O sistema eleitoral de lista aberta no Brasil
Na resenha que escreveu a respeito do "estado da arte" dos estudos sobre
sistemas eleitorais, Matthew Shugart (2005) enfatizou o quanto se avançou nos
últimos anos no conhecimento do impacto do sistema eleitoral sobre o sistema
partidário. Em contraste, a pesquisa sobre como os sistemas eleitorais afetam a
organização dos partidos e a relação dos deputados com suas bases eleitorais
ainda necessita de estudos mais sistemáticos. Segundo Shugart: "o estudo da
dimensão intrapartidária tem sido inibido por caracterizações nebulosas das
variáveis dependentes, pela falta de dados, e o pior, uma falta de um claro
entendimento de como as regras funcionam nos vários países pesquisados" (idem:
36, tradução do autor). Uma das evidências dessa fragilidade é o número
limitado de estudos comparativos que analisam os efeitos do sistema eleitoral
no comportamento dos eleitores (Norris, 2004).
Atualmente, o conhecimento sobre a influência dos sistemas eleitorais no
comportamento dos eleitores e da elite parlamentar é fruto, sobretudo, de
generalizações feitas a partir de estudos de caso (Bogdanor, 1985; Gallaguer,
2005) e de tipologias de corte dedutivo (Carey e Shugart, 1995). Pesquisas
comparativas permitiram um avanço do conhecimento em relação aos efeitos do
Single Non-Transferable Vote ' SNTV, adotado no Japão até 1993 e em outros
países asiáticos (Grofman et alii, 1999), e do Single Transferable Vote ' STV,
utilizado na Irlanda e em Malta (Bowler e Grofman, 2000). Mas os esforços
comparativos sobre os efeitos dos diferentes modelos de representação
proporcional de lista têm se concentrado praticamente na elaboração de
tipologias (Katz, 1997; 2005; Shugart, 2005). Sabe-se muito pouco, por exemplo,
sobre como a lista fechada ou os vários modelos de voto preferencial afetam o
atendimento aos eleitores (constituency service), o comportamento legislativo e
o voto dos eleitores (Karvonen, 2004). Mas nesse aspecto em particular, as
pesquisas comparativas dependem de investigação mais sistemática a respeito das
regras e das singularidades produzidas pelos estudos de caso.
A utilização do sistema de lista aberta no Brasil chama a atenção por uma série
de razões. A primeira delas é a longevidade. Nenhum país do mundo utiliza a
lista aberta há tantos anos. A segunda deriva da magnitude do eleitorado
brasileiro, 115 milhões em 2002, em contraste com o de outros países que
utilizam o mesmo modelo: Polônia, 29,4 milhões (2001); Peru, 14,9 milhões
(2001); Chile, 8,1 milhões (2001); Finlândia, 4,1 milhões (1999)1; como
veremos, o número de eleitores é particularmente importante para definir certos
padrões de relação entre representados e representantes. A terceira razão está
associada à combinação da lista aberta com outros atributos do sistema
eleitoral: grandes distritos eleitorais, possibilidade de realização de
coligações eleitorais, eleições simultâneas para outros cargos (presidente e
governadores de estado e senadores) e distorção acentuada na representação dos
estados na Câmara dos Deputados.
Apesar da sua importância, o sistema de lista aberta brasileiro tem recebido
limitada atenção dos estudiosos. Nos últimos anos, poucos estudos (Mainwaring,
1991; Ames, 1995; Samuels, 1999) trataram especificamente do tema. Em que pese
o impacto dos três trabalhos na comunidade de estudiosos sobre os sistemas
eleitorais, eles concentraram-se em aspectos muito específicos do funcionamento
do sistema eleitoral brasileiro. Mainwaring (1991) detém-se na descrição das
regras e na comparação com outras experiências de países com voto preferencial
(Itália, Chile e Finlândia), e apresenta limitadas evidências empíricas. O
artigo de Ames (1995) só indiretamente discute a questão do sistema eleitoral;
o estudo tem duas preocupações distintas: saber se os deputados eleitos em 1986
submeteram emendas orçamentárias para as municipalidades onde foram votados e
avaliar o sucesso eleitoral dos deputados que concorreram em 19902. Samuels
(1999) preocupa-se especificamente em mostrar como um partido, o PT**,
conseguiu incentivar a reputação partidária em um sistema eleitoral centrado
nos candidatos.
O objetivo deste artigo é fazer uma análise sistemática do funcionamento do
sistema de lista aberta no Brasil, particularmente nas eleições para a Câmara
dos Deputados. Inspirado pelo modelo proposto por Gallaguer e Mitchell (2005),
começo descrevendo a história e o funcionamento do sistema de lista aberta em
vigor no país. A seguir, avalio os possíveis efeitos deste sistema em três
dimensões: partidos, eleitores e a relação dos deputados com as bases
eleitorais. O texto termina discutindo um tema fundamental para a teoria
democrática (ou pelo menos para uma de suas versões), que é a capacidade que o
sistema representativo oferece para os eleitores punirem ou recompensarem os
legisladores por intermédio do voto. Além de conectar o caso brasileiro com a
moderna reflexão sobre os sistemas eleitorais, mobilizo evidências de três
diferentes pesquisas feitas com deputados e eleitores, que trazem dados mais
consistentes sobre diversos aspectos do sistema representativo brasileiro3.
ORIGEM E FUNCIONAMENTO DA LISTA ABERTA NO BRASIL
A primeira versão de representação proporcional adotada no Brasil em 1932 já
previa o voto preferencial. A cédula podia conter um grande número de
candidatos (tantos quantas fossem as cadeiras do estado na Câmara dos Deputados
mais um), e o eleitor podia escolher candidatos de diferentes partidos e até
mesmo nomes de candidatos não inscritos em nenhum partido ' um modelo
semelhante ao utilizado na Suíça atualmente. Mas o processo de apuração
privilegiava o nome que encabeçava a lista de candidatos, já que o cálculo da
distribuição das cadeiras entre os partidos só considerava esse voto; os outros
nomes da lista só podiam disputar as cadeiras não alocadas na primeira
distribuição (sobras). Este sistema foi utilizado nas eleições de 1933 e 1934,
mas as críticas à complexidade da apuração (que chegou a demorar semanas em
alguns estados) foi um forte estímulo para adoção, em 1935, de uma versão mais
simples, na qual o eleitor passaria a votar em um único nome. Por conta da
suspensão das eleições durante o governo autoritário de Getúlio Vargas (1937-
1945), a nova regra só entrou em vigor nas eleições de 1945 (Porto, 1989;
Nicolau, 2002). É interessante observar que o Brasil adotou o sistema de lista
aberta antes de outros dois países ' a Finlândia (1955) e o Chile (1958) ' que
ficariam conhecidos por utilizar esta versão de representação proporcional
(Raunio, 2005; Siaveles, 2005).
O sistema em vigor no Brasil oferece duas opções aos eleitores: votar em um
nome ou em um partido. As cadeiras obtidas pelos partidos (ou coligações entre
partidos) são ocupadas pelos candidatos mais votados de cada lista. É
importante sublinhar que as coligações entre os partidos funcionam como uma
única lista; ou seja, os mais votados da coligação, independentemente do
partido ao qual pertençam, elegem-se. Diferentemente de outros países (Chile,
Finlândia e Polônia) onde os eleitores têm que obrigatoriamente votar em um
nome da lista para ter o seu voto contado para o partido, no Brasil os
eleitores têm a opção de votar em um nome ou em um partido (legenda). O voto de
legenda é contado apenas para distribuir as cadeiras entre os partidos, mas não
tem nenhum efeito na distribuição das cadeiras entre os candidatos4.
