Brasil-Estados Unidos: desafios de um relacionamento assimétrico
Este artigo não pretende retraçar o curso das relações entre o Brasil e os
Estados Unidos ao longo do tempo. Tampouco se propõe examinar os vários temas
que compõem a atual agenda bilateral. Pretende apenas fazer ' com ênfase nos
problemas atuais, vistos à luz da posição de cada um dos dois países no quadro
regional e mundial ' uma reflexão sobre alguns dos desafios com que se depara,
em seu relacionamento com a maior potência regional e mundial, um grande país
emergente como o Brasil. Assim, dos temas que compõem a atual agenda bilateral,
só a integração econômica hemisférica recebeu, pelo seu valor exemplificativo
daquele relacionamento, atenção um pouco mais detida. Quanto ao passado, as
referências limitaram-se praticamente ao período de após-Guerra e àquilo que
foi considerado relevante para a compreensão do presente, em particular algumas
diretrizes mais duradouras da política externa de um ou de outro país.
A política de Washington em relação à América Latina ' em cujo quadro geral se
insere necessariamente o relacionamento com o Brasil ' tem, nas palavras de
Federico Gil, "constantly pursued two objectives. The first has been to exclude
from the western hemisphere extracontinental rival or hostile powers. The
second has been to secure the dominant politico-economic presence of the United
States in the region."1 .
A Doutrina de Monroe, enunciada pouco mais de um ano depois da proclamação da
nossa independência, pode ser considerada o primeiro anúncio público de tal
orientação pelo governo de Washington. Ao advertir as nações européias de que
toda tentativa de recolonizar as repúblicas americanas recém-independentes ou
de submetê-las ao sistema político dominante no Velho Mundo seria considerada
como uma ameaça à paz e segurança dos Estados Unidos, o presidente americano
explicitava o primeiro daqueles objetivos e deixava implícito o segundo. Pouco
depois, o Brasil, ao tomar a iniciativa algo ingênua de sondar a disposição do
governo americano em relação a uma possível "'liga ofensiva e defensiva com o
Império, como parte do continente americano', teve ocasião de comprovar a
determinação de Washington de manter o caráter unilateral da iniciativa do
Presidente Monroe"2 . Os Estados Unidos não pretendiam uma parceria com os
demais países do continente ou com qualquer deles individualmente, mas sim,
deixar clara ao mundo sua disposição de defender a própria hegemonia na região.
É este caráter assimétrico que, de várias formas e com distintos graus de
intensidade, marca até hoje as relações entre o Brasil ' país em busca de maior
espaço próprio na cena internacional ' e a maior potência regional e mundial.
* * *
Do final da II Guerra Mundial até a implosão do império soviético, na segunda
metade da década de 80, o cenário internacional foi dominado pelo conflito
entre as duas superpotências e pela rivalidade entre os respectivos sistemas
político-econômicos. Direta ou indiretamente, as relações bilaterais entre os
países eram condicionadas por essa bipolaridade. Assim, a política de
Washington em relação à América Latina ' e ao Brasil em particular ' tornou-se
um subproduto da Guerra Fria. Para os Estados Unidos, o importante era que
todos os países ao sul do rio Grande tivessem regimes ideologicamente
identificados com o Ocidente e que, subsidiariamente, fossem receptivos aos
reclamos dos interesses econômicos americanos.
Para o Brasil, como para outros países periféricos, porém, o desenvolvimento
econômico passara a ser um tema da mais alta prioridade. Assim, a relação entre
ideologia e desenvolvimento e a importância relativa atribuída à primeira ou ao
segundo tornaram-se, no contexto da Guerra Fria, questões maiores da nossa
política interna e externa.
Terminado o conflito armado, o Brasil se manteve firmemente alinhado com os
Estados Unidos, numa política de bloco que, em parte, era a seqüência natural
da orientação adotada ainda antes do conflito, mas que refletia também a
convicção de que esta seria a melhor maneira de conseguir da potência
hegemônica o apoio necessário ao desenvolvimento do país. Conseguir o apoio
externo ao seu projeto de desenvolvimento ' pela remoção dos obstáculos
existentes ou pela mobilização dos recursos necessários ' passara a ser uma
preocupação central da nossa política internacional.
Esta não era, entretanto, a percepção de Washington, que nunca atribuiu
qualquer prioridade ao desenvolvimento econômico dos países periféricos, da
América ou de outros continentes. Na época, o importante para os Estados Unidos
era a reconstrução física ' e no caso das ex-potências do Eixo, também a
reestruturação política ' dos países devastados pelo conflito, vistos como
aliados necessários na Guerra Fria. Dentro deste enfoque, a América Latina não
fazia jus a mais do que uma ajuda econômica modesta e a uma cooperação militar
suficiente para alimentar a continuada simpatia das respectivas forças armadas
pela luta contra o comunismo. Em suma, para Washington, tratava-se, como no
passado, de assegurar que nada ameaçasse a preeminência americana na região,
enquanto para o Brasil, o problema do desenvolvimento econômico passava a
ocupar o primeiro plano.
