Partidos na república de 1946: uma réplica metodológica
"A principal diferença entre a ciência e a magia é que, no
caso da ciência, você comete seus erros em público. Você
os exibe para que todos ' e não apenas você ' aprendam
com eles. Desse modo, você se beneficia da experiência de
todos os outros, e não somente de seu caminho
idiossincrático através do universo de erros. Aliás, é isso
que nos torna tão mais inteligente do que qualquer outra
espécie". Daniel C. Dennett
Apreciador do bom debate científico, tive o privilégio de ter meu artigo
"Partidos na República de 1946: Velhas Teses, Novos Dados" (Dados ' Revista de
Ciências Sociais,vol. 47, nº 1) criticado por Wanderley Guilherme dos Santos no
artigo "Velhas Teses, Novos Dados: Uma Crítica Metodológica" (Dados ' Revista
de Ciências Sociais,vol. 47, nº 4). Seus comentários foram muito úteis: tive
que rever uma série de argumentos, perceber que alguns pontos mereciam um
tratamento mais aprofundado, e finalmente concluir que temos algumas
discordâncias metodológicas. O objetivo deste trabalho é dar continuidade ao
debate, analisando e respondendo mais detidamente as críticas de Santos. Para
facilitar a leitura, organizei o texto em sete tópicos. A eles:
1. O PROPÓSITO DO ARTIGO "PARTIDOS NA REPÚBLICA DE 1946: VELHAS TESES, NOVOS
DADOS"
O artigo "Partidos na República de 1946" foi escrito com dois propósitos. O
primeiro foi propor uma nova organização da estatística eleitoral. Vários
autores que estudaram o período se lamentaram pelo fato de os dados eleitorais
não estarem desagregados por partido. Isso acontecia por que, quando havia
coligação eleitoral, a estatística oficial não apresentava os votos de cada
partido individualmente.
Minha expectativa, caso conseguisse desagregar os votos das coligações,
identificando a votação de cada partido, era que esses dados pudessem servir a
outros pesquisadores dedicados ao estudo do sistema partidário da República de
1946. Pensei na possibilidade de avaliar com mais precisão a evolução dos
partidos nos estados ou de calcular alguns índices que precisam da votação de
cada partido ' volatilidade eleitoral e desproporcionalidade votos/cadeiras,
por exemplo ' para serem calculados.
O caminho para desagregar a votação dos partidos coligados foi feito em duas
etapas: a) identificar, em diversas fontes, as ligações dos candidatos a
deputado federal com os partidos; b) somar os votos dos candidatos
identificados por partido. Depois de exaustivo levantamento, consegui
identificar os partidos de 88% dos candidatos (aí incluídos os que concorriam
por partidos não coligados), o que representa 96% dos votos totais dados aos
partidos em todas as eleições. Assim, foi possível montar uma tabela com a
votação recebida pelos partidos individualmente entre 1945 e 1962. Até onde eu
saiba, pela primeira vez na história dos estudos sobre o tema, uma tabela
completa com a votação dos partidos foi organizada.
Tendo conseguido obter a votação de cada partido, uma pergunta surgiu: será que
algumas das proposições clássicas sobre o período seriam alteradas pelos novos
dados? Escolhi algumas mais conhecidas e resolvi investigar. Esse foi,
portanto, o segundo propósito do artigo.
Como já havia deixado claro naquela oportunidade, meu objetivo era verificar se
a análise a partir dos novos dados confirmaria ou traria novos elementos aos
estudos sobre o sistema partidário do período (Nicolau, 2004:86). Não obstante,
Santos enxergou um propósito demasiadamente iconoclasta em meu intento:
"Nicolau está seguro que a resolução da incógnita dos votos em coligação trará
alterações substantivas nas hipóteses preservadas pela literatura" (2004:730)1.
Em nenhum momento disse que meu propósito era refutar teses clássicas, ou que
meus dados trariam uma revolução interpretativa sobre o período, nem que
falsificariam o estoque de conhecimento sobre o período. Falo em "testar
proposições clássicas" (Nicolau, 2004:86), na dúvida se os novos dados
"confirmam ou trazem novos elementos" aos estudos (ibidem); e se esses dados
"trazem novos elementos para interpretar o sistema partidário da República de
1946" (Nicolau, 2004:90). Sem objetivos explícitos de falsificar dados e
tampouco de refutar, procedi inspirado na boa tradição científica: quando na
posse de novos dados, testar novamente proposições consolidadas.
2. A ÊNFASE DO MEU ARTIGO (VOTOS) PODE SER A ÊNFASE DA CRÍTICA DE SANTOS
(CADEIRAS)
Como já assinalei, o intuito primeiro do meu trabalho foi construir uma base de
dados com informações ainda desconhecidas, salvo para as eleições de 1945. Mas
a identificação dos partidos dos deputados eleitos nas coligações permitiu
também organizar uma tabela com a representação dos partidos na Câmara dos
Deputados (Tabela 3, p. 90). Como Santos (2004:730-734) mostrou em detalhada
análise, os dados da composição da Câmara dos Deputados tal como apresentados
por mim têm pequenas discrepâncias com os do Tribunal Superior Eleitoral ' TSE.
