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BrBRHUHu0011-52582007000200006

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variedadeBr
ano2007
fonteScielo

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O Brasil que sobe e desce: uma análise da mobilidade socioocupacional e realização de êxito no mercado de trabalho urbano

UMA PERSPECTIVA ACERCA DA ESTRATIFICAÇÃO SOCIOOCUPACIONAL A fundação da sociedade se entre os indivíduos e grupos a partir de dois tipos de princípios integradores. O primeiro tipo são os princípios de integração social que incorporam, entre outras coisas, sistemas gerais e específicos de valores, símbolos e comunicação, que fornecem o pertencimento dos indivíduos às grandes e pequenas coletividades e conferem sentido e significado subjetivo e intersubjetivo às suas práticas. O segundo tipo são os princípios de integração ao sistema produtivo de bens e de geração de provimentos1.

As formas e lugares a partir dos quais os indivíduos se integram dependem fundamentalmente dos recursos materiais, culturais e simbólicos e das oportunidades disponíveis na sociedade para os indivíduos e seus grupos. O conjunto de recursos e oportunidades encerra as condições de vida dos indivíduos e grupos, e as sociedades caracterizam-se historicamente pela existência de uma distribuição desigual de recursos, oportunidades e, portanto, de condições de vida.

As diversas dimensões nas quais as distribuições desiguais existentes entre os indivíduos ou grupos se evidenciam, embora guardem em alguns contextos relativa autonomia, articulam-se consolidando uma estrutura de estratificação social.

Esta estrutura é composta pelas posições sociais e pelos indivíduos ou grupos que as ocupam. Às posições estão associados requisitos mínimos para que possam ser ocupadas e possibilidades de acesso a determinados padrões, condições e estilos de vida. Aos indivíduos ou grupos que as ocupam está associado um conjunto de recursos econômicos, materiais, simbólicos, culturais e relacionais que oferecem determinadas condições de vida e os impulsionam a agir consciente e/ou inconscientemente e interessada e/ou desinteressadamente, produzindo e reproduzindo padrões e estilos de vida, em direção à manutenção de suas posições ou à aquisição de outras.

As posições e indivíduos ou grupos que as ocupam podem, então, estar mais ou menos distantes entre si e/ou mais ou menos distantes (acima/abaixo) de um patamar mínimo de condições de vida e de bem-estar. Este patamar é determinado a partir de valores e concepções filosóficas, políticas, sociais e econômicas de justiça e igualdade. No limite, até a própria idéia de um patamar mínimo de condições de vida e de bem-estar é uma questão de valor.

A sociologia contemporânea, a partir de algumas das suas perspectivas centrais, assume que, na sociedade moderna, os recursos disponíveis pelos indivíduos ou grupos são incorporados como capitais, isto é, ativos que podem ser aplicados ou investidos no processo de manutenção ou aquisição de posições. No sistema capitalista, o volume de capital econômico proveniente da quantidade de renda e bens materiais é determinante na aquisição e manutenção das melhores posições na estrutura social, conseqüentemente, na aquisição e manutenção de bons e ótimos padrões, condições e estilos de vida e níveis de bem-estar social. Ao capital econômico somam-se o capital cultural, entendido como um conjunto de informações e conhecimento adquiridos no processo de socialização e na contínua dinâmica de aquisição ou reelaboração de repertórios valorativos e culturais, e o capital social, entendido como a rede de relações sociais e profissionais nas quais os indivíduos estão inseridos. A tríade, capital econômico, cultural e social, retroalimenta-se e funciona como ativo no processo de manutenção ou aquisição de posições.

O capital econômico, mas não ele, provém da herança e inserção na esfera produtiva através das ocupações disponíveis no mercado de trabalho. O espaço do mercado de trabalho, por sua vez, não é puramente produtivo, econômico ou meritocrático, isto é, não se constitui apenas como um espaço de posições com requisitos para ocupá-las, constitui-se, sim, como um espaço social. Visto assim, o mercado de trabalho é aqui concebido como um espaço no qual: (i) as posições são valorizadas ou desvalorizadas em função do sistema de representações sociais, prestígio, poder, status e possibilidade de ganhos materiais e simbólicos; (ii) a aquisição destas posições não se apenas pelo preenchimento de requisitos, mas pela distribuição de oportunidades, as características das desigualdades sociais e econômicas, características do mercado de trabalho, percepções dos indivíduos e grupos, disponibilidade de capitais para investir na aquisição de tais posições ou de novos capitais para a aquisição de outras posições etc.

Do ponto de vista da estrutura, esse espaço depende da configuração da distribuição de oportunidades e dos recursos e características do mercado de trabalho. Do ponto de vista do indivíduo, considera-se que, como agente nesse espaço, ele porta capitais, visão de mundo sobre o espaço social no qual está inserido, percepções sobre os capitais que porta, rede de relações pessoais e age consciente e/ou inconscientemente, a partir da combinação de todos esses fatores objetivos e subjetivos, no processo de aquisição de ocupações no mercado de trabalho, conseqüentemente, de posições na estrutura socioocupacional.

Esta estrutura é, pois, dividida em grupos de posições e indivíduos que as ocupam segundo a hierarquia dos capitais em jogo. Os grupos podem ser denominados estratos ou categorias ocupacionais. O indivíduo pode mover-se de um estrato para outro, com maior ou menor facilidade, ou permanecer no mesmo do qual partiu. E, comparado com outros momentos históricos, os indivíduos não são tão fixos em suas posições de origem ou de partida. Entre aqueles que herdam as boas ou melhores posições da geração anterior, partindo assim de bons lugares ao ingressar na esfera econômica ou produtiva da sociedade, a manutenção das posições requer o contínuo investimento de capitais ou processos de reconversão de um tipo de capital em outro para que seja possível sua utilização como ativo. Entre aqueles que herdam não tão boas ou as piores posições, a saída requer maiores investimentos, cujos custos são reconhecidos como válidos ou não, segundo o sistema de valores dos grupos sociais dos quais partem e que os orientam.

O interesse em compreender e explicar esses movimentos formalizou na tradição sociológica a área de estudos da mobilidade. Dentro da área, constituíram-se duas grandes perspectivas: estudos da mobilidade social, que trata dos fluxos entre classes sociais e, como conseqüência, tem lugar na estrutura de classe das sociedades; estudos da mobilidade ocupacional, que trata dos fluxos entre categorias ou grupos ocupacionais/estratos ocupacionais e tem lugar na estrutura ocupacional das sociedades. Enquanto a primeira perspectiva requer uma definição sobre as classes e sua composição, a segunda requer uma análise sobre a estrutura de emprego e características do mercado de trabalho e, para alguns autores, a elaboração de uma escala de prestígio e status das ocupações.

Desse modo, as formas de conceber o problema sociológico da mobilidade (resultado de fatores, sistema ou processo, social ou ocupacional), mensurá-la (definição da unidade de análise, tabelas, análise de regressão, modelos log- lineares) e analisá-la (os resultados) variam de acordo com concepções teóricas e metodológicas. As concepções foram se sedimentando em tradições, matrizes ou perspectivas desde o começo do século XX, cujas bases estão na filosofia e teoria social (Cuin, 1993; Silva, 1999; Dessens et alii, 2000).

