Análise econômica da parceria Brasil - Alemanha no contexto das relações entre
o Mercosul e a União Européia
O declínio da cooperação para o desenvolvimento
Ao longo de todo o século XX, desempenhou a Alemanha papel ativo no processo de
desenvolvimento da economia brasileira. Nos anos vinte e trinta, registra-se a
presença alemã na estruturação dos primeiros meios de transporte aéreo
brasileiros, com a fundação de filiais da Lufthansa e Condor (1927), da Varig
(1927) e Vasp (1934), com capitais alemães e nacionais. Na década seguinte, no
início do processo de substituição de importações, a Alemanha firmou com o
Brasil um conjunto de acordos de comércio, como parte da estratégia do então
III Reich de se projetar na América Latina. Tais acordos se pautaram por
esquemas de trocas pagas por marcos inconversíveis, com poder de compra
limitado a produtos vindos da Alemanha1. Segundo a cientista Albene Menezes:
"As economias dos dois países se completavam: a Alemanha era carente dos
produtos brasileiros e tinha, em uma conjuntura de corrida armamentista, suas
necessidades multiplicadas. Se circunscrevia neste quadro a necessidade do
Governo brasileiro de expandir o comércio exterior para escoar o excedente de
produção, sobretudo de café, que não encontrava comprador internacional e que
era queimado para diminuir os estoques".2
Com efeito, o mercado sul-americano representava para a Alemanha fonte de
suprimento de matérias-primas e de produtos agrícolas suplementar às
importações provenientes dos países do Leste Europeu. Para o Brasil, a Alemanha
representava alternativa natural para contrabalançar a dependência econômica
dos Estados Unidos. Com a intensificação do comércio entre os dois países, a
Alemanha passou a posição de principal parceiro comercial do Brasil na década
de 1930, se beneficiando especialmente das vendas de algodão. Tal evolução no
intercâmbio econômico-comercial se deteriora em 1940 e é oficialmente
interrompida em 1942, quando o Brasil corta relações diplomáticas e comerciais
com os países do Eixo e, subseqüentemente, com a declaração de guerra à
Alemanha e Itália e envio de força expedicionária ao teatro europeu.
No pós-guerra, a recém criada República Federal da Alemanha ' RFA tornou-se, a
partir da década de 1960, a maior exportadora de capitais líquidos do mundo,
além de participar ativamente da estruturação do que viria a ser a União
Européia ' UE. Nesse contexto, a parceria com o Brasil fazia parte da
estratégia alemã de buscar fontes de suprimento de matérias-primas e produtos
agrícolas, tendo em vista as restrições de acesso ao mercado do Leste Europeu,
decorrentes da formação da "Cortina de Ferro". No caso do Brasil, o
restabelecimento do comércio com a RFA viria, novamente, a aliviar a
dependência comercial do país em relação aos Estados Unidos da América ' E.U.A,
ao mesmo tempo em que os investimentos alemães representavam elemento
fundamental para o objetivo brasileiro de aprofundar o processo de substituição
de importações que requeria a implantação de máquinas, equipamentos, material
de transporte e de um setor automobilístico.
Como resultado da complementaridade de interesses, empresas alemãs como a
Volkswagen e Mercedes-Benz se prepararam para instalar fábricas, em sintonia
com os objetivos do governo Vargas de nacionalizar a produção automobilística
do país. Tal processo se aprofunda com Juscelino Kubitschek, quando é
implementada política de incentivos e isenções às empresas estrangeiras que
transferissem sua fábricas para o Brasil. Nesse período, conforme sublinhou o
historiador Moniz Bandeira, as companhias norte-americanas que detinham
montadoras no país não mostraram interesse ' até a chegada das concorrentes
alemãs ' em produzir veículos no Brasil3. Outra medida relevante para promover
o aprofundamento do relacionamento entre os dois países foi a decisão tardia do
governo brasileiro, em 1956, de decretar a restituição dos bens de empresas
alemãs, confiscados durante a guerra. Isso tudo permitiu ao Brasil se tornar o
segundo maior receptor de investimentos alemães no exterior, atrás apenas dos
Estados Unidos, com 40% do total enviado na década de 1960.
A parceria bilateral atingiu seu ápice nos anos setenta, época da cooperação
bilateral visando a estruturação do setor energético brasileiro, em especial na
produção de energia atômica para fins pacíficos, concretizada com a assinatura
de acordo nuclear firmado entre Brasil e Alemanha em 1975. Segundo o diplomata
Thompson-Flôres Netto, acerca do acordo nuclear firmado entre os dois países:
"a Alemanha foi o único país a aceitar a transferência de tecnologia
na abrangência desejada pelo Brasil, inclusive, logicamente, o
indispensável domínio do ciclo do combustível. Para a Alemanha, tal
parceria foi estratégica ao permitir acesso mais seguro a
fornecimentos de urânio brasileiro, enquanto obtinha abertura a um
promissor mercado para a sua indústria nuclear" 4.