O que explicaria essas pequenas diferenças? Na estatística oficial, as tabelas
com a composição partidária da Câmara dos Deputados são acompanhadas da
seguinte nota: "Dados cedidos pela Câmara dos Deputados". Daí a minha suspeita
de que essas informações se referiam a algum momento posterior à eleição
(diplomação, posse ou já durante a atividade parlamentar). Um elemento a mais é
que, em 1958, seis deputados aparecem na estatística como "sem partido", o que
não poderia ocorrer se os dados se referissem ao momento eleitoral. O fenômeno
foi atestado por Santos (2003:144) quando comenta a existência dos trânsfugas,
aqueles que "eleitos por legendas sem maior expressão, via a aliança ou
coligação com partidos maiores, se registravam no parlamento sob legenda
diferente daquela pelo qual concorreram, e não necessariamente ingressando no
parceiro maior da coligação que o elegeu".
Embora tivesse feito alguns comentários sobre a composição partidária da Câmara
dos Deputados, o objetivo do meu artigo foi analisar a evolução dos partidos no
plano eleitoral ' seis das oito tabelas apresentadas no texto referem-se aos
votos e não às cadeiras. A razão é simples: os dados realmente novos referiam-
se à votação dos partidos, pois o número de cadeiras dos partidos na Câmara já
era conhecido e bem analisado pela longa tradição de estudos do período. Não
esperava encontrar nada de novo nesse campo. E, como mostrarei mais adiante, só
agora me dei conta e encontrei algo de novo.
Além das discordâncias metodológicas, que serão analisadas a seguir, um dos
objetivos de Santos foi o de mostrar que meus dados não acrescentam nada de
novo ao estoque de conhecimento sobre o sistema partidário da República de
1946. Mas, curiosamente, seus comentários se concentram na análise dos dados
sobre a composição da Câmara dos Deputados, e não sobre os votos. Apresentei
uma novidade ' dados eleitorais e análise baseadas neles ' e algo que, em
nenhum momento, sustentei ser novidade ' dados da composição da Câmara ', já
que havia um consenso dos estudiosos sobre a qualidade desses dados. Mas em
grande medida o esforço de Santos foi mostrar que não consegui fazer o que não
pretendia, ou seja, novas inferências sobre o sistema partidário a partir dos
dados das cadeiras da Câmara dos Deputados.
3. A EVOLUÇÃO DOS PARTIDOS
Boa parte das minhas observações sobre a evolução dos partidos, baseada na
votação, confluiu com a análise clássica sobre o tema feita por Gláucio Soares
(1973) e baseada na representação partidária na Câmara dos Deputados. Para
avaliar de maneira mais cuidadosa a evolução dos partidos, a Tabela_1 foi
organizada. Esta apresenta a diferença em pontos percentuais entre duas
eleições sucessivas; a última coluna mostra a diferença entre a primeira e a
última eleição realizada no período.
Meus principais comentários sobre a evolução dos partidos foram os seguintes:
1) o PTB* teve um crescimento constante ao longo do período; o maior salto, em
pontos percentuais, aconteceu em 1950; 2) a comparação da votação da UDN no
começo (1945) e no fim (1962) do período revela um declínio, mas o partido teve
um leve crescimento da sua votação entre 1958 e 1962; 3) a comparação da
votação do PSD no começo (1945) e no fim (1962) do período também revela um
declínio, embora o partido tenha crescido entre 1954 e 1958.
Com relação ao desempenho do PSD, alertei para um aspecto: o declínio do
partido é mais intenso quando as cadeiras, e não os votos, são tomados como
unidade de análise. Entre 1945 e 1962, o PSD caiu 20,4 pontos percentuais na
Câmara dos Deputados e 12,4 pontos percentuais em votos2. No artigo, chamei a
atenção para o efeito produzido pela fórmula eleitoral de 1945, que sobre-
representou o PSD (com 42,4% dos votos o partido obteve 52,8% das cadeiras). Em
1950, uma fórmula mais proporcional foi adotada, o que gerou uma relação mais
próxima entre a votação e a representação dos partidos. A minha conclusão foi
que a sobre-repesentação parlamentar de 1945 acabou sugerindo um declínio para
o PSD maior do que o encontrado em termos eleitorais.