No Brasil, desde a década de 1950, são produzidos estudos sobre mobilidade social e ocupacional dentro das matrizes e suas distintas perspectivas. O conjunto de estudos permite construir um quadro da mobilidade social e ocupacional brasileira que aponta em direção à existência da alta mobilidade ascendente de curta distância e alta herança social acompanhada da manutenção da alta desigualdade das condições de vida e oportunidades, resultados da formação da sociedade urbana e industrial que impulsionou a migração e acolheu a massa de trabalhadores dotados de poucos capitais econômicos, culturais e sociais em ocupações com baixos requisitos de formação e remuneração. Tais elementos consolidam uma estrutura de classe com alto grau de rigidez e pouca diluição ao longo do tempo, atribuído em grande medida à distribuição de oportunidades educacionais e à baixa qualidade de ensino.

Deve-se anexar ao diagnóstico referido as questões relativas às dinâmicas e processos que têm lugar na esfera política, econômica e da produção, cujo resultado se evidencia nas características do mercado de trabalho contemporâneo e tem impacto em outras esferas. As flutuações econômicas e as orientações das políticas governamentais (econômicas, sociais e industriais) são elementos que estão associados às tendências de crescimento do setor de serviços, mudanças tecnológicas e organizacionais, rupturas e continuidades na divisão sexual, racial e etária do trabalho e diversificação das experiências ocupacionais geradoras de provimentos. Estas associações incidem diretamente na configuração da estrutura ocupacional, na distribuição dos bens materiais, oportunidades e resultados, bem como nos padrões normativos e construção das identidades coletivas e individuais.

A partir do quadro aqui construído, o objetivo do artigo é analisar as características da mobilidade socioocupacional urbana brasileira no contexto de mudanças no mercado de trabalho desde o final dos anos 1980, como forma de tentar compreender a realização de êxito dos indivíduos nesse mercado, em relação aos seus pais e a si mesmos com dois focos: (i) a variação das taxas absolutas entre homens e mulheres e brancos e negros ao longo de dois momentos e (ii) os impactos das variáveis inatas, adquiridas e de origem familiar nas chances de realização de êxito.

A população estudada foi estabelecida a partir da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar ' PNAD para os anos de 1988 e 1996, cujos suplementos foram sobre mobilidade e colheram, então, informações sobre a ocupação do pai e a primeira ocupação do respondente. Foram selecionados homens e mulheres entre 20 e 64 anos que declararam uma ocupação na semana de referência (excluindo os não- remunerados) e eram domiciliados em zonas urbanas.

Do ponto de vista da análise dos dados, optou-se pela aplicação da regressão logística, pois, mesmo se tratando de uma análise menos sofisticada, cujos resultados são menos robustos que outros, é de fácil interpretação e cumpre o objetivo analítico desejado.

CATEGORIAS SOCIOOCUPACIONAIS E SUA DISTRIBUIÇÃO NA POPULAÇÃO ESTUDADA A análise de mobilidade e estratificação socioocupacional parte, em primeiro lugar, da definição das categorias, estratos ou grupos ocupacionais nos quais as ocupações são classificadas. A classificação das ocupações em categorias socioocupacionais não é uma simples agregação em torno dos rótulos ocupacionais, mas uma agregação segundo orientações teórico-metodológicas e limitações empíricas que resultam no estabelecimento de critérios e seleção de características e variáveis para efeito classificatório das ocupações. A partir da literatura observa-se a diversidade das perspectivas teóricas e metodológicas para a construção, cuja síntese possível é: a melhor classificação é aquela que melhor atende aos interesses teóricos, metodológicos e empíricos da pesquisa.

As categorias e estratos socioocupacionais, apresentados no Quadro_1, foram construídos a partir da combinação de clivagens consideradas fundamentais na estrutura ocupacional, representação social da ocupação, média de anos de estudo, renda dos indivíduos que exercem as ocupações, atividades consideradas urbanas ou rurais e atividades manuais ou não-manuais (Picanço, 2005).

Conseqüentemente, mesmo que a classificação das ocupações nas 10 categorias comporte algum nível de hierarquia, isso não implica partir do pressuposto de que os indivíduos em determinadas categorias almejem estar em outra categoria localizada acima, mas sim que, ao mudar para categorias que estão acima, ganhos simbólicos e materiais que permitem ampliar a possibilidade de acesso a melhores condições de vida. A partir das categorias, foram construídos os estratos socioocupacionais, privilegiando para a agregação a aproximação socioeconômica delas, cujas aproximação e diferença em relação à média de educação e renda estão apresentadas no Gráfico_1.

A população estudada teve pouca variação nos dois anos analisados. Em 1988, as mulheres somavam 32,9% e, em 1996, 34,9%. Em relação à cor, os brancos somavam, em 1988, 56,3% e os negros, 43%, e, em 1996, 60% e 39,4%, respectivamente. Os grupos por sexo e cor, no entanto, diferenciam-se segundo suas posições de partida (primeira ocupação e categoria do pai) e situação ocupacional no ano de referência.

Em relação à distribuição dos indivíduos no começo da trajetória, categoria da ocupação do pai e categoria atual, pouco se tem a acrescentar aos diagnósticos conhecidos (ver tabelas no Anexo). A origem social dos homens e mulheres tem uma distribuição semelhante. São poucos os pais nas categorias da elite, cerca de 10%, e predomina a origem rural, quase 50%. Entre os grupos de cor, o quadro da desigualdade fica evidente, pois, em 1988, enquanto 13,6% dos brancos têm pais nas categorias da elite, esse percentual cai para 5,6% entre os negros; ter pais em Ocupações Rurais é para 43% dos brancos e 54% dos negros. As mudanças entre 1988 e 1996 são a pequena redução de pais em Ocupações Rurais e o aumento nas categorias urbanas dos estratos baixo e médio. A aproximação dos homens e mulheres e a desigualdade entre negros e brancos, entretanto, se mantêm.

A distribuição das mulheres e homens nas categorias do começo das trajetórias evidencia que existem mais mulheres começando em melhores posições que os homens, isto porque elas estão relativamente mais presentes nos estratos da elite e no estrato médio. Em relação aos grupos de cor, observa-se que, como esperado, relativamente menos negros começando nas categorias da elite e no estrato médio. Mas, de modo geral, em 1996 todos os grupos passam a começar em melhores posições, o que não reduz de maneira significativa as disparidades entre os sexos e os grupos de cor.

A situação ocupacional na semana de referência apresenta a segregação sexual e a desigualdade racial existentes no mercado de trabalho brasileiro. As mulheres, por estarem distantes da propriedade, principalmente a propriedade rural, participam da elite por meio da categoria Profissionais. No estrato médio, a distância entre os sexos coloca-se de forma mais visível, pois as mulheres estão fora de Ocupações Manuais Modernas e altamente concentradas em Ocupações Não-Manuais. No estrato baixo, a marca da segregação vem pela presença maciça das mulheres nas Ocupações no Serviço Doméstico.

Os negros somam apenas 7% e os brancos, 18% nas categorias da elite e, por esses percentuais, é dispensável a apresentação de outros percentuais retratando a desigualdade de cor, apenas reforça-se que os negros estão mais concentrados nas Ocupações Manuais Gerais e nas Ocupações do Serviço Doméstico.