A partir dos anos oitenta, contudo, diminui a importância relativa do Brasil
para a Alemanha com o crescente volume de investimentos alemães direcionados ao
mercado asiático. Aqui, registram-se os efeitos decorrentes da crise da dívida
que prejudicaram o conjunto de iniciativas do governo brasileiro, entre as
quais, o seu programa nuclear. De igual modo, o Leste Europeu e a ex-República
Democrática Alemã passaram a receber crescente fluxo de recursos a partir dos
fins dessa década em razão das transformações políticas, econômicas e culturais
iniciadas nesses países. Outro motivo que explica a perda de importância do
país está na própria consolidação de redes de multinacionais alemãs espalhadas
em todo mundo que possibilitaram a divisão de processos produtivos em escala
global.
Nos anos noventa, a Alemanha perde a posição de segundo maior parceiro do
Brasil no comércio bilateral para a Argentina, devido à própria evolução do
Mercosul. De igual modo, a partir da segunda metade dos anos noventa,
verificou-se tendência de queda abrupta do fluxo de novos investimentos alemães
para o país, em contraposição à crescente participação de outros países da
União Européia. Durante todo o processo de privatização brasileiro, a ausência
de capitais alemães foi notória em setores como o das telecomunicações e
bancário. Em contraste, os Estados Unidos mantiveram-se como principais
parceiros comerciais do Brasil, bem como na condição de principais
investidores, participando ativamente da compra de empresas públicas nacionais.
A par disso, o presente estudo tem como objetivo central analisar os motivos do
declínio da cooperação para o desenvolvimento entre os dois países para se
avaliar as perspectivas para as relações econômicas bilaterais num contexto de
integração regional. Com efeito, tanto a evolução do Mercosul quanto da União
Européia estão modificando o relacionamento Brasil-Alemanha na medida que essa
parceria estratégica passa a considerar vários aspectos relacionados às
políticas comuns no âmbito dos dois blocos. Entre esses fatores, ressaltam-se
os impactos da implementação de sistema monetário comum, as negociações acerca
das barreiras comerciais existentes, a aproximação da Europa com o Leste
Europeu, além das perspectivas de se implementar a Área de Livre Comércio das
Américas ' ALCA. O trabalho examina o intercâmbio comercial e de investimentos
entre os dois países e entre seus respectivos blocos. Desse modo, será possível
apontar indicadores que mostrem se a União Européia desempenhará papel-chave na
economia brasileira, assim como representou a Alemanha no passado, atuando como
contraponto à crescente influência dos Estados Unidos. Além disso, será
possível examinar se o interesse alemão em fortalecer suas relações com o Leste
Europeu afetará as relações Brasil-Alemanha com o desvio de fluxos de
investimentos dirigidos àquela região.
Análise de Intercâmbio Comercial
Relações bilaterais
A mudança no perfil do saldo comercial Brasil-Alemanha constitui o fato
marcante na evolução recente das relações de trocas bilaterais. Desde 1993, os
saldos do comércio bilateral passaram a se mostrar negativos para o Brasil,
após anos consecutivos de superávits. No que concerne ao fluxo de intercâmbio
comercial (exportações e importações), a corrente de comércio Brasil-Alemanha
atingiu US$ 8,2 bilhões em 1998, tendo as importações alcançado US$ 5,2 bilhões
e as exportações US$ 3,0 bilhões, resultando em déficit comercial para o Brasil
de US$ 2,2 bilhões em relação ao pequeno superávit de US$ 173 milhões de 1992,
conforme apresentado na tabela_1:
No período 1992-1998, houve aumento contínuo do volume de comércio
transacionado entre os dois países, devido ao crescimento das importações
provenientes da Alemanha e a falta de incremento das exportações brasileiras
para compensar o déficit. A reversão dos resultados da balança comercial
Brasil-Alemanha reflete de forma significativa o conjunto de transformações
econômicas que se seguiram à implementação do Plano Real. Entre estas,
destacam-se a conjugação de um menor nível de proteção vigente advindo da
abertura comercial, a valorização da taxa de câmbio real até 1999 e a expansão
da atividade econômica durante o período 1994-97. As taxas de crescimento dos
valores importados mostraram-se particularmente intensas no período 1993-1997,
quando totalizaram US$ 5,2 bilhões em 1998.
A pauta de importações brasileiras de origem alemã é composta por produtos
industrializados, com predominância de produtos manufaturados de alto valor
agregado, entre os quais autopeças, veículos automotores, máquinas e
equipamentos. Em 1997, o item partes e acessórios foi o principal produto da
pauta de importação brasileira (US$ 141,5 milhões em 1997, representando 2,76%
do total importado5), seguido das importações de automóveis para até 6
passageiros (US$ 122,2 milhões em 1997, representando 2,76% do total
importado6). Segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria7, o perfil da
exportação brasileira para a Alemanha registra uma crescente participação de
produtos manufaturados no total das exportações. A participação média anual
dessa categoria de produtos elevou-se de 35,5 % ao longo dos anos oitenta para
46,2% na média do período 1990-98. Nos anos noventa, em termos de média anual,
a participação dos manufaturados foi equivalente à registrada para os produtos
básicos, de 46,7%. Enquanto a oferta de manufaturados é dispersa em muitos
produtos, a categoria dos produtos básicos apresenta uma forte concentração em
café em grãos, soja e minério de ferro. Esses produtos, conjuntamente,
representaram cerca de 21% do total da pauta de exportação brasileira para a
Alemanha em 1993 e 1997.