A diferença entre as preocupações básicas ' e, conseqüentemente, entre os
objetivos centrais de política externa ' das duas nações continha, assim, o
germe de um conflito de interesses dificilmente contornável. Um conflito que,
dado o enorme peso internacional dos Estados Unidos, tendeu a tornar-se, no
Brasil, objeto de considerável controvérsia interna.
Com alguma simplificação, pode-se dizer que o debate se travava entre duas
correntes de opinião. Havia os nacionalistas. Defendiam o desenvolvimento da
indústria nacional com base no mercado interno, por meio da substituição de
importações, para o que se faziam necessárias fortes barreiras tarifárias e
não-tarifárias; restrições ao capital estrangeiro em algumas áreas consideradas
cruciais para o desenvolvimento nacional, como o petróleo; a planificação
econômica e a participação do Estado no processo produtivo, especialmente em
setores considerados estratégicos, mas pelos quais a iniciativa privada não se
interessasse com a presteza ou na forma julgadas adequadas, como o siderúrgico
ou o energético. Politicamente, tendiam para a esquerda, embora só uma minoria
chegasse a defender uma economia centralmente planificada e a socialização dos
fatores de produção ou a identificar-se com a orientação internacional de
Moscou. A eles se opunham os chamados entreguistas ou conservadores, conforme o
grau de polidez do debate. Eram favoráveis ao liberalismo econômico e
politicamente afinados, em matéria de política internacional, com as potências
ocidentais.
Na prática, nossa política ' tanto a internacional como a econômica ' oscilou
ao longo do período, conforme a maior ou menor influência de uma ou outra
corrente. De novo com alguma simplificação, pode-se dizer, porém, que as
grandes linhas do receituário econômico dos nacionalistas prevaleceram até o
fim da década de 80. Em contraste, nossa política externa tendeu a evitar
atritos com Washington, buscando mais freqüentemente a conciliação entre os
objetivos desenvolvimentistas nacionais e as diretrizes preconizadas pelos
Estados Unidos.
Exemplo representativo de tal tendência foi a Operação Pan-Americana. Em 1958,
frente às crescentes manifestações de insatisfação com a política americana em
relação à América Latina e aos incidentes ocorridos por ocasião da visita do
então Vice-Presidente Nixon a Caracas, o Presidente Kubitschek evitou criticar
diretamente a orientação dos Estados Unidos. Em vez disso, lançou uma ampla
operação diplomática com o objetivo de comprometer Washington com o processo de
desenvolvimento da região, como se tal processo já fosse parte dos "ideais pan-
americanos": "é chegada a hora de rever fundamentalmente a política de
entendimento deste hemisfério e de proceder a um exame do que se está fazendo
em prol dos ideais pan-americanos em todas as suas implicações"3 . Seu objetivo
era, conforme deixou claro em entrevista ao New York Times, "provocar um debate
sobre o tema do subdesenvolvimento, que é a grande chaga do pan-americanismo"4
. O pan-americanismo seria, segundo opinião emitida na mesma entrevista, "uma
construção ideal, quase perfeita, nos seus aspectos políticos e jurídicos." O
que preocupava o Presidente brasileiro é que, tendo avançado "milhas e milhas
no terreno dos princípios, [o pan-americanismo] só avançou algumas escassas
polegadas no terreno das realizações econômicas".5 . Em suma, a idéia era
conseguir apoio para o desenvolvimento econômico da América Latina por meio do
relançamento da aliança com Washington, evitando o conflito.
Somente com a "política externa independente", do Presidente Jânio Quadros, e a
seguir de João Goulart, o Brasil assumiria uma atitude mais desenvolta em
relação aos Estados Unidos.
Os acontecimentos de 1964 puseram fim, porém, àquela fase, inaugurando, com a
primeira parte do regime militar, um período de alinhamento total com os
Estados Unidos, marcado pelo rompimento de relações com Cuba e pela nossa
participação na Força Interamericana de Paz em São Domingos. "Um tanto
anacronisticamente, o Brasil se reinscreveria em 1964 no cenário internacional
da Guerra Fria que, na realidade, já estava em mudança, com os primeiros
movimentos do processo de détente".6 .