Entre 1988 e 1996, observa-se a redução do percentual da elite, acompanhado do aumento das Ocupações no Serviço Doméstico, endossando os dados largamente divulgados sobre a piora no mercado de trabalho brasileiro iniciada nos anos 1990. Para as mulheres e negros, os aumentos mencionados vieram acompanhados, também, da redução das Ocupações Manuais Gerais, isto é, a piora pode ser considerada mais intensa.

As questões postas a partir de agora deverão, então, levar em consideração o quadro anteriormente traçado, o que permite perguntar: para estar nesses lugares de partida (primeira ocupação) e de chegada (ocupação na semana de referência), qual o tipo de movimento feito por homens, mulheres, negros e brancos?

MOBILIDADE E REALIZAÇÃO DE ÊXITO A tradição dos estudos de mobilidade é contemplar três movimentos: (i) o movimento feito pelos indivíduos, sendo a origem a posição da ocupação do pai e o destino a posição da primeira ocupação dos indivíduos (mobilidade intergeracional); (ii) o movimento entre a posição da primeira ocupação dos indivíduos e a posição da ocupação atual (mobilidade intrageracional); e (iii) o movimento que parte da posição da ocupação do pai e cujo destino é a posição da ocupação atual dos indivíduos (mobilidade intergeracional total).

Uma vez que as categorias socioocupacionais definidas estão associadas a uma hierarquia de capitais econômicos, culturais e simbólicos que permitem acesso a determinados níveis de vida e condições de bem-estar, assume-se que, em cada tipo de mobilidade, os indivíduos podem ascender, descer ou se manter nas mesmas posições de origem, seja ela a categoria da primeira ocupação, seja a categoria da ocupação do pai.

No entanto, parte-se do argumento que o fluxo ascendente ou descendente e a reprodução das posições têm resultados diferentes em função do ponto de partida. Estar em determinada categoria traduz-se em ter vantagens e desvantagens para o acesso a níveis melhores de condições de vida e bem-estar, conseqüentemente, sair ou ficar pode ser ou não um movimento exitoso para quem o faz.

Sendo assim, o êxito para aqueles que partem das categorias mais bem colocadas (Profissionais, Dirigentes, Proprietários Empregadores e Proprietários Rurais), aqui chamadas de elite socioocupacional, é a capacidade de reproduzir as posições nas mesmas categorias ou se dirigir para categorias dentro da própria elite. Para aqueles que partem das categorias do estrato médio (Ocupações Não- Manuais, Ocupações Manuais Modernas e Pequenos Proprietários), o êxito é tanto a aquisição de posições nas categorias da elite, quanto a reprodução de posições nas categorias desse estrato. E o êxito daqueles que partem de categorias menos vantajosas (Ocupações Manuais Gerais, Ocupações no Serviço Doméstico e Ocupações Rurais) é ir em direção às categorias mais bem posicionadas. O não-êxito é, para todos, sair do seu estrato em direção a um inferior e, para aqueles que estão nos piores estratos, permanecer neles (ver Quadro_2).

Como o espaço social de investigação é o mundo urbano, optou-se por classificar o movimento dos indivíduos com origem no baixo rural e destino no baixo urbano como não-êxito. A escolha justifica-se por alguns argumentos, dos quais dois se destacam. Em primeiro lugar, ressalta-se que, ao escolher analisar o mundo urbano, se considera que aqueles que fazem mobilidade do mundo rural para o estrato baixo do mundo urbano melhoram de condições de vida mais em função dos equipamentos sociais disponíveis, mas continuam nos piores lugares do mercado de trabalho urbano. Em segundo, aponta-se que a distância entre os dois estratos é muito menor em termos de média de renda e anos de estudo, tal como pôde ser visto no Gráfico_1, do que se comparada com as distâncias em relação aos outros grupos.

Mobilidade Intergeracional O trabalho precário do começo deixa marcas, dentre elas o resultado de que, em 1988, 51,6% dos indivíduos começaram em categorias distintas das categorias dos pais; desses, 29,8% ascenderam e 21,4% desceram. Em 1996, os indivíduos tornam- se mais móveis e fazem isso aumentando muito a ascensão e reduzindo um pouco a mobilidade descendente. A mudança reflete a melhoria do começo das trajetórias dos indivíduos que estavam ocupados, impulsionada pelo processo de urbanização e industrialização brasileiro que abriu mais espaços em ocupações burocráticas, absorvendo mão-de-obra tanto em ocupações de elite, quanto do estrato médio.

Homens e mulheres têm comportamentos distintos. Na Tabela_1 observa-se que as mulheres são mais móveis, tanto descem mais quanto ascendem mais. A segregação sexual explica a maior mobilidade encontrada nas mulheres, pois se trata da comparação entre distintas estruturas ocupacionais: mulher/filha e homem/pai.

Além disso, vale lembrar que a população estudada é domiciliada em zona urbana; logo, é possível que as mulheres não contem como primeira ocupação trabalhos feitos no âmbito da vida familiar, diferentemente dos homens, para quem o trabalho na roça e na lavoura, mesmo que familiar, pode estar sendo levado em consideração. A melhora do começo observada para as taxas gerais é mais significativa para homens, no entanto, essa diferença de intensidade não é suficiente para reduzir efetivamente a distância entre as taxas.

Em relação à cor, nota-se que os negros são mais imóveis que os brancos e tendem a uma menor mobilidade descendente no começo da trajetória, porque são mais retidos nas categorias dos estratos baixos, enquanto os brancos têm mais pais começando na elite e no estrato médio e tendem a ter mais mobilidade descendente no começo. Na Tabela_2, comparando 1988 e 1996, as diferenças e semelhanças mantêm-se estáveis, pois os negros continuam mais imóveis, e as taxas de mobilidade ascendente continuam próximas.

Como resultado da alta reprodução das posições dos pais no início da trajetória e dado que essa origem é marcadamente rural, o não-êxito é alto e, em 1988, atinge 75,6% dos indivíduos. A melhora no começo das trajetórias é também visível quanto à realização do êxito tratada, o percentual de exitosos passa de 24,4% para 33,6%. Como pode ser visto na Tabela_3, as mulheres são aquelas que mais realizam êxito em relação aos seus pais no início da trajetória, mas, como foram os homens que mais elevaram sua participação em bons lugares, esses percentuais tornaram-se mais próximos em 1996. Ter um pior começo torna os negros menos exitosos no início das trajetórias e, mesmo diante do aumento geral da realização de êxito, a Tabela_4 mostra que continuam em larga desvantagem quando comparados com os brancos.

Mobilidade Intrageracional Exitoso ou não em relação aos pais, a questão agora é: qual o movimento feito pelos indivíduos a partir desse começo? A primeira parte da possível resposta pode ser dada pela análise das taxas da mobilidade intrageracional, e a segunda, pela análise das taxas da mobilidade intergeracional total.

Os percentuais da mobilidade intrageracional mostram que, ao longo de suas trajetórias, os indivíduos são muito móveis. Essa mobilidade caracteriza-se pela ascensão e baixa mobilidade descendente e, em oito anos, ao contrário do que ocorre com a mobilidade intergeracional, a imobilidade cresce, a ascensão diminui e a descensão dobra, significando que ficou mais difícil se mover, e quando isso acontece ampliam-se as chances de descer, confirmando a tendência apontada por Andrade (2000) no estudo sobre as regiões metropolitanas.

