Quatro temas fundamentais do pensamento neoconservador em política externa
Introdução
Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, quando a administração de
George W. Bush não havia sequer completado seu primeiro ano, colocaram o
neoconservadorismo em destaque nos debates a respeito da política externa dos
Estados Unidos.
No entanto, a quantidade de análises jornalísticas produzidas sobre esse tema
revelou-se inversamente proporcional aos estudos acadêmicos dedicados a ele. O
objetivo do presente artigo, adaptado de uma pesquisa mais ampla feita por este
autor sobre o assunto1, é oferecer um panorama geral daquilo que se identifica
como os quatro temas fundamentais de política externa do pensamento
neoconservador e, dessa forma, contribuir para um melhor entendimento acerca do
que, afinal, trata o neoconservadorismo.
Logo, não se propõe aqui oferecer uma crítica ao neoconservadorismo, nem
tampouco analisar suas conseqüências políticas, mas sim tentar apresentar qual
a visão de mundo oferecida por essa corrente de pensamento, a partir do ponto
de vista de seus participantes.
Primeiramente, é importante destacar que, assim como em outras correntes de
pensamento, não se pode atribuir àqueles identificados como neoconservadores
uma coesão absoluta em termos de posições com relação à política externa dos
Estados Unidos.
Dessa maneira, a escolha dos tópicos apresentados nesse artigo buscou um
determinado nível de generalização, visto que quanto mais se particularizarem e
detalharem posicionamentos, maior o risco de se negligenciarem posicionamentos
distintos entre os neoconservadores.
No entanto, da mesma forma, todas as correntes de pensamento são caracterizadas
por um determinado conjunto de idéias que permitem a sua identificação e a sua
distinção em relação a outros conjuntos de idéias, algo que se pode classificar
como um mínimo denominador comum. É esse denominador que se pretendeu buscar na
identificação dos temas a serem explorados nesse artigo.
Ou seja, pretende-se apresentar um conjunto de princípios básicos que poderia
servir como um panorama geral do pensamento neoconservador, mas que não
necessariamente determina a posição dos neoconservadores acerca de assuntos
específicos em política externa, pois isso seria retirar a possibilidade de
debates e divergências dentro do próprio neoconservadorismo.
Além disso, cabe observar que muitos dos temas não são exclusividade do
pensamento neoconservador, estando presentes de forma dispersa em outras linhas
de pensamento de política externa nos Estados Unidos, mesmo porque o
neoconservadorismo não está de forma alguma totalmente desconectado das
tradições do país nesse campo2.
Entretanto, acredita-se que o conjunto das partes apresentadas constitui um
todo que parece suficiente para distinguir a abordagem neoconservadora em
política externa de outras posições consagradas dentro do espectro político
norte-americano.
Destarte, identificaram-se e denominaram-se quatro temas essenciais do
pensamento neoconservador em política externa, constantemente presentes de
alguma forma desde o seu aparecimento. São eles: unilateralismo,
internacionalismo não-institucional, democracia e poder militar. Trata-se de
denominações genéricas que ensejam outros subtemas importantes a serem
considerados dentro dos temas ora apresentados. Por exemplo, ao explorar a
discussão sobre o unilateralismo, tópicos como hegemonia e unipolaridade serão
considerados; tal como o tema da democracia leva à discussão sobre a
importância do elemento moral no neoconservadorismo.
Destaque-se que nenhum dos temas subsiste separadamente dos demais ' na
verdade, os quatro se interconectam e, mais do que isso, são conseqüência um do
outro. Ou seja, uma postura de política externa baseada em fatores morais pode
levar a um unilateralismo, que, por sua vez, necessariamente dispensaria o
apoio de instituições internacionais que, para sobreviver, necessitaria de um
intenso suporte militar.
A divisão presentemente sugerida pretende servir apenas como instrumento
didático a fim de enfatizar cada componente e organizar melhor a discussão.
Sempre que possível, procurar-se-á contrastar como o neoconservadorismo se
insere em cada tema em relação a outras posições de política externa nos
Estados Unidos a fim de tentar compreender a sua especificidade.
Internacionalismo não-institucional
O primeiro elemento que salta aos olhos no pensamento neoconservador em
política externa é o seu ativo internacionalismo. Nesse sentido, os
neoconservadores encontram-se claramente no extremo oposto dos que pregam uma
postura isolacionista. Por outro lado, o neoconservadorismo também se choca com
duas importantes abordagens em política externa no universo político norte-
americano, que também são, em maior ou menor medida, internacionalistas: o
realismo e o liberal internacionalismo.
Uma distinção importante entre a abordagem neoconservadora e a liberal
internacionalista é que, se por um lado, os neoconservadores destacam a
natureza hobbesiana das relações internacionais, os liberais internacionalistas
partem de uma visão mais otimista, o que leva a atitudes distintas no momento
da avaliação de onde intervir.
Desse modo, normalmente o internacionalismo liberal tende a favorecer mais as
intervenções de caráter humanitário, sem aparente conexão com a segurança
imediata dos Estados Unidos, ao passo que o neoconservadorismo utiliza
critérios mais relacionados ao poder e à segurança norte-americanos. Logo, o
internacionalismo neoconservador não é universalista em sua acepção, mas é um
internacionalismo de caráter nacionalista, que deriva de um sentimento
patriótico, a partir da constatação da suposta singularidade dos Estados Unidos
frente às demais nações.
Para Huntington, "o patriotismo é uma ' talvez a principal ' virtude
conservadora primordial. Os conservadores conferem sua mais elevada lealdade ao
país, seus valores, cultura e instituições"3. Portanto, consoante Huntington,
uma característica distintiva do internacionalismo conservador em contraste com
o internacionalismo liberal é que aquele defende um "nacionalismo robusto que
reafirma algumas verdades básicas: os Estados Unidos são uma nação religiosa; o
patriotismo é uma virtude, universalismo não é americanismo; nacionalismo não é
isolacionismo"4.