As exportações brasileiras para a Alemanha têm apresentado tendência de
crescimento, conforme apresentado no gráfico_1. A oscilação observada no
período 1992-1996, bem como a recuperação observada a partir de 1997, evidencia
que não só a taxa de câmbio, mas, sobretudo, o nível de atividade econômica
alemã tem contribuído para explicar esse desempenho.
Considerados os 25 principais produtos brasileiros exportados para a Alemanha
nos anos de 1993 e 1997, observa-se uma expressiva queda da participação de
alguns desses produtos no total exportado para aquele mercado. Segundo o mesmo
relatório da CNI, no caso do minério de ferro, na sua forma concentrada e não
concentrada, cuja participação conjunta na pauta reduziu-se de 15,3% em 1993
para 7,8,% em 1997, tal resultado refletiu não só o nível da atividade
econômica alemã, mas, igualmente, as condições da demanda doméstica brasileira.
Em 1994, as importações CIF de minério de ferro da Alemanha aumentaram 23,3%,
enquanto as exportações brasileiras do produto destinadas ao mercado alemão
aumentaram 3,8%, o que pode ser creditado à expansão da atividade pós-Real e a
conseqüente redução do excedente exportável8. Em 1995, o crescimento das
exportações brasileiras de minério de ferro destinadas à Alemanha voltou a
superar o crescimento do total importado do produto pelo mercado alemão,
refletindo em aumento do excedente exportável do produto no mercado brasileiro,
resultante das medidas adotadas para desacelerar o crescimento da atividade
econômica interna.
O comércio entre Brasil e União Européia
A União Européia ' UE tornou-se o mais importante parceiro econômico e
comercial do Brasil, responsável por cerca de 30% do comércio exterior e por
algumas das mais importantes parcerias individuais do Brasil no mundo, como é
caso das relações com a Alemanha. Em termos de comércio, o déficit comercial
brasileiro com a Alemanha, isoladamente, foi superior ao déficit do país com a
UE em 1998. Conforme já apresentado na tabela_1, o déficit brasileiro alcançou
valor de US$ 2,2 bilhões naquele ano, em relação ao saldo comercial negativo de
US$ 2,1 bilhões com a União Européia (gráfico_2). Isso mostra, de um lado, o
quão importante representa o mercado alemão para o comércio do país. Logo, é de
se esperar que possíveis tendências de superávits para o Brasil no futuro
estarão associadas ao desempenho das trocas comerciais com a Alemanha. De igual
modo, os dados apresentados evidenciam que, por estar o déficit da balança
comercial brasileira com a Alemanha sendo compensado pelo crescimento das
exportações brasileiras para outros países no âmbito da União Européia, novos
parceiros dentro da UE surgem como potenciais compradores de produtos
brasileiros.
Relações comerciais do Brasil com a União Européia 1990-1998
Nesse sentido, convém notar que, pelos dados obtidos na Secretária de Comércio
Exterior ' SECEX9, as exportações brasileiras para o mercado europeu aumentaram
de US$ 9,9 bilhões em 1990 para cerca de US$ 12,8 bilhões em 1998,
representando crescimento da ordem de 30%, enquanto as importações passaram de
US$ 4,7 bilhões para US$ 16,8 bilhões no mesmo período, aumento de quase 360%.
No período entre 1995-1998, o intercâmbio comercial foi favorável à União
Européia. Com a desvalorização do câmbio realizada no início de 1999, espera-se
que haja aumento do valor exportado pelo Brasil para o mercado europeu,
revertendo a trajetória de crescente déficit comercial, apesar de não ter
havido crescimento nos anos anteriores à introdução do Plano Real.
De todo modo, os efeitos de uma desvalorização cambial não são suficientes para
alavancar as exportações brasileiras, tendo em vista que não houve crescimento
das exportações para UE no período 1990-1993 quando a taxa de câmbio era
favorável ao país. A principal questão passa a estar associada ao fator
competitividade, em especial, quando analisada a evolução das importações da
UE. No período 1990-1998, tabela_2, países como os Tigres Asiáticos, China e da
Europa Central e do Leste aumentaram suas exportações sucessivamente para a
União Européia. Já os países africanos e caribenhos, signatários do Tratado de
Lomé que contam com tratamento diferenciado, apresentam déficits sucessivos e
modesto crescimento nas exportações no período 1990-1998 (18%). O desempenho da
China foi exemplar já que manteve saldos comerciais positivos crescentes,
combinando aumento no volume exportado. Em contraste, as demais economias
emergentes que constam dessa tabela apresentaram déficit comercial com a UE,
inclusive os Tigres Asiáticos (apenas em 1991 e 1998, houve superávits).
Importações da UE de Economias Emergentes 1995-1998
Quando analisada a evolução das importações da Europa provenientes da América
Latina, vide gráfico_3, nota-se um quadro de pouco crescimento. Em
contraposição, os Tigres Asiáticos e países da Europa Central e do Leste
aumentaram suas vendas de produtos à Europa. Em 1990, o Brasil exportou àquele
mercado, conforme apresentado no gráfico 2, volume total de US$ 10,2 bilhões.