As diferenças entre os sexos, em 1988, conforme apresentado na Tabela_5, apontam que as mulheres tendiam a ficar mais em suas categorias de partida, pois os homens ascendiam mais. Em 1996, os homens tornam-se mais imóveis, e ambos passam a descer mais, aproximando as taxas dos dois grupos. A criação de melhores oportunidades no começo para os homens funcionou de duas formas, eles ficaram mais retidos, ao mesmo tempo em que ficou mais difícil manter-se nelas.

Sendo assim, a aproximação das taxas dos homens e das mulheres sugere que, mesmo dentro de estruturas ocupacionais ainda distintas pela concentração muito desigual em algumas ocupações, homens e mulheres têm dinâmicas semelhantes ao longo de suas trajetórias, conclusão a que chegou Scalon (1999) por outras vias.

Embora os negros estejam em posições de maior desvantagem que os brancos, as taxas de mobilidade apresentadas na Tabela_6 se diferenciam pouco. Isto ocorre porque os brancos são mais retidos nas categorias do estrato médio e os negros, nas categorias dos estratos mais baixos. A distância entre as taxas fica mais evidente em 1996, pois se observa a maior ampliação da imobilidade e maior redução da mobilidade ascendente para os negros. Se para todos está mais difícil ascender, para os negros o quadro é ainda pior.

A alta mobilidade intrageracional ascendente pode ser atribuída à concentração no começo em Ocupações Rurais e Ocupações Manuais Gerais, categorias dos estratos baixos que deixam bastante espaço para a subida, e qualquer subida é contada como ascensão. A redução da mobilidade ascendente e o aumento da mobilidade descendente podem ser explicados, em parte, pela melhoria do começo, pois os indivíduos passam a ter menos espaço para mover-se e a ter mais espaço para descida. Outra parte pode ser explicada pela maior competição no mercado de trabalho, seja ela resultante da ampliação da meritocracia, na qual credenciais mais universais como educação e qualificação estão em jogo, seja resultante da restrição de oportunidades ocupacionais. Como a competição não se entre iguais, isto é, não se trata apenas de portadores de diferentes credenciais educacionais e de qualificação, mas de credenciais sociais (cor, redes sociais etc.), alguns grupos podem sofrer maior impacto.

As taxas, suas reduções e ampliações, indicam que as melhorias do começo das trajetórias parecem não provocar uma reação em cadeia, isto é, uma sociedade na qual os indivíduos estão começando melhor do que antes não é garantia de ampliação da mobilidade ascendente ao longo de suas trajetórias, afinal, aumenta a descensão e a imobilidade. Destaca-se, contudo, que a imobilidade tem significados distintos. Para aqueles que começaram nas categorias do topo, a existência de uma taxa elevada de imobilidade representa a consistência da trajetória dos indivíduos, e para os que começaram nas categorias da base significa a presença de obstáculos ou limites muito difíceis de serem transpostos, seja pela falta de investimento educacional, seja pela escassa criação de melhores oportunidades ocupacionais. A mobilidade descendente, por sua vez, tanto pode significar trocas raras presentes em todo mercado de trabalho, quanto dificuldade de manutenção das posições em função de contextos mais restritivos do ponto de vista de oportunidades ocupacionais com o fechamento de postos de trabalho e aumento do desemprego.

Embora quase metade dos indivíduos sejam exitosos, no cenário de ampliação das imobilidade e mobilidade descendente, cresce o não-êxito. Entre homens e mulheres, diferentemente do que foi observado na realização de êxito intergeracional, as mulheres são menos exitosas ao longo de sua trajetória.

Entretanto, a Tabela_7 apresenta que, ao longo do tempo, a distância entre homens e mulheres diminui porque os homens reduzem mais a realização de êxito.

A desvantagem experimentada pelos negros não se revela tão intensa nas taxas de mobilidade, mas, como pode ser visto na Tabela_8, revela-se de forma muito direta quando se trata da realização de êxito. Em 1988, 60,7% dos negros e 42,6% dos brancos não realizam êxito ao longo da trajetória. Negros e brancos caminharam na mesma direção em relação ao pequeno aumento do não-êxito, por isso a diferença entre os dois grupos manteve-se estável.

A Mobilidade Intergeracional Total No Brasil urbano, os indivíduos estão herdando menos as posições dos pais no início da trajetória, mas esse movimento não veio em cascata, visto que os indivíduos estão mais retidos nas suas posições iniciais. As mudanças na mobilidade intergeracional e intrageracional observadas, entretanto, não foram suficientemente intensas a ponto de ter um impacto significativo nas taxas gerais da mobilidade intergeracional total.

A mobilidade era e continua muito alta; quase 80% dos indivíduos estão em posições diferentes dos pais. As mudanças observadas entre 1988 e 1996 são a redução da alta mobilidade ascendente e o aumento da mobilidade descendente, diagnóstico apontado por Andrade (2000) utilizando os dados das regiões metropolitanas e uma forma diferente de classificação das categorias. O país vai deixando, então, de ser o lugar de oportunidades ocupacionais.

As mulheres tendem a ser mais móveis do que os homens, diferença que se expressa na maior mobilidade descendente feminina (ver Tabela_9). Ao comparar as mulheres com os seus pais, estão sendo comparadas estruturas ocupacionais distintas, caracterizadas pela maior participação das mulheres em Ocupações Não-Manuais e Ocupações no Serviço Doméstico, e dos homens em Ocupações Rurais e Ocupações Manuais Modernas, uma ponderação que não tira a relevância da desigualdade encontrada, porque se trata da força das mulheres em reproduzir as posições socioeconômicas da sua origem. Entre os dois momentos analisados, mesmo que os homens tenham tido maior aumento relativo de mobilidade descendente, as mulheres ainda apresentam a maior taxa.

A Tabela_10 mostra que brancos e negros se diferenciam pouco. A pouca diferença se expressa pela presença um pouco maior de brancos móveis, tanto sobem como descem mais do que os negros. Entre 1988 e 1996, as taxas de mobilidade ascendente e descendente distanciam-se um pouco mais, indicando que, se por um lado é um pouco mais fácil para os brancos subirem, é também mais fácil descerem.

Ao tratar a realização de êxito, observa-se que mais de 50% não realiza êxito em relação aos pais, construindo, assim, outro sentido para a alta mobilidade ascendente brasileira. E o quadro torna-se mais agudo diante do contexto de mudanças no mercado de trabalho, pois ficou um pouco mais difícil realizar êxito em relação aos pais. As Tabelas_11 e 12 evidenciam o êxito entre os sexos e os grupos de cor e permitem observar que os homens tendem a ser mais exitosos do que as mulheres e que os negros são muito menos exitosos do que os brancos.

Esta é a marca mais profunda da desigualdade racial aqui estudada. E pouco muda entre 1988 e 1996.