Em relação ao tópico da evolução dos partidos, Santos (2004:735) concentrou
seus comentários nas minhas observações sobre a evolução do PTB,
particularmente, o forte incremento da votação entre 1945 e 1950. Sugeri que
dois fenômenos devem ter contribuído para o incremento da votação do PTB em
1950: "parte deste crescimento, provavelmente, se deveu ao fato de o PCB não
participar da disputa, e outra parte aos reflexos da candidatura vitoriosa de
Getulio Vargas à Presidência" (Nicolau, 2004:91). Santos criticou a minha
sugestão, dizendo que "a qualificação [...] introduz juízo de probabilidades, e
não mais de precisão" (2004:735).
Usei o termo "provável", quando apresentei as duas possíveis explicações acima,
por uma razão muito simples: nunca poderemos saber com precisão o que motivou
os eleitores de 1950 a fazerem opções tão diferentes das que eles haviam feito
em 1945 (sem contar que milhares de novos eleitores passaram a votar a partir
de 1950). Pesquisas no plano micro ' sobretudo as feitas em painel ' poderiam
trazer evidências mais seguras sobre o que teria motivado as mudanças. Mas
temos apenas macrodados (estatística eleitoral) que nos permitem apenas captar
tendências, fazer associações estatísticas e calcular alguns índices3.
Não quero com isso dizer que não existem explicações mais razoáveis e melhores
do que outras. O que fiz foi apresentar duas hipóteses. Santos lembra de outras
duas que poderiam ser incluídas para explicar o crescimento do PTB. A primeira
credita o crescimento eleitoral do PTB à sua difusão organizacional. Ele tem
razão. Tem-se aí uma boa hipótese que precisa ser testada. A segunda vincula o
sucesso do PTB à urbanização. Novamente, concordo com Santos. A tese que
associa votação dos partidos de esquerda ' trabalhistas, comunistas e social-
democratas ' à urbanização é clássica e também poderia ser analisada. O ideal
para testar essas duas hipóteses é que tivéssemos dados com os diretórios dos
partidos (hipótese da difusão) e a votação por município (hipótese da
urbanização). Contudo, os dados das eleições municipais estão incompletos e
padecem dos mesmos problemas dos da Câmara dos Deputados4.
Depois de ler os comentários de Santos, percebi que poderia ter feito um teste
simples para investigar as possíveis associações entre a votação obtida pelo
PTB para a Câmara dos Deputados e a Presidência. O teste de correlação de
Pearson com a votação de 21 estados revelou uma associação significativa (r =
0,60) entre a votação obtida por Vargas e o desempenho do PTB para a Câmara dos
Deputados. Pelas razões apontadas, não se pode dizer que a votação presidencial
tenha condicionado a votação para Câmara, nem sequer afirmar que os mesmos
eleitores votaram simultaneamente nos dois cargos. Mas a existência de
correlação é um elemento a mais para analisar a evolução do PTB no período.
Porém, será que houve alguma associação entre a votação obtida por João Goulart
em 1960 para vice-presidente e o desempenho do PTB nas eleições para a Câmara
dos Deputados em 1962? A correlação estatística entre as duas disputas é
irrelevante (r = 0,13), ou seja, o desempenho do PTB nas eleições para a Câmara
dos Deputados em 1962 teve muito pouco a ver com a votação de Goulart em 1960.
4. O ÍNDICE DE NACIONALIZAÇÃO
Os partidos têm, em geral, padrões diferenciados de votação nos distritos
eleitorais de um país. No Brasil, por exemplo, sabemos que alguns partidos têm
votação dispersa pelo território, enquanto outros têm votação concentrada em um
número reduzido de estados. O desafio é estabelecer critérios para avaliar a
evolução dos partidos e poder comparar diferentes padrões de distribuição
geográfica do voto. Como é possível dizer que alguns partidos estão ficando
mais nacionalizados, enquanto outros estão concentrando mais a votação?
Vários autores propuseram índices e medidas com tal propósito. Não se trata
aqui de discutir cada um deles, o que já foi feito em detalhes por outros
autores5. Mas é importante lembrar de duas premissas básicas para a utilização
dos índices em qualquer área do conhecimento. A primeira: eles são instrumentos
matemáticos criados para sumarizar informações e descrever padrões de dados;
por isso, todos eles produzem algum grau de empobrecimento em relação ao
fenômeno que é estudado. A segunda: os índices têm limites matemáticos
inerentes à sua construção (como será exemplificado na próxima seção). O que
todo cientista social busca é um índice capaz de minorar ao máximo esses dois
efeitos.
Objetivando avaliar o padrão de votação dos partidos nas eleições para a Câmara
dos Deputados, utilizei um índice bastante conhecido nos estudos eleitorais, a
saber: o índice de desigualdade regional cumulativo, proposto por Derek Urwin
(1983). O índice simplesmente compara o percentual da votação que um partido
obteve em cada distrito eleitoral (unidades da Federação, no caso do Brasil),
em relação à votação total obtida no país, com o percentual do eleitorado do
estado sobre o eleitorado do país. As diferenças encontradas em cada unidade
são somadas, desconsiderando-se os sinais positivos e negativos, obtendo-se
valores que variam de 0 a 100 (ou de 0 a 1, se o número obtido for divido por
100); quanto mais próximo de 100, mais concentrada é a votação do partido.
