A mulher na recuperação recente do mercado de trabalho brasileiro
Introdução
No Brasil, o mercado de trabalho sempre foi desestruturado, visto que o poder
público nunca se empenhou em instituir regras claras com relação à idade com
que as pessoas deveriam ingressar e sair do mercado de trabalho, nem sobre as
características que elas deveriam ter para se inserir nos distintos tipos de
ocupação. O poder público também não impôs aos empregadores limitações, no
ajustamento da produção e do emprego, às vendas dos produtos, que contribuiriam
para a estabilização das pessoas em determinadas ocupações e atividades da
economia, permitindo, além do desenvolvimento profissional, o surgimento de
condições para que o trabalho profissional tivesse um papel mais importante na
estruturação da vida social e na identidade das pessoas.
A falta de estruturação do mercado de trabalho brasileiro ou sua extrema
flexibilidade para o ajustamento entre ofertas e demandas ocorreu tanto no
trabalho por conta-alheia dos trabalhadores assalariados como naquele por
conta-própria de empregadores, autônomos, ajudantes nãoremunerados, produtores
para o autoconsumo e autoconstrução. Essa generalizada desestruturação do
mercado de trabalho está relacionada com o que, no Brasil, se chamou de
capitalismo selvagem, pois o Estado utilizou todo o poder de centralização de
recursos para apoiar a acumulação de capital e dedicou muito menos recursos
para a construção das condições que permitissem que o avanço produtivo,
decorrente daquela acumulação de capital, fosse a base de sustentação do
progresso social.
Por esse motivo, é possível também relacionar a desestruturação do mercado de
trabalho às peculiaridades da distribuição de renda que caracterizam o país -
como a baixa participação do trabalho no custo da produção e na apropriação da
renda gerada -, bem como à extrema desigualdade dessas rendas do trabalho, cuja
distribuição notabiliza-se por enormes assimetria e dispersão, além das brutais
desigualdades de rendas da propriedade.
A avaliação anterior sobre o caráter desestruturado do mercado de trabalho
brasileiro decorre do confronto entre a experiência brasileira de
industrialização e a experiência de recuperação econômica e social dos países
desenvolvidos, depois da Segunda Guerra mundial. A experiência dos países
desenvolvidos, entretanto, foi interrompida pela combinação de estagnação com
inflação da década de 70, e a reação norte-americana à deterioração de seu
papel na economia mundial levou a uma reestruturação do capitalismo, com forte
desenvolvimento do mercado financeiro, num processo que tem sido chamado de
globalização.1
A globalização tem tido fortes implicações no mercado de trabalho dos países
desenvolvidos, provocando sua desestruturação. No Brasil, a crise da dívida
externa adiou por uma década a inserção do país no processo de globalização, o
que resultou numa integração brusca do país no mundo globalizado na década de
90, revelando-se também aqui as tendências de maior desestruturação do mercado
de trabalho. Mas, como o mercado de trabalho brasileiro já apresentava a
peculiaridade de pouca estruturação, não colocou maior resistência aos efeitos
desestruturadores da globalização.
O caráter tardio da inserção do Brasil na globalização e as circunstâncias
internacionais em que esta inserção ocorreu, num momento em que o mercado
financeiro internacional dirigia suas aplicações para os países que emergiam no
processo de globalização, provocaram um impacto muito forte no sentido de
comprimir o mercado de trabalho brasileiro. Mas essa situação se modificou com
a crise da Ásia em 1997 e, depois da desvalorização do real em 1999, vêm-se
notando tendências de recuperação no mercado de trabalho brasileiro.
É importante ressaltar que qualquer análise do mercado de trabalho no Brasil
deve levar em conta a progressiva participação das mulheres na atividade
econômica, que vem ocorrendo desde o final da década de 60, concomitantemente
com o declínio das taxas de fecundidade. É o aumento da participação feminina
que tem sustentado o intenso crescimento da população ativa, que ocorre apesar
da diminuição do ritmo global de crescimento da população e da queda nas taxas
de participação de jovens do sexo masculino, que tradicionalmente eram muito
elevadas.
Na análise das manifestações da recuperação recente do mercado de trabalho
brasileiro, é fundamental caracterizar a situação inicial desta recuperação,
marcada não somente pela tradicional desestruturação do mercado de trabalho,
mas também pela profundidade dos efeitos da inserção tardia no processo de
globalização, no sentido de estreitar e desestruturar ainda mais este mercado
de trabalho, bem como considerar o fato de todas essas mudanças ocorrerem com
intenso crescimento da população ativa, devido à crescente participação
feminina na atividade econômica.
Este artigo é dividido em quatro itens, além desta introdução. O primeiro
justifica a classificação das posições na ocupação utilizadas para caracterizar
a desestruturação do mercado de trabalho e a segregação do trabalho feminino. O
segundo utiliza esta classificação para caracterizar a recuperação do mercado
de trabalho de 2004 a 2006. O terceiro explicita a influência do intenso
crescimento da PEA, a partir da participação da mulher na atividade econômica,
sobre as manifestações da recuperação do mercado de trabalho. O último item
examina a permanência dos sintomas de segregação das mulheres no mercado de
trabalho, a partir de uma análise das diferenças de remuneração, considerando
os níveis de escolaridade.