Embora evitando gestos essencialmente simbólicos, como fora o caso da
condecoração de "Che" Guevara, no período da "política externa independente" ,
linha algo próxima desta última seria, entretanto, adotada pelo governo Geisel,
mais de dez anos mais tarde, ainda em pleno regime militar. Iniciativas como,
por exemplo, o reconhecimento do governo do MPLA, em Angola, ou o acordo de
cooperação com a então República Federal da Alemanha, no campo da energia
nuclear, ou ainda a decisão de votar a favor da resolução da Assembléia Geral
da ONU que declarava o sionismo uma forma de racismo levaram a momentos de
considerável fricção com Washington. Não se tratava, entretanto, de
desvinculação ideológica com os Estados Unidos, mas da defesa de posições
vistas como importantes para os interesses brasileiros, dentro da orientação
que passaria a ser designada pela denominação algo canhestra de "pragmatismo
responsável". Os dois primeiros exemplos, inseriam-se em políticas claramente
anunciadas logo no início do governo: a aproximação com as antigas colônias
portuguesas, partes da "circunvizinhança de aquém e de além mar", no primeiro
caso; a busca de maior autonomia econômica e tecnológica, no segundo. O voto na
ONU, do qual retrocederíamos anos depois, foi decidido pelo próprio Presidente7
, no quadro geral da política de aproximação com os países árabes, tornada
importante no contexto internacional que se seguiu à primeira crise do
petróleo, em 1974.
Em suma, durante a Guerra Fria, a política externa brasileira tendeu, de modo
geral, a alinhar-se com a dos Estados Unidos. Tal alinhamento foi quase total
do ponto de vista ideológico, porém era às vezes qualificado pela percepção de
um conflito entre a rígida política de bloco cobrada por Washington e os
interesses de desenvolvimento econômico brasileiro. Eram situações que
geralmente levavam à busca de um meio termo, como ocorreu no exemplo já citado
da Operação Pan-Americana. Só excepcionalmente ' sobretudo nos dois períodos já
assinalados, da "política externa independente" e do "pragmatismo responsável"
' algumas divergências se tornaram mais explícitas.
Com a implosão do império soviético e o desaparecimento da própria URSS, as
relações entre os dois países entraram numa nova fase, dominada por motivações
e percepções distintas.
* * *
O triunfo do Ocidente na Guerra Fria não foi apenas uma vitória política da
Aliança Atlântica. Talvez mais importante, foi a evidência de que, como sistema
de produção, o capitalismo superara o chamado socialismo real, que cessou de
ser oferecido ao mundo em desenvolvimento como alternativa de organização
político-econômica. Isto teve pelo menos duas conseqüências relevantes para a
presente reflexão.
No âmbito internacional, desapareceu o efeito aglutinador que a ameaça
soviética, durante quatro décadas, exercera sobre os países do bloco ocidental.
Os Estados Unidos continuam a ser a maior e mais desenvolvida economia do
planeta e a manter a liderança política e militar no mundo, mas sua
preeminência econômica se diluíra significativamente ao longo de quatro
décadas. Não só seus aliados da OTAN e o Japão haviam aumentado
consideravelmente sua participação no produto e no comércio mundiais, mas
também os países em desenvolvimento de renda média passaram, no conjunto, a
ocupar um espaço econômico que teria sido difícil de imaginar ao término da II
Guerra Mundial. Durante a Guerra Fria, a ameaça externa representada pela União
Soviética contribuíra para calar desavenças entre os aliados ocidentais,
reforçando assim a unidade do bloco ocidental e a liderança americana sobre os
seus aliados. Em última análise, ela ensejara, pois, uma situação esdrúxula, em
que, com o desequilíbrio de contas correntes dos Estados Unidos, países
enormemente prósperos, como o Japão e a então República Federal da Alemanha,
passaram a financiar a liderança de outro sobre eles mesmos. Cessada ' ou
drasticamente reduzida ' a ameaça, desapareciam os fundamentos de tal arranjo,
embora não, no imediato, as suas conseqüências.
Na América Latina, Washington, com o fim da bipolaridade, já não podia cobrar
solidariedade em nome da defesa contra a ameaça comum representada pelo "perigo
comunista" ' fosse tal "perigo", conforme o caso, real, percebido ou meramente
forjado por motivos de oportunismo político. Assim, os objetivos de longo prazo
identificados por Federico Gil ' preeminência político-econômica e exclusão de
potências extra-continentais hostis ou rivais ' continuaram presentes, mas os
meios de ação e as preocupações imediatas passaram a ser outros.