Assim, na política externa, o neoconservadorismo busca unir uma postura
internacionalista a um sentimento nacionalista, "transcendendo a antiga
polaridade isolacionista-internacionalista" em que o isolacionismo "sempre foi
nacionalista em seu temperamento, enquanto que os internacionalistas sempre
operaram a partir de um ponto de vista global"5.
Dessa maneira, fica clara a diferença existente entre as posturas do
internacionalismo liberal, que tende a um universalismo, e a do internacio-
nalismo conservador, de caráter nacionalista. No entanto, resta determinar se
existe diferença significativa entre um conservadorismo internacionalista e o
neoconservadorismo.
Apesar de algumas análises tratarem como sinônimos, acredita-se poder apontar
algumas distinções entre o que seria um conservadorismo internacionalista e a
postura normalmente defendida no âmbito do neoconservadorismo. A primeira delas
é que os conservadores normalmente aproximam-se mais da visão realista, ao
passo que os neoconservadores buscam explicitamente um afastamento em relação
ao realismo.
Outra distinção importante é que, em comparação com o neoconservadorismo, o
conservadorismo norte-americano adota uma postura mais defensiva no plano
internacional, em contraposição a uma postura pró-ativa defendida pelos
neoconservadores que deriva de um alargamento do entendimento do que seria o
interesse nacional dos Estados Unidos. A postura neoconservadora nesse aspecto
é sintetizada por Irving Kristol, ao afirmar que os Estados Unidos deveriam
perseguir "uma política de ação ao invés de reação"6.
A característica internacionalista do neoconservadorismo fica evidente quando
se examinam as discussões que se estruturavam na década de 1990 acerca de qual
deveria ser o papel dos Estados Unidos após o fim da Guerra Fria. Enquanto
muitos grupos defendiam uma redução significativa na presença internacional dos
Estados Unidos, a resposta neoconservadora era que o momento deveria ser
aproveitado para avançar os interesses e os princípios norte-americanos ao
redor do globo. Para Robert Kagan e William Kristol:
Tendo derrotado o "império do mal", os Estados Unidos desfrutam de
predominância estratégica e ideológica. O primeiro objetivo da política externa
norte-americana deveria ser preservar e aumentar essa predominância reforçando
a segurança dos Estados Unidos, apoiando seus amigos, avançando seus
interesses, e defendendo os seus princípios pelo mundo todo [grifo nosso]7.
Portanto, do ponto de vista dos neoconservadores, os Estados Unidos deveriam
assumir definitivamente o papel de "superpotência", o que conseqüentemente
significaria um maior envolvimento nos conflitos internacionais. De acordo com
essa visão, sendo a superpotência uma nação com pretensões e interesses em
todas as partes do globo, o envolvimento com assuntos externos seria não apenas
desejoso, mas necessário.
Deste modo, com o desaparecimento da União Soviética e com o fim do conflito
bipolar, o neoconservadorismo encontraria espaço para avançar ainda mais em seu
argumento. Ainda em 1986, Kristol já destacava que uma decisão norte-americana
de não se envolver em conflitos internacionais teria conseqüências tão
significativas quanto a opção contrária8.
Uma década depois, com a Guerra Fria já terminada, Kagan e Kristol
argumentavam, conforme citado acima, que os Estados Unidos deveriam reforçar
sua predominância no plano internacional através de um envolvimento ativo em
questões internacionais9. E, em 2000 ' antes portanto dos ataques terroristas
do ano seguinte ' esses autores levariam o argumento ainda mais adiante,
defendendo que os Estados Unidos deveriam estar preparados para agir, se
necessário, de forma que prevenisse que ameaças potenciais se concretizassem.
Na avaliação dos autores, os Estados Unidos deveriam adotar uma postura
internacional que seja "mais, do que menos inclinada a agir quando as crises se
rompem, e preferencialmente antes de elas se romperem. Esse é o padrão de uma
superpotência global que quer moldar o ambiente internacional de forma
vantajosa para si" (grifo nosso)10. Note-se que essa argumentação é parte
importante na justificativa de guerras preventivas, conforme se abordará
adiante.
Logo, uma das principais características do pensamento neoconservador em
política externa é justamente o seu caráter eminentemente internacionalista,
marcado pela defesa de um envolvimento ativo nos assuntos globais, a partir da
crença de que os Estados Unidos têm a responsabilidade, a capacidade e o
interesse na construção de uma ordem internacional que satisfaça os seus
objetivos. Por conseguinte, o argumento neoconservador tenderá fortemente a
defender uma política externa "ativa" em contraste com o que é enxergado como
uma política externa "reativa" ou "defensiva".
Tal característica, no entanto, também poderia caracterizar em certa medida a
postura liberal internacionalista. Entretanto, surge uma importante diferença:
ao passo que o liberal internacionalismo caracteriza-se por ser abalizado
majoritariamente por instituições supranacionais, o internacionalismo
neoconservador nutre profunda desconfiança por tais arranjos institucionais.
Por essa razão, escolhe-se caracterizar esse tipo de internacionalismo como um
"internacionalismo não-institucional". É importante destacar que esta se trata
de uma, entre outras denominações possíveis. Uma designação alternativa poderia
ser "internacionalismo nacionalista".
Ela teria a vantagem de destacar o fato de o internacionalismo neoconservador
não ter um caráter humanitário, mas sim tratar-se de um tipo de
internacionalismo que busca uma íntima conexão com os interesses dos Estados
Unidos que, por sua vez, corresponderiam também, dentro da ótica
neoconservadora, aos interesses dos demais países democráticos. Outra
denominação plausível seria "internacionalismo unilateral", mas seria menos
acurada, visto que do ponto de vista neoconservador uma ação multilateral pode
ser feita através de coalizões ad hoc e, portanto, dispensar a intervenção de
organizações internacionais (tratado a seguir).