Na história da lista aberta no Brasil, dois aspectos merecem destaque. O
primeiro é a forma como os nomes dos candidatos foram apresentados aos
eleitores. Diferentemente do que acontece em outros países que adotam o voto
preferencial (Holanda, Bélgica, Dinamarca, Áustria e Finlândia, por exemplo), a
cédula brasileira nunca apresentou uma lista completa de todos os candidatos.
Nos três diferentes processos de votação empregados desde 1945 (a cédula
impressa pelos partidos, a cédula oficial e a urna eletrônica), votar nas
eleições para Câmara dos Deputados foi sempre escrever (ou digitar, após a
introdução da urna eletrônica) o nome ou o número de um candidato sem qualquer
menção aos outros componentes da lista. Tal fato, associado à escolha de outros
cargos pelo sistema majoritário na mesma eleição, acabou contribuindo para
reforçar nos eleitores a falsa impressão de que as eleições para a Câmara dos
Deputados são feitas segundo uma regra majoritária em que todos os candidatos
concorrem entre si.
Um segundo aspecto relevante refere-se ao processo de institucionalização do
voto partidário (legenda). Nas eleições para a Câmara dos Deputados, realizadas
entre 1945 e 1958, não havia cédula oficial. Em geral, elas eram impressas
pelos partidos e distribuídas no dia das eleições pelos cabos eleitorais e
também colocadas pelo presidente das mesas eleitorais no interior da cabine de
votação. Neste período, votar significava comparecer aos locais de votação para
colocar a cédula confeccionada pelos partidos em um envelope e, posteriormente,
colocar este em uma urna. Os votos de legenda eram contabilizados apenas no
processo de apuração, quando houvesse imprecisões de preenchimento mas ainda
assim fosse possível identificar o partido no qual o eleitor havia votado5. A
cédula oficial (impressa pela Justiça Eleitoral) começou a ser utilizada em
1962. Tal medida tornaria o processo de votação mais difícil, já que o eleitor
passou a ter que escrever o nome (ou número) do candidato, e/ou a sigla do
partido ou coligação pelo qual este concorria. Na realidade, ao apresentar um
espaço específico para o eleitor votar em um partido, a cédula oficial
introduziu de maneira mais formal o voto de legenda. Essas regras não foram
alteradas nas eleições realizadas durante o Regime Militar ' com exceção apenas
de 1982, quando a cédula não trouxe espaço específico para o eleitor votar na
legenda. Nas primeiras eleições após o Regime Militar (1986), a cédula manteve
a antiga opção de votar em um nome e/ou número de um candidato, mas inovou ao
apresentar uma lista de todos os partidos, na qual o eleitor poderia marcar o
de sua preferência. Com isso, a opção pelo voto exclusivo em um partido ficou
mais clara. Em 1994 e 1998, a lista das siglas dos partidos foi retirada da
cédula e, para votar na legenda, o eleitor teve que escrever o nome (ou o
número) do partido preferido. Desde 1998, o eleitor vota na urna eletrônica6.
A Seleção de Candidatos
Na disputa para a Câmara dos Deputados, os partidos podem apresentar uma lista
de candidatos de até uma vez e meia o número de cadeiras da circunscrição
eleitoral; no caso de coligação entre partidos, esse número sobe para duas
vezes. Nas circunscrições eleitorais que elegem até 20 representantes, um
partido pode apresentar até o dobro de candidatos; ou até duas vezes e meia
quando há coligação. Desde 1998, há uma quota de candidatos por gênero que o
partido deve respeitar, introduzida com o objetivo de ampliar o número de
mulheres representadas no Legislativo. As listas devem reservar o mínimo de 30%
e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. Apesar dessa determinação, o
total de mulheres inscritas pelos partidos tem sido inferior ao estabelecido:
apenas 10,3 % em 1998 e 11,3% em 2002. Em 1998, a exigência de quota mínima foi
cumprida apenas pelo PCB, que lançou duas mulheres entre os seus cinco
candidatos. Nenhum partido cumpriu a determinação em 20027.
Um candidato não pode concorrer em listas de outros estados nem disputar
simultaneamente outros cargos na mesma eleição. Para ser candidato a qualquer
cargo, um cidadão deve estar filiado há pelo menos um ano a um determinado
partido. Existe ainda uma exigência de vínculo territorial (domicílio
eleitoral) a um determinado município (e conseqüentemente um determinado
estado) também por pelo menos um ano; por exemplo, para ser candidato a
deputado federal pelo Rio de Janeiro, um cidadão deve estar filiado a um
partido no estado há pelo menos um ano. Existem ainda exigências de
alfabetização (os analfabetos podem votar, mas não podem ser candidatos) e de
idade mínima de 21 anos para ser candidato a deputado federal. Até 1998, a
legislação garantia aos deputados com mandato (ou aos que o tivessem exercido
durante a legislatura em curso) o registro da candidatura para o mesmo cargo
pelo partido ao qual estivessem filiados (candidatura nata); ou seja, os
responsáveis para escolher os candidatos do partido não tinham poder para
excluir os parlamentares da lista. Em 2002, o Supremo Tribunal Federal julgou
este privilégio inconstitucional, e ele deixou de vigorar nas eleições daquele
ano8.
A legislação partidária estabelece que a norma para escolha dos candidatos deve
ser definida pelo regimento interno de cada partido. A única exigência é que
façam uma convenção no âmbito estadual para formalizar a escolha dos
candidatos; as convenções devem acontecer entre os dias 10 e 30 de junho do ano
eleitoral, e a lista de candidatos deve ser registrada até o dia 5 de julho na
Justiça Eleitoral. Os partidos podem coligar-se para a disputa das cadeiras de
cada distrito eleitoral9. Entre 1986 e 1998, os diretórios estaduais dos
partidos tinham autonomia para decidir sobre as coligações, sendo raros os
casos de interferência das instâncias nacionais dos partidos nesta decisão. A
legislação apenas vedava que os partidos celebrassem coligações diferentes para
cargos majoritários e proporcionais. Por exemplo, os partidos A, B e C poderiam
coligar-se para o governo do estado e concorrerem com diferentes combinações
para a Câmara dos Deputados (ABC; AB C; BCA; ACB; ABC); a proibição seria
aliar-se ao partido D para um dos cargos em disputa. Em 2002, decisão do
Tribunal Superior Eleitoral ' TSE proibiu que os partidos que se coligaram nas
eleições presidenciais celebrassem coligações diferentes no âmbito estadual.
Assim, a coligação ABC pode assumir várias configurações em cada um dos
estados, mas não pode incluir um partido da coligação presidencial DEF;
curiosamente, um partido que não apresentou candidato a presidente pôde se
coligar com qualquer partido nos estados.
Ainda conhecemos pouco sobre o processo pelo qual os partidos escolhem os seus
candidatos, particularmente, nas eleições para a Câmara dos Deputados10. Não
sabemos, por exemplo, se os partidos organizam comitês específicos para
escolher os candidatos, ou se as principais lideranças estaduais envolvem-se
diretamente nessa tarefa. Dois aspectos, contudo, devem ser salientados. O
primeiro é que nenhum partido utiliza prévias internas com os filiados para a
escolha dos nomes que comporão a lista, o segundo é que as convenções oficiais
têm caráter meramente homologatório, já que os candidatos são escolhidos antes
que elas aconteçam.