Os exemplos abaixo ilustram o cálculo do índice de desigualdade regional
cumulativa para dois diferentes partidos (Azul e Vermelho).
Uma rápida observação das duas tabelas já leva o leitor suspeitar que o Partido
Vermelho tem um padrão de voto mais concentrado. Mas vejamos como o índice é
calculado. Para o Partido Azul: | 35-70 | + | 25-20 | + | 15-10 | + | 15 ' 5 |
+ | 5 ' 0 | = 60, ou 0,60. Se fizermos a mesma operação para o Partido
Vermelho, o valor será igual a 25, ou 0,25. A aplicação do índice de
desigualdade regional cumulativa revela que, realmente, o Partido Azul tem um
padrão de votação mais concentrado (0,60) do que o Vermelho (0,25).
A discussão sobre qual índice utilizar, para mensurar a dispersão/concentração
dos partidos, é importante. Mas provavelmente a maior novidade do meu trabalho
tenha sido não a medida que foi utilizada, mas o fato de avaliar a evolução dos
partidos no âmbito eleitoral. Acredito que a análise dos votos é melhor para
analisar a evolução dos partidos uma vez que a representação desses na Câmara
dos Deputados é contaminada pelos efeitos do sistema eleitoral ' coligações,
magnitude do distrito, fórmula eleitoral. No caso brasileiro, um partido pode
ficar mais nacionalizado em termos eleitorais, mas não traduzir esse
crescimento em representação parlamentar, simplesmente por que ele perdeu
cadeiras nas coligações ou não conseguiu atingir o quociente eleitoral em
alguns estados.
Se tomarmos o patamar de 0,33 do índice de concentração regionalcomo critério
para considerar um partido como regional, veremos que apenas PSD, PTB e UDN
podem ser considerados partidos nacionais; embora não houvesse nenhuma
tendência clara na evolução do índice para esses partidos6. Assim, a proposição
de Olavo Brasil de Lima Junior (1983:127) sobre a nacionalização generalizada
não foi confirmada pela análise do desempenho eleitoral dos partidos. Como
mostrei no meu texto (Nicolau, 2004:93), Santos (2003) já havia discordado de
Lima Junior (1983) e defendido que a nacionalização era um processo que atingiu
apenas os três maiores partidos. Portanto, neste ponto há convergência entre os
meus dados e as conclusões de Santos.
Santos passa quatro páginas, mais precisamente da 736 à 740, criticando
possíveis imperfeições técnicas do índice de desigualdade regional cumulativa e
de outras medidas utilizadas para calcular a nacionalização dos partidos. Além
disso, defende a superioridade da medida utilizada por ele, que é bastante
simples: "o número necessário de unidades da Federação para que a soma dos
votos nela conquistado atingisse 50% do total de votos partidários: quanto
maior o número de unidades da Federação necessárias para alcançar os 50%, maior
o grau de nacionalização do partido" (Santos, 2004:739).
Observe que Santos na explicação acima fala que seu índice é calculado sobre os
votos. Mas a pergunta óbvia é: como calcular a nacionalização tomando a votação
dos partidos com unidade de análise se elas não estavam discriminadas antes que
o meu trabalho viesse a público? Na realidade, no seu livro sobre o período,
Santos não utilizou a votação, nem poderia, mas o "número de estados
necessários para alcançar mais de 50% do total de representação partidária na
Câmara dos Deputados" (Santos, 2003:150-151). Seus dados revelam que esse
patamar variou entre um e seis estados.
Tanto o índice proposto por Santos (2003) quanto o utilizado no meu trabalho
têm virtudes e defeitos7. O aspecto que enfatizei não foi a forma de mensurar a
nacionalização, mas a nova unidade de análise (votos). Como já apontei, os
resultados de minha análise convergiram com os de Santos, baseados
exclusivamente na distribuição das bancadas dos partidos na Câmara dos
Deputados. Mas Santos preferiu acentuar o fato de preferirmos medidas
diferentes a assinalar que meus dados convergiram com as análises feitas por
ele.
5. OS ÍNDICES DE FRACIONALIZAÇÃO (F) E NÚMERO EFETIVO DE PARTIDOS (F)
O propósito desta seção é fazer alguns comentários sobre dois índices muito
utilizados pela ciência política, particularmente nos estudos eleitorais. Este
esforço é fundamental para a compreensão da seção seguinte, onde tratarei mais
especificamente dos comentários de Santos sobre o assunto.
Nos anos 1940, um índice foi criado por economistas com o intuito de mensurar a
concentração de firmas em um determinado setor. Imagine-se, por exemplo, a
distribuição de empresas no mercado de automóveis. Como poderemos mensurar o
padrão de concentração/dispersão, levando em conta a fatia de mercado que cada
empresa controla?8. O índice de concentração de Herfindal-Hirschman (HH), como
ficou conhecido em homenagem aos seus autores, é calculado de maneira bastante
simples: Índice de concentração de Herfindal-Hirschman (HH):E p2i (onde pi é a
proporção do mercado controlado pela empresa pi).
