrados aqui
são ainda mais preocupantes, pois há destaque, ou seja, competência declarada
em apenas quatro dos métodos tradicionais: correlações, testes de diferenças de
médias (Teste T), regressão simples e regressão múltipla. Ainda assim, na
comparação, pode-se afirmar que os estudantes e pesquisadores norte-americanos
estão bem mais preparados do que os brasileiros.
Esses resultados mostram que é importante haver uma oferta sistemática de
disciplinas ou cursos complementares em métodos quantitativos, não só para os
alunos dos programas de pós-graduação em Administração, mas também para os
docentes, que reconhecem essa necessidade e importância. Por outro lado, como o
desenvolvimento de competências em métodos quantitativos demanda tempo, a
disponibilização de equipes de suporte estatístico auxiliaria que docentes e
alunos desses programas pudessem melhorar o nível de suas pesquisas com o uso
de métodos mais sofisticados e mais adequados em um período de tempo mais
curto.
Mais importante ainda é lembrar que o método não é um fim em si, mas um meio
para responder uma questão de pesquisa na resolução de um problema. Ter
pesquisadores preparados para a problematização é o que se considera importante
e, por isso, a defesa em relação a existirem estruturas de suporte que auxiliem
para esse fim.
Como sugestão para trabalhos futuros, acredita-se que outras lacunas precisem
ser preenchidas a partir do melhor conhecimento dos recursos humanos e dos
resultados dos programas de pós-graduação brasileiros. Sendo assim, sugere-se
que trabalhos futuros poderiam avaliar aspectos demográficos de professores e
alunos dos programas de doutorado, como área de formação, gênero e programas de
origem com respectivo conceito, por exemplo, no sentido de buscar variáveis que
indiquem alguma relação causal com o desenvolvimento e a proficiência em
determinadas competências. O processo de integração realizado nos programas de
pós-graduação, a partir do credenciamento de novos docentes, sobretudo recém-
doutores, também seria um tema de pesquisa relevante.
Vale ressaltar que, neste artigo, o objetivo não é desvalorizar os trabalhos
qualitativos, até porque os autores também participam de pesquisas com esses
métodos. No artigo visa-se, sim, apresentar evidências de uma das deficiências
aparentemente apresentadas pelos programas de pós-graduação e pelos
pesquisadores brasileiros, muito comentada, muito debatida, mas que poucos têm
tido a coragem de admitir e enfrentar.