A quantidade e o perfil de candidatos que cada partido apresenta para deputado
federal em cada circunscrição eleitoral dependem de uma série de fatores, tais
como o seu tamanho, a possibilidade de fazer coligações e o número de cidadãos
que pretendem se candidatar. Minha hipótese é que tanto a dimensão territorial
como a diversidade social dos candidatos são fatores fundamentais para os
organizadores da lista. Os responsáveis pela organização da lista procurariam
levar em conta critérios geográficos, atraindo nomes de diversas regiões do
estado e evitando superposições de candidatos da mesma área, e tenderiam a
privilegiar nomes com prestígio junto a setores específicos do eleitorado:
líderes sindicais, de corporações profissionais e empresariais; ativistas de
movimentos sociais (mulheres, negros, moradores, ambientalistas); líderes
religiosos; ou personalidades que tenham se destacado em algum ramo de
atividade específico (radialistas, artistas, esportistas, intelectuais). Mas
somente estudos detalhados sobre o perfil dos candidatos poderão confirmar a
relevância desses dois fatores.
Um aspecto interessante refere-se ao número de candidatos que os partidos
apresentam em cada estado. Como o total de cadeiras que o partido receberá é o
resultado agregado da votação que cada candidato conquistará individualmente, é
razoável supor que o partido terá interesse de ter o maior número possível de
nomes na lista. Uma exceção acontece com os menores partidos, que, quando
coligados com os maiores, tendem a privilegiar outra estratégia: apresentar um
número reduzido de candidatos e concentrar os recursos de campanha nesses
nomes. Apesar desse incentivo geral para apresentar muitos nomes, nenhum
partido conseguiu preencher sozinho todas as vagas disponíveis nas três últimas
eleições para a Câmara dos Deputados (1994, 1998 e 2002)11. O que precisa ser
investigado mais detalhadamente é em que medida isto é fruto de uma escolha
deliberada dos partidos ou decorre do fato de que um número relativamente
reduzido de cidadãos ambiciona ser deputado federal.
As Estratégias de Campanha Eleitoral12
Um candidato a deputado federal tem grande autonomia para organizar sua
campanha. É ele que, em geral, decide a agenda de eventos e como confeccionar e
distribuir a propaganda eleitoral. A autonomia para gerir a campanha é
reconhecida pela legislação em um aspecto fundamental: o financiamento. Os
candidatos podem arrecadar, gastar e prestar contas diretamente à Justiça
Eleitoral, sem necessidade de o partido avalizar os gastos13.
O tipo de campanha que um candidato faz depende, em larga medida, do seu perfil
político e dos recursos de que dispõe. Praticamente todos os candidatos
organizam atividades que permitem um contato direto com os eleitores em lugares
públicos (comícios, panfletagens, visitas a áreas de concentração popular) ou
em eventos privados (visitas ou reuniões com pequenos grupos). Nesses eventos,
o candidato geralmente distribui material impresso com dados de sua biografia e
oferece brindes (camisetas, bonés, calendários) aos eleitores14. Na cobertura
que a imprensa faz das campanhas aparecem alguns casos de candidatos que
oferecem aos eleitores recursos ou algum tipo de vantagem pessoal em troca do
voto15. Devido ao grande número de candidatos que se apresentam e das
diferentes estratégias utilizadas por cada um deles, é difícil mensurar o grau
de permanência de práticas clientelistas nas eleições para a Câmara dos
Deputados. Em 1999, foi aprovada a Lei nº 9.840, proibindo que os candidatos
doem, ofereçam, prometam ou entreguem ao eleitor vantagens em troca do voto. Os
infratores, além de pagar uma multa, podem perder o registro da candidatura ou
o mandato. Além do contato direto, os candidatos procuram difundir o seu nome
(e número) em propagandas afixadas nas residências (placas e cartazes)16.
Para a maioria dos candidatos, é fundamental arregimentar eleitores para apoiar
diretamente a sua campanha. Os que têm mais recursos organizam uma rede de
apoios nos menores municípios, ou em bairros nas grandes cidades. Em geral, as
regiões escolhidas são aquelas em que o candidato já desenvolve algum tipo de
atividade política ' no caso dos candidatos com mandato, são as áreas
prioritárias da atuação parlamentar. Essas redes podem contar com o apoio de
vereadores, prefeitos, lideranças locais sem mandato e candidatos a outros
cargos na mesma eleição (sobretudo, deputados estaduais). O apoio de lideranças
municipais prevê compromissos de apoio em eleições locais futuras, ou são
retribuições de apoios recebidos no passado. O candidato pode ainda contratar
profissionais para exercer tarefas específicas, como distribuir panfletos,
segurar faixas em lugares públicos, cuidar do comitê de campanha ou produzir
material que será distribuído. Alguns candidatos conseguem ainda o apoio de
militantes voluntários, uma prática mais comum nos partidos de esquerda.
Os candidatos têm direito a aparecer no Horário Gratuito de Propaganda
Eleitoral ' HGPE, veiculado no rádio e na televisão. A lei designa três dias da
semana durante 45 dias para veiculação de propaganda dos candidatos a deputado
federal. A propaganda vai ao ar duas vezes ao dia, em programas de 50 minutos.
Como o horário eleitoral dura cerca de seis semanas, o tempo total para a
aparição dos candidatos é de cerca de 900 minutos. Este tempo é distribuído
proporcionalmente à representação dos partidos na Câmara dos Deputados, o que
significa que os partidos maiores terão bem mais tempo para expor os seus
candidatos do que os pequenos. Como os partidos maiores tendem a apresentar
mais candidatos, o tempo de aparição de cada nome também acaba sendo limitado.
Para dar um exemplo: nas eleições de 2002, em São Paulo, havia 724 candidatos
na disputa ' o que garantiu, em média, pouco mais de um minuto na televisão
para cada um. Os partidos têm criado diferentes estratégias para lidar com o
reduzido tempo do HGPE que eles têm disponível. Alguns asseguram mais tempo
para determinados nomes, os puxadores de legenda; outros apresentam apenas as
fotos e um breve currículo dos candidatos. Embora a maioria dos candidatos
acredite na eficiência do HGPE como forma de comunicação, ainda sabemos pouco
sobre até que ponto ele é determinante para o sucesso eleitoral. Um estudo
pioneiro sobre a campanha dos deputados no HGPE em 1994 (Schmitt, Carneiro e
Kuschnir, 1999) encontrou uma correlação razoável (r de Pearson = 0,5) entre a
votação dos candidatos a deputado federal e o tempo de aparição destes durante
a campanha na televisão17.