O índice varia de 0 a 1; quanto mais próximo de 1, maior a concentração.
Imagine-se, por exemplo, o mercado de refrigerantes, com cinco firmas, cada uma
delas com a seguinte fatia: 40%, 30%, 15%, 10% e 5%. O índice HH seria
calculado da seguinte forma: (0,40 x 0,40) + (0,30 x 0,30) + (0,15 x 0,15) +
(0,10 x 0,10) + (0,05 x 0,05). O resultado é igual a 0,29. Índices inspirados
no HH têm sido utilizados em diversas disciplinas. Na sociologia, por exemplo,
tem sido empregado para medir consenso, na biologia para mensurar o grau de
diversidade (Monroe, 2000).
O cientista político norte-americano Douglas Rae (1967) sugeriu um novo índice
para mensurar a concentração/dispersão de votos em uma eleição, ou das cadeiras
no Legislativo. Como a preocupação de Rae era mensurar a dispersão, ele
simplesmente inverteu o resultado do HH, subtraindo-o de 1: Índice de
fracionalização de Rae (F): 1 ' HH
Se no lugar das firmas do exemplo anterior, imaginarmos cinco partidos com as
mesmas distribuições de votos no Legislativo, teríamos um índice F de 0,61 (1-
0,29). O índice de Rae varia de zero (em um Parlamento, por exemplo, um partido
controla todas as cadeiras) a 1 (cada cadeira do Parlamento seria ocupada por
um partido diferente). O índice F é interpretado em termos de pares
discordantes, revelando qual é a probabilidade de que dois deputados de um
Parlamento pertençam a partidos diferentes. No exemplo apresentado acima é de
0,619, ou seja, se escolhermos dois deputados aleatoriamente, existe 61% de
probabilidade de que eles sejam de partidos diferentes.
O índice Ffoi bastante utilizado na ciência política em importantes trabalhos
comparativos da década de 1970, entre eles o influente Party and Party Systems,
de Giovani Sartori, publicado em 197610. Os cientistas políticos Jan-Erik Lane
e Svante Ersson (1994:113-135) utilizaram a medida de fracionalização para
mensurar a dispersão étnica e religiosa dos países.
Mais recentemente, Marku Laakso e Rein Taagepera (1979) propuseram um novo
índice, o número efetivo de partidos (N), para mensurar a dispersão/
concentração. O N também toma o HH como base para cálculo: Número efetivo de
partidos de Laakso e Taagepera (N): 1/ HH
No exemplo anterior, com cinco partidos (40%, 30%, 15%, 10% e 5%) o número
efetivo de partidosseria igual a 3,5. Tanto F como N são variações sobre o HH.
Mas, desde os anos 1980, este índice tem sido utilizado com mais freqüência
pela ciência política, particularmente, nos estudos comparativos sobre sistemas
eleitorais e sistemas partidários (Taagepera e Shugart, 1989; Lijphart, 1994;
2003; Norris, 2004; Farrel, 2001; Cox, 1997). Qual seria a razão da predileção
dos cientistas políticos pelo índice do número efetivo de partidos? Diversos
autores (Sartori, 1982:35; Taagepera e Shugart, 1989:39; Lijphart, 1994:69)
consideram o índice mais fácil de visualizar em termos concretos. Vale a pena
reproduzir uma passagem escrita por Arend Lijphart sobre o assunto:
"A grande vantagem de N é que ele pode ser visualizado mais
facilmente como número de partidos do que o índice abstrato de Rae.
Em um sistema bipartidário, com dois partidos igualmente fortes, o
número efetivo é exatamente 2.00 (F=0,50). Se um dos partidos é
consideravelmente mais forte do que o outro, como, por exemplo, com
votos ou cadeiras de 70% e 30%, o número efetivo de partidos é de
1.72 ' em acordo com nosso julgamento intuitivo de que estamos nos
movendo de um sistema bipartidário puro em direção a um sistema
unipartidário (F = 0,42). Do mesmo modo, com um sistema com três
partidos exatamente iguais, a fórmula do número efetivo é de 3.00 (F
= 0,67). Se um desses partidos é mais fraco do que os outros dois, o
número efetivo ficará em algum lugar entre 2.00 e 3.00, dependendo da
força do terceiro partido (F estaria entre 0,50 e 0,67)" (Lijphart,
1994:69)11.