Charles Krauthammer é bem claro a respeito da posição neoconservadora nesse
sentido ao afirmar que "a construção de coalizões de voluntários' ad hoc
dificilmente qualifica-se como unilateralismo só porque não tem um secretariado
em Bruxelas ou no East River"11.
Ressalte-se que os conservadores norte-americanos em geral tendem a ter uma
posição mais cética em relação aos organismos internacionais. Nau destaca que
"nenhum grupo conservador dá a ONU papel de destaque" e essa seria uma linha
clara de divisão em relação aos liberais12. Huntington também sublinha tal
distinção ao apontar que o nacionalismo é uma característica distintiva dos
conservadores norte-americanos que, portanto, "resistem a intromissões na
soberania nacional por parte de organizações internacionais, cortes ou
regimes"13.
Entretanto, ainda que a afirmação de que um certo tipo de internacionalismo
não-institucional seja uma característica dos conservadores norte-americanos em
geral, no caso específico dos neoconservadores tal predicado é especialmente
verdadeiro, sobretudo se se considera a questão dos limites da ação
internacional que, de certa maneira, diferencia os neoconservadores dos
conservadores de orientação mais internacionalista, conforme mencionado acima.
Com isso, já em 1983, Irving Kristol referiu-se aos "inúmeros tratados,
convenções e alianças" internacionais como uma "piscina de areia movediça"14 e
ironizou a Organização dos Estados Americanos (OEA) referindo-se a ela como
"uma espécie de mini ONU onde podemos ser derrotados em apenas três línguas,
economizando assim dinheiro com tradutores"15.
Contudo, a crítica dos neoconservadores às organizações internacionais tornar-
se-ia ainda mais aguda após o final da Guerra Fria, a partir de três argumentos
principais: uma alegada falta de legitimidade por parte de tais organizações,
os eventuais entraves colocados para uma atuação internacional norte-americana
mais contundente, e a percepção de que muitos organismos internacionais servem
de fórum para países hostis aos Estados Unidos. A partir desses argumentos, o
neoconservadorismo busca minar as duas principais justificativas para e
existência de tais organismos ' sua eficácia e sua legitimidade.
O argumento da falta de legitimidade dos organismos internacionais baseia-se
principalmente na crença neoconservadora da democracia como valor supremo e na
conseqüente observação de que muitos dos países participantes de organizações
internacionais não são democracias. Logo, do ponto de vista neoconservador,
seria moralmente ilegítimo exigir que os Estados Unidos necessitem da chancela
de organismos internacionais, compostos em parte por nações não-democráticas,
para poder agir internacionalmente na defesa de seus interesses. Krauthammer
desenvolve esse argumento em relação ao Conselho de Segurança da ONU:
É impossível entender a lógica moral pela qual a aprovação do Conselho de
Segurança confere legitimidade moral para esse ou qualquer outro
empreendimento. Como as bênçãos dos carniceiros da Praça Tiananmen, que detém o
assento chinês no Conselho, empresta autoridade moral para qualquer coisa,
quanto mais a invasão de outro país?16
Em um artigo defendendo a retirada dos Estados Unidos da ONU, Krauthammer chama
a atenção para o que chama de "idealismo" e "ingenuidade" dos estadistas
envolvidos na sua fundação17. Para o autor, essa organização, considerada como
uma "instituição de papel" e "dispensável", é um obstáculo inclusive para a
aplicação de normas internacionais, dada a alegada inexistência de alguém que
faça cumprir tais normas.
É interessante observar que a referência à idéia de "papel" é relativamente
comum entre os neoconservadores, referindo-se a arranjos institucionais e
legislações internacionais que na sua visão estariam afastados da realidade do
poder. Boot, por exemplo, caracteriza o neoconservadores como depositando "sua
fé não em pedaços de papel, mas no poder, especificamente no poder
americano"18.
Da mesma forma, Krauthammer considera que a divisão fundamental no debate sobre
a política externa nos Estados Unidos é "a questão sobre o que é, e o que
deveria ser a base fundamental das relações internacionais: papel ou poder"19.
Se com o final da Guerra Fria as críticas dos neoconservadores às organizações
internacionais tornaram-se ainda mais incisivas, o período após 11 de setembro
de 2001 serviu para reforçar essa contundência. A questão agora não era apenas
o fato da ONU ser encarada como um entrave no avanço os interesses da grande
potência, mas agora como um obstáculo à própria defesa da segurança nacional
norte-americana.
Frum e Perle, por exemplo, avaliavam que a ONU ter-se-ia tornado, na melhor das
hipóteses, irrelevante e, na pior, um obstáculo na ofensiva norte-americana
contra o terrorismo transnacional20. Assim, a partir do ponto de vista de que a
denominada "guerra ao terrorismo" requereria ações rápidas por parte dos
Estados Unidos, as deliberações do Conselho de Segurança da ONU passaram a ser
encaradas como um obstáculo adicional a tais ações e, por extensão, um
obstáculo à própria segurança nacional norte-americana.
Unilateralismo
O primeiro ponto a notar ao se abordar a questão do unilateralismo é que essa é
uma opção sempre presente na política externa norte-americana, ainda que no
plano retórico os estadistas mantivessem o discurso multilateral. Logo, o
unilateralismo na política externa norte-americana não constitui exatamente uma
novidade, especialmente se se considera sua manifestação dentro do campo
conservador.