EFEITOS
Efeitos sobre os Partidos
Carey e Shugart (1995) escreveram o mais influente artigo a respeito dos
possíveis efeitos dos sistemas eleitorais sobre a estratégia eleitoral dos
candidatos. A preocupação central é saber se os sistemas eleitorais oferecem
incentivos para que os candidatos ao Legislativo cultivem a reputação
personalizada ou a partidária. A definição dos autores sobre a reputação
personalizada é a seguinte: "se as perspectivas de sucesso eleitoral aumentam
como resultado de ser pessoalmente bem conhecido e apreciado pelo eleitor,
então a reputação pessoal importa. Quão mais isso importa, mais valorizada é a
reputação pessoal" (idem:419, tradução do autor). A definição de reputação
partidária é mais sucinta: "reputação partidária refere-se à informação que o
rótulo partidário transmite para os eleitores em um dado distrito eleitoral"
(ibidem, tradução do autor). Os autores montaram uma classificação que levou em
conta três atributos: o controle partidário para selecionar os candidatos; se
os candidatos são eleitos individualmente, independentemente dos colegas de
partido; se o voto é único, intrapartidário, múltiplo ou partidário. A
distinção entre sistemas uninominais (que elegem um representante por distrito)
e plurinominais (que elegem mais de um representante por distrito) também foi
considerada. A partir de escores atribuídos a cada um desses aspectos, os
autores chegaram a 13 combinações. O procedimento utilizado é basicamente
dedutivo, mobilizando exemplos diversos de países, localidades, e até das
eleições da New York City School Boards para ilustrar cada combinação (idem:
425, tradução do autor). A classificação proposta mostrou-se particularmente
limitada para a análise das variantes de representação proporcional com voto
preferencial. Por exemplo, os sistemas de lista aberta do Chile, da Polônia, da
Finlândia e do Brasil, apesar de características semelhantes, ficaram em
posições muito distantes na escala. A classificação também negligenciou as
diferentes regras utilizadas no sistema de lista flexível18.
Independentemente das limitações da tipologia proposta por Carey e Shugart
(1995), os estudiosos dos sistemas eleitorais em geral concordam que a lista
aberta tende a estimular as campanhas centradas no candidato. Como os
candidatos têm que obter votos individuais, é natural que reforcem seus
atributos (reputação pessoal) para se distinguir dos colegas de partido, ou dos
atributos que são comuns a todos os membros do partido (reputação partidária).
Os estudos sobre os dois países que utilizam a lista aberta por longo período
(Finlândia e Chile) mostram uma predominância de campanhas centradas nos
candidatos. Na Finlândia, os candidatos individuais são os responsáveis por
arrecadar fundos e distribuir material de campanha. Embora exista publicidade
partidária, os candidatos investem recursos expressivos de propaganda
individual na imprensa ou na mídia eletrônica, enfatizando suas qualidades
pessoais (Raunio, 2005). No Chile, durante o período 1958-1973, ainda que os
partidos tivessem um processo centralizado de escolha de candidatos, estes
cultivavam o voto individual oferecendo benefícios particularistas para os
eleitores (Siaveles, 2005).
Há poucas pesquisas empíricas acerca dos efeitos da lista aberta sobre os
partidos no Brasil (Samuels, 1999; Carvalho, 2000)19. A melhor evidência que
existe reforça a idéia de campanhas centradas no candidato. Carvalho (idem) fez
uma detalhada pesquisa de opinião com os deputados federais em 1999.
Respondendo a diversas questões, eles reconheceram a grande autonomia de suas
campanhas e a reduzida capacidade que os partidos teriam para intervir no
processo eleitoral. Uma das questões pedia aos deputados que assinalassem em
uma escala (de zero a 100) o peso de seus esforços pessoais e, em outra, o peso
do partido. A média final do peso dos esforços pessoais foi 75. A média para os
esforços pessoais dos principais partidos é a seguinte: PTB (94); PFL (83); PPB
(80); PSDB (79); PMDB (74); PDT (70); PT (52); PCdoB (40)20. Mas reconhecer que
as campanhas são centralizadas nos candidatos não significa dizer que elas
sejam somente centralizadas nos candidatos. Os partidos utilizam freqüentemente
os recursos de campanha (sobretudo, o HGPE) para divulgar sua propaganda
partidária; é comum, por exemplo, que os dirigentes e os candidatos a cargos
majoritários solicitem aos eleitores que votem na legenda na disputa para
cargos proporcionais (Samuels, 1999). Mas como fica claro pelos dados, à
exceção dos deputados do PT e do PCdoB, essa influência é considerada marginal.
Até que ponto o efeito do sistema eleitoral tem um impacto na configuração
organizacional de um partido? Em que medida a maior ou menor
institucionalização dos partidos está associada a determinados sistemas
eleitorais? Além do sistema eleitoral, outras dimensões do sistema político
afetam os partidos, por exemplo: o sistema de governo (presidencialismo,
parlamentarismo, semipresidencialismo); a estrutura vertical de poder
(federalismo, unitarismo); o processo decisório no interior do Legislativo; a
legislação partidária; as diferentes questões que dividem a elite política;
iniciativas organizacionais específicas de cada partido. Na realidade, os
estudos comparativos deram contribuições muito limitadas para a compreensão de
quais fatores afetam a natureza da organização partidária de cada país, e
sobretudo para a avaliação do impacto específico produzido pelos sistemas
eleitorais (Gallaguer, 2005). A variedade de tipos de partidos no interior de
um mesmo país mostra que os efeitos dos sistemas eleitorais devem ser matizados
(Gunther e Diamond, 2003). No Brasil, por exemplo, mesmo com um sistema
altamente centrado no candidato, um partido (PT) conseguiu desenvolver
mecanismos de reforço da reputação partidária (Samuels, 1999; Leal, 2005). A
simples escolha de certas regras internas, tais como o incentivo de atividades
partidárias entre as eleições, a profissionalização de um grande número de
dirigentes, a punição para os deputados que não votam segundo a deliberação da
bancada e a obrigatoriedade de contribuição mensal colaborou para que o PT
conseguisse criar uma estrutura organizacional diferente da dos demais partidos
brasileiros.
Além do incentivo para que as campanhas sejam centradas no candidato, a lista
aberta afeta os partidos por estimular a competição entre os membros de uma
mesma legenda. Como a alocação intralista é feita pelo sistema majoritário, os
candidatos têm como principais adversários os colegas da própria lista e não de
outros partidos. Muitas vezes, esses efeitos são contrastados com aqueles
produzidos pela lista fechada, na qual a competição seria concentrada na
disputa entre os partidos (Mainwaring, 1991; Nicolau, 1996; 2004). No Brasil, a
competição entre os candidatos de uma mesma lista tende a ser agravada pelo
alto grau de incerteza que caracteriza uma eleição para deputado federal, com
um número de candidatos de cada lista, em geral, muito superior ao potencial
eleitoral do partido, e pela reduzida informação que os candidatos têm sobre o
potencial eleitoral do partido e de seus colegas de lista21.
Ainda que em termos lógicos seja razoável esperar um incentivo maior para a
disputa entre os candidatos no sistema de lista aberta do que no sistema de
lista fechada, não é fácil avaliar empiricamente a competitividade entre
candidatos. Um caminho possível é observar como o sistema afeta os
parlamentares que pretendem a reeleição. Nesse caso, é interessante saber se um
candidato não-reeleito foi derrotado por conta do seu desempenho ou do partido.
Katz (1986) examinou os efeitos da disputa intrapartidária em 13 países. Os
dados mostraram uma grande variação: em alguns países o contingente de
parlamentares derrotados por conta do desempenho do partido é superior
(Bélgica, Dinamarca, Irlanda, Holanda, Noruega, Suíça e Estados Unidos),
enquanto em outros a derrota por outros nomes da lista é maior (Finlândia,
Grécia, Itália, Japão, Luxemburgo e Malta). Mas, no total, o número de
derrotados por outros colegas da lista é relativamente baixo, variando entre
17% na Grécia e 7,8% na Itália.
Segundo Katz (idem) os candidatos à reeleição podem perder o mandato por duas
razões: ou por falha do partido, ou por falha do candidato. A derrota de um
candidato é atribuída ao partido quando não há nome novo na lista final dos
eleitos por aquele partido (ou seja, os parlamentares da legislatura passada
reelegeram-se), ou quando o partido pelo qual ele concorreu não elegeu ninguém.