Mercados de trabalho por conta-alheia, trabalho por conta-própria e segregação
ocupacional feminina
A segregação de muitas mulheres à esfera privada, com dedicação majoritária ou
exclusiva à atividade doméstica, foi uma forma de exclusão social (OLIVEIRA;
ARIZA, 2001).
De fato, durante o pós-guerra, nos países desenvolvidos, através da
interferência do poder público na economia e da regulação pública do trabalho
remunerado (por meio da legislação e da contratação coletiva de grandes
sindicatos de trabalhadores não qualificados, organizados por setor de
atividade), foi possível recuperar o trabalho remunerado como eixo da
estruturação da vida social, que tinha perdido esse papel com a destruição dos
antigos ofícios de trabalhadores qualificados que utilizavam ferramentas, com o
advento da Revolução Industrial, que mecanizou a produção e acarretou o uso
progressivo da ciência na produção.
A construção social do pós-guerra no entorno do trabalho assalariado foi,
entretanto, um fenômeno eminentemente masculino, num processo que,
simultaneamente, destacou a família nuclear e o papel das mulheres na
estruturação desse tipo de família. Essa constatação ressalta a exclusão
feminina da atividade econômica e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres
para ampliar sua participação, devido à sua conotação social de gênero. No
modelo social concebido no pós-guerra, separava-se claramente o trabalho
doméstico reprodutivo daquele extradoméstico por remuneração, sendo que as
mulheres eram confinadas ao trabalho doméstico e, caso tivessem um trabalho
extradoméstico, eram também segregadas a alguns poucos tipos de ocupação.
O aumento da participação das mulheres na atividade econômica, verificado desde
a década de 60, pode ser caracterizado como uma luta para a superação do modelo
anterior. Essa contenda, entretanto, ocorre exatamente num momento em que
aquele modelo entrou em colapso e a reestruturação do capitalismo, a partir da
reação dos Estados Unidos à sua perda de importância na economia mundial,
também abalou fortemente o modelo social anterior.
A mulher tem tido êxito no aumento de sua participação na atividade econômica,
embora muitas vezes isto signifique uma dupla jornada de trabalho, na medida em
que continuam responsáveis pelos afazeres domésticos. No Brasil, em particular,
tem crescido, principalmente, a participação das mulheres casadas e com filhos.
Esse aumento, que começou com as mulheres de famílias de melhor nível
socioeconômico, vem se difundindo para níveis mais baixos (HOFFMANN; LEONE,
2004). É possível estabelecer uma relação entre o aumento da participação
feminina e a queda da renda do trabalho masculino, o que acentua o crescimento
da participação da mulher na renda familiar (LEONE, 2000). Além disso, a maior
participação das mulheres no trabalho extradoméstico vai diminuindo lentamente
sua segregação em determinados tipos de ocupação.
A segregação ocupacional por gênero é entendida como a sobre-representação das
mulheres em determinadas atividades. O gênero constitui um critério para criar
espaços de trabalho extradoméstico socialmente diferenciados e hierarquizados
(OLIVEIRA; ARIZA, 2001). Assim, o gênero marca, em geral, as oportunidades dos
indivíduos no mercado de trabalho, criando restrições às mulheres para ocupar
postos de trabalho de maior prestígio social, limitando suas possibilidades de
mobilidade e reforçando a disparidade de remunerações entre homens e mulheres.
Para Abramo (2004), a segregação ocupacional de gênero é uma das expressões
mais evidentes da discriminação, que está relacionada a construções culturais e
sociais que atribuem lugares e valores diferenciados ao trabalho realizado por
homens e mulheres na atividade econômica.
Devido à segregação ocupacional, as mulheres se concentram em poucos setores
econômicos, principalmente no de serviços, em ocupações pior remuneradas e de
menor nível de responsabilidade. A segmentação do mercado de trabalho apresenta
expressões diferentes que incidem na qualidade dos empregos. Assim, por
exemplo, no que tange ao local de trabalho, os homens trabalham
predominantemente em escritórios ou fábricas, enquanto entre as mulheres é mais
comum o trabalho no próprio domicílio (OLIVEIRA; ARIZA, 2001).
No trabalho extradoméstico é possível distinguir dois tipos de situações
conforme o objeto da transação. No mercado de trabalho por conta-alheia, o
objeto de intercâmbio é o próprio trabalho, enquanto naquele por conta-própria
pode ou não haver intercâmbio. Assim, não há intercâmbio nas atividades de
autoconsumo agrícola e autoconstrução, que recentemente passaram a ser
classificadas como atividades econômicas (no passado, eram consideradas
trabalho doméstico). No trabalho por conta-própria para a venda, o objeto de
intercâmbio não é o trabalho, mas sim o produto do trabalho, seja este um bem
produzido ou a prestação de um serviço. A diferença entre trabalho por conta-
alheia e conta-própria é, na verdade, a diferença entre trabalho assalariado e
não-assalariado.