Nesse mesmo ano, o conjunto dos países do Leste Europeu exportou cerca de US$
4,8 bilhões. Já em 1998, o total exportado pelo Brasil foi de US$ 12,8 bilhões,
enquanto o das economias do Leste alcançaram cerca de US$ 80,4 bilhões.
Vale lembrar que a adoção de medidas restritivas ao comércio pela UE vem
dificultando uma maior penetração de produtos do Brasil na Europa. Nesse
contexto, existem inúmeras barreiras ao comércio impostas por meio de tarifas,
políticas de proteção aos produtos agrícolas (tarifação, quotas, etc), medidas
sanitárias e fitossanitárias, imposição de selo ecológico ou selo verde,
direitos antidumping e anti-subsídios, medidas de salvaguarda, política
comercial sobre têxteis, confecções e calçados, padrões e normas técnicas,
cláusulas sociais, além do Sistema Geral de Preferências comunitário (SGP). A
remoção ou diminuição dessas barreiras é, portanto, de fundamental importância
para influenciar positivamente em um melhor desempenho da pauta de produtos
exportáveis, especialmente tendo em vista que parcela expressiva da pauta de
exportações brasileira contempla produtos agrícolas, têxteis, minérios e semi-
manufaturados, cujos mecanismos de proteção são inúmeros.
Além disso, outra dificuldade para se promover um aumento consistente das
exportações brasileiras está na concorrência de outros países europeus como
Portugal, Espanha e Grécia, além das ex-colônias da África, Caribe e Pacífico,
os países mediterrâneos, os países da Europa Central e Oriental e África do
Sul. Esses países contam com maiores facilidades de acesso ao mercado
comunitário, em função de negociações de acordos preferenciais. Vale ressaltar
ainda que durante a década de 1990, houve incremento acentuado das importações
da União Européia provenientes de mercados concorrentes como o Leste Europeu.
Esse crescimento de demanda não se refletiu, de forma proporcional, no volume
exportado pelo Brasil. Apesar das exportações do Brasil para a Alemanha e para
a UE terem aumentado ' inclusive quando a taxa de câmbio do Real estava
desfavorável ', nota-se como o Leste Europeu vem adquirindo maior participação
no comércio da União Européia. Em especial, considerando o curto período de
apenas oito anos em que se desenvolveu esse redirecionamento dos fluxos
comerciais.
Análise dos fluxos de investimentos
O mercado brasileiro, além de absorver cerca de 70% dos investimentos diretos
alemães em toda a América Latina, tornou-se o quinto mercado de destino do
capital privado alemão em todo o mundo. No entanto, de acordo com dados do
Banco Central do Brasil, conforme tabela_3, nota-se que no período 1996-97, o
aporte de investimentos alemães ao Brasil diminuiu de forma acelerada (13,70%
em 1995, 2,77% em 1996 para 1,28% em 1997). Ao se avaliar a participação alemã
sobre o conjunto de novos investimentos ' apesar de ter havido mudança na
metodologia de cálculo do Banco Central do Brasil ', houve um decréscimo
acelerado em termos percentuais.
Em contraste, Estados Unidos, França e Espanha passaram a ter maior
participação relativa no fluxo de investimentos para o Brasil. Um dos fatores
para explicar esse crescimento está relacionado com o processo de privatização
brasileiro que atraiu empresas americanas, espanholas e francesas em setores
como o das telecomunicações e de energia, onde a ausência de capitais alemães,
até o momento, vem sendo notória. De igual modo, está relacionado à abertura do
sistema financeiro nacional que facilitou a aquisição de bancos brasileiros por
grupos europeus espanhóis e portugueses.
A participação global dos dados no montante total ingressado atingiu 73,6% e
81,6% em 1996 e 1997 respectivamente.
Quando avaliado o comportamento do fluxo de investimentos alemães destinado a
países emergentes, gráfico_4, assinala-se como recebeu o Brasil, no mesmo
período, volume superior de investimentos em comparação à Argentina, países da
Europa Central e do Leste e China. No ano de 1997, conforme o Deutsche
Bundesbank (Banco Central Alemão), recebeu o país volume de DM 15,9 bilhões
(cerca de US$ 9,2 bilhões). Vale lembrar que essas informações em muito
contrastam com os dados obtidos no Banco Central do Brasil ' BACEN, conforme
apresentado acima, cujo montante foi de apenas US$ 195,9 milhões. A metodologia
de cálculo empregada pelo órgão monetário alemão contempla reinvestimentos de
empresas, fundos de pensão, entre outros agregados, enquanto o banco brasileiro
calcula apenas novos investimentos. Por isso, os dados para 1995 apresentam
certa similaridade, ano de mudança da metodologia utilizada pelo BACEN.