A análise das taxas de mobilidade e realização de êxito nas três dimensões (intergeracional, intrageracional e intergeracional total) pode ser resumida colocando em evidência os seguintes aspectos: (i) no movimento intergeracional: a melhoria do começo vista a partir da ampliação da mobilidade ascendente reverte-se em ampliação de movimentos exitosos em relação aos pais, com mais intensidade para os homens; (ii) no movimento intrageracional: a redução da mobilidade ascendente e o aumento da imobilidade traduziram-se na redução das trajetórias exitosas; (iii) o saldo geral entre mais êxito no começo e menos êxito em relação a si resulta em pequena redução do êxito em relação aos pais; e (iv) o peso do sexo e da cor aparece muito mais como determinante quando analisamos as taxas de realização de êxito do que as taxas de mobilidade.

Sendo assim, pergunta-se: qual o impacto do sexo e da cor na realização de êxito dos indivíduos? O que pode ter mudado entre 1988 e 1996 em relação ao peso da origem social e da educação nas chances de realização de êxito em um contexto de fechamento de postos de trabalho, redução da absorção da mão-de- obra e maior competitividade no mercado de trabalho? Algumas Hipóteses Ao tentar apontar algumas respostas, parte-se dos arcabouços teóricos de Goldthorpe e Bourdieu2. Em ambos pode-se identificar a construção analítica de que os capitais econômico, cultural, social e simbólico da família agem de forma determinante na possibilidade de os indivíduos posicionarem-se na estrutura socioocupacional e na sociedade contemporânea, caracterizada pela valorização da educação e ampliação das oportunidades educacionais, parte das estratégias familiares (mesmo de famílias em diferentes situações) está direcionada para investimentos educacionais semelhantes ou mais ambiciosos que os da origem.

As thinking tools oferecidas por Goldthorpe e a sua perspectiva da escolha racional e Bourdieu e seu arcabouço fundado na noção de habitus vão buscar interpretar de forma diferenciada a escolha por investimentos equivalentes ou mais ambiciosos que os da origem. E são essas ferramentas conceituais que permitiram a construção de hipóteses que tratam de forma diferente os efeitos do conjunto de capitais familiares, a educação dos indivíduos e suas características nas chances de realização de êxito em relação aos pais. Sendo assim, a partir da abordagem feita por Goldthorpe (2000), podem-se levantar as hipóteses de que: (i) As famílias em posições mais vantajosas (posições no estrato alto e médio e/ou pais e mães com alta escolaridade) tendem a construir estratégias com o objetivo de, no mínimo, reproduzir suas posições, especialmente via investimento em educação e capital cultural; como conseqüência, os indivíduos com essas origens tendem a realizar mais êxito.

(ii) As famílias em posições de desvantagem tendem a construir estratégias e fazer investimentos, especialmente em educação, compatíveis com seus recursos mais escassos; como conseqüência, os indivíduos tendem a se manter em posições desfavoráveis e, por isso, tendem a realizar menos êxito.

(iii) A boa origem socioocupacional, ter pais e mães com escolaridade alta e/ou no estrato alto e médio, tem impactos positivos e altos nas chances de êxito.

(iv) Quanto maior a escolaridade dos indivíduos, maiores suas chances de realização de êxito.

(v) O estrato da primeira ocupação é uma variável que revela o background familiar e, como tal, quanto melhor o começo, maior impacto na realização de êxito.

a partir de Bourdieu (1979; 1996) e Bourdieu e Passeron (1970), pode-se sugerir que: (vi) As famílias nas posições mais vantajosas tendem a transmitir suas posições aos filhos ou, quando necessário, converter uma forma de capital em outro; conseqüentemente, estes tendem a realizar mais êxito do que os indivíduos cujas famílias estão em posições de desvantagem. Isso porque, mesmo que as famílias em desvantagem façam investimentos na educação, o sistema educacional reproduz a desigualdade através do conteúdo passado e do tipo de avaliação escolar.

(vii) Como o ajuste entre habitus (que geram as expectativas), o patrimônio herdado e/ou adquirido dos indivíduos, e o campo com suas características (condições objetivas para a realização das expectativas) não é auto-regulável, existem os desajustes que conduzem à desclassificação dos indivíduos, ou seja, à ida para lugares não equivalentes à sua posição de origem.

(viii) Os desajustes podem ser oriundos das mudanças nos instrumentos de reprodução (mercado de trabalho, sistema escolar, costumes e mecanismos de seleção), que tornam a transmissão do patrimônio (econômico, cultural ou social) da família mais complexa e possivelmente mais difícil.

(ix) No contexto de ampliação de oportunidades educacionais e valorização cultural da educação, os investimentos em educação adotados tanto nas estratégias daqueles que reproduzem as posições vantajosas, quanto daqueles que estão lutando por melhores posições, culminam na ampliação da oferta de indivíduos escolarizados e têm como resultado não-esperado a desvalorização do diploma e a falta de capital cultural e social para transformar a educação adquirida em capital ativo na busca por melhores posições. O resultado é que o nível de escolaridade pode, ao longo do tempo, reduzir seus efeitos na realização de êxito, pois, ao lado do alto nível educacional, é necessário ter códigos e redes de relações.

E tendo ambas perspectivas como referência pode-se supor que: (x) A cor e o sexo são características que definem grupos sociais em situação de maior e menor vantagem, mas os impactos dessas variáveis serão pouco visíveis uma vez que as variáveis ligadas à origem e à escolaridade absorvem seus efeitos.

Essas hipóteses, de natureza geral, são guias para analisar os resultados das regressões logísticas para as chances de realização do êxito em relação aos pais e em relação a si mesmo.

A Análise da Realização de Êxito Nos anos 1960, O. Duncan, B. Duncan e Featherman inauguraram uma nova abordagem, de cunho individualista e com a utilização da regressão linear (análise de trajetória), para o problema sociológico da mobilidade e sua explicação. Inicialmente estavam interessados em identificar como determinados fatores ligados às características inatas e adquiridas influenciavam na aquisição de status socioeconômico. A questão central era: se o background socioeconômico é um conjunto de condições favoráveis ou desfavoráveis para a realização dos indivíduos, como estas condições exercitam suas influências na aquisição de status socioeconômico? (Duncan, Featherman e Duncan, 1972).

Os limites teóricos ' centrados na crítica ao caráter individualista ' e metodológicos ' centrados no avanço das análises estatísticas mais sofisticadas ' dessa abordagem foram enfrentados pelo retorno aos estudos de classe (estudos no contexto classe-estrutural) e o uso de modelos log-lineares, configurando a terceira geração dos estudos de mobilidade. A quarta geração objetiva compatibilizar as perspectivas teórico-metodológicas orientadas pela abordagem classe-estrutural e aquelas orientadas pela abordagem individualista, e nutre- se da ampliação do uso da análise de dados categóricos nas ciências sociais, por exemplo, a regressão logística e suas variações (Di Prete, 1990 e Dessens et alii, 2000).

A regressão logística faz parte do conjunto de possibilidades metodológicas para tratamento de dados categóricos. Estes são informações, características, opiniões etc. mensuradas através das variáveis categóricas. A variável categórica, por sua vez, colhe a informação desejada utilizando um conjunto de categorias de respostas. As categorias são criadas para medir a variação de um fenômeno (por exemplo, opinião sobre o governo: ótimo, bom, médio e ruim), características individuais inatas (sexo: homem e mulher; cor: preta, parda, branca e amarela) e adquiridas (escolaridade: primário, primeiro grau, segundo grau [atuais primeiro ciclo do ensino fundamental, ensino fundamental, ensino médio]).