Num mundo em que a economia tinha passado a ocupar posição central no dia a dia
das relações internacionais, onde prosperava a tendência à formação de blocos
econômicos regionais e onde os próprios Estados Unidos ' antes o grande campeão
do multilateralismo econômico ' passara a participar de arranjos preferenciais
de comércio, o caminho era claro. Embora sem qualquer relação causal, a
assinatura do acordo de livre comércio com o Canadá e as negociações que
levariam à formação da Área de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA)
praticamente coincidiram com o fim da Guerra Fria. Para Washington, era mister,
porém, dar bases mais sólidas à hegemonia americana no continente,
formalizando-a e legitimando-a política e juridicamente, bem como reforçar sua
posição na rivalidade com outros países e blocos econômicos. Para tanto, um
caminho óbvio seria vincular as demais nações do continente à grande economia
americana. Tratava-se, evidentemente, de empresa bem mais ambiciosa e complexa,
tanto pela amplitude dos tópicos envolvidos e pelo número de participantes
quanto pelas resistências internas nos Estados Unidos, como ficara claro no
penoso processo de aprovação da NAFTA pelo Congresso daquele país. A idéia,
aliás, não era nova. Um século antes ' num contexto internacional distinto, mas
também marcado pela rivalidade dos Estados Unidos com os países europeus pelo
mercado latino-americano ', Washington já propusera, na I Conferência
Internacional Americana, em 1889-90, um esquema de integração econômica
continental, que foi então vigorosamente combatido pela Argentina. Na época,
aceitou-se, porém, a idéia de acordos comerciais bilaterais, com base na
reciprocidade. Do ponto de vista americano, era mais trabalhoso, mas igualmente
eficaz.
Do lado brasileiro, também se tinham produzido mudanças consideráveis. O modelo
de substituição de importações ' como vimos, parte do receituário econômico
nacionalista ' esgotara-se na década de 1970. Os anos 80 tinham sido em grande
parte consumidos pela crise da dívida externa, que, fora a aproximação com a
Argentina, deixou pouco espaço para a ação construtiva na área internacional.
Ao iniciar-se a década de 90, impunha-se, pois, um esforço de reformulação
econômica e política num mundo em transição. De um lado, como já assinalado, o
fim da Guerra Fria transformara o cenário internacional. Ao Brasil cabia, pois,
criar novos espaços de manobra num mundo já livre do rígido sistema de blocos
que caracterizara o período anterior, explorando inclusive possíveis conflitos
de interesses entre as grandes potências e pontos de afinidade com países
periféricos de maior expressão. De outro, cabia reformular o modelo econômico
que durante décadas nos assegurara uma alta taxa de crescimento econômico,
procurando conciliar as exigências do nosso desenvolvimento com a necessidade
de uma maior inserção do país na economia internacional, inescapável num mundo
crescentemente globalizado. O que se deu não foi, porém, a busca de tal
conciliação, mas sim a importação acrítica de um receituário concebido para
servir ao interesse das grandes potências econômicas.
Em 1990, com o governo Collor, iniciou-se um processo de atabalhoada abertura
da economia brasileira e, a partir do Plano Real, estruturou-se "uma política
econômica que ' de maneira tão coerente que quase se poderia supor deliberada '
conduziu o país à sua atual situação de total dependência externa. Deste ponto
de vista e até a decisão de deixar flutuar o câmbio, seus aspectos mais
relevantes foram, resumidamente:
1. Abertura acordada e unilateral do mercado brasileiro às importações, como
forma de coibir a elevação dos preços, mas sem as cautelas necessárias para
mitigar seus efeitos sobre a nossa balança comercial ou a indústria nacional;
2. Manutenção de um real sobrevalorizado, o que acentuou os efeitos da abertura
comercial e contribuiu para aumentar a vulnerabilidade das empresas brasileiras
frente à competição externa;
3. Altas taxas de juros, necessárias para sustentar a sobrevalorização cambial,
mas que tiveram como efeitos colaterais estimular adicionalmente o
endividamento externo das empresas e sobrecarregar as finanças públicas com o
serviço de uma dívida em rápida expansão;
4. Política fiscal frouxa, com déficits crescentes, tornados inevitáveis por
uma combinação de ausência de reformas pertinentes (tributária, previdenciária
etc.) e dos já assinalados efeitos fiscais negativos da política de altas taxas
de juros."8 .
O que se verificou foi, pois, uma coincidência pouco feliz. No âmbito
internacional, desapareceram as pressões diretamente ligadas à Guerra Fria, as
questões econômicas ganharam maior importância relativa e as divergências entre
as grandes potências tornaram-se mais explícitas. Em tese, abria-se, assim,
maior espaço de manobra para os grandes países periféricos, especialmente para
aqueles que, até a implosão do império soviético, tinham estado ideologicamente
mais vinculados à política de blocos e, portanto, mais limitados em sua atuação
externa. De modo geral, parecia haver, pois, condições favoráveis para aqueles
países assumirem uma atitude mais assertiva na defesa dos seus interesses de
desenvolvimento econômico. Para tanto era mister, porém, que eles tivessem uma
visão própria daqueles interesses, procurando seguir uma política econômica
consentânea com tal percepção e manter sua vulnerabilidade externa dentro de
limites compatíveis com uma nova assertividade. Conforme já assinalado, nada
disso aconteceu, porém, no Brasil. Como, já no fim do século, observaria Thomas
Skidmore, o país parecia "imerso ... num clima generalizado de conformismo",
numa fase em que "age como se não houvesse mais possibilidade de descobrir
novos caminhos." Citando uma frase do Presidente Fernando Henrique Cardoso '
"Não há alternativa para a nossa política econômica" ', ele assinala que
"existe esse sentimento geral no Brasil, e também em outros países em
desenvolvimento, de que só há uma política certa. É a política que vem de
Washington. Não se procura uma solução brasileira, ou mexicana, ou chilena"9 .