Tal fato demonstra estarem as próprias empresas alemães instaladas no Brasil
reinvestindo recursos. Em junho de 1995, o volume total de reinvestimentos por
parte de empresas alemãs alcançou quase US$ 2,3 bilhões, enquanto o total de
investimentos alemães nesse mesmo ano foi da ordem de US$ 5,8 bilhões10. De
acordo com informações obtidas no grupo Daimler-Chrysler, os investimentos
previstos e/ou já realizados no setor automobilístico na Argentina totalizam
cerca US$ 3 bilhões, enquanto no Brasil estima-se valor próximo a US$ 10
bilhões.
Ademais, a consolidação de redes de multinacionais alemãs em todo o mundo, cujo
exemplo mais recente é a fusão das empresas Daimler e Chrysler, por
possibilitar integrar processos por meio da divisão da produção em vários
países, prejudica um entendimento limitado a dados estatísticos. Com efeito,
investimentos para financiar projetos alemães no Brasil não têm como origem
única a Alemanha, já que provém tanto de filiais de empresas alemãs no exterior
ou por meio de formas diversas de captação de capital. No caso do setor
automobilístico, convém registrar que o total de investimentos iniciais
previstos para a produção não necessariamente ocorre no Brasil, já que, muitas
vezes, os custos de aquisição de máquinas e equipamentos provenientes de outros
países não são contabilizados nos investimentos divulgados pelo Banco Central
do Brasil.
Contudo, o total agregado investido na Polônia, República Checa e Hungria foi
superior ao enviado ao Brasil a partir de 1996. Nesse ano, esses três países
receberam DM 15,3 bilhões (cerca de US$ 9,9 bilhões), enquanto o Brasil teve
aporte de DM 13,8 bilhões (US$ 9,1 bilhões). Já no ano de 1997, as três
economias da Europa Central e do Leste absorveram DM 19,7 bilhões
(aproximadamente US$ 11,4 bilhões), enquanto foram investidos no Brasil
montante de DM 15,9 bilhões (US$ 9,2 bilhões), quase o mesmo montante em
dólares enviados no ano anterior. Se considerado que, pelas informações obtidas
no Banco Central do Brasil, o aporte de novos investimentos para o país foi de
apenas US$ 195,9 milhões, em contraposição com a tendência de crescimento de
fluxos destinados para o Leste no período 1994-1997, nota-se como o Leste
Europeu vem se tornando cada vez mais relevante para a Alemanha. Outras
economias, como a chinesa e a própria argentina vêm assumindo importância, mas
se examinado o tamanho dessas economias em relação às três européias, verifica-
se o quão estratégico se tornou o Leste Europeu para a Alemanha, após o fim da
Guerra Fria. Assim, é de se esperar que o aumento de investimentos diretos
alemães no Brasil virão na forma de reinvestimentos pelas próprias filias aqui
instaladas.
Uma comparação do perfil de estoque de investimentos alemães com os de outros
países investidores no Brasil aponta que o capital alemão manteve-se como o de
maior vocação industrial, apresentando a mais elevada taxa de participação na
indústria de transformação, conforme apresentado no gráfico_5. Os investimentos
alemães destinaram-se, notadamente, aos segmentos automotivo (23,7%), mecânico
(12,2%), de produtos médicos, farmacêuticos e veterinários (9,8%) e para
químicos básicos (7,4%). O setor serviços ficou em segundo lugar com 8%
distribuídos entre os setores bancários (3%), diversos (2,9%) e de
consultorias, representação e administração de bens (2,1%). Os recursos em
portfólio não se mostraram significativos, ao contrário do observado com outros
países investidores como os Estados Unidos e Reino Unido, cujos investimentos
em portfólio aumentaram de forma expressiva, em detrimento dos capitais
direcionados à indústria de transformação.
No que tange os investimentos diretos da União Européia, registra-se o envio de
volume de capitais de cerca 172,2 bilhões de euros (US$ 194,4 bilhões) em 1997,
conforme tabela_4. Desse total, cerca de 72,8 bilhões de euros (US$ 82,3
bilhões) foram alocados no âmbito da própria UE. Outros 91 bilhões de euros
(US$ 102,3 bilhões) foram direcionados para fora do mercado europeu e, desse
valor, 37,6 bilhões de euros (US$ 42,5 bilhões) nos Estados Unidos, isto é 41%
do total investido fora do mercado comunitário, seguido do Japão. Nesse ano, o
principal exportador de capitais foi o Reino Unido com valor de 51,5 bilhões de
euros (US$ 58,2 bilhões), seguido da Alemanha com 29,3 bilhões de euros (US$
33,1 bilhões) e França com 28,1 bilhões de euros (US$ 31,7 bilhões).
Em 1995, o total de investimentos diretos alocados no Mercosul alcançou 24,1
bilhões de euros (US$ 31,6 bilhões), tabela_5, enquanto os países que compõe a
ASEAN receberam 20,58 bilhões de euros (US$ 26,9 bilhões) e a Europa e do Leste
receberam 14,75 bilhões de euros (US$ 19,3 bilhões). Tais valores comprovam
como o Mercosul em 1995 ainda se apresentava como mercado preferencial de
destino de capitais europeus. Apesar dessa tabela não prover informações sobre
a participação alemã no total de recursos enviados para o Cone Sul, destacam-se
a participação da França com volume de 4,13 bilhões de euros (cerca de US$ 5,4
bilhões), seguido da Inglaterra com 3,57 bilhões de euros (US$ 4,7 bilhões).