Entretanto, aparentemente nenhum grupo político dá tanto peso a essa opção,
inclusive no plano retórico, como os neoconservadores, cuja preferência pelo
unilateralismo é explicitamente declarada. Soma-se a isso o fato de que,
frequentemente, o discurso acerca do unilateralismo no universo político norte-
americano relaciona-se de forma mais estreita com aqueles que defendem uma
postura mais isolacionista, de caráter defensivo.
Deste modo, a postura internacionalista preconizada pelos neoconservadores
adiciona um elemento fundamental à ação unilateral, vista como uma opção
necessária para uma potência com pretensões globais. Nessa direção, Krauthammer
avalia que "a virtude do unilateralismo não é apenas que ele permita a ação.
Ele força-a"21. O unilateralismo neoconservador diferencia-se, assim, do
unilateralismo isolacionista notadamente em razão de seu caráter
internacionalista, que se conecta intimamente com o entendimento do que seria o
interesse nacional norte-americano.
Para Krauthammer, o unilateralismo defendido pelos neoconservadores, pode ser
classificado como um "novo unilateralismo"22. De acordo com o autor, o
unilateralismo é normalmente associado aos isolacionistas que por sua vez pouco
se preocupariam com o uso do poder americano para "fins globais", mas
simplesmente no sentido de defender os interesses norte-americanos a partir de
um entendimento considerado "estreito" do interesse nacional.
Dessa forma, trata-se de um unilateralismo com interesses globais, visando a
manutenção e preservação da ordem internacional estabelecida através do apoio
ativo à democracia por parte dos Estados Unidos. Note-se que, ao falar em
unilateralismo, os neoconservadores referem-se principalmente às alianças
formais e institucionais formadas pelos Estados Unidos notadamente durante a
Guerra Fria.
Kristol entende que o unilateralismo não significa "retirar-se de toda e
qualquer aliança"23, mas livrar os Estados Unidos das que, no seu entendimento,
impediriam uma ação mais livre por parte desse país, classificadas pelo autor
como "entangling alliances"24. Krauthammer pondera que agir unilateralmente não
significa necessariamente agir sozinho, mas "não permitir tornar-se refém de
outros"25.
Por conseguinte, o entendimento neoconservador parece não passar pela
constatação de que os Estados Unidos devam necessariamente agir sozinhos, mas
de que essa é uma opção que não deve ser descartada a priori. A formação das
alianças é definida em caráter ad hoc de acordo com o objetivo determinado.
Portanto, a coalizão é formada a partir da definição da missão, estando aquela
subordinada a esta, ou seja, "a missão determina a coalizão"26, e não o
contrário. Para Krauthammer, essa abordagem significa que aqueles que estiverem
dispostos a participar da coalizão deverão ser recrutados "apenas para ajudar a
cumprir nossa missão. A missão vem primeiro e nós a definimos"27.
A defesa neoconservadora do unilateralismo baseia-se principalmente em dois
argumentos. O primeiro, conforme já tratado na seção anterior, refere-se a uma
alegada falta de legitimidade de organismos supranacionais. O segundo argumento
fundamenta-se na premissa de que o unilateralismo é necessário para aumentar o
raio de ação da superpotência no plano internacional.
Nesse sentido, em sua crítica às "entangling alliances", Kristol assevera que,
para uma superpotência, alianças desse tipo concorrem para inibir a tomada de
ação por sua parte no momento em que entender conveniente28. Para Krauthammer a
opção pelo multilateralismo acarreta uma "obsessão com convenções, protocolos,
legalismos", cujo efeito é "conter o poder americano". Desse ponto de vista, o
objetivo dos defensores do multilateralismo seria "amarrar Gulliver com
milhares de cordas"29.
O unilateralismo é visto de tal modo como uma demonstração de força e poder ao
passo que o multilateralismo é enxergado como uma ferramenta à disposição de
países menos poderosos. Com isso, o neoconservadorismo busca justificar
especialmente a oposição de países aliados ao unilateralismo norte-americano,
sobretudo na Europa. Para Kagan (2003), os Estados Unidos devem ocasionalmente
agir sem o apoio de aliados europeus "não em razão de paixão pelo
unilateralismo, mas só porque, devido a uma fraca Europa que se afastou do
poder, os Estados Unidos não tem opção além de agir de maneira unilateral"30.
De acordo com esse autor, a hostilidade dos europeus ao unilateralismo
representa uma defesa de seus próprios interesses e mecanismos como o Conselho
de Segurança das Nações Unidas seriam "o substituto do poder que lhes falta"31.
Para Perle, "dada a inadequada capacidade militar dos europeus, a inabilidade
em usar a força transforma-se facilmente em repugnância ao uso da força"32.
Democracia
A forte conexão entre política externa e democracia nos Estados Unidos
seguramente constitui uma tradição deste país desde os seus primórdios. A
questão da democracia sempre esteve presente como um elemento central na
política externa norte-americana, sendo que a principal diferença detectada
pela literatura é em relação a qual o papel desempenhado pelos Estados Unidos
na defesa dos valores democráticos ' apresentar-se como exemplo a ser seguido
ou promover ativamente a democracia no plano internacional.
De forma geral, o conservadorismo tradicional tende a advogar a primeira
alternativa. Por outro lado, o internacionalismo liberal encontra-se mais
próximo da segunda e nesse sentido aproxima-se da posição neoconservadora.
No entanto, a defesa neoconservadora de que os Estados Unidos devem atuar
ativamente para difundir a democracia no mundo, passa pela crítica ao
internacionalismo liberal, visto como um "humanitarianismo cosmopolita" que
defenderia a democracia apenas em nome da própria democracia e dos direitos
humanos. Os neoconservadores, por sua parte, enfatizam de modo mais vigoroso
uma ligação intrínseca entre a promoção da democracia e o interesse nacional
americano, a partir do entendimento de que essa estratégia é essencial para
garantir a segurança do país e reforçar sua supremacia no cenário
internacional.