O principal limite dos índices HH, F e N é que, como são baseados nos quadrados
dos valores de cada unidade, eles tendem a superestimar o impacto das maiores
unidades, enquanto o das menores é subestimado. Já na década de 1970, Sartori
apontava esse aspecto, quando comentava os limites do índice F:
"Sem dúvida, a fracionarização de Rae é uma medida do número e, mais
ainda, do tamanho dos partidos. Mas a medida, na verdade,
supervaloriza os partidos maiores e condensa demasiado rapidamente os
partidos menores ' como é evidente, já que as porcentagens
partidárias são quadrados. Por exemplo, um partido cujo tamanho é de
40% contribui com 0,16% para a soma dos quadrados, ao passo que um
partido de 10% contribui apenas com 0,01% (na verdade, um valor
desproporcionalmente baixo)" (Sartori, 1982:337).
6. SANTOS E OS ÍNDICES DE FRACIONALIZAÇÃO (F) E DO NÚMERO EFETIVO DE PARTIDOS
(N)
Santos (2004:740-752) faz uma longa discussão sobre os índices F e N. Não cabe
resumir aqui todos os tópicos ' alguns altamente técnicos ' mobilizados pelo
autor. Mas quero destacar um mais geral: em diversas passagens, ele procura
demonstrar a fragilidade do índice N e a maior precisão do índice F12. No meu
entender, a principal crítica feita por Santos ao índice N refere-se à má ' e
incomum ' interpretação dos seus valores. Como visto anteriormente, os valores
de N são um construto matemático. Por isso, não é possível fazer o caminho de
volta ao mundo partidário e identificar quais partidos são aqueles. É um
equívoco grave, por exemplo, sabendo que, em um parlamento, o N é igual a 3,2,
tentar identificar quais seriam os três "partidos efetivos"13. Por isso, o
índice é do número efetivo, e não de partidos efetivos14. Mas pode-se dizer,
por exemplo, que a dispersão partidária do Brasil (N = 8,3) é maior do que a da
Espanha (N=2,7), mas menor do que da Papua Nova Guiné (N =10,8). Daí a minha
total concordância com a indagação de Santos (idem:751): "A propósito, o NEP
que acompanhou todo o período 1945-62 variou de 4 a 4,3; quais 4 entre os 16 do
sistema partidário brasileiro? De um contrafactual aritmético nada pode ser
derivado substantivamente sobre o mundo extra-aritmético".
Em resumo, creio que o problema do índice N derive mais de uma má interpretação
do que de uma limitação técnica inerente à sua construção ' embora, como
salientei acima, ela exista.
Como tentei mostrar na seção anterior, N e F são ambos derivados de HH e têm
sido utilizados para medir a concentração/dispersão das unidades de uma dada
população. Por razões específicas, os pesquisadores têm escolhido um ou outro
para utilizar em suas investigações. Ao contrário da interpretação corrente ' a
qual me filio ' que sustenta que ambos os índices comportam a mesma informação,
Santos enxerga diferenças fundamentais entre os dois15. Essa é, provavelmente,
a principal diferença metodológica entre nós16 .
Mas Santos afirma no resumo do seu artigo que minhas teses são inválidas,
inclusive o uso que faço do "conceito do número de partidos efetivos". Na
verdade, não utilizo o conceito, uso o índice. Fiquei pensando se foi minha
redação infeliz na página 97, quando desloquei o adjetivo "efetivo" para o lado
do substantivo "partido" (no lugar de 4,8 partidos efetivos em média, deveria
ter escrito a média do N = 4,8), que levou Santos a ter creditado a mim o
emprego inválido do conceito17. Apesar da redação não muito clara, em nenhum
momento do texto cometo o equívoco de dizer que conhecer um dado N permitiria
identificar quais eram os partidos relevantes, efetivos, ou que nome se queira
dar aos partidos mais importantes.
Retomo agora o que disse no meu artigo sobre a evolução da fragmentação
partidária no âmbito eleitoral durante o período 1945-6218. Em três passagens
do seu texto (todas reproduzidas por mim) sobre a República de 1946, Santos diz
que houve um aumento da fragmentação partidária na Câmara dos Deputados. Minha
intenção foi testar se essa proposição se sustentava com os novos dados. Por
isso, utilizei o N. Os valores encontrados para o N (eleitoral) são os
seguintes: 1945 (4,7), 1950 (4,7), 1954 (4,9), 1958 (4,8), 1962 (4,7). Minha
conclusão é que não se pode dizer que estava havendo uma ampliação da dispersão
(fragmentação) partidária no plano eleitoral. Poder-se-ia medir de outro jeito,
utilizando o F, e encontrar-se-ia os seguintes valores: 1945 (0,726), 1950
(0,783), 1954 (0,794), 1958 (0,790) e 1962 (0,789). Dados que confirmam a
proposição: não estava havendo aumento da fragmentação partidária no plano
eleitoral.