Essas informações estão em consonância com a tabela_3 que mostra como outros
países europeus destinaram volumes expressivos de capital para o Brasil.
Novamente, os recursos destinaram-se para os processos de privatização da
Argentina e Brasil em que houve grande interesse de empresas francesas e
espanholas, bem como para a expansão da indústria automobilística na região.
Pelos dados acima apresentados, vale notar ainda que, do total investido no
Leste Europeu, cerca de 37% dos recursos veio da Alemanha, o que comprova
novamente o interesse desse país em se aproximar desse mercado. Do total de
recursos enviados pela União Européia para os países que compõem a ASEAN, há
uma predominância de capitais ingleses. Tal fato mostra que parcela dos
investimentos externos do Reino Unido teve como principal destino a Ásia. De
todo modo, destinou o Reino Unido volume expressivo de recursos para o Mercosul
que alcançaram 3,57 bilhões de euros (US$ 4,7 bilhões). Comparando essa
informação com o que consta da tabela_III, em que havia do Reino Unido estoque
de investimentos no Brasil da ordem de US$ 1,8 bilhões no ano de 1995 ', nota-
se que parcela expressiva desses recursos para o Mercosul destinaram-se ao
Brasil (38,9%).
As Perspectivas para a Cooperação Brasil-Alemanha
À luz do exposto, a parceria Brasil-Alemanha alcançou novo estágio no que tange
o relacionamento bilateral. No que concerne o intercâmbio comercial ' apesar de
ter sido desfavorável para o Brasil a partir de 1993 ', houve crescimento das
exportações brasileiras para a Alemanha. Isso demonstra que há interesse dos
setores empresariais de ambos os países em ampliar negócios. Com a
desvalorização do Real, há ainda a possibilidade de que haja aumento das
exportações. Contudo, esse desempenho, conforme já mencionado, dependerá de
medidas que visem ampliar a competitividade dos produtos nacionais por meio da
redução do chamado "custo Brasil", além da resolução dos inúmeros entraves
comerciais existentes.
Ações visando melhorar as condições de acesso ao mercado alemão e identificar
produtos/setores com potencial para ampliar as exportações brasileiras podem
contribuir para o objetivo de incrementar as exportações brasileiras para a
Alemanha. A agroindústria brasileira apresenta, por exemplo, boas condições
para contribuir de maneira efetiva para um maior equilíbrio nas relações
comerciais entre os dois países, por ser um dos setores em que detém o Brasil
grandes vantagens comparativas.
Nesse contexto, frutas e sucos tropicais são produtos em que há um
significativo potencial de exportação. As frutas brasileiras devem buscar um
nicho de mercado por meio do fornecimento sazonal, uma vez que a safra
brasileira não coincide com a de outros fornecedores concorrentes de
mercadorias similares. Contudo, apesar de ser o maior produtor mundial de
frutas, de acordo com dados da FAO11, detém o país participação de menos de 1%
do mercado mundial. O governo brasileiro vem promovendo esforço nos últimos
anos para impulsionar a produção de frutas tropicais na região do semi-árido
nordestino. Foi implementado programa de apoio ao desenvolvimento da
fruticultura irrigada que objetiva ampliar a competitividade do setor por meio
de conjunto de ações, entre as quais as atividades de promoção e marketing,
financiamento, projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, além da
formulação de projetos de defesa fitossanitária. Entre os resultados práticos
que vêm se traduzindo no aumento da produção, registra-se a abertura de
representações de traders alemãs na região.
Outro setor com potencial é o de máquinas e equipamentos em que as fusões e
aquisições de fábricas brasileiras por empresas alemãs devem proporcionar um
aumento de transações nos setores mecânico e eletroeletrônico cujos resultados
podem ser troca de tecnologia ou lançamento de novos produtos, a partir de
plantas industriais brasileiras. Na cadeia automobilística, as perspectivas são
igualmente favoráveis. As montadoras alemãs vêm ampliando suas instalações no
Brasil que servirão de plataformas de exportação para a América Latina. O grupo
Volkswagen/Audi inaugurou recentemente novas fábricas. No Paraná, a fábrica da
Audi/VW possui capacidade instalada para a produção de 130.000/ano, onde foram
investidos total de US$ 750 milhões. Na nova fábrica do grupo no Estado do Rio
de Janeiro, foram alocados US$ 250 milhões para a produção de ônibus e
caminhões.
Já a empresa Daimler-Chrysler iniciou no Brasil trabalho de alinhamento das
políticas e práticas de atuação no mercado das fábricas da Mercedes-Benz e
Chrysler. A Mercedes que, tradicionalmente vem atuando no mercado na produção
de veículos pesados, abriu montadora na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais,
para produzir o modelo de passeio Classe A, cujo investimento totalizou US$ 820
milhões. A Chrysler inaugurou, igualmente, fábrica no Estado do Paraná para
produzir o modelo Dakota com capacidade para 40.000/ano.