A falha é do candidato quando o partido elege algum nome novo e ele fica de
fora. O mesmo critério foi seguido para analisar o desempenho dos deputados que
tentaram a reeleição em três eleições para a Câmara dos Deputados (1994, 1998 e
2002) no Brasil22. Os resultados são apresentados na Tabela_1. O número total
de deputados que se elegeram em uma eleição e se recandidataram na eleição
seguinte é de 1.094. Desses, 743 (68%) reelegeram-se, 241 (22%) foram
derrotados por falha do candidato, e 110 (10%) foram derrotados por falha do
partido23. Ou seja, o número de deputados federais que não se reelegeram por
terem sido derrotados por outros membros da lista é mais do que o dobro dos
derrotados por conta do desempenho do partido. Esse alto número de derrotados
na lista (maior do que qualquer outro país com voto preferencial) pode ser
interpretado como um forte indício da intensa disputa entre os candidatos de um
mesmo partido.
Efeitos sobre os Eleitores
Os estudos sobre comportamento eleitoral têm se dedicado a investigar as
motivações que conduzem o eleitor a votar em um determinado candidato. Um dos
temas fundamentais é a influência dos atributos do candidato (voto
personalizado) na decisão do eleitor. Na definição clássica apresentada por
Cain, Farejohn e Fiorina (1987:9):
"O voto personalizado refere-se à porção do apoio eleitoral de um
candidato que se origina em suas qualidades pessoais, qualificações,
atividades e desempenho. A parte do voto que não é personalizada
inclui apoio a um candidato baseado na sua filiação partidária,
determinadas características do eleitor como classe, religião e
etnia, reações às condições nacionais, tais como o estado da
economia, e avaliação centrada no desempenho do partido que está no
governo" (tradução do autor).
Apesar de não esgotar todas as possibilidades de escolhas dos eleitores, a
distinção entre o voto partidário e o personalizado passou a ser a dominante
nos estudos sobre os efeitos dos sistemas eleitorais nos eleitores (Dalton e
Wattemberg, 2000; Norris, 2004). No Brasil, a possibilidade que os eleitores
têm de escolher entre votar em um partido ou em um candidato sugere que a
decisão do eleitor possa ser analisada, respectivamente, como expressão de voto
partidário ou voto personalizado (Samuels, 1999). A Tabela_2 apresenta o
percentual de voto de legenda obtido pelos principais partidos nas quatro
últimas eleições para a Câmara dos Deputados. Os números revelam uma intensa
variação quando os partidos e o ano de cada eleição são analisados.
Particularmente interessante é o desempenho do PT, partido que sempre se
beneficiou com altos contingentes de voto de legenda: o percentual de votos de
legenda vem caindo sistematicamente; passou de 43% em 1990 para 15% em 2002.
Muitas razões podem ser mobilizadas para tentar explicar a variação apresentada
na Tabela_2. Em primeiro lugar, é interessante assinalar a mudança no formato
da cédula, que apresentou graus diferenciados de dificuldade para o eleitor
expressar sua preferência por um partido: em 1986 e 1990, a cédula trazia uma
lista com todas as siglas dos partidos24; em 1994 e 1998 (para os eleitores que
não votaram na urna eletrônica), a escolha pelo voto de legenda ficou mais
difícil, pois a cédula não trazia mais a lista de legendas, e o eleitor passou
a ter que escrever a sigla ou o número do partido; com a urna eletrônica (1998
e 2002), o eleitor passou a ter que digitar o número do partido. Em segundo
lugar, a variação do voto de legenda reflete também diferentes estratégias
utilizadas na campanha; por exemplo, lideranças e candidatos a cargos
majoritários pedem explicitamente para que os eleitores votem na legenda no
HGPE. Por fim, o voto de legenda expressa também os vínculos de longo prazo que
os eleitores têm com os partidos (identificação partidária), que também variam
no tempo, segundo os partidos e as regiões do país.
Os dados agregados são, porém, uma fonte limitada para se fazer inferências
seguras sobre as motivações do eleitor. Não é possível interpretar o voto em
candidatos como expressão pura e simples do voto personalizado porque muitos
eleitores com vínculos mais permanentes com os partidos preferem, muitas vezes,
votar em um nome específico da lista. Por outro lado, também não é possível
dizer que o voto de legenda seja expressão exclusiva de identificação
partidária de longo prazo (voto partidário), pois ele muitas vezes reflete
escolhas de curto prazo motivadas pela campanha eleitoral. Por isso, o caminho
mais seguro para avaliar o impacto dos partidos sobre a decisão dos eleitores é
a utilização dos dados das pesquisas de opinião.
A Pesquisa Iuperj-2002 perguntou aos eleitores o que foi mais importante na
escolha de deputado federal, o candidato ou o partido ao qual ele pertencia (a
possibilidade de dizer ambos foi assinalada, mas não fazia parte da pergunta).
O resultado revela que um número expressivo de eleitores (92%) respondeu que o
candidato foi mais importante; apenas 4% consideraram o partido, e 4%
responderam que ambos eram importantes (ver Tabela_3). Uma outra pergunta
solicitou aos eleitores que apontassem o partido no qual votaram nas eleições
para deputado federal. Apenas quatro partidos (PT, PSDB, PMDB e PFL) receberam
um número de menções superiores a 2%. Usando o mesmo critério, é possível dizer
que o contingente de eleitores "centrados no candidato" variou entre 83% (PT) e
96% (PFL). Outro aspecto que reforça o peso reduzido da reputação partidária é
o fato de que apenas dois meses depois da eleição 46% dos eleitores já não se
lembraram ou não souberam dizer o nome do partido no qual votaram25.
Os dados da Tabela_3 são uma forte evidência da reduzida importância dos
partidos na decisão dos eleitores nas eleições para a Câmara dos Deputados. O
resultado confirma a previsão dos estudiosos: regras institucionais que
estimulam as campanhas centradas em candidatos (e não nos partidos) têm como
resposta o alto peso da reputação pessoal (e baixo peso da reputação
partidária) na escolha do eleitor.
EFEITOS SOBRE A RELAÇÃO DOS DEPUTADOS COM AS BASES ELEITORAIS
Muitos fatores determinam o tipo de relação que os deputados desenvolvem com os
eleitores durante o mandato, sobretudo se esses são mais ou menos inclinados a
prestar algum tipo de atendimento particular aos eleitores: a distribuição de
poder no interior do Legislativo; a natureza dos partidos; a possibilidade de
transferência de recursos do orçamento para as circunscrições dos
representantes; o processo de seleção de candidatos pelos partidos; as
atribuições das unidades subnacionais. Mas muitos estudos têm enfatizado a
importância particular dos estímulos produzidos pelos diferentes sistemas
eleitorais (Bogdanor, 1985; Cain, Farejohn e Fiorina, 1987; Cox e McCubbins,
2001; Gallaguer, 2005; Shugart, 2005). Na síntese feita por Gallaguer (2005),
uma premissa presente em boa parte dos estudos é que, nos sistemas
proporcionais centrados no candidato (STV e lista aberta), o deputado tem
incentivos para desenvolver atividades que o diferencie dos seus colegas,
sobretudo por meio de atendimento de demandas específicas (idem:562). Mas os
estudos dão um passo além e acreditam que essa relação será feita com base em
atendimento a interesses particularistas, em geral mobilizando projetos
clientelísticos ou provendo ações em defesa dos interesses da circunscrição
eleitoral (Cox e McCubbins, 2001; Shugart, 2005). Não existe uma relação
necessária entre a lista aberta e o desenvolvimento de atividade parlamentar
exclusivamente associada a atender demandas dos eleitores. Um deputado pode,
por exemplo, investir esforços na vida legislativa (trabalho em comissões,
liderança parlamentar, apresentação de projetos) e no reforço da reputação
partidária (liderança da bancada, atividade de direção partidária). Nesse caso,
é fundamental que ele tenha algum canal de exposição de sua atividade para os
eleitores, seja por intermédio da cobertura da mídia nacional (ou regional), ou
por canais próprios que ele desenvolveu (reuniões com correligionários,
distribuição de material impresso e, mais recentemente, via internet). Somente
estudos empíricos podem mostrar os reais mecanismos que os representantes
desenvolvem para cultivar sua reputação junto aos eleitores em cada país.