E foi esta abulia criativa na busca de caminhos próprios que levou o país à
adoção de uma política econômica desnacionalizante e colocou freqüentemente
nossas divergências com os Estados Unidos como mera defesa de interesses
tópicos, em vez de situá-las na moldura mais ampla dos grandes objetivos
nacionais, dos quais, em última análise, elas decorrem.
* * *
Ao iniciar-se o século XXI, os dois maiores países das Américas encontram-se,
pois, em suas relações bilaterais, diante de desafios que podem não apenas
influenciar de forma duradoura a organização do espaço político e econômico do
continente, mas também, no caso do Brasil, condicionar a posição do país no
cenário mundial.
Embora não seja o único, o principal desafio para Washington em sua política em
relação à América Latina é, no momento, a organização econômica do continente
em uma grande área hemisférica de livre comércio. A idéia, lançada
originalmente pelo então presidente republicano George Bush, em 1990, com a sua
Iniciativa para as Américas, foi formalizada em 1994, quando a decisão de
negociar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) foi aprovada
multilateralmente na Cúpula das Américas, em Miami, sob os auspícios do
presidente democrata Bill Clinton. No tocante ao poder executivo americano é,
pois, um projeto que tem uma sólida base bipartidária, apesar das resistências
de setores importantes, como os sindicatos, e de parte do Congresso, que até
hoje se tem recusado a conceder ao Presidente a fast track authority, sem a
qual a conclusão das negociações sobre a ALCA se torna praticamente inviável.
Há a expectativa de que o atual Presidente George W. Bush, filho do patrono da
iniciativa original, faça um esforço sério para conseguir os necessários
poderes do Legislativo.
Dado o enorme hiato quantitativo e qualitativo entre a economia americana e as
dos países da América Latina, é difícil evitar a noção de que, se levada a cabo
como proposta, a iniciativa de Washington resultaria na satelitização econômica
' com inescapáveis desdobramentos políticos ' dos países latinos do continente,
inclusive dos maiores, como Brasil e Argentina. A título meramente indicativo
da ordem de magnitude das assimetrias envolvidas, recorde-se que, segundo um
estudo sobre o assunto baseado em dados do começo da década passada, "o PIB dos
Estados Unidos, por exemplo, é quase duzentas vezes o do Chile, e 13 vezes o do
Brasil. O PIB per capita dos Estados Unidos é sete vezes o do México, do Brasil
e da Argentina, e vinte vezes o do Mercado Comum Centro-Americano (MCCA)."10 .
E mais. Segundo outro estudo, a produtividade média do trabalho na indústria
latino-americana era, em 1990, apenas 26,1% da registrada nos Estados Unidos11
.
Do ponto de vista brasileiro, a ALCA também representa o maior desafio global
das suas relações com os Estados Unidos, porém em sentido contrário àquele como
é percebido em Washington: não se trata de algo a realizar, mas antes a evitar
ou reformular. Se levado a cabo tal como originalmente concebido, o projeto
americano teria sérias conseqüências de médio prazo e implicações ainda mais
graves, econômicas e políticas, a longo prazo. Do lado positivo, uma abertura
ampla e confiável dos mercados americano e canadense (entenda-se como tal a
eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias existentes e a coibição do
estabelecimento de outras) poderia gerar uma considerável ampliação das nossas
exportações para aqueles destinos. Em sentido contrário, abriria, porém, às
exportações dos Estados Unidos o mercado brasileiro e o dos demais países
latino-americanos. Isto teria um impacto direto sobre a indústria nacional,
tirando-lhe considerável fatia tanto do mercado doméstico quanto do de alguns
dos principais compradores das nossas manufaturas, que são os países da ALADI.