Os limites entre trabalho assalariado e não-assalariado são difíceis de
estabelecer. Ambos são extremamente heterogêneos e envolvem diversas categorias
de trabalhadores. O trabalho assalariado está constituído pelos empregados de
estabelecimento e pelo serviço doméstico remunerado. Já o trabalho não-
assalariado abarca as categorias dos empregadores, autônomos, nãoremunerados,
produção no autoconsumo e autoconstrução. No trabalho assalariado distingue-se
o emprego formal (com carteira, estatutário e militar) do emprego sem carteira
de trabalho.
Recentemente, tem-se tornado ainda mais difícil diferenciar o trabalho
assalariado do não-assalariado. A flexibilização do trabalho assalariado
provocou aumento da freqüência do trabalho por conta-própria, que é apenas um
trabalho assalariado disfarçado, como, por exemplo, o trabalho a domicilio, as
consultorias, o uso da pessoa jurídica, o uso de cooperativas de trabalho,
entre outros. Ou seja, uma parte importante do que é registrado nas
estatísticas como trabalho por conta-própria é, de fato, emprego assalariado
disfarçado, o que tende a provocar subestimação do tamanho do mercado de
trabalho assalariado na absorção da PEA.
Tendências recentes no mercado de trabalho brasileiro
O mercado de trabalho brasileiro vem apresentando, recentemente, um crescimento
expressivo, com inversão da tendência negativa verificada na década de 90, o
que tem sido acompanhado por um processo visível de formalização do emprego.
O nível de emprego tem-se elevado beneficiado pela retomada do crescimento
econômico, conseqüência de uma situação internacional favorável ao aumento das
exportações. O crescimento das exportações, ao estimular a produção, incentivou
a ampliação do emprego e da renda, o que, juntamente com o endividamento das
famílias, provocou aumento do consumo e do investimento, ocasionando maiores
importações, possibilitadas pelas exportações (BALTAR; LEONE, 2006).
Entre 2004 e 2006, a elasticidade do emprego em relação à atividade econômica -
que esteve baixa nos anos 90 devido aos efeitos negativos da abertura comercial
e financeira sobre o mercado de trabalho - elevou-se para 0,7, um patamar
bastante promissor.2 O PIB, em 2004, cresceu 5,7%, mas a política
macroeconômica excessivamente preocupada com a inflação provocou uma
desaceleração e o PIB, em 2005 e 2006, elevou-se somente 3,2% e 3,7%,
respectivamente. Assim, o crescimento médio anual da economia nesses dois
últimos anos foi de apenas 3,4%, ainda insuficiente para mudanças substantivas
no quadro geral do mercado de trabalho. Em 2007, entretanto, o PIB cresceu
5,4%, o que leva a acreditar que a próxima PNAD indicará uma expansão maior do
emprego, com mudanças mais relevantes no quadro global do mercado de trabalho
brasileiro.
No período entre 2004 e 2006 (último ano com informações disponíveis da PNAD),
a população em idade ativa (PIA - pessoas com mais de dez anos de idade)
cresceu no ritmo médio anual de 2,2%. Já a população economicamente ativa (PEA)
registrou aumento de 2,5% ao ano, um incremento ainda bastante intenso, que,
como será visto mais adiante, é explicado pela participação cada vez mais
expressiva das mulheres na atividade econômica. Esse crescimento da PEA não foi
suficiente, entretanto, para modificar significativamente a taxa de
participação para a população total que, entre 2004 e 2006, passou de 62,0%
para 62,4%.3 Ocorreram, no entanto, mudanças de composição mais visíveis no
interior da PEA: a parcela referente à PEA por conta-alheia (desemprego mais
trabalho assalariado) cresceu mais intensamente (2,9%) do que aquela por conta-
própria (1,7%), resultando uma maior representatividade da PEA por conta-alheia
na PEA total (66,7%, contra 33,3% da PEA por conta-própria, em 2006) (Tabela
1).
No mercado de trabalho por contaalheia, houve uma pequena redução do número de
desempregados, enquanto o emprego total cresceu a uma taxa de 3,4% ao ano
(Tabela_2). Contribuíram para o aumento do trabalho por conta-alheia os
empregos em estabelecimento (3,5% ao ano) e no serviço doméstico remunerado
(2,4% ao ano). Em ambos, destaca-se o elevado crescimento do emprego formal4
(4,7% ao ano, contra 1,2% do sem carteira, para o emprego em estabelecimentos,
e 4,9% ao ano, contra 1,4% do sem carteira, no serviço doméstico remunerado).
Assim, no emprego total por conta-alheia, o emprego formal cresceu mais do que
o sem carteira, nos anos considerados (4,7% e 1,3%, respectivamente).
Mesmo que o emprego sem carteira tenha crescido menos do que o formal, o peso
destas ocupações sem registro em carteira continuava alto em 2006 (36,5% contra
63,5% do emprego formal). No emprego em estabelecimentos, os sem carteira
representavam 33,1%, em 2004, reduzindose para 31,6%, em 2006, uma queda de
apenas 1,5 ponto percentual. Já no serviço doméstico remunerado, a participação
dos ocupados sem carteira diminuiu de 74,2% para 72,9%, no mesmo período,
patamar ainda extremamente elevado.