No Brasil, os deputados federais desenvolvem diferentes padrões de prestação de
contas, associados a uma série de fatores, tais como a sua base eleitoral, o
tipo de ambição de carreira, a especialização parlamentar e o vínculo com
determinados grupos de interesse. Um deputado com uma trajetória orientada para
defesa de certas políticas (especialista em temas específicos ou representante
de determinados grupos de interesse) ou que pertença à elite parlamentar pode
conseguir espaço na mídia nacional para cobertura de sua atividade e prescindir
de realizar ações particularistas para os seus redutos eleitorais. Por outro
lado, parlamentares que não fazem parte da elite parlamentar e/ou foram eleitos
com votações hiperconcentradas tendem a privilegiar ações que beneficiem
diretamente o seu reduto eleitoral (alocação de emendas do orçamento para a
região, intermediação dos prefeitos com o governo federal para provisão de
obras e recursos para a região). Ainda sabemos muito pouco sobre como os
diferentes padrões de carreira e recursos políticos de cada deputado
condicionam o padrão de prestação de contas pós-eleitoral (Carvalho, 2003).
Na pesquisa que realizou junto aos deputados federais, Carvalho (2000)
solicitou que classificassem 17 itens, segundo a importância para o sucesso
eleitoral, em uma escala de 10 pontos. Ainda que o objetivo das perguntas não
fosse exclusivamente o de traçar um painel do tipo de prestação de contas que
os deputados desenvolvem no mandato, as respostas apresentam alguns resultados
interessantes. Para efeitos de apresentação dos dados, os resultados foram
agregados em cinco grupos: 1) ação junto aos municípios-eleitores; 2) atividade
na Câmara dos Deputados; 3) presença na mídia; 4) patronagem; 5) outros. Os
valores medianos das respostas para o conjunto dos deputados pesquisados (para
os membros dos quatro maiores partidos) são apresentados na Tabela_4.
O primeiro dado que salta aos olhos é a importância central da conexão com a
vida municipal. A visita freqüente aos municípios onde o deputado foi bem
votado aparece no topo como a atividade de maior importância para o conjunto de
deputados e para todos os partidos. A seguir, aparece a liberação de emendas do
orçamento e a intermediação do pleito dos prefeitos e lideranças locais. É
interessante observar que essas duas últimas atividades não foram julgadas
importantes pelos parlamentares do PT. A dúvida é se essas respostas derivaram
da natureza mais orientada para políticas específicas (policy-oriented) do
partido ou do fato de ele se encontrar na oposição à época em que a pesquisa
foi realizada (1999), tendo, assim, limitado acesso aos recursos para a
intermediação junto às prefeituras. Os itens associados à atividade na Câmara
dos Deputados receberam valores intermediários. Vale ressaltar o peso reduzido
das atividades de liderança e prestígio na Câmara dos Deputados no sucesso
eleitoral. Os dados ainda ajudam a desfazer dois mitos sobre a ação parlamentar
no Brasil. Os valores insignificantes para a patronagem (nomeação de
correligionários nas três esferas de poder) assinalam que esse recurso pode
estar sendo utilizado marginalmente como estratégia política no Brasil. Por
fim, também é surpreendente o baixo valor atribuído à conexão com o governador
para o sucesso eleitoral, talvez um indicador da declinante influência deste
sobre as bancadas estaduais.
Mas quais seriam as razões da predominância de um tipo de prestação de contas
eminentemente geográfico? Já durante a campanha eleitoral os candidatos
escolhem diferentes estratégias de concentração ou dispersão de seus recursos
pelo território. A decisão de onde concentrar a campanha (se em um, poucos ou
muitos municípios) está, em geral, associada ao perfil político e à
disponibilidade de recursos. Uma liderança com fortes vínculos com um
determinado município (vereador ou ex-prefeito de uma cidade), por exemplo,
provavelmente tenderá a concentrar sua campanha em uma área circunscrita do
estado. Por outro lado, uma liderança com trajetória política mais abrangente
(secretários de estado, parlamentares com visibilidade na mídia estadual,
lideranças de grupos não concentrados geograficamente) pode dispersar seus
recursos de campanha por diversas áreas do estado.
Existe uma longa tradição de estudos que investigaram o padrão geográfico da
votação dos deputados federais no Brasil (Carvalho, 2003). O propósito é, em
geral, distinguir parlamentares que tiveram votações concentradas daqueles com
votação dispersa pelo estado, tomando o município como unidade de análise. Mas,
em geral, esses estudos têm dois problemas. O primeiro é a concentração da
análise apenas nos candidatos eleitos, o que restringe a possibilidade de fazer
generalizações. Um mapeamento completo dos padrões de disputa deve incluir
também os candidatos derrotados. O segundo é uma associação direta entre os
efeitos da competição (concentração e dispersão do voto) e a intenção dos
candidatos, esquecendo que o resultado das urnas é o efeito agregado, e muitas
vezes não-antecipado, da estratégia de diversos candidatos. Se, por exemplo,
muitos candidatos resolvem concentrar a campanha em uma determinada região, o
resultado final pode, ao contrário, ser uma grande dispersão da votação naquela
região. Para um deputado, o conhecimento das áreas onde recebeu votos (reduto
eleitoral) é fundamental, pois estas áreas provavelmente serão prioritárias
para a sua atividade parlamentar26. Ainda que a atividade parlamentar também
possa levar em conta a dimensão prospectiva (o deputado poderia priorizar as
áreas do estado sem representantes na Câmara e áreas que possam lhe garantir
apoio eleitoral no futuro), os indícios são de que a dimensão retrospectiva
seja a predominante: o deputado tende a priorizar a atuação em áreas onde
recebeu expressiva votação27.
Os dados da pesquisa de Carvalho (2000) fornecem pistas muito interessantes
para futuras investigações sobre como os deputados se relacionam com os
eleitores e quais são as atividades prioritárias da atividade parlamentar no
Brasil. Mas os resultados são contundentes com relação à importância da conexão
com a vida política municipal. Os municípios precisam ser visitados
freqüentemente; o deputado deve se empenhar em obter recursos do orçamento para
determinadas áreas e encaminhar o pleito dos prefeitos e lideranças locais.