Quanto à dispersão na Câmara dos Deputados, vale observar os meus cálculos
comparativamente aos de Santos, que utiliza os dados tradicionais do TSE:
Só agora percebi que nós dois erramos em nossa leitura dos dados. Afirmei que
que não houve uma estabilidade da fragmentação no plano parlamentar (Nicolau,
2004:98), e meus dados indicam que houve um leve crescimento. Em contrapartida,
Santos afirmou que houve aumento da fragmentação parlamentar, e seus dados
indicam estabilidade. Assim, retifico o que disse no meu artigo original:
Santos está correto em dizer que houve um aumento da fragmentação parlamentar
no período.
7. A IMPORTÂNCIA DAS PESQUISAS EQUIVOCADAS NA CIÊNCIA
Gostaria de terminar manifestando concordância total com uma passagem de Santos
em que ele enfatiza o papel do insucesso nos projetos de pesquisa: "Espero ter
ficado claro, entretanto, que nenhum resultado de pesquisa é descartável. Um
projeto fracassado deixa como saldo positivo certo acréscimo no estoque das
proposições equivocadas, o que nos permite rejeitá-las, e esclarecimentos onde
havia dúvidas" (2004:757).
Já havia aprendido com outros autores (King et alii, 1994, por exemplo), que os
cientistas sociais têm uma tendência de ocultar seus erros e trazer a público
somente os resultados bem-sucedidos. Variáveis relevantes teoricamente são
eliminadas da análise por não terem sido estatisticamente significativas,
testes fracassados são banidos e, muitas vezes, a pesquisa dá impressão que
tudo sucedeu de forma demasiadamente certa com os dados. Pior ainda é quando um
pesquisador descobre que seu trabalho já publicado continha alguns erros. Quem
não viu um colega desolado por descobrir uma pequena imprecisão em um artigo?
Ou a angústia de outro, quando se deu conta que sua análise foi superada por
outra mais consistente? Quem já não se sentiu abatido por ter seus erros
apontados em críticas alheias? Ao contrário dos outros cientistas, temos
dificuldades em admitir que um componente fundamental do trabalho científico é
que ele é provisório e muitas vezes é superado por outros.
Independentemente de como o meu artigo venha a ser avaliado por outros colegas,
talvez ele possa ter dado uma pequena contribuição aos estudos sobre os
partidos na República de 1946. Alguns dos principais estudiosos do período,
como Gláucio Soares, Maria do Carmo Campello de Souza, Olavo Brasil de Lima
Junior e Antônio Lavareda, imaginavam que a votação desagregada por partido
poderia trazer evidências mais precisas sobre a evolução do sistema partidário.
Os dados estão aí. Uma porta a mais se fechou. O que não é pouco para a
produção de explicações mais precisas sobre o período.
NOTAS
1. Santos superestima os meus objetivos em diversas passagens. Na página 748,
por exemplo, ele diz que tenho três objetivos: "rejeitar hipóteses daliteratura
sobre a evolução da força dos partidos, ao longo do período 1945-62; rejeitar
outras sobre possíveis avanços na nacionalização dos partidos; e, finalmente,
reconsiderar profundamente teses correntes sobre a fracionalização do sistema
partidário brasileiro".
2. De acordo com a tabela da estatística tradicional, utilizada por Santos, a
diferença é de 24 pontos percentuais (2004:733).
3. Para uma discussão sobre as mudanças eleitorais nos planos macro e micro,
ver Lane e Ersson (1997).
4. Os dados com a votação dos partidos para a Câmara dos Deputados do período
1945-62 nos municípios não estão disponíveis nas estatísticas do TSE. Para as
eleições municipais, a votação dos partidos também não está discriminada,
quando eles concorrem coligados. Apesar dessas dificuldades, alguns desses
dados foram analisados por Gláucio Soares (2001:67-76). Ele mostrou,
particularmente, como cresceu, entre 1947-48 e 1954-55, o número de municípios
nos quais o PTB disputou as eleições.
5. Um ótimo balanço pode ser encontrado em Jones e Mainwaring (2003) e Caramani
(1996).
6. Este patamar foi sugerido por Urwin (1983) no seu estudo sobre a
nacionalização dos partidos europeus.
7. A simples contagem do número de unidades da federação em que os partidos
recebem 50% da sua bancada têm dois problemas. O primeiro, já comentado, é que
as bancadas ' por conta dos efeitos do sistema eleitoral, de punir ou
recompensar os partidos ' podem não expressar o processo de evolução eleitoral
de um partido. O segundo problema é que o índice não é monotônico: o fato de o
partido ampliar sua representação para mais um estado não implica
necessariamente que o valor da medida se alterará.
8. Sobre o HH, ver Taagepera e Shugart (1989:79).
9. Conheço apenas uma crítica (Monroe, 2000:116) a esta interpretação do índice
F. Segundo o autor, só faz sentido analisar o índice com probabilidade de
extrair pares discordantes em grandes populações; por isso, deve-se ter o
cuidado na interpretação do índice para pequenos grupos como Legislativos. Mas,
o autor não apresenta evidências técnicas mais detalhadas sobre o tema.