No trabalho por conta-própria, sobressai o crescimento dos empregadores (6,9%
ao ano) e dos trabalhadores no autoconsumo e autoconstrução (9,5% ao ano).
Destaca-se, também, a importante queda dos não-remunerados (4,2% ao ano).
Devese ressaltar que estes últimos representam um dos segmentos mais precários
do trabalho por conta-própria e, nestas ocupações, se inserem os membros que
auxiliam seus familiares nos empreendimentos por contaprópria, sem remuneração,
tanto em áreas rurais como urbanas. Já os autônomos tiveram um crescimento de
apenas 0,9%, mas esta categoria ocupacional tem uma elevada participação (58,3%
em 2006) na ocupação total do trabalho por conta-própria e sua redução, entre
2004 e 2006, foi de somente 0,8 ponto percentual (Tabela_3).
Em síntese, o mercado de trabalho caracteriza-se por ter ainda um intenso
crescimento da PEA, e a expansão moderada da economia vem repercutindo
lentamente no mercado de trabalho, sem alterar substancialmente as condições de
atividade da população brasileira, destacando-se a elevada taxa de desemprego
(12,6% do mercado de trabalho por conta-alheia em 2006). Se a melhora no
mercado de trabalho, como resposta ao modesto crescimento da economia, não
provocou alterações muito visíveis na condição de atividade da população,
apareceram, entretanto, modificações relevantes na separação do trabalho nos
dois mercados - por conta-alheia e por conta-própria -, permitindo verificar o
aumento mais intenso do emprego assalariado, notadamente o formal, tanto em
estabelecimentos quanto no serviço doméstico remunerado. No caso do trabalho
por conta-própria, destacou-se o importante crescimento dos empregadores e de
trabalhadores na autoconstrução e no autoconsumo.
A mulher no mercado de trabalho brasileiro
Ainda que o ritmo de crescimento da população em idade ativa (PIA) tenha sido o
mesmo para homens e mulheres (2,1% ao ano), a população economicamente ativa
(PEA) cresceu muito mais entre as mulheres (3,2% ao ano) do que entre os homens
(1,9% ao ano), sendo elas as principais responsáveis pelo ainda intenso
crescimento da PEA total, que, como foi mencionado, elevou-se a uma taxa de
2,5% ao ano. O crescimento diferenciado da PEA feminina e da PEA masculina
resultou em pequeno declínio da taxa de participação dos homens e aumento
daquela referente às mulheres. Já no interior da PEA, a parcela por conta-
alheia cresceu intensamente, tanto para homens (2,5%) como para mulheres
(3,3%), mas no caso das mulheres observou-se um incremento também bastante
intenso da parcela por conta-própria (2,8% contra apenas 0,9% para os homens),
sendo então elas as principais responsáveis pela manutenção do crescimento da
PEA por conta-própria (1,7% ao ano), entre 2004 e 2006. A PEA por contaalheia,
no caso dos homens, aumentou 0,7 ponto percentual, em 2006, passando a
representar 64,3% da PEA masculina total, contra 35,7% da PEA por conta-
própria. No caso das mulheres, a PEA por conta-alheia cresceu apenas 0,3 ponto
percentual, mas, ainda assim, representava 69,8% da PEA feminina total, contra
30,2% da PEA por conta-própria, em 2006 (Tabela_4).
Os dados apresentados anteriormente mostram que o período recente se
caracteriza pela coexistência de dois fenômenos: a recuperação do mercado de
trabalho, que transparece no forte crescimento do trabalho por conta-alheia
masculino e feminino; e a continuidade do aumento da participação feminina na
atividade econômica, que se manifesta no forte crescimento, simultâneo, do
trabalho por conta-própria feminino.
No mercado de trabalho por contaalheia, o emprego da mulher aumentou mais do
que o do homem (3,9% e 2,9%, respectivamente), notadamente aquele em
estabelecimentos, mas ainda assim o desemprego da mulher teve um crescimento
positivo (0,3% ao ano), enquanto o número de homens desempregados diminuiu.
Tanto homens como mulheres apresentaram incremento do emprego formal em
estabelecimentos (4,2% e 5,4%, respectivamente), mas foram basicamente as
mulheres as responsáveis pela expansão do emprego sem carteira (2,2%). Assim,
ainda que o emprego da mulher tenha aumentado mais do que o do homem e muito
desse aumento deveu-se a uma maior formalização das relações de trabalho, o
elevado desemprego e o crescimento do emprego sem carteira continuaram sendo
uma peculiaridade do emprego feminino (Tabela_5).
Na Tabela_5, destaca-se, no caso da mulher, o elevado peso do emprego
doméstico. Enquanto entre os homens quase a totalidade do mercado de trabalho
por conta-alheia é constituído por emprego em estabelecimentos, no caso das
mulheres em torno de um terço é emprego doméstico e mais de dois terços do
emprego doméstico não têm a carteira assinada pelo patrão. Assim, o emprego
doméstico continua sendo uma peculiaridade do trabalho feminino e, além disso,
a informalidade marca mais o serviço doméstico do que outras ocupações em
estabelecimento.