Haveria assim um efeito quantitativo sobre a nossa produção industrial e um
impacto qualitativo sobre a nossa economia, já que tenderíamos a perder terreno
justamente naqueles setores de maior densidade tecnológica, onde temos menos
condições de competir com americanos e canadenses. Com as restrições que uma
área de livre comércio imporia à nossa política industrial, haveria uma
tendência, no mínimo, ao congelamento das atuais vantagens comparativas entre
os parceiros desenvolvidos e em desenvolvimento, frustrando-se as perspectivas
de desenvolvimento econômico destes últimos. Na verdade, no caso brasileiro, é
mais provável que houvesse mesmo uma deterioração, já que parte das vantagens
competitivas de que hoje desfrutamos em mercados da ALADI e, particularmente,
do Mercosul passariam a ser partilhadas com exportadores americanos, que em
alguns setores, como já assinalado, provavelmente deslocariam o competidor
nacional, com a conseqüente atrofia das indústrias respectivas. O fluxo de
investimentos estrangeiros diretos também tenderia a ser afetado, seja pela
desaparição ' no caso do capital americano ' do incentivo representado pelo
interesse em saltar a barreira da tarifa externa comum (TEC) do Mercosul, seja
porque o investimento extracontinental preferiria, em alguns setores, localizar
suas unidades produtivas nos Estados Unidos. Em conseqüência, as relações
comerciais e de investimento do Brasil com o resto do mundo, hoje
geograficamente diversificadas, tenderiam a concentrar-se muito mais nos
Estados Unidos, criando, dada a assimetria de poder entre os dois países,
indesejáveis vínculos de dependência. Assim, concretamente, o maior desafio
atual nas nossas relações com Washington é a atitude a tomar em relação à ALCA.
Como evitar ou retardar por muito tempo o seu estabelecimento ' hipótese de
realização altamente improvável ' ou como reformular a proposta inicial, de
modo a evitar ou atenuar os principais inconvenientes acima sumariamente
indicados?
Para um país que tem como parte importante do seu patrimônio diplomático as
boas relações com todos as demais nações da América do Sul, a tendência natural
foi tentar criar ou aprofundar com elas laços de interesse e vínculos formais,
de modo a aumentar, em benefício de todos, o poder de barganha comum frente aos
Estados Unidos. Tal via não se tem mostrado, porém, à altura do objetivo
visado. Nem os demais países sul-americanos se têm, na sua grande maioria,
mostrado sensíveis bastante aos riscos do projeto americano nem tem sido
possível consolidar e ampliar o Mercosul, peça-chave de tal estratégia, na
medida e com a rapidez que seriam necessárias. Em conseqüência, Washington,
percebendo Brasília em desvantagem, partiu para a contra-ofensiva, brandindo o
vaticínio de que as restrições do Brasil à ALCA teriam como única conseqüência
isolar o país no continente.
Trata-se de uma simplificação, que contém algum elemento de verdade, mas também
muito de blefe diplomático. Na realidade, nenhum projeto abrangente para a
América Latina poderia considerar-se bem sucedido sem a participação do Brasil.
Assim, a não-adesão do nosso país à ALCA provavelmente não inviabilizaria o
projeto de Washington, mas certamente comprometeria o seu êxito global. Deixar
de fora do seu esquema hegemônico o maior país da região é algo que os Estados
Unidos certamente prefeririam evitar, já que tal desfecho lhe negaria o maior
fruto potencial da sua iniciativa. Que concessões ' se algumas ' estarão,
porém, dispostos a fazer para não chegar a tal desenlace?
O papel-chave do nosso país em qualquer política de Washington para o conjunto
da América Latina ' mas sobretudo para a América do Sul ' foi enfaticamente
ressaltado num documento recentemente elaborado por uma força-tarefa
independente patrocinada pelo Council on Foreign Relations: "Brazil is a major
economic power and is a leader among advanced emerging markets. Brazil's
economy is more than twice as large as Russia's, almost as large as China's,
and twice India's. Brazil is the main player in South America, with over half
of the region's GDP and population. Brazil is the second-largest market in the
world for executive jets and helicopters; the second for cellular telephones
and fax machines; the fourth for refrigerators; the fifth for compact discs;
and the third for soft drinks. With purchasing power parity of over $1
trillion, in 2001 Brazil will rank fifth in the world, after the United States,
China, Japan and Germany. Brazil is the leader of Mercosul (...)and sees
Mercosul as being of great importance for its future geopolitical as well as
economic role in South America."12 . Conseqüentemente, a força-tarefa recomenda
que, não apenas em relação à ALCA, mas ao conjunto de suas políticas no
continente, particularmente na América do Sul, Washington "consider Brazil as a
major strategic partner, treating it accordingly. (...) A strategic
relationship with Brazil becomes a strategic relationship with South
America."13 .
Em síntese, no tocante ao maior e mais abrangente desafio nas atuais relações
entre Brasília e Washington, muito depende de perguntas que talvez ainda não
tenham sido claramente colocadas e para as quais, muito provavelmente, não
haveria respostas precisas nas respectivas chancelarias. À luz dos seus
interesses e aspirações econômicos e políticos de médio e longo prazos, que
tipo de integração hemisférica ' se alguma ' Brasília consideraria aceitável?