Portanto, a partir da conexão entre democracia e segurança, os neoconservadores
encaram a primeira sob dois aspectos fundamentais. Como um imperativo moral e
assim buscam afastar-se da abordagem realista. Segundo, eles avaliam que a
promoção da democracia deve ser parte crucial da estratégia de segurança norte-
americana, pois essa seria não apenas um imperativo moral, mas também "a melhor
forma de assegurar a manutenção de uma ordem mundial pacífica e próspera"33.
Quanto ao primeiro aspecto, o neoconservadorismo busca resgatar a idéia
presente desde a independência dos Estados Unidos "de que a liberdade
individual é um absoluto moral, e um sistema de governo que realça a liberdade
individual é moral e praticamente superior a todos os outros"34.
Desse modo, o pensamento neoconservador avalia que, dada a uma alegada
universalidade dos propósitos morais, as relações internacionais tornam-se um
espaço onde os julgamentos morais são não apenas possíveis, mas necessários.
Podhoretz explicita essa visão ao destacar a "necessidade e a possibilidade de
julgamento moral no terreno da política internacional"35.
Kagan e Kristol defendem uma "remoralização" da política externa norte-
americana a partir "da crença americana de que os princípios da Declaração de
Independência não são apenas escolhas de uma cultura particular, mas são
verdades universais, duradouras e auto-evidentes'" (grifo nosso)36.
Nesse ponto, os autores fazem uma crítica aos conservadores tradicionais, que
pregariam "a importância de se preservar os elementos centrais da tradição
ocidental no plano doméstico", mas ao mesmo tempo professariam uma "indiferença
ao destino dos princípios norte-americanos no plano internacional" e avaliam
essa postura como "uma inconsistência cujo resultado só pode ser o desgaste do
coração do conservadorismo"37. Assim, seria natural, a partir desse ponto de
vista, que os Estados Unidos assumissem uma postura de "missão civilizadora" no
mundo.
No que diz respeito à conexão entre democracia e segurança, cuja presença no
discurso neoconservador é central, acredita-se ser importante uma breve
exposição acerca do que ficou conhecido como as teorias da "paz democrática"
que estimularam diversos debates, notadamente durante os anos 1990, a partir da
constatação de uma aparente inexistência de guerras entre os países
democráticos.
Doyle avalia que a partir do século XVIII estabeleceu-se ' entre o que o autor
chama de "sociedades liberais" ' uma "zona de paz", nos moldes kantianos de uma
"federação pacífica"38.
Para Layne39, a teoria da paz democrática é mais uma proposição do que uma
teoria propriamente dita e baseia-se em duas crenças principais. A primeira é a
de que as democracias não lutam entre si. A segunda é que quando as democracias
entram em conflito, apenas raramente ameaçam o uso da força, pois isso seria
considerado ilegítimo.
As teorias que buscam explicações para esse fenômeno, de acordo com o autor,
dividir-se-iam em duas vertentes. A primeira explicaria a aparente abstenção de
guerras entre as democracias em virtude de constrangimentos institucionais.
Owen classifica as teorias que se baseiam nessa hipótese como "estruturais"40.
A segunda hipótese enfatizaria questões como as normas e a cultura democrática
que impediriam os estados democráticos de irem à guerra com outras democracias.
Para Owen, essas teorias também podem ser classificadas como "normativas" e
baseiam-se na premissa de que do ponto de vista das democracias seria injusto
ou imprudente entrar em guerra com outras democracias.41
Essa segunda vertente é a mais aceita pelos neoconservadores e é o que dá
suporte a afirmações como a de Krauthammer de que a democracia seria um meio
indispensável para promover a segurança dos Estados Unidos, visto que "as
democracias são inerentemente mais amistosas em relação aos Estados Unidos,
menos beligerantes em relação a seus vizinhos e geralmente mais inclinadas para
a paz"42.
É importante destacar que o que os teóricos da paz democrática entendem como
democracia é a de caráter liberal. Owen define uma democracia liberal como "um
estado que encarna as idéias liberais, onde o liberalismo é a ideologia
dominante, e onde os cidadãos têm influência sobre as decisões de guerra"43.
O autor acrescenta que o liberalismo distingue o Estado de acordo com o tipo de
regime, ao passo que o realismo, de acordo com as capacidades. Desse modo,
Estados liberais seriam vistos como aliados e os não-liberais, como
potencialmente perigosos. Portanto, a partir do entendimento de que os países
liberais não entram em guerra uns com os outros, e, por outro lado, de que os
países que não são vistos como democracias liberais são percebidos como
potenciais ameaças, a conclusão é que o nível de segurança internacional
aumenta conforme aumenta a quantidade de democracias no mundo.
Essa argumentação abre o caminho para a idéia de "mudança de regime" ("regime
change"), cuja presença no discurso neoconservador é de capital importância.
Tal conceito baseia-se na proposição de que os Estados Unidos devem utilizar
todos os meios disponíveis para pressionar a transformação de países não-
democráticos em democracias liberais. Aqui, um exemplo frequentemente citado é
a transformação da Alemanha e do Japão a partir do suporte dos Estados Unidos
após a Segunda Guerra Mundial. Para Podhoretz, o fato de que "os Estados Unidos
conseguiram em apenas uma década transformar tanto a Alemanha Nazista como o
Japão Imperial em democracias capitalistas" demonstraria que isto poderia ser
feito em outras regiões do mundo, contrariando os que acreditariam que "a
democracia e o capitalismo poderiam desenvolver-se apenas num solo cultivado
por séculos"44.
Kaplan aponta para previsões anteriores à reconstrução do Japão e da Alemanha
que afirmavam que esses países não seriam culturalmente aptos para exercer a
democracia, a fim de contestar o que seriam argumentos semelhantes acerca do
Oriente Médio45.