Sem dúvida, foram as empregadas domésticas que possibilitaram para muitas
mulheres dos estratos médios de renda familiar sua inserção na atividade
econômica. Conforme Melo (2005), muitas mulheres, principalmente cônjuges,
pertencentes a famílias de estratos médios de renda, passaram a ter trabalho
remunerado e contratar empregada doméstica, sobretudo pelos baixos salários
desta categoria, sendo que muitas dessas famílias empregadoras não fazem o
registro em carteira e/ou não pagam o salário mínimo legal.
Conseqüentemente, a comparação do Brasil com outros países de América Latina
aponta simultaneamente uma elevada participação feminina na atividade econômica
e uma participação também relativamente alta do emprego doméstico na ocupação
remunerada das mulheres. Essa participação maciça de mulheres na atividade
econômica, viabilizada por ocupações que não respeitam as leis trabalhistas,
induziu o governo a propor a formalização do emprego doméstico, por meio de
projeto de lei que concede 12% de desconto da contribuição previdenciária no
Imposto de Renda para quem assinar a carteira dos trabalhadores (LEONE, 2007).
A recuperação do mercado de trabalho em simultâneo à continuidade da
participação da mulher na atividade econômica aproximou a situação de homens e
de mulheres no mercado de trabalho por conta-alheia. A redução da taxa de
desemprego foi maior entre as mulheres, o emprego feminino cresceu mais
fortemente em estabelecimentos do que no serviço doméstico e o aumento do grau
de formalização do trabalho feminino ocorreu tanto nos estabelecimentos como no
serviço doméstico. Não obstante, as diferenças por sexo ainda continuam
significativas, destacando-se o elevado desemprego feminino e a expressiva
participação do serviço doméstico no emprego das mulheres.
No mercado de trabalho por contaprópria, o aumento dos empregadores foi intenso
para homens (6,4%) e, principalmente, para mulheres (8,3%), elevando assim a
representatividade desta categoria na ocupação total por conta-própria de
homens e mulheres (Tabela_6). As mulheres foram as responsáveis pelo
crescimento do trabalho autônomo, porém, deve-se destacar que a
representatividade do trabalho autônomo na ocupação por conta-própria das
mulheres é ainda bem menor que a dos homens (47,4% e 65,4%, respectivamente, em
2006). Deve-se salientar, entretanto, que o trabalho autônomo é muito
heterogêneo, envolvendo, de um lado, pequenos negócios com base na força de
trabalho dos membros da família e, de outro, trabalhadores isolados, muitas
vezes assalariados disfarçados por aparente autonomia. O trabalho autônomo
individual abrange homens e mulheres, enquanto nos negócios familiares é mais
nítido o predomínio de homens na qualidade de organizadores do negócio. A
participação feminina nos negócios familiares é mais freqüente na forma de
membro da família sem remuneração que auxilia o pequeno negócio. Desse modo, o
caráter autônomo da participação feminina na atividade econômica fica encoberto
pela natureza das relações no interior da família. O trabalho não-remunerado,
entretanto, teve uma redução entre 2004 e 2006, sendo a dos homens bem maior do
que a das mulheres, preservando, assim, a maior representatividade do trabalho
não-remunerado entre as mulheres (23,8% contra 11,9% para os homens, em 2006).
O trabalho no autoconsumo e na autoconstrução, que tem papel análogo ao do
desemprego no caso do mercado de trabalho por conta-alheia, aumentou
consideravelmente para ambos os sexos, mas no caso da ocupação por conta-
própria de mulheres a participação deste tipo de ocupação é bastante mais
significativa (20,7% contra 7,8% para homens, em 2006). Esse segmento é
constituído, principalmente, por mulheres, devido à elevada participação
feminina em atividades agrícolas voltadas para o consumo próprio. Conforme Melo
e Sabbato (2000), o trabalho das mulheres nas atividades de autoconsumo, em
geral relacionadas "ao quintal", é visto como uma extensão do trabalho
doméstico, o que reforça a invisibilidade do papel feminino na agricultura
familiar. Deve-se lembrar que os homens predominam na autoconstrução, mas é
insignificante o número total de pessoas envolvidas nesta atividade.
Em suma, continua a ampliação da participação da mulher na atividade econômica,
mas agora num contexto de relativa melhora do mercado de trabalho. A
recuperação do mercado de trabalho vem favorecendo a continuidade do aumento da
participação da mulher, bem como ajudando na consolidação de sua participação
mais plena na atividade econômica, o que se manifesta na aproximação dos perfis
das participações masculina e feminina nos mercados de trabalho por conta-
alheia e por conta-própria. No primeiro, as mulheres diminuíram a taxa de
desemprego e dividiram com os homens as oportunidades de emprego formalizado
que foram sendo criadas, além de ampliarem sua participação onde esta era
relativamente pequena, como no emprego de estabelecimentos sem carteira de
trabalho, reduzindo assim a importância relativa do serviço doméstico
remunerado no emprego assalariado das mulheres.