Em linhas gerais, pode-se dizer que a regressão logística, em vez de predizer um valor (y) para cada valor da variável explicativa (x), tal como a regressão linear, tem como objetivo predizer as chances (odds) de um evento ocorrer (sucesso) em relação à não-ocorrência (fracasso), isto é, as chances de pertencer ou não a uma determinada categoria segundo a variável explicativa.

As variáveis explicativas podem ser numéricas (valores) ou categóricas. Quando as variáveis categóricas têm apenas duas categorias (variáveis dicotômicas), uma é designada 0 e a outra 1, logo, o valor do coeficiente refere-se ao impacto de pertencer à categoria 1 sobre as chances. Quando as variáveis categóricas têm mais de duas categorias, cada uma delas é tratada como uma variável dicotômica, tendo uma das categorias da variável original como referência (base line). Por exemplo, a variável categórica Grupos de Cor tem três categorias: brancos, negros e outras; na regressão pode-se definir brancos como categoria de referência e, assim, os coeficientes serão: o impacto de ser negro em relação a ser branco e o impacto de pertencer a categoria "outras" em relação a ser branco nas chances.

O uso da regressão logística é interessante na medida em que, segundo Menard (1995), é uma análise que acumula duas funções: tanto permite explorar impactos de variáveis sobre as chances, como construir modelos explicativos para as chances. Nesse estudo, a regressão logística terá como função a exploração dos efeitos das características inatas (idade, sexo e cor), adquiridas (escolaridade, estrato da primeira ocupação, ano de ingresso no mercado de trabalho) e da origem (escolaridade do pai, escolaridade da mãe e estrato do pai) nas chances de um indivíduo ter ou não realizado êxito em relação ao pai na primeira ocupação, em relação a si mesmo e em relação ao pai na categoria atual. De certa forma, retorna-se às preocupações iniciais da segunda geração de estudos de mobilidade associadas aos avanços do uso de outras possibilidades de análise estatística, recolocando a questão: como as características e o background socioeconômico exercitam sua influência na realização de êxito dos indivíduos? As Chances de Realização de Êxito em Relação aos Pais na Primeira Ocupação Para a análise das chances de realização de êxito em relação aos pais na primeira ocupação, as variáveis escolhidas para o cálculo da regressão logística foram idade, sexo, cor, idade da primeira ocupação, escolaridade da mãe, escolaridade do pai e estrato do pai3. A idade tem o impacto próximo de zero em 1988 (0,017) e zero em 1996, por isso foi retirada. Os quadros_3 e 4 apresentam os resultados das análises de regressão retirando a variável idade para os anos de 1988 e 1996.

Em 1988, observa-se que ser homem e ser negro tem impacto negativo na realização de êxito na primeira ocupação. Mas a cor pesa mais do que o sexo.

Enquanto o impacto negativo de ser homem pode ser compreendido à luz da maior tendência das mulheres a começar em categorias melhores que seus pais, dada a segregação sexual, o impacto negativo de ser negro vem do acúmulo de situações de desvantagens que os negros experimentam.

Os efeitos da origem social, vistos a partir da idade com que começou a trabalhar, a escolaridade da mãe e a escolaridade do pai, apresentam resultados positivos. Quanto mais velhos começam, mais têm mães e pais com melhores níveis de escolaridade, maior a chance de êxito na primeira ocupação. Ressalta-se que a escolaridade da mãe tem maior impacto do que a escolaridade do pai. A presença de uma mãe mais escolarizada indica tanto melhores condições de vida e maior capital cultural na família, como tendência a maiores investimentos na escolarização dos filhos.

Nenhuma outra variável, no entanto, pesa mais do que o estrato do pai, mesmo que de maneira controversa, que ter pais na elite tem efeito alto e negativo. Isto se deve ao fato de que são poucos aqueles que começam na elite e, por isso, muitos indivíduos com pais na elite tendem a começar em categorias fora dela, portanto, a não realizar êxito no começo das trajetórias em relação aos seus pais.

Entre 1988 e 1996, ser homem deixa de ter impacto negativo, refletindo, assim, a melhoria do começo dos homens. Mas ser negro ainda permanece com impacto negativo. Em relação às variações da origem, observa-se que o efeito da escolaridade do pai e da mãe é ampliado, mas o estrato do pai perde força.

Nesse sentido, as melhorias observadas no começo das trajetórias e que impulsionaram o crescimento da taxa de realização de êxito não significam que a origem social perde espaço, pois a realização de êxito está mais dependente da escolaridade dos pais do que antes. Isto quer dizer que os pais mais escolarizados tendem a investir mais na educação dos seus filhos. Como conseqüência, estes retardam o ingresso no mercado de trabalho e têm condições de começar em melhores posições e realizar êxito.

As Chances de Realização de Êxito ao Longo da Trajetória As chances de êxito ao longo da trajetória não trazem a dimensão tempo como algo relevante, seja o tempo medido pela idade, idade que começou a trabalhar ou tempo de mercado de trabalho, pois os coeficientes são sempre menores que 0,1. É muito provável que o início da trajetória e a escolaridade absorvam parte dos impactos da dimensão do tempo.

Nos quadros_5 e 6, os coeficientes mostram que ser homem tem impacto positivo e ser negro, impacto negativo nas chances de êxito, mas a magnitude do impacto do sexo é maior do que a da cor. Sendo assim, ao longo da trajetória, o sexo tem mais efeito direto do que a cor, indicando que a segregação sexual é mais custosa para a realização de êxito do que a desigualdade racial. A cor aparece de forma indireta, em variáveis como a escolaridade dos indivíduos e dos pais, afinal, os negros têm menores níveis de escolaridade e mais pais com origem social nos estratos baixos.

A escolaridade do indivíduo é a variável de maior impacto na realização de êxito, isto é, quanto maior a escolaridade, maiores as chances de êxito dos indivíduos. Mesmo que parte do efeito da boa origem social seja absorvida pela escolaridade, o estrato da primeira ocupação, a escolaridade da mãe, com exceção das mães com nível superior, e o estrato do pai têm efeitos significantes e não desprezíveis sobre a realização de êxito. Ter pai na elite deixa de ter impacto negativo como tinha na realização de êxito na mobilidade intergeracional. a escolaridade do pai não é significante na realização de êxito ao longo da trajetória.

Em relação ao estrato da primeira ocupação dos indivíduos, chama atenção que começar no estrato médio tem efeito alto e positivo, enquanto começar na elite tem efeito negativo. Isto ocorre porque, mesmo que os indivíduos que começaram na elite tenham alta imobilidade, muitos daqueles que começam em categorias do estrato médio tanto se mantêm nesse estrato, quanto sobem para elite, contabilizando um alto percentual de indivíduos que realizaram êxito. Além disso, a expansão da educação e o alto impacto da escolaridade sobre a realização de êxito terminam roubando o efeito de ter começado na elite, pois aqueles que começam nas categorias da elite são mais escolarizados, ao passo que muitos que não começaram na elite se escolarizaram e foram capazes de realizar trajetórias exitosas. Mas os indivíduos que podem aproveitar melhor a força da educação para realizar êxito ao longo da trajetória são aqueles que têm pais nas melhores posições socioocupacionais.