Caso um entendimento com Washington sobre a forma de tal integração se revele
inviável e nossa posição de resistência não tenha o respaldo dos principais
países sul-americanos, que alternativas realistas teria o Brasil? Do ponto de
vista americano, quais seriam, para Washington, os objetivos centrais, mínimos
e inegociáveis da ALCA? Dado o evidente interesse em contar com a participação
do Brasil, que concessões os Estados Unidos poderiam fazer, com vistas a
conciliar as posições dos dois países, sem sacrificar aqueles objetivos
centrais? Valeria a pena adotar essa linha conciliatória, de modo a estabelecer
uma parceria eqüitativa e duradoura entre Brasília e Washington, ou seria
preferível manter a pressão, tentando isolar o Brasil, como o atual discurso
político americano pareceria indicar?
Trata-se evidentemente de questões tão abrangentes que só o processo de
negociação lhes poderá trazer respostas cabais, mas, do ponto de vista das
políticas externas dos dois países, a simples resposta preliminar a algumas
delas já representaria uma tomada de posição no tocante às relações bilaterais.
Na verdade, tais respostas preliminares representariam, em relação às grandes
questões nelas colocadas, hipóteses de trabalho indispensáveis à formulação das
posições negociadoras brasileira e americana.
Para o Brasil, por motivos que acredito ter deixado claros, a participação em
uma área de livre comércio com os Estados Unidos tenderia a comprometer, a
longo prazo, interesses brasileiros fundamentais. O desejável, portanto, seria
que a ALCA nunca chegasse a se materializar. Como, entretanto, o mais provável
parece ser que o Congresso americano termine, mais cedo ou mais tarde, por
conceder ao Presidente a fast track authority, é de prever-se que Washington
venha a ter condições de estabelecer uma área de livre comércio que abranja,
além da NAFTA, a América Central, o Caribe e boa parte dos países sul-
americanos. Nesta hipótese, a segunda das perguntas acima formuladas seria
crucial ' que alternativas realistas teria o Brasil? É claro que tal
desenvolvimento não isolaria o nosso país em relação ao resto do mundo, mas o
colocaria em posição de evidente desvantagem no trato econômico e, por via de
conseqüência, também político com a grande maioria dos países americanos. E não
parece realista esperar uma aproximação com a União Européia de molde a
compensar a desvantagem econômica no âmbito regional, para não mencionar a
perda de capacidade de liderança política na América do Sul. Escapa ao escopo
deste artigo examinar a fundo as perspectivas que se nos apresentam, porém o
cenário mais provável é fascinante e de alto risco. Ao que tudo indica, teremos
de desenvolver uma estratégia complexa e delicada, em que nosso trunfo
principal será a importância do Brasil tanto para os demais países latino-
americanos como para o êxito pleno da própria ALCA.
Do lado americano, também será necessário chegar a algumas respostas tentativas
ou hipóteses de trabalho. Em última análise, optar pela alternativa
conciliatória mencionada na última pergunta poderia significar o início de uma
parceria que ' dadas a assimetria de poder entre os parceiros, a tradição de
hegemonia do mais forte e o nível das legítimas aspirações do mais fraco '
tenderia a ser árdua, às vezes áspera, mas provavelmente frutífera e duradoura.
Tal opção só se justificaria, porém, se Washington estivesse disposto a
estabelecer, com os demais países do continente, um novo tipo de cooperação, na
qual os Estados Unidos aceitariam a posição de primus inter pares e não mais de
senhor das Américas. Como indicação de uma mudança em relação ao passado, tal
atitude teria repercussões sobre toda uma gama de problemas hemisféricos,
alguns só remota ou indiretamente relacionados com a integração econômica
regional. Esta é a hipótese mais desejável, mas, ao que tudo indica, a menos
provável.
* * *
Foi justamente pelo seu caráter abrangente, ilustrativo da percepção que cada
um dos dois países tem dos seus interesses e da sua posição atual, bem como das
suas aspirações, no cenário mundial, que esta breve reflexão se deteve na
questão da integração hemisférica. Evidentemente, há toda uma gama de outros
assuntos ' regionais e mundiais ' onde os dois países, de acordo com as suas
capacidades, deverão interagir, embora as posições respectivas nem sempre sejam
convergentes. A defesa da democracia nas Américas, o combate ao crime
organizado ' especialmente o narcotráfico e a lavagem de dinheiro ', a reforma
das Nações Unidas e do sistema financeiro internacional são apenas alguns
exemplos. A maneira como os dois se disporão a cooperar ou, alternativamente, a
administrar suas divergências dependerá, porém, da percepção que cada um tenha
da sua própria posição atual e futura no continente e no mundo e de como
perceba as do outro. Neste sentido, a atitude de Brasília e de Washington no
tocante à integração econômica continental poderá ser altamente reveladora para
ambos.