No mercado de trabalho por contaprópria, têm diminuído os não-remunerados, em
que a presença feminina é majoritária, e tem aumentado a participação das
mulheres entre empregadores e trabalhadores autônomos, segmento em que sua
presença é minoritária.5 Contudo, a taxa de desemprego feminino continua maior
do que a dos homens, o emprego doméstico tem uma elevada representatividade no
emprego assalariado feminino, a participação da ocupação sem carteira é maior
no emprego assalariado feminino e, no trabalho por conta-própria das mulheres,
têm maior representatividade as não-remuneradas e as que se ocupam nas
atividades agrícolas para o próprio consumo. Já no caso dos homens, destacam-se
mais os empregadores e o trabalho autônomo, justificando a conclusão da
continuidade da maior informalidade do trabalho feminino. Ou seja, existe ainda
um longo caminho a ser percorrido pelas mulheres na direção de uma participação
maior e mais plena na atividade econômica.
Diferenças de renda por sexo
Neste item procura-se evidenciar que o forte crescimento da PEA feminina,
embora tenha diminuído, não eliminou (e vai demorar muito tempo para eliminar)
a segregação das mulheres no mercado de trabalho. Uma parte dessa segregação se
expressa na elevada proporção de mulheres no autoconsumo e no trabalho não-
remunerado. Assim, as mulheres eram 43,7% da PEA, em 2006, e representavam
65,6% do autoconsumo agrícola e 56,7% do trabalho não-remunerado (eram 68,2% e
54,6%, respectivamente, em 2004).
Outra manifestação da segregação feminina no trabalho por conta-própria é sua
reduzida participação entre os empregadores e os trabalhadores autônomos. Em
2006, essas proporções eram 26,4% e 32,3%, enquanto, em 2004, correspondiam a
25,8% e 31%, respectivamente. Assim, a participação das mulheres aumentou, mas
ainda é muito pequena comparativamente ao peso feminino na PEA. Desse modo, a
presença feminina é desproporcionalmente elevada no autoconsumo agrícola e no
trabalho não-remunerado e desproporcionalmente baixa entre empregadores e
autônomos, sinalizando a segregação de mulheres no trabalho por conta-própria.
No mercado de trabalho por contaalheia, a segregação feminina aparece na sua
elevada participação nos desempregados, que passou de 56,5%, em 2004, para
57,2%, em 2006.6 Quanto às participações das mulheres no total do emprego
formal e no total do emprego sem carteira, a comparação com o peso das mulheres
na PEA revela ligeira sobre-representação delas no caso do emprego sem carteira
(passou de 46,8% para 47,3%) e ligeira subrepresentação no emprego formal
(passou de 41,6% para 42,2%). Essa desproporção do peso feminino no emprego sem
carteira deve-se, entretanto, à alta participação do serviço doméstico
remunerado no emprego assalariado das mulheres, sendo que neste tipo de emprego
é muito reduzido o grau de formalização das relações de trabalho. Assim,
considerando somente o emprego em estabelecimento, a participação das mulheres,
em 2006, era de 39,6%, no emprego formal, e 32,6%, naquele sem carteira. Como
se vê, são participações femininas menores do que no conjunto da PEA, mas o
peso da mulher no emprego formal de estabelecimento é maior do que naquele sem
carteira de estabelecimento. Assim, a segregação das mulheres no mercado de
trabalho por conta-alheia manifesta-se, principalmente, na elevada taxa de
desemprego feminino e na importância do serviço doméstico remunerado.
Um último aspecto da segregação das mulheres no mercado de trabalho manifestase
nas diferenças de renda. A análise deste problema é o objeto deste item. São
incluídas somente as posições na ocupação de empregados em estabelecimentos e
no serviço doméstico, com carteira e sem carteira de trabalho, autônomos e
empregadores. Para explicitar melhor as diferenças de remuneração, considerou-
se o nível de escolaridade dos trabalhadores.
A Tabela_7 mostra que, em geral, a escolaridade das trabalhadoras é bastante
superior à dos trabalhadores. Essa vantagem feminina reflete a maior
escolaridade das mulheres no conjunto da população, bem como o fato de que as
mulheres de famílias com condição socioeconômica mais desfavorecida e que
possuem menor grau de escolaridade ainda têm uma participação limitada na
atividade econômica (HOFFMANN; LEONE, 2004).
Considerando o nível de escolaridade como credencial para acesso aos diferentes
tipos de ocupação, observa-se, na Tabela_8, que tanto para os homens como para
as mulheres, em geral, as participações do emprego com carteira de trabalho e
dos empregadores na ocupação total aumentam com a escolaridade, enquanto as
daqueles sem carteira e autônomos diminuem. Em cada nível de escolaridade a
representatividade dos empregadores e autônomos é maior entre os homens do que
para as mulheres, ocorrendo o contrário no caso dos empregados sem carteira de
trabalho. A situação dos empregados formais a esse respeito depende do nível de
escolaridade. A importância relativa do emprego formal é maior para os homens
com 8 a 10 anos de estudo, devido à elevada representatividade do emprego sem
carteira das mulheres com este nível de escolaridade. Já para os trabalhadores
com mais de 15 anos de estudo, a participação do emprego formal é maior para as
mulheres, devido à alta representatividade de autônomos e empregadores no caso
dos trabalhadores masculinos com este nível de escolaridade (Tabela_8).