PUNIR E RECOMPENSAR OS DEPUTADOS NO BRASIL28
O processo pelo qual os eleitores controlam por intermédio do voto seus
representantes é um tema caro à teoria democrática (Schumpeter, 1984; Dahl,
1989; Katz, 1997; Powell Jr., 2000; Moreno, Crisp e Shugart, 2003). Na versão
tradicional ' chamada por Powell Jr. (2000) de accountability model ', as
eleições seriam um momento privilegiado para punir ou recompensar os
representantes: bons governantes seriam reconduzidos ao poder, enquanto os com
desempenho ruim seriam afastados. Na mesma chave, outros autores sugeriram que
a relação entre representantes e representados deveria ser pensada a partir do
modelo mandante-mandatário (principal-agent-model) (Strom, 2000). Segundo
Moreno, Crisp e Shugart,
"Dessa perspectiva, o processo decisório em grandes entidades, tais
como estados democráticos, implica delegação de autoridade. Em
relações deste tipo, o direito de tomar uma decisão é estabelecido
pelo mandante para um mandatário, mas esta delegação é condicional. O
que significa que ela continua apenas quando é do agrado do mandante.
Que essa possa ser interrompida é a essência da accountability.
Apenas quando o direito de tomar uma decisão é submetido à
possibilidade de interrupção por parte do mandante, uma relação
fundada na accountability tem lugar" (2003:83, tradução do autor).
Portanto, o modelo de acccountability seria baseado em um elemento
retrospectivo, de avaliação dos que já estão no poder. O eleitor, após avaliar
o desempenho de um candidato (ou partido) que esteja em um determinado cargo
eletivo, pode recompensá-lo ou puni-lo na eleição seguinte. A recompensa
acontece quando o eleitor avalia o representante de maneira positiva e vota por
sua reeleição (ou de seu partido). A punição ocorre quando o eleitor escolhe
outro candidato (ou partido) ou prefere não expressar preferência por nenhum
candidato (não comparecimento ou anulação do voto).
Vale a pena explorar em que medida o sistema representativo brasileiro oferece
aos eleitores mecanismos claros para controlar eleitoralmente os seus
representantes. Uma primeira versão de voto retrospectivo pressupõe três
passos: 1) que o eleitor se lembre em quem votou; 2) que o candidato seja
eleito; 3) que o eleitor acompanhe a atividade do representante. A ausência de
pesquisas sobre o contingente de eleitores que acompanham a atuação dos
deputados federais no Brasil impede que se possa fazer qualquer avaliação do
terceiro passo. Mas temos algumas evidências para avaliar os outros dois
aspectos. O Estudo Eleitoral Brasileiro ' Eseb, realizado em 2002, fez uma
série de perguntas sobre a memória do eleitor29. Perguntados se lembravam em
quem haviam votado para deputado federal na eleição anterior (1998), 67%
disseram que não se lembravam, e apenas 15% apontaram um nome de um candidato
que de fato concorreu naquele ano (ver Tabela_5). Se retirarmos da listagem de
candidatos lembrados aqueles que se elegeram, esse número ficaria ainda mais
reduzido. Portanto, podemos dizer que o uso do voto retrospectivo nas eleições
para a Câmara dos Deputados (em 2002) foi completamente marginal.
Alternativamente, é possível pensar uma modalidade de voto retrospectivo que
desconsiderasse a memória do voto na eleição antecedente. Nesse caso, o eleitor
poderia simplesmente decidir votar em um deputado que tenha chamado a sua
atenção positivamente durante a legislatura ou simplesmente eliminar das suas
escolhas os nomes que possam ter se destacado negativamente30. Nessa opção, o
eleitor não precisaria lembrar em quem votou, mas conhecer um deputado em
atividade. Aqui também os resultados do Eseb podem ajudar. Os eleitores foram
perguntados se conheciam algum deputado federal do estado. Ainda que a pesquisa
tenha sido realizada logo após a campanha (com alta exposição dos deputados),
59% não se lembravam ou não souberam responder; 16% apresentaram nomes
incorretos e inexistentes; apenas 24% apresentaram o nome correto de algum
deputado federal do estado. Mesmo com a opção (implausível) de que todos os
eleitores que sabem o nome de um deputado tenham votado retrospectivamente, o
contingente ainda seria reduzido.
Os dados do Eseb sugerem que um número reduzido de eleitores tem condições de
fazer uma avaliação retrospectiva da atuação do mandato de um deputado. Minha
sugestão é que grande parte das escolhas é resultado de estímulos gerados
durante a própria campanha eleitoral. Como vimos, as estratégias de campanha
derivam em larga medida dos recursos políticos e do padrão de carreira do
candidato. Portanto, o voto como resposta à mobilização eleitoral contemplaria
um número variado de estratégias. Os candidatos poderiam enfatizar suas
virtudes pessoais, ressaltar algum tipo de identidade com o eleitor
(territorial, profissional, de gênero, religiosa), apresentar uma campanha
orientada para políticas (em defesas de temas e grupos sociais específicos). As
campanhas poderiam até mesmo mobilizar a reputação partidária, por exemplo,
quando o partido pede para os eleitores votarem especificamente na legenda. Mas
o Eseb mostra o peso das estratégias de mobilização eleitoral de curto prazo na
decisão do voto. Poucas semanas depois das eleições, apenas 46% (44% em um nome
e 2% em uma legenda) lembravam em quem tinham votado.
O cruzamento do padrão de escolha (personalizada ou partidária) com o tipo de
controle eleitoral (retrospectivo, não-retrospectivo) produz quatro tipos
ideais de escolha nas eleições para a Câmara dos Deputados (ver Quadro_1). O
primeiro grupo, voto personalizado e retrospectivo, tem limites objetivos para
atingir um grande número de eleitores (ausência de memória eleitoral e
desconhecimento dos deputados com mandato). Um segundo grupo, voto partidário e
retrospectivo, seria composto pelo reduzido número de eleitores que consideram
o partido mais importante que o candidato e votam sempre no mesmo partido; este
voto é obtido, sobretudo, pelo PT. Um terceiro grupo, voto partidário não-
retrospectivo, é composto por eleitores que votam em uma legenda, atendendo o
pedido de uma liderança estadual ou candidato a um cargo majoritário. O último
grupo, voto personalizado e não-retrospectivo, seria composto por eleitores que
são mobilizados, sobretudo, pelos apelos da campanha, exclusive os apelos dos
candidatos com mandato. Minha sugestão é que a grande maioria dos eleitores faz
suas escolhas a partir de apelos eleitorais que não estão associados a um
julgamento do mandato.
CONCLUSÃO
O objetivo do artigo foi apresentar um quadro geral do funcionamento do sistema
eleitoral de lista aberta nas eleições para a Câmara dos Deputados no Brasil.
Para isso, uma série de evidências empíricas foi mobilizada (resultados
eleitorais e pesquisas de opinião). Apesar de ser um estudo de caso sobre as
diversas dimensões de um sistema eleitoral (lista aberta) em um dado país
(Brasil), o texto procurou dialogar com os estudos de corte mais comparativo.
Em muitos aspectos há uma confluência com a prática de outras democracias que
utilizam o mesmo sistema eleitoral: campanhas centradas no candidato; voto
personalizado; estímulo à conexão eleitoral por fora da estrutura partidária.
Mas em outros pontos o artigo revelou algumas especificidades da experiência
brasileira: a possibilidade do voto de legenda; a alta taxa de derrotas dos
candidatos por outros nomes do mesmo partido (possível evidência da
competitividade); a importância da conexão com as redes municipais para a
atividade parlamentar; a reduzida capacidade de controle eleitoral dos
representantes.