Entre os dois anos analisados, diminui o impacto positivo de ser homem e um pequeno aumento no impacto negativo de ser negro. A melhoria do começo, que resultou na redução do percentual de homens que realizam êxito, pode ser um dos fatores que explicam a redução do impacto de ser homem. E é essa mesma melhoria que torna mais visível a diferença entre brancos e negros.

O efeito positivo dos bons níveis de escolaridade reduz, mas ainda assim é muito alto. A diluição do peso da escolaridade do indivíduo é acompanhada da manutenção do impacto negativo de ter começado na elite e do impacto positivo do estrato do pai, em especial os pais na elite. No contexto em que está mais difícil realizar êxito e a escolaridade melhora para uma grande parcela da população, o valor da educação é reduzido, e os efeitos diretos de ter pais nas melhores posições são mantidos. Isso indica que, no cenário de maior competição, as condições oferecidas pela origem são fundamentais para realização de êxito.

As Chances de Realização de Êxito entre Gerações As chances de realização de êxito entre as gerações, também, não apresenta o tempo como uma dimensão relevante. Mas, sim, a escolaridade do indivíduo, primeira ocupação e o sexo. Então, temos uma realização mais intensamente vinculada a uma característica inata, que marca seu papel social e lugares mais propensos a estar; e a duas características adquiridas, que absorvem os bons lugares de origem e permitem que aqueles sem este bom lugar, mas que puderam se escolarizar, ultrapassem seus pais. Em resumo, a boa escolaridade do indivíduo, o bom começo e ser homem têm os maiores efeitos positivos nas chances dos indivíduos serem exitosos.

Em 1988, os efeitos da alta escolaridade do pai e do pertencimento dos pais à elite têm impacto negativo nas chances de realização de êxito. A escolaridade da mãe é diferente, pois os efeitos são positivos em todos os níveis, embora a alta escolaridade não apresente significância estatística. Ser negro pesa de forma negativa e em intensidade parecida com o efeito positivo dos bons níveis de escolaridade da mãe. Embora em termos de características inatas o sexo tenha mais impacto do que ser negro, ser negro supera determinados efeitos de origem.

Por que as chances de realização de êxito dependem menos da origem social e mais da educação e do bom começo? Esta é uma questão interessante e é possível apresentar, pelo menos, quatro observações.

Em primeiro lugar, destaca-se que os efeitos negativos encontrados para a alta escolaridade dos pais e para os pais na elite são formas de evidenciar que, embora os pais da elite sejam aqueles que relativamente enviam mais filhos para a elite, eles enviam muitos filhos para fora da elite; o resultado, por exemplo, é que em 1996 apenas 34% dos filhos de pais da elite tinham realizado êxito, enquanto 67% dos filhos de pais no estrato médio tinham feito esse movimento. Por isso, são os pais no estrato médio que apresentam efeito positivo nas chances de realização de êxito. Isso ocorre porque estes pais conseguem ter mais filhos nas suas categorias, como também conseguem conduzir seus filhos para a elite mais do que os estratos baixo urbano e rural.

Em segundo, destaca-se que o processo de expansão educacional estabelece claramente duas rotas: aqueles que alcançam o nível superior e aqueles que alcançam o primeiro e segundo graus. Novamente, a questão é posta, os pais que estão na elite e com nível alto de escolaridade são aqueles que mais têm filhos com nível superior, mas também têm filhos com outros níveis; estes têm mais dificuldade de encontrar posições dentro da elite e migram para estratos médios, o que implica em não-êxito. os filhos de pais no estrato médio têm menos nível superior e mais primeiro grau completo, mas é um investimento compatível com a reprodução dos estratos dos pais; logo, realizam o êxito de se manterem em boas posições.

Terceiro, pode-se dizer que o estrato da primeira ocupação dos filhos e a escolaridade da mãe são indicadores das características da família em relação ao seu patrimônio econômico, cultural e social, afinal, os filhos de uma seleta elite não trabalham aos 14 anos em ocupações manuais gerais nem no mundo rural, e as mães tendem a ser mais escolarizadas.

Quarto, também as variáveis não-controladas ou elementos intervenientes no êxito que podem enfraquecer impactos da origem social, mais intensamente ainda para aqueles que fizeram a passagem rural-urbana e que dependem de maneira significativa das redes de relações existentes e adquiridas.

A comparação entre os quadros_7 e 8 permite observar que, entre 1988 e 1996, o efeito positivo de ser homem reduz e aumenta, mesmo que pouco, o efeito negativo de ser negro. Embora o sexo ainda cause um impacto mais alto do que a cor, a redução indica que existem avanços ocorrendo na diminuição das desigualdades da realização de êxito entre os sexos. em relação à cor, o aprofundamento da desigualdade, provavelmente porque são os negros os mais retidos nos estratos baixos, especificamente nas Ocupações Manuais Gerais.

A escolaridade reduz seus efeitos positivos em todos os níveis, mas ainda são os melhores níveis de escolaridade que configuram os impactos positivos mais altos. O bom começo reduz significativamente o seu efeito positivo, e o começo no estrato baixo urbano passa a ser negativo. A mudança parece expressar que começar no baixo urbano passa a ser desfavorável, se comparado com o começo no baixo rural, na realização de êxito, provavelmente pela maior retenção dos indivíduos no mundo baixo urbano. A melhoria do nível educacional e a ampliação do bom começo implicam que tais bens estão perdendo sua raridade, por isso reduzem os efeitos positivos.

O impacto da origem social visto pelos efeitos das escolaridades da mãe e do pai apresenta algumas mudanças. O efeito da alta escolaridade da mãe passa a ser significante e alto, a escolaridade do pai deixa de ser significante como um todo. A expansão do ensino e do bom começo, que os desvalorizam, tornam a origem social mais presente na geração de capital cultural via escolaridade da mãe ' uma relação conhecida em que as mães com melhor nível de escolaridade tendem a otimizar o desempenho dos seus filhos. Nesse sentido, no contexto em que o mercado de trabalho sofre mudanças importantes um nicho parece mais protegido, os filhos de mães mais escolarizadas.

O estrato do pai permanece com a mesma direção dos efeitos, na qual os pais na elite têm um impacto negativo, e os pais no estrato médio têm um impacto positivo sobre a realização de êxito. As mudanças são pequenas, mas indicam a redução do efeito positivo dos pais no estrato médio e do efeito negativo dos pais que estão na elite. Dada a pequena magnitude, não como dizer muita coisa, mas parece que, no contexto em que está um pouco mais difícil do que antes realizar êxito, as distâncias entre os pais de diferentes lugares tendem a reduzir-se.

CONCLUSÃO Diferentes dinâmicas são visíveis quando se tratam dos êxitos na mobilidade intergeracional, intrageracional e intergeracional total. Na mobilidade intergeracional, observa-se que a cor tem mais impacto do que o sexo; a escolaridade do pai e da mãe tem efeitos positivos em todos os níveis; e o estrato do pai, embora seja a variável que mais apresente efeito, traz um dado relevante: o efeito negativo de ter pais na elite. Na mobilidade intrageracional, destaca-se que o sexo tem mais impacto do que a cor; o estrato da primeira ocupação tem um impacto alto, mas começar na elite tem efeito negativo; a escolaridade do indivíduo é o fator mais importante; a escolaridade da mãe tem efeito positivo, no entanto, a escolaridade do pai não tem significância; e o estrato do pai tem efeito positivo em todos os estratos.