A observação geral do perfil dos ocupados segundo posição na ocupação e sexo
revela que a segregação das mulheres se manifesta neste nível de agregação em
uma baixa participação nas categorias de empregador e trabalhador autônomo na
ocupação total e em uma alta representatividade do emprego sem carteira. A
consideração das remunerações, entretanto, permitirá uma constatação adicional
da segregação das mulheres, agora por tipo de ocupação, controlado o nível de
escolaridade.
Para os trabalhadores com menos de oito anos de estudo, a distribuição por
faixas de rendimento indica a segregação das mulheres em ocupações pior
remuneradas no emprego formal, no trabalho autônomo e entre empregadores. No
emprego formal destaca-se a proporção de mulheres ganhando menos de dois
salários mínimos, enquanto no caso dos homens é maior a fração daqueles que
ganham mais de dois salários mínimos. Já no trabalho autônomo, é muito maior a
proporção de mulheres ganhando menos de um salário mínimo, enquanto os homens
estão com mais freqüência nas faixas de rendimento acima de um salário mínimo.
Finalmente, entre os empregadores com menos de oito anos de estudo, destaca-se
a fração dos que ganham mais de três salários mínimos. Desse modo, os dados de
rendimento sugerem que as mulheres com baixa escolaridade estão mais confinadas
do que os homens em ocupações mal remuneradas, sejam estas do emprego formal,
do trabalho autônomo ou como empregadoras, não se verificando isto tão
claramente no caso do emprego sem carteira (Tabela_9).
A comparação entre as Tabelas_9 e 10 permite verificar que não faz muita
diferença, em termos de segregação feminina, o fato de as mulheres terem
concluído (ou não) o ensino fundamental. Para os dois níveis inferiores de
escolaridade, as frações de mulheres com emprego formal ganhando menos de dois
salários mínimos, com trabalho autônomo recebendo menos de um salário mínimo e
como empregadoras ganhando menos de três salários mínimos são desproporcionais.
Entre os trabalhadores com nível intermediário de instrução se repetem as
indicações de segregação feminina no trabalho formal, no autônomo e entre
empregadores. No emprego formal é desproporcional a freqüência de mulheres
ganhando menos de dois salários mínimos. No trabalho autônomo é notória a
desproporção na freqüência de mulheres recebendo menos de um salário mínimo e,
entre os empregadores, é desproporcional a proporção de mulheres com rendimento
inferior a cinco salários mínimos. Neste nível de escolaridade, as diferenças
de rendimento por sexo são maiores do que nos níveis inferiores e, além disso,
aparece pela primeira vez a segregação de mulheres no emprego sem carteira,
como sinalizado pela elevada participação feminina nas ocupações que pagam
menos de dois salários mínimos (Tabela_11).
No caso do trabalho com nível superior de escolaridade, a segregação das
mulheres em ocupações de menor remuneração também aparece em todas as posições
na ocupação, na freqüência desproporcional de homens em ocupações que pagam
mais de dez salários mínimos e na freqüência desproporcional de mulheres em
ocupações que pagam menos de cinco salários mínimos (Tabela_12). No nível
superior de escolaridade, as diferenças de rendimento por sexo são ainda
maiores do que nas ocupações que exigem apenas o nível médio de escolaridade.
As mulheres são tão numerosas quanto os homens nas ocupações que envolvem
trabalhadores com pelo menos ensino médio completo. Essas ocupações
proporcionam rendimentos muito maiores do que as de trabalhadores com no máximo
ensino fundamental completo. As diferenças de renda entre homens e mulheres são
muito grandes exatamente nas ocupações que envolvem trabalhadores com pelos
menos ensino médio completo, porque as mulheres são segregadas nas ocupações
pior remuneradas deste nível de escolaridade e as diferenças de rendimento são,
neste caso, maiores do que nas ocupações dos trabalhadores sem este nível de
escolaridade. Essas grandes diferenças de renda por sexo entre trabalhadores
com nível médio e superior de escolaridade verificam-se, igualmente, em todas
as posições na ocupação, inclusive no emprego sem carteira de trabalho (LEONE;
BALTAR, 2006).
É possível associar a maior diversidade de rendimentos do trabalho nos níveis
intermediário e superior de escolaridade a dois processos diferentes no mercado
de trabalho: em primeiro lugar, no Brasil, é tradicionalmente notória a
desvalorização das ocupações da área social que exigem escolaridade média e/ou
superior e são ocupadas predominantemente pelas mulheres. Além disso, nos
últimos 20 anos, há um contraste entre o aumento de escolaridade da população
brasileira e o desempenho da economia e suas repercussões no mercado de
trabalho. A progressiva universalização do ensino básico e o crescimento do
ensino médio e superior foram mais aproveitados pelas mulheres do que pelos
homens, mas muitas pessoas não tiveram a oportunidade, no mercado de trabalho,
de valorizar sua maior escolaridade, ocupando posições que anteriormente não
exigiam maior escolaridade e continuam com baixa remuneração.