Em diversas passagens, foi assinalada a necessidade de fazer mais pesquisas
empíricas. Alguns temas, em especial, merecem um tratamento mais cuidadoso: as
motivações dos eleitores quando escolhem os seus deputados; o papel das redes
de apoio nos municípios na campanha e durante o mandato; o processo de seleção
dos candidatos pelos partidos; o perfil dos cidadãos que se candidatam; o papel
dos diversos recursos de campanha (horário no rádio e na televisão; gastos;
distribuição espacial) sobre o sucesso dos candidatos. Enfim, uma longa pauta
para o futuro.
NOTAS
1. O eleitorado do Brasil está em http://www.jaironicolau.iuperj.br; o dos
outros países em http://www.idea.int.
2. Um problema do artigo de Barry Ames é que a apresentação dos dados impede o
leitor de avaliar o peso e a significância das variáveis selecionadas por ele.
3. As pesquisas são: Estudo Eleitoral Brasileiro ' Eseb; a Pesquisa Pós-
Eleitoral Iuperj-2002; e O Perfil dos Deputados Federais Brasileiros, 1999
(pesquisa coordenada por Nelson Carvalho).
4. Shugart, em sua tipologia sobre sistemas preferenciais, chama o modelo
adotado no Chile, na Finlândia e na Polônia de quasi-list; enquanto os casos do
Brasil e da Itália (pré-1993) são considerados como open-list (Shugart, 2005:
42).
5. A legislação previa uma série de possibilidades de contar o voto no caso de
o eleitor votar apenas em um nome (voto contado para o nome e para o partido),
ou somente no partido (voto contado para o partido). Nos casos de o eleitor
votar em candidatos e legendas diferenciadas, o voto era contado para a
legenda. Como as cédulas eram distribuídas pelos partidos, esses erros não eram
freqüentes. Ver o artigo 55 do Código Eleitoral Brasileiro de 1950.
6. A urna eletrônica foi introduzida paulatinamente. Em 1996, foi utilizada por
32% do eleitorado, residente em 57 municípios (capitais de estado e cidades com
mais de 200 mil eleitores). Em 1998, foi utilizada por 58% do eleitorado,
residente em 537 municípios (todos os municípios do Rio de Janeiro, Alagoas,
Roraima e Amapá; no Distrito Federal; nos municípios com mais de 40.500
eleitores dos outros estados). Nas eleições de 2000 (municipais) e 2002
(gerais), todos os eleitores votaram na urna eletrônica.
7. Para o quadro completo do número de candidaturas por sexo, ver Álvares
(2004:236).
8. Nenhum partido, pelo que pude averiguar, deixou de conceder lugar na lista
para um dos parlamentares que tentaram a reeleição em 2002.
9. Sobre as coligações eleitorais no Brasil, ver Krause e Schmitt (2005).
10. O único estudo sistemático a respeito do processo de seleção de candidatos
no Brasil é o de Álvares (2004). O trabalho é um estudo de caso, com ênfase na
escolha das mulheres do Estado do Pará.
11. Dados obtidos junto ao Tribunal Superior Eleitoral ' TSE.
12. Não existem estudos sistemáticos sobre como os candidatos organizam suas
campanhas no Brasil. Os comentários dessa seção são, em larga medida, derivados
da minha experiência em algumas campanhas eleitorais.
13. Apesar das exigências de prestação de contas, a utilização de recursos
ilegais para financiar as campanhas é prática comum no Brasil. Prática que foi
reconhecida por diversos políticos (inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva) durante a Comissão Parlamentar de Inquérito ' CPI dos Correios, que
investigou o chamado Escândalo do Mensalão (2005-2006). O que sabemos sobre os
gastos de campanha são os valores declarados oficialmente pelos candidatos.
Embora a validade destes dados seja questionável, eles têm sido utilizados.
Ver, por exemplo, Samuels (2002).
14. A Lei nº 11.300, de maio de 2006, proibiu a distribuição de brindes durante
as eleições.
15. Alguns estudos sobre as eleições antes de 1945 (Leal, 1986; Graham, 1997;
Faoro, 2004) enfatizaram a presença generalizada de práticas clientelistas no
processo eleitoral brasileiro. Mas não existem estudos sistemáticos sobre o
tema durante a República de 1946 e no atual período democrático.
16. Até 2002, era comum o uso de outdoors, que passou a ser proibido pela Lei
nº 11.300, de maio de 2006.
17. Os autores não testaram uma hipótese plausível: a associação entre o tempo
no horário eleitoral gratuito e a votação na eleição anterior. Os candidatos
podem ter recebido mais tempo no HGPE em uma eleição, justamente por terem sido
bem votados na eleição anterior. Somente análises multivariadas poderão chegar
a conclusões mais precisas a respeito do real efeito da aparição no HGPE sobre
o sucesso eleitoral dos candidatos.
18. Em trabalho posterior, Shugart (2005) deu atenção especial aos sistemas de
lista com voto preferencial.
19. Figueiredo e Limongi criticam a idéia de que as campanhas para deputado
federal sejam concentradas no candidato. Segundo eles "[...] Em um sistema de
'lista aberta', a competição intrapartidária não suplanta a interpartidária.
Como os votos na lista são transferidos, qualquer voto dado a um candidato do
partido aumenta as chances de os demais se elegerem" (2002:309).
20. Cálculos feitos com os dados da pesquisa Perfil dos Deputados Brasileiros '
1999. Agradeço a gentileza de Nelson Carvalho de ter compartilhado o banco de
dados.
21. Minha hipótese, que precisa ser investigada, é que a alta imprevisibilidade
da disputa seja uma das causas do alto custo das campanhas eleitorais no
Brasil. É interessante observar que mesmo parlamentares com muitos anos de
mandato gastam muito nas eleições.
22. Para o Brasil, Figueiredo e Limongi (1996) utilizaram um critério
diferente, considerando derrotas na lista aquelas em que o número de eleitos
pelo partido é superior ao número de candidatos à reeleição.
23. Aqui considerei apenas os candidatos dos partidos, e não a lista de
candidatos de cada coligação.
24. Um exemplo da cédula utilizada em 1990 pode ser encontrado em Nicolau
(2004).
25. A mesma pergunta feita em relação ao deputado estadual apresenta resultados
semelhantes: 93% responderam o candidato, 2%, o partido e 4%, ambos.
26. Visão diferente é apresentada por Santos (1999), que sustenta que os
deputados brasileiros não têm mecanismos para identificar os seus redutos
eleitorais.
27. Os estudiosos do padrão geográfico de voto no Brasil desenvolveram
diferentes formas de identificar os redutos eleitorais dos deputados, todas,
contudo, baseadas nos resultados das eleições (Ames, 1995; Pereira e Rennó,
2001; Carvalho, 2003).
28. Esta seção desenvolve alguns pontos inicialmente apontados em Nicolau
(2002a).
29. A pesquisa foi realizada entre os meses de dezembro de 2002 e fevereiro de
2003.
30. Alguns autores que estudaram a reeleição nas eleições para a Câmara dos
Deputados partiram dessa premissa. Ames (1995) sustenta que a capacidade de
transferir recursos (por intermédio de aprovação de emendas) para as
localidades específicas traz grandes vantagens eleitorais para os candidatos.
Pereira e Rennó (2001) vão mais longe ao analisarem a liberação de emendas
orçamentárias. Eles sustentam que as chances de reeleição em 1998, para os
deputados eleitos em 1994, estariam associadas à capacidade destes de
liberarem, durante o mandato, emendas orçamentárias para as suas bases
eleitorais.