Em conseqüência, podem surgir oportunidades para os setores de autopeças via
joint-venturescom essas empresas alemãs, incluindo acordos fechados de
fornecimento. Em especial, tendo em vista a desvalorização cambial que impactou
diretamente nas estratégias de produção dessas empresas. Houve aumento dos
custos de importação de componentes de produção desses automóveis que se
refletiram em custos de venda elevados, tornando-os pouco competitivos. A
fábrica de Juiz de Fora do grupo Daimler-Chrysler, por exemplo, enfrenta
dificuldades para atingir o nível de produção e de vendas inicialmente previsto
para o modelo Classe A. Essas empresas vêm buscando a nacionalização de peças o
que poderá resultar em transferência de tecnologia e de know-how para as
nacionais que atuam nesse setor.
De todo modo, a entrada em vigor do Tratado de Maastricht reatualizou a questão
das relações comerciais entre o Brasil e a Europa. Se no início, o principal
problema consistiu em avaliar as conseqüências da união aduaneira comunitária
européia para o comércio brasileiro com a busca de medidas para se diminuir o
impacto negativo do protecionismo agrícola comunitário sobre as exportações do
Mercosul, posteriormente, o eixo das discussões passou a estar centrado no
impacto do Mercado Único Europeu. Trata-se de avaliar as transformações que a
união política e financeira européia introduzirão nas relações entre Mercosul e
a União Européia, seu significado e conseqüências para as relações bilaterais
do Brasil com os países integrantes daquele bloco, em especial com a própria
Alemanha.
Com efeito, há expectativa de que, a partir de 2002, o Euro se torne
alternativa para o Dólar, quando começam a circular notas e moedas. Por esse
motivo, sua implementação começa a ser amplamente analisada sob seus aspectos
políticos. E, nesse caso, o Euro poderá se transformar na segunda moeda de
referência mundial e, por conseqüência, facilitará à Europa unificar
instituições ou políticas comuns a fim de transformar a sua riqueza em poder.
Nesse cenário, a hegemonia dos Estados Unidos poderá ser contestada. Ao se
considerar que todas as previsões pessimistas sobre a implantação do Euro no
mercado comunitário não se confirmaram até o presente, é de se esperar que o
Euro se torne, de fato, moeda de referência mundial, em especial a partir de
2002 com a entrada de notas e moedas no sistema bancário e financeiro europeu.
Além de integrar em um único mercado todas as operações financeiras, o Euro
deverá diminuir os custos das transações intra-européias, bem como fomentar
maior estabilidade das economias envolvidas. Talvez seja esse um dos benefícios
para os exportadores brasileiros na medida em que facilita a operacionalização
de transações comerciais.
Os efeitos da introdução do Euro nas relações econômicas com o Brasil são
enormes. A produção do conjunto de países da União Européia corresponde a 38%
do PIB dos principais países industrializados, além de representar cerca de 1/
3 do comércio mundial. À medida que as transações externas passarem a ser
denominadas na nova moeda, o Euro poderá se tornar em novo padrão de troca,
assumindo papel de destaque como reserva internacional na contabilidade dos
Bancos Centrais de países que comercializam com as nações européias. Para o
Brasil, o grande desafio estará em aumentar as exportações para a Europa,
considerando os vários entraves existentes e quando há uma tendência de
desvalorização do Euro em relação a outras moedas. Com o aumento do volume de
mercadorias negociado em euros, há ainda o risco de incremento das importações
do Brasil de produtos provenientes da União Européia. Tal fato é ainda mais
grave quando levado em consideração que manteve a UE saldos superavitários
contínuos nas trocas comerciais com o Brasil nos últimos anos.
No que tange o comportamento do fluxo de capitais estrangeiros para o Brasil, a
queda de novos investimentos alemães no Brasil registrada pelo Banco Central do
Brasil, em contraposição com as informações divulgadas pelo Deutsche
Bundesbank, demonstra estar o conjunto de empresas alemãs reinvestindo no
Brasil, o que revela o grau de amadurecimento alcançado por essa parceria. As
previsões de investimento do setor automobilístico são emblemáticas nesse
sentido. Contudo, apesar dos recursos que incluem investimentos e
reinvestimentos ao Brasil entre 1994-1997 terem sido expressivos, os mesmos
dados do Deutsche Bundesbankrevelam que volume de capitais superior foi
destinado em 1997 para a Polônia, República Checa e Hungria em conjunto, países
cujos PIB somados não alcançam o do Brasil.
Por conseguinte, é de se esperar que a participação de investimentos alemães
sob o crescente fluxo de novos investimentos destinados ao Brasil se mantenha
no patamar atual, já que há tendência de crescimento dos investimentos alemães
para o Leste, em especial, com a conclusão do processo de integração das duas
Alemanhas e, na medida que seja bem concluída a transição dos países da Europa
Central e do Leste para regimes democráticos. Tal fato é mais grave quando
considerado que os investimentos diretos americanos para o Brasil continuaram
aumentando, segundo os dados do Banco Central do Brasil.