Destaque-se que o otimismo demonstrado por grande parte dos neoconservadores em
relação às condições para a promoção da democracia independentemente do país é
contrabalançado internamente por nomes como Paul Wolfowitz. Para ele, "alguns
regimes são mais abertos a mudanças que outros" e os exemplos de Alemanha e
Japão na Segunda Guerra não se aplicam necessariamente a outras sociedades e
circunstâncias particulares de cada país devem ser levadas em consideração,
visto que "condições econômicas e sociais podem preparar melhor alguns países
para a democracia que outros"46.
Kristol e Kagan condensam os dois argumentos neoconservadores apresentados aqui
em defesa da promoção da democracia ' imperativo moral e conexão entre
democracia e segurança em prol da sustentação da supremacia norte-americana e
seu corolário (mudança de regime) ' no trecho destacado a seguir:
A política externa norte-americana deveria ser informada por um propósito moral
claro, baseado no entendimento de que seus objetivos morais e seus interesses
nacionais fundamentais estão quase sempre em harmonia. Os Estados Unidos não
atingiram a presente posição de força praticando uma política externa de viva e
deixe viver, nem passivamente esperando as ameaças surgirem, mas promovendo
ativamente afora os princípios de governança americanos ' democracia, mercados
livres, respeito pela liberdade [...] E algumas vezes isso significa não apenas
apoiar os amigos dos Estados Unidos e pressionar suavemente outras nações, mas
perseguir ativamente políticas ' no Irã, em Cuba e na China, por exemplo ' que
tenham a intenção última de efetuar uma mudança de regime. Em qualquer caso, os
Estados Unidos não deveriam cegamente fazer negócio' com qualquer nação,
independente de seu regime [grifo nosso]47.
Conseqüentemente, seria inútil a tentativa de incluir nações não-democráticas
em acordos internacionais como forma de evitar, por exemplo, a proliferação
nuclear, visto que não haveria como fazer tais países "jogarem pelas existentes
' o que quer dizer norte-americanas ' regras do jogo"48.
A estratégia mais eficiente, a partir desse ponto de vista, seria "não a
coexistência, mas a transformação" do próprio regime vigente nesses estados49.
Portanto, constrói-se a argumentação que serve de suporte para intervenções,
inclusive militares, em outros países, com o intuito último de efetuar uma
mudança de regime em nações consideradas não-democráticas.
Poder militar
No início do século XX, o presidente norte-americano Theodore Roosevelt cunhou
uma famosa frase que passaria a designar a política externa dos Estados Unidos
naquele período como a "diplomacia do grande porrete" ("big stick diplomacy").
A frase completa, que Roosevelt afirmara ser de um provérbio africano, dizia:
"Fale manso e carregue um grande porrete; você irá longe" ("Speak softly and
carry a big stick; you will go far").
A história encarregou-se de esquecer a parte da frase que diz respeito ao tom
de voz para enaltecer a referência ao porrete. Do ponto de vista
neoconservador, entretanto, o tom de voz também é algo importante, mas com o
sinal invertido ao preconizado por Roosevelt, ou seja, os Estados Unidos devem
carregar o porrete e falar grosso, à medida que isso serviria para dissuadir
potenciais inimigos.
Assim, Kristol e Kagan50 defendem que os Estados Unidos devem "deixar claro que
é inútil competir com o poder americano". Para esses autores, o fortalecimento
do poderio militar norte-americano em todas as partes do globo teria o
propósito de enviar uma "mensagem para potenciais inimigos: nem pense
nisso'"51.
A centralidade do poder militar no pensamento neoconservador só pode ser
entendida a partir da compreensão de como ele relaciona-se com o uso da força
como instrumento nas relações internacionais. Dessa forma, se para o pensamento
liberal, as leis e as instituições devem garantir a ordem, sendo o uso da força
considerado apenas como ultima ratio, para o pensamento neoconservador a mesma
encontra-se em um patamar mais elevado na lista de prioridades.
Negligenciando a eficácia da legislação e das instituições internacionais,
preferindo confiar no "poder" e não no "papel" como base das relações
internacionais, o neoconservadorismo entende que o uso da força é sempre uma
alternativa a ser constantemente considerada.
A importância que o pensamento neoconservador dá ao poder militar é,
entretanto, uma característica compartilhada com outras correntes conservadoras
no universo político norte-americano. Para Nau, um dos princípios que une os
conservadores norte-americanos é a crença de que, ao contrário do preconizado
pelo liberalismo, o poder militar de uma determinada nação tem mais peso que
seu poder econômico ou diplomático52.
Contudo, a ênfase na necessidade do fortalecimento militar frequentemente causa
conflitos dentro dos círculos conservadores quando se leva em consideração a
tendência do conservadorismo norte-americano em diminuir o papel do Estado,
notadamente através de cortes de impostos.
Dado que a manutenção de um aparato militar é algo custoso, a necessidade de se
mantê-lo choca-se com a diminuição dos recursos disponíveis pelo Estado. Esse
conflito é resolvido normalmente de duas formas que acabam por caracterizar
duas importantes manifestações do conservadorismo norte-americano: adota-se uma
postura isolacionista, intervindo militarmente apenas nos casos de agressão
direta, ou uma política externa normalmente associada a uma "prudência"
preconizada pelo realismo, de intervenções específicas e forças armadas
enxutas.
Todavia, conforme explicitado no início deste trabalho, os neoconservadores
encontram-se no extremo oposto dos isolacionistas, defendendo uma política
externa de caráter fortemente internacionalista, que considera o interesse
nacional de uma grande potência e, especificamente, o interesse nacional dos
Estados Unidos, como distinto do das demais nações, o que desemboca em uma
defesa de intervenções constantes nas mais diversas partes do globo.
