A crise financeira global e depois: um novo capitalismo?
A crise bancária que teve início em 2007 e tornou-se uma crise global em 2008
provavelmente representará uma virada na história do capitalismo. Além de ser a
crise econômica mais severa enfrentada pelas economias capitalistas desde 1929,
é também uma crise social que, segundo previsões da Organização Internacional
do Trabalho, elevou o número de desempregados de cerca de 20 milhões para 50
milhões ao fim de 2009. Segundo a FAO, com a queda da renda dos pobres devido à
crise e a manutenção dos preços internacionais de mercadorias alimentares em
níveis elevados, o número de pessoas desnutridas no mundo aumentou em 11% em
2009 e, pela primeira vez, superou um bilhão. As perguntas levantadas por essa
crise profunda são muitas. Por que aconteceu? Por que as teorias, as
organizações e as instituições que emergiram das crises anteriores não a
impediram? Terá sido inevitável, dada a natureza instável do capitalismo, ou
foi conseqüência de desdobramentos ideológicos perversos desde a década de
1980? Dado que o capitalismo é um sistema econômico essencialmente instável,
existe a tentação de dar resposta afirmativa a essa pergunta, mas isso seria um
erro. Neste artigo, resumirei a grande mudança dos mercados financeiros
mundiais que ocorreu após o fim do sistema de Bretton Woods em 1971 e a
associarei à financeirizaçãoe à hegemonia de uma ideologia reacionária, o
neoliberalismo.A financeirização será aqui entendida como um arranjo financeiro
distorcido, baseado na criação de riqueza financeira artificial, ou seja,
riqueza financeira desligada da riqueza real ou da produção de bens e serviços.
O neoliberalismo, por sua vez, não deve ser compreendido apenas como um
liberalismo econômico radical, mas também como uma ideologia hostil aos pobres,
aos trabalhadores e ao Estado de bem-estar social. Sustentarei que esses
desdobramentos perversos e a desregulação do sistema financeiro, combinados com
a recusa de se regular inovações financeiras posteriores, foram os novos fatos
históricos responsáveis pela crise. O capitalismo é intrinsecamente instável,
mas uma crise tão profunda e danosa quanto a atual era desnecessária: poderia
ter sido evitada se o Estado democrático tivesse sido capaz de resistir à
desregulação dos mercados financeiros.
DOS TRINTA ANOS DOURADOS À ERA NEOLIBERAL
A crise global de 2008 começou como costumam começar as crises financeiras em
países ricos e foi causada