10. Ver Sartori (1982), especialmente, o capítulo 9, onde ele apresenta o
índice F para a Câmara dos Deputados de 68 países.
11. As razões de Lijphart (1994:70) são condensadas na seguinte passagem: "Por
que o número efetivo de partidos é a medida mais pura do número de partidos,
por que ela tem se tornado a medida mais amplamente utilizada, por que as
medidas alternativas são similares na maioria dos aspectos, e por último, mas
não menos importante, por que ela é muito mais simples em termos computacionais
que as alternativas, ele será a medida do número de partidos usada neste
estudo". Taagepera e Shugart (1989:80) também pensam da mesma maneira: "Qual
dos três índices nós devemos usar? HH é mais simples de calcular. Nós
freqüentemente gostamos que nossos índices variem de 0 a 1, e tanto o HH como o
F têm esta propriedade. O número de componentes N é o mais fácil de visualizar
em termos técnicos: N = 2,28 diz-nos diretamente que existem dois grandes
partidos e definitivamente menos que três grandes partidos, enquanto HH = 0,439
ou F 0,561 diz a mesma coisa menos diretamente". Segundo os autores (idem:81),
o N também permitiria mais versatilidade para testes estatísticos mais
sofisticados.
12. Qualquer teste com os dados revela que os dois índices estão absolutamente
associados. Na Tabela 4 (Santos, 2004:753), ele apresenta dados do F e do N
entre 1945 e 1986. A correlação entre eles é de: 0,998!; só não é igual a 1 por
conta dos arredondamentos dos números.
13. Já observei que este erro é comum entre os alunos pouco familiarizados com
o índice. Mas não me lembro de ter visto, em qualquer trabalho sério, esta
transposição simples do mundo abstrato do índice N para o mundo real das
eleições e dos Legislativos. Boa parte dessa confusão talvez se deva a uma
tradução equivocada ' no lugar de número efetivo de partidos, alguns autores
brasileiros utilizaram número de partidos efetivos. Eu próprio já adotei a
tradução que, hoje, considero menos precisa. Ver Nicolau (1996).
14. O índice N também vem sendo largamente utilizado nos estudos sobre sistemas
partidários no Brasil.
15. Além das críticas metodológicas feitas no seu artigo, Santos também trata
separadamente os índices N e F no seu trabalho, chegando a utilizar os dois
como variáveis independentes. Ver, por exemplo, Santos (2003:79), onde ele
utiliza N e F como variáveis independentes. Creio não ser coincidência que os
principais estudiosos do tema escolhem apenas um destes índices para utilizar
em seus trabalhos.
16. Além dos tradicionais N e F, Santos utiliza outros dois índices que são
variações do F, a saber: o índice de fracionalização máxima(Fmax), que mede a
fracionalização máxima em um parlamento em função do número de partidos e das
cadeiras; e o índice de fragmentação, que é o resultado da divisão de F por
Fmax, ou seja, o índice revela quão próximo a fracionalização de um dado
parlamento está de uma situação hipotética de dispersão total. Santos (2004:
748) chama a atenção para o fato de que, apesar de discutir o problema da
fragmentação, em nenhum momento, apresento índices sobre F, Fmax e Frag. Creio
que esses dois índices acrescentem pouco para o entendimento da dispersão/
concentração de um dado parlamento. Em termos empíricos, pouco importa saber
qual seria a fracionalização máxima, ou quanto a fracionalização real dista
desta hipotética medida. Existem muitas questões de pesquisas reais para as
quais alguma medida de dispersão pode ser útil: Qual é o impacto do sistema
eleitoral para reduzir a fragmentação eleitoral? Existe relação entre a
fragmentação social e a fragmentação partidária? Existe alguma relação entre
padrão de dispersão parlamentar e dispersão do ministério? Qual a relação entre
fragmentação parlamentar e durabilidade dos gabinetes? Para nenhuma delas o uso
das duas medidas hipotéticas acima faz qualquer sentido analítico.
17. Depois de observar que Santos já fez o mesmo em seu trabalho, percebi que
essa não podia ser a razão. Por exemplo, o autor escreve "reduções no número de
partidos efetivos", e não "redução do número efetivo de partidos" (Santos,
1987:52); no mesmo trabalho, escreve literalmente "número de partidos efetivos"
mais de uma vez quando se refere ao índice N (idem:106).
18. Segundo Santos (2004:748): "Nicolau não está usando o conceito de
'fragmentação' tal como existe na literatura". Não sei qual literatura a que
Santos se refere, mas por fragmentação partidária entendo os diferentes padrões
de concentração e dispersão do voto dos eleitores em uma dada eleição ou da
representação em um dado legislativo. Os índices HH, F e N são algumas das
opções possíveis para mensurar a fragmentação partidária. Escrevi um livro que
trata exclusivamente do tema (ver Nicolau, 1996).