Além disso, o discurso neoconservador de aumento dos gastos militares é
acompanhado, no plano interno, por uma defesa de um governo forte, bem como por
uma assumida condescendência com o Estado de Bem-Estar Social, tão criticado
pelas demais correntes conservadoras norte-americanas.
Em 1996, por exemplo, quando a Guerra Fria já havia acabado e os ataques
terroristas de 2001 ainda eram uma realidade distante, Kagan e Kristol
alertavam para os cortes nos gastos militares (caracterizando como uma "crise
no orçamento militar") e defendiam uma volta aos níveis de gastos da Guerra
Fria53.
Na mesma direção, Donald Kagan argumentava contrariamente à noção de "pausa
estratégica" defendida por alguns analistas em virtude da evidente vitória dos
Estados Unidos na Guerra Fria e avaliava que esse triunfo deveria ser encarado
como uma oportunidade de aprofundar a vantagem estratégica norte-americana
voltando aos níveis de gastos em defesa despendidos durante período bipolar54.
De acordo com o autor, isso seria especialmente importante à medida que os
aliados norte-americanos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)
passavam por um período de cortes de gastos militares ainda maiores dos que os
empreendidos pelos próprios Estados Unidos, de modo que, conforme Kagan, "as
únicas forças que os Estados Unidos podem confiar que existirão e estarão
prontas para deter ou opor-se a agressores regionais, são as nossas
próprias"55.
Adicionalmente, o autor avaliava que no novo cenário pós-Guerra Fria os Estados
Unidos deveriam estar preparados não apenas para deter um inimigo específico,
"mas todo e qualquer possível futuro inimigo"56.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001, o neoconservadorismo advogaria um
pensamento estratégico ainda mais ousado ' a idéia de guerra preventiva. Para
Perle, os atentados de 11 de setembro teriam ensinado aos Estados Unidos a
lição de que não poderiam mais cometer "o erro de esperar demais" antes de
lidar efetivamente com as ameaças57.
É bem verdade que muitos neoconservadores de destaque já defendiam antes de
2001 que os Estados Unidos deveriam agir "preferencialmente antes do rompimento
das crises"58, mas os ataques terroristas daquele ano reforçaram a revisão dos
conceitos de contenção e dissuasão consagrados no período da Guerra Fria.
Do ponto de vista neoconservador, as estratégias dissuasórias do passado não
seriam adequadas para lidar com "Estados Párias" ("Rogue States") e com
organizações terroristas de caráter global, porque a natureza dos atores é
distinta. Mais do que nunca, a visão era a de que os Estados Unidos teriam o
direito e a obrigação de exercer o seu poder no plano internacional, a fim de
defender seus interesses e garantir sua segurança.
Considerações finais
Neste artigo se procurou identificar temas que são distintos do pensamento
neoconservador e possuem algum grau de continuidade ao longo de sua existência.
Caso tal tarefa se revelasse impossível, poder-se-ia concluir que o
neoconservadorismo não seria um conjunto organizado de idéias, mas um mero
amontoado de opiniões passageiras. No entanto, ainda que não se tenha
descartado a possibilidade de haver debates abundantes dentro do
neoconservadorismo, pretendeu-se deixar de maneira clara a existência de uma
determinada linha que permanece ao longo do tempo, ditada pelos seus mais
destacados defensores e porta-vozes.
Portanto, procurou-se demonstrar, a partir do ponto de vista de seus
participantes, que o pensamento neoconservador oferece um conjunto de idéias
com uma visão específica acerca da condução política externa norte-americana.
Evitou-se deliberadamente empreender qualquer análise crítica, visto que isso
representaria um desvio de foco da nossa tarefa principal neste artigo:
apresentar, de forma resumida, os temas fundamentais do pensamento
neoconservador em política externa, com vistas a contribuir para os futuros
debates.
1 Este artigo é extensivamente baseado na dissertação de mestrado do autor,
apresentada em 2007 ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San
Tiago Dantas ' PUC-SP/UNESP/UNICAMP ' entituladaO Pensamento Neoconservador em
Política Externa nos Estados Unidos.
2 Esse é um importante debate que, aparentemente, permanece em aberto, e deverá
ser mais bem tratado em pesquisas futuras. Para uma abordagem que enfatiza
fatores de continuidade nas políticas defendidas pelos neoconservadores ver,
por exemplo, GADDIS, John Lewis. Surprise, security, and the American
experience. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2004. Para uma avaliação
do neoconservadorismo como ruptura na tradição norte-americana de política
externa ver, por exemplo, DAALDER, Ivo H.; LINDSAY, James M. America unbound:
the Bush revolution in foreign policy. Washington, DC: Brookings Institution
Press, 2003. Y
3 HUNTINGTON, Samuel. Robust Nationalism. The National Interest, New York: The
Nixon Center, n. 58, inverno de 1999/2000, p. 37.
4 Ibidem, p. 39
5 KRISTOL, Irving. Reflections of a neoconservative. New York: Basic Books,
1983, p. 245.
6 KRISTOL, Irving. The old world needs a new ideology. Wall Street Journal, New
York, 1 de abril de 1985.
7 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Toward a neo-reaganite foreign policy.
Foreign Affairs, New York: Council on Foreign Relations, vol. 5, n. 4, julho/
agosto de 1996, p. 20.
8 KRISTOL, Irving. Global unilateralism and entangling alliances. Wall Street
Journal, New York, 3 de fevereiro de 1986.
9 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Toward a neo-reaganite foreign policy. Op.
cit.
10 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Present dangers: crisis and opportunity in
American foreign and defense policy. San Francisco: Encounter Books, 2000, p.
14.
11 KRAUTHAMMER, Charles. Democratic realism: an American foreign policy for a
unipolar world. Washington DC: The AEI Press, 2004, p. 12. "Coalizão de
voluntários" é a nossa tradução para o termo "coalition of the willing". East
River é uma referência de Krauthammer à região de Nova Iorque onde fica a sede
da Organização das Nações Unidas (ONU).