Para o Brasil, a opção mais racional, embora não necessariamente a mais
provável no governo atual, seria resistir às pressões americanas, inclusive à
tentativa de isolá-lo dos demais países do continente. Por outro lado, a
proximidade das eleições de 2002 torna aleatória qualquer previsão quanto à
nossa conduta diplomática futura. Cabe, pois, especular sobre a conduta de
Washington. Como já vimos, há, em tese, no tocante ao Executivo americano,
apoio bipartidário para o estabelecimento de uma área hemisférica de livre
comércio. Caberá à nossa diplomacia avaliar mais claramente, ao longo das
negociações já em curso, os objetivos mínimos perseguidos pelos Estados Unidos
com o seu projeto de integração continental. Se a proposta da ALCA visa à
consolidação e legitimação da hegemonia americana no continente e, ao mesmo
tempo, a melhor situar os Estados Unidos em sua competição econômica com países
ou grupos de países extra-continentais, o conflito de interesses fundamentais
com o Brasil tenderá a tornar-se cada vez mais claro e a hipótese de uma
parceria ' mesmo assimétrica e tormentosa, como aventado acima ' entre Brasília
e Washington, crescentemente remota. Não se trataria, neste caso, de conciliar
choques de interesses limitados, mas sim de administrar uma divergência
estratégica. Os custos, sobretudo para o Brasil, seriam certamente elevados,
porém inevitáveis. Infelizmente, na ausência de evidências em contrário, ao
analista familiarizado com a orientação histórica da política americana em
relação à América Latina esta parece a alternativa mais provável. Neste caso,
nos demais tópicos de interesse declarado dos Estados Unidos e do Brasil, as
iniciativas de Washington também deveriam ser percebidas como tendo um viés
intervencionista e dominador ' e tratadas com a inevitável desconfiança daí
decorrente. Admitidas, pois, as hipóteses de uma política hegemônica
continental americana, de um lado, e de uma disposição de resistência do lado
brasileiro, do outro, o relacionamento bilateral tenderia a ser não apenas
assimétrico, mas também conflitivo. Cabe esperar que tal hipótese, certamente
desgastante e indesejável, não se concretize...
Notas
1 Gil, Federico G., The Kennedy-Johnson Years , in United States Policy in
Latin America, John D. Martz (ed.), University of Nebraska Press, 1989, pág. 3.
2 Souto Maior, Luiz A. P., O Pan-Americanismo e o Brasil, Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 154 (1993), pág. 332.
3 Juscelino Kubitschek ' Carta ao Presidente dos Estados Unidos da América, 28
de maio de 1958. Operación Pan-Americana ' Compilación de Documentos ' I, Rio
de Janeiro, Presidência da República ' Serviço de Documentação, 1958, pág. 12.
Traduzido do texto espanhol.
4 Juscelino Kubitschek, entrevista ao New York Times, 6 de junho de 1958. Op.
cit., pág. 64. Traduzido do texto espanhol.
5 Idem, págs. 66 e 67. Traduzido do texto espanhol.
6 Seixas Correa, Luiz Felipe de, As relações internacionais do Brasil em
direção ao ano 2000, in Temas de Política Externa Brasileira, Gelson Fonseca
Júnior e Valdemar Carneiro Leão (org.), Brasília, 1989, pág.227.
7 Segundo depoimento do ex-Presidente, tomado muitos anos depois, o Itamaraty
teria sido favorável à abstenção, atitude que lhe parecera, entretanto, "uma
covardia. (....) Estou convencido até hoje de que o sionismo é racista". V.
D'Araujo, Maria Celina e Castro, Celso, Ernesto Geisel, Fundação Getúlio Vargas
Editora, 3ª edição, 1997, pág. 341.
8 Souto Maior, Luiz A. P., Estabilidade, globalização e dependência, in Carta
Internacional, no. 71, janeiro de 1999, USP, São Paulo.
9 Entrevista de Thomas Skidmore, historiador americano, brasilianista e diretor
do Centro de Estudos Latino-Americanos da Brown University, à revista "Veja",
19 de abril de 2000.
10 Hinojosa-Ojeda, Raúl A., Lewis, Jeffrey D. e Robinson, Sherman, Mercosul e
NAFTA: convergência e divergência na integração das Américas in Velloso, João
Paulo dos Reis (coordenador), Mercosul & NAFTA: o Brasil e a integração
hemisférica, José Olympio Editora, 1995, pág. 145.
11 Svarzman, Gustavo, La Argentina y el Mercosur ante el proceso de integración
hemisférica, citado em Borón, Atílio A., Alca, Mercosur y la
hegemonia norteamericana in Carrion, Raul K. M. e Vizentini,
Paulo Fagundes (org.), A Crise do Capitalismo Globalizado na Virada do Milênio
Editora da Universidade/UFRGS, 2000, pág. 138.
12 A Letter to the President and a Memorandum on U. S. Policy Toward Brazil '
Statement of an Independent Task Force Sponsored by the Council on Foreign
Relations, 14/2/2001, pág. 6.
13 Idem, p. 5.