Tais elementos indicam que a realização de êxito na primeira ocupação é dependente do capital cultural disponível pelas famílias, que permite, em grande medida, o investimento em educação, e a postergação e melhor ingresso dos filhos no mercado de trabalho. No entanto, o êxito ao longo da trajetória não é uma equação simples de ser interpretada porque não se trata de efeitos diretos e positivos das melhores condições de partida (começar na elite, ter pais e mães com alto nível de escolaridade e ter pais na elite). A educação torna-se um elemento fundamental e tende a absorver parte dos efeitos das boas posições de origem, bem como impulsionar o êxito daqueles que não tiveram boas condições de partida e conseguiram seguir adiante no processo de escolarização ' o que não implica equalização das oportunidades via educação, afinal, os mais aptos a aproveitar esse impulso são aqueles com pais nos melhores estratos, isto é, o lugar que os indivíduos adquiriram ao longo da trajetória está vinculado às condições de vida que determinadas posições socioocupacionais dos pais oferecem.

Os efeitos das variáveis ganham outra dinâmica quando se trata da realização de êxito na mobilidade intergeracional total, e o quadro fica mais interessante ainda. Como visto anteriormente, a escolaridade do indivíduo e a primeira ocupação são os fatores decisivos para a realização de êxito entre as gerações, e ter pais com as melhores situações (alta escolaridade e na elite) tem efeito negativo. Isto pode significar que a escolaridade da mãe e a do pai estão mais associadas ao começo das trajetórias e, portanto, o bom início absorve o efeito da boa educação dos pais. Ter melhores níveis de escolaridade e ter pais nas melhores posições socioocupacionais, por sua vez, favorece a realização de êxito ao longo da trajetória. A realização de êxito na mobilidade intrageracional é um fator decisivo para que os indivíduos sejam exitosos entre as gerações. Vale apresentar o dado: entre todos os indivíduos que realizaram êxito na mobilidade intergeracional total, mais de 97% tinham realizado êxito na mobilidade intrageracional. Conseqüentemente, o êxito entre as gerações parece acumular o impulso do início e a força que a escolarização exerce para que os indivíduos sigam melhores trajetórias.

Pode-se concluir, então, que a análise da regressão logística para a realização de êxito entre gerações confirma as hipóteses de que a escolaridade e o bom começo (hipóteses iv e v) têm um impacto alto e fundamental. Não confirma, entretanto, as hipóteses de que as famílias em posições de vantagem tenderiam a transmitir diretamente as boas posições, por isso, os efeitos de ter pais na elite e com alta escolaridade seriam positivos (hipóteses i e iii).

A posição de vantagem da família pode ser pensada se o indicador for o estrato da primeira ocupação. O bom começo é um indicador de posições vantajosas na origem social porque representa a capacidade da família de postergar o ingresso dos filhos no mercado de trabalho e investir mais tempo em educação. Então, embora os pais na elite apresentem efeito negativo, dada a dispersão que existe ao mandar seus filhos para vários lugares além da elite, a boa origem revela todo o seu peso quando medida pelo estrato do começo. o efeito positivo nas chances de êxito encontrado nos pais do estrato médio reflete a reprodução deste estrato. Assim, a hipótese de que o ajuste entre o habitus, o patrimônio e o campo não é auto-regulável e está sujeito a desajustes que conduzem à desclassificação dos indivíduos parece se confirmar (hipótese vii).

Entre 1988 e 1996, a comparação entre os coeficientes da regressão mostra a redução do efeito, ainda alto, da escolaridade e do bom começo, confirmando a hipóo doa ainda alto efeito da escolaridade e do bom começo, confirmando a hip, o começo. tese de que a ampliação da aquisição de melhores níveis de escolaridade tem como efeito a desvalorização do diploma, e o resultado é a redução do efeito positivo da alta escolaridade na realização de êxito de uma geração para outra. Entre as corroborações e refutações das hipóteses levantadas, pode-se resumir que tanto Goldthorpe quanto Bourdieu partem da lógica da reprodução, logo a tendência é que as famílias montem estratégias de mobilidade, prioritariamente, para evitar a descida.

Em Goldthorpe (2000), sendo prioridade a reprodução, o investimento educacional (e/ou de outra natureza) tenderá a ser compatível com os requisitos avaliados como necessários para manter-se no estrato de origem e com os recursos disponíveis. Sendo assim, o efeito positivo na realização de êxito dos pais no estrato médio, dado que grande parte do êxito se deve aos filhos se manterem no estrato médio, pode ser compreendido na chave da escolha racional. No entanto, esta chave não se revela suficiente para compreender a dispersão dos filhos de pais na elite e na alta escolaridade que termina por gerar um efeito negativo na realização de êxito. Por que esses pais parecem não ter o mesmo objetivo de evitar a descida nem fazer o mesmo cálculo que os pais no estrato médio e na escolaridade média? Por que eles não desejariam e investiriam, se estão em posições que permitem não apenas a motivação, como também o investimento? Trata-se de um problema metodológico, isto é, do que é chamado elite, ou teórico? A questão, ao que parece, é que apenas ter pais com posições vantajosas não é condição suficiente para a garantia de êxito entre as gerações, é preciso ter um ethos familiar, um habitus, que permita a apropriação do patrimônio familiar como forma de capitais ativos na disputa por posições. Um indicador de um habitus favorável é a escolaridade da mãe. A presença de uma mãe com nível de escolaridade diferente do muito baixo é determinante para a realização de êxito. Existe, então, uma dimensão dos investimentos familiares que entram em ação para garantir mais chances de realização de êxito. As mães com melhores níveis escolares, além de representarem um segmento com melhor capital cultural, parecem mais aptas a transmiti-los, provavelmente porque elas tendem a estimular as aspirações e o desempenho escolar dos filhos (idem).

No contexto caracterizado pela (i) ampliação das oportunidades educacionais; (ii) desvalorização do diploma; (iii) movimentos intergeracionais e intrageracionais na estrutura socioocupacional que misturam uma dinâmica de polarização, dado o maior fechamento nas piores categorias, e diversificação das trajetórias e movimentos, dada a ampliação das trajetórias chamadas de erráticas, a família em seus diversos tipos de arranjo, não apenas o pai e suas características, é um locus de acúmulo de capitais e é fundamental na reprodução social e realização de movimentos exitosos. As novas gerações parecem, então, depender mais de famílias que se aproximem do modelo da família de um segmento da elite, isto é, pais e mães com bons níveis de escolaridade proporcionando bons começos, investimento em educação e outras qualificações que possam se tornar capitais ativos na competição.

NOTAS 1. Livre inspiração nas proposições de Polanyi (1980) e Bourdieu (1996), Van Parijs (1997), Silva (1999), Santos (1999).

2. Para melhor apreciação da discussão teórica, ver Picanço (2005).

3. Não tinha sentido inserir a escolaridade do indivíduo dado que a informação se refere à escolaridade no momento da pesquisa e não no momento de ingresso no mercado de trabalho.


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