12 NAU, Henry. No enemies on the right. The National Interest, New York: The
Nixon Center, n. 78, inverno de 2004, pp. 23-24.
13 HUNTINGTON, op. cit., p. 38
14 KRISTOL, Irving. Refletions of a neoconservative. Op. cit., p. 227.
15 Ibidem, p. 229.
16 KRAUTHAMMER, Charles. The unipolar moment revisited. The National Interest,
New York: The Nixon Center, 22 de dezembro de 2002.
17 KRAUTHAMMER, Charles. Why the US should bail out of the UN. The New
Republic, Washington, DC: [s.n], 24 de agosto de 1987.
18 BOOT, Max. Myths about neoconservatism. IN: STELTZER, Irwin (Org.). The
neocon reader. New York: Grove Press, 2004, p. 49.
19 KRAUTHAMMER, Charles. A new type of realism. The National Interest, New
York: The Nixon Center, inverno 2002/2003, p. 13.
20 FRUM, David; PERLE, Richard. UN should change, or US should quit. Los
Angeles Times, Los Angeles, 23 de janeiro de 2004, p. B13.
21 KRAUTHAMMER, Charles. The unipolar moment revisited. Op. cit.
22 KRAUTHAMMER, Charles. A new type of realism. Op. cit.
23 KRISTOL, Irving. Global unilateralism and entangling alliances. Op.cit.
24 . Deixa-se no original, pois não se encontrou uma tradução satisfatória para
o termo, que fi cou famoso ficou após o discurso inaugural de Thomas Jefferson
em 1801. Uma sugestão, conforme adotada por Sá Barbosa e Bezerra, seria
"alianças que nos embaracem" (SCHLESINGER JR, 1992: 65). Apesar de o termo não
aparecer explicitamente no famoso discurso de despedida de George Washington, a
mesma idéia também já estava presente ali ' sempre tendo em mente a relação com
as potências européias. O que outrora havia sido interpretado como uma
recomendação ao isolacionismo, hoje parece haver um entendimento de que tal
conselho de fato relaciona-se mais com o unilateralismo. Nesse sentido ver, por
exemplo, McDougall (1997: 39-56).
25 KRAUTHAMMER, Charles. A new type of realism. Op. cit.
26 Frase atribuída originalmente ao ex-Secretário de Defesa norte-americano,
Donald Rumsfeld.
27 KRAUTHAMMER, Charles. The unipolar moment revisited. Op. cit.
28 KRISTOL, Irving. Global unilateralism and entangling alliances. Op. cit.
29 KRAUTHAMMER, Charles. Democratic realism. Op. cit, p. 6.
30 KAGAN, Robert. Do paraíso e do poder: os Estados Unidos e a Europa na nova
ordem mundial. Rio de Janeiro: Rocco, 2003, p. 100.
31 Ibidem, p. 43.
32 PERLE, Richard. Is the UN the only institution that can legitimize force?
New Perspectives Quarterly, Boston: Blackwell Publishing, vol. 20, n. 1,
inverno de 2003, p. 69.
33 STELTZER, Irwin (Org.). The neocon reader. New York: Grove Press, 2004, p.
10.
34 SELDEN, Zachary. Neoconservatives and the Americam mainstream.Policy Review,
Stanford: Hoover Institution, n. 104, abril/maio de 2004, p. 30.
35 PODHORETZ, Norman. World War IV: how it started, what it means, and why we
have to win. Commentary, New York: AJC, vol. 118, n. 2, setembro de 2004, p.
27.
36 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Toward a neo-reaganite foreign policy. Op.
cit.
37 Idem.
38 DOYLE, Michael W. Liberalism and world politics. American Political Science
Review, Washington, DC: APSA, vol. 80, n. 4, dezembro de 1986.
39 LAYNE, Christopher. The unipolar illusion: why new great powers will rise.
International Security, Cambridge, MA: The MIT Press, vol. 17, n. 4, pp. 5-51,
primavera de 1993.
40 OWEN, John M. How liberalism produces democratic peace. In: BROWN, Michael
E. et al. Theories of war and peace. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press,
pp. 137-175, 2000.
41 Idem.
42 KRAUTHAMMER, Charles. Democratic realism. Op. cit, p. 15.
43 OWEN, op. cit., p. 139
44 PODHORETZ, Norman. Op. cit., p. 47
45 KAPLAN, Lawrence. Springtime for realism. The New Republic, Washington, DC:
[s.n], 21 de junho de 2004.
46 WOLFOWITZ, Paul. Statesmanship in the new century. In: KAGAN, Robert e
KRISTOL, William (Org.). Present dangers: crisis and opportunity in American
foreign and defense policy. San Francisco: Encounter Books, 2000, pp. 320-321.
47 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Present Dangers, p. 27.
48 Ibidem, p. 18.
49 Ibidem, p. 20.
50 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Toward a neo-reaganite foreign policy,Op.
cit.
51 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Present dangers. Op. cit, p. 14.
52 NAU, Henry. No enemies on the right. The National Interest, New York: The
Nixon Center, n. 78, inverno de 2004.
53 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Toward a neo-reaganite foreign policy, Op.
cit.
54 KAGAN, Donald. Strenght and will: a historical perspective. In: KAGAN,
Robert e KRISTOL, William (Org.).Present dangers: crisis and opportunity in
American foreign and defense policy. San Francisco: Encounter Books, pp. 337-
362, 2000.
55 Ibidem, p. 260.
56 Ibidem, p. 265.
57 PERLE, Richard. Op. cit.
58 KAGAN, Robert; KRISTOL, William. Toward a neo-reaganite foreign policy.Op.
cit.