Dadas essas questões, as relações entre o Brasil e a Alemanha tornaram
imprescindível novo ordenamento dos mecanismos de consulta e de cooperação. O
aprofundamento do processo de integração da UE e do Mercosul reduziu a margem
de negociação de ambos os países no estabelecimento de acordos bilaterais. A
tomada de decisão passou a considerar políticas comuns, formuladas a partir da
busca de consensos12. Por esse entendimento, o fortalecimento das relações
teuto-brasileiros dependerá do grau de influência que exerce cada país no
âmbito do seu respectivo bloco econômico.
As opções para o Brasil resgatar seu intercâmbio com a Alemanha passaram,
portanto, a estar diretamente associadas às perspectivas de se viabilizar o
arranjo comercial entre o Mercosul e União Européia que ora se encontra em fase
de negociação. Nesse sentido, sua viabilização apresenta inúmeros desafios.
Entre os quais, registra-se a ausência de algum aparato institucional do
Mercosul que atue com legitimidade política em articulações com terceiros
blocos. De igual modo, vale registrar a assimetria de poder existente entre os
países-membros do Mercosul e da União Européia. Há ainda a crise interna entre
Argentina e Brasil, em função dos efeitos da desvalorização cambial
implementada pelo segundo em 1999, que impôs questionamentos sobre o futuro do
Mercado Comum do Sul. Outro fator está na própria pauta de exportações da
região em que há predominância de produtos agrícolas que concorrem com
terceiros países e que contam com acordos preferenciais. Nesse caso, a situação
da Argentina ainda é mais crítica, tendo em vista o modelo de estabilidade
adotado com base na paridade cambial. Finalmente, constam os efeitos negativos
do Euro e os riscos de transformar a região do Cone Sul em importadora líquida
de produtos europeus, haja vista a tendência de acúmulos de déficits comerciais
do Brasil com a UE.
De todo modo, vale lembrar que as perspectivas para se chegar a um entendimento
com a União Européia dependerão do próprio ritmo das discussões envolvendo a
criação da Área de Livre Comércio das Américas ' ALCA. Assinala-se ainda que
essas propostas de liberalização comercial surgiram em decorrência do próprio
êxito alcançado pelo Mercosul num período de apenas nove anos, desde a
assinatura do Tratado de Assunção. De igual modo, o conjunto de reformas
implementado nas economias dos países do Cone Sul tornaram a região um mercado
atrativo para investimentos. Tal fato é comprovado por ter o Cone Sul recebido
o maior percentual do total de recursos destinados pela União Européia para
economias emergentes em 1995, situação que se confirmou nos anos seguintes com
o crescente fluxo de investimentos para os processos de privatizações
desenvolvidos no Brasil e Argentina.
Assim, há grandes possibilidades do Mercosul operacionalizar acordos
comerciais, seja com a ALCA e/ou com a União Européia, na medida que resolva
seus problemas internos e saiba agir como "figura política" no âmbito
multilateral. Para tanto, é de fundamental relevância que haja por parte dos
países do Mercosul um mínimo de paralelismo nas negociações comerciais em
relação à ALCA e à União Européia, assim como a não existência de vínculos
preferenciais a um único bloco comercial durante esse processo. Independente da
retomada de relações com Leste Europeu pela Alemanha, a formatação de um acordo
comum entre os dois blocos abre novas alternativas de investimento para o
capital alemão. Nesse cenário, detém as empresas alemãs vantagens comparativas
em relação a outros países europeus, tendo em vista a presença histórica no
país.
Notas
1 Para mais informações sobre o assunto, sugere-se Setenta e Seis Anos de Minha
Vida, de Hjalmar Schlacht, presidente do Banco Central Alemão e Ministro da
Economia durante a República de Weimar e o III Reich.
2 MENEZES, Albene Miriam F. "Alemanha e Brasil: o comércio de compensação nos
anos 30" Em: BRANCATO, Sandra Maria Lubisco & MENEZES, Albene Miriam F.
(orgs.). Anais do simpósio cone sul no contexto internacional. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1995.
3 MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. O milagre alemão e o desenvolvimento do Brasil.
São Paulo, Editora Ensaio, 1994, pág. 80-83.
4 THOMPSON FLÔRES NETTO, Francisco. "Relações Brasil-Alemanha". Em: FONSECA
JÚNIOR, Gelson & CASTRO, Sérgio Henrique Nabuco de. Temas de política
externa brasileira II. Brasília: IPRI; São Paulo, Paz e Terra, 1994, v., p.
103-115.
5 Secretária de Comércio Exterior, www.mdic.gov.br, maio/2000.
6 Idem.
7 CNI, Relações econômicas Brasil-Alemanha, Brasília, DF, 1998
8 Dados obtidos na Secretária de Comércio Exterior ' SECEX, www.mdic.gov.br.
9 Os dados para 1990, 1991, 1992 e 1993 incluem a soma dos valores de comércio
registrados para a então Comunidade Econômica Européia ' CEE e para Associação
Européia de Livre Comércio ' AELC (sem incluir a Suíça).
10 Banco Central do Brasil, www.bcb.gov.br, maio/2000.
11 Trade Yearbook, 1996.
12 Sobre o assunto ver MILWARD, Alan. The frontier of national sovereignty,
history and theory, 1945-1992. Londres, Routledge, 1993.