Conclusão
A recuperação do mercado de trabalho, com aumento da elasticidade do emprego em
relação à atividade econômica, e do grau de formalização das relações de
trabalho vem ocorrendo com intenso crescimento da população ativa, provocado
pela continuidade da ampliação da participação das mulheres na atividade
econômica. A retomada do mercado de trabalho transparece na ampliação da
participação do trabalho por conta-alheia na absorção da população ativa, em
detrimento daquele por conta-própria. No mercado de trabalho por conta-alheia,
a recuperação reduziu a taxa de desemprego e elevou a participação do emprego
em estabelecimentos, aumentando, simultaneamente, o grau de formalização das
relações de trabalho, tanto no emprego em estabelecimento quanto no serviço
doméstico remunerado. No trabalho por conta-própria, a recuperação aumentou a
participação dos pequenos negócios e tendeu a diminuir o peso do trabalho
autônomo individual, inclusive daquele que apenas disfarça relações de trabalho
assalariado.
Nesse contexto de recuperação do mercado de trabalho, a ampliação e a
consolidação da participação plena das mulheres na atividade econômica vêm
ocorrendo num processo lento e adverso, devido, de um lado, às limitações da
recuperação do mercado de trabalho - conseqüência das restrições ao crescimento
da economia e das dificuldades enfrentadas pela regulação pública do trabalho -
e, de outro, às dificuldades na evolução da redefinição dos papéis masculino e
feminino nas esferas doméstica e extradoméstica.
Os dados sobre mercado de trabalho mostraram que o avanço lento, no sentido de
participação mais ampla e plena da mulher na atividade econômica, aparece no
perfil das trabalhadoras, por posição na ocupação, tanto no trabalho por conta-
alheia como naquele por conta-própria, bem como na redução das diferenças por
sexo nas rendas do trabalho.
Assim, no mercado de trabalho por conta-alheia, diminuiu a taxa de desemprego
das mulheres, bem como o peso do serviço doméstico remunerado na ocupação
feminina, sendo que o aumento do grau de formalização do emprego assalariado
das mulheres tem sido mais intenso do que o dos homens. Porém, ainda são
grandes as diferenças de taxa de desemprego e do grau de formalização das
relações de trabalho por sexo e permanece muito alta a participação do serviço
doméstico remunerado no emprego assalariado das mulheres.
No trabalho por conta-própria, aumentou a participação das mulheres entre
empregadores e autônomos, tendo diminuído aquela entre os não-remunerados e na
produção para o consumo próprio agrícola, mas a presença masculina continua
majoritária entre empregadores e no trabalho autônomo, enquanto as mulheres
continuam sobrerepresentadas no trabalho não-remunerado e no consumo próprio
agrícola.
Por último, os dados sobre rendimentos do trabalho por nível de escolaridade e
posição na ocupação revelaram a continuidade da segregação das mulheres nas
ocupações pior remuneradas. Além disso, constatou-se que as diferenças de
rendas do trabalho são maiores entre os trabalhadores com maior nível de
instrução, justamente o segmento em que são também mais pronunciadas as
diferenças de renda por sexo e não há diferenças, em termos numéricos, entre
homens e mulheres.
Assim, as conseqüências do fato de as mulheres continuarem confinadas nas
ocupações de menor prestígio e remuneração são ainda mais evidentes justamente
naquelas ocupações em que o acesso é limitado a pessoas com educação média e
superior e, neste caso, com presença tão marcante de homens como de mulheres, o
que mostra a importância das diferenças por sexo do tipo de educação média e
superior, sugerindo que a discriminação já ocorre no sistema educacional
previamente à entrada no mercado de trabalho.
As considerações anteriores permitem destacar a importância da questão da
consolidação da participação plena da mulher na atividade econômica para
avaliação da evolução do mercado de trabalho no país. As dificuldades no avanço
para uma participação plena da mulher na atividade econômica não se reduzem à
operação e expansão do mercado de trabalho, remetendo para problemas ao nível
da convivência das pessoas na família e funcionamento do sistema educacional,
não obstante seja fundamental levar em conta o que ocorre no mercado de
trabalho. Sabe-se que uma maior atividade da economia é essencial para melhorar
a situação do mercado de trabalho, mas uma evolução favorável ao conjunto dos
trabalhadores requer a estruturação dos trabalhadores, o que exige empenho do
poder público na fiscalização da aplicação das leis do trabalho e no apoio ao
desenvolvimento dos sindicatos e da contratação coletiva do trabalho. É
fundamental para a participação plena da mulher na atividade econômica que essa
estruturação do mercado de trabalho contribua para reduzir, e não para
reforçar, a segregação ocupacional das mulheres em ocupações de menor prestígio
e remuneração , que tem resultado em maior taxa de desemprego e menor grau de
formalização das relações de trabalho entre as mulheres, além de grandes
diferenças de renda por sexo, principalmente nas ocupações que exigem mais
educação e proporcionam maior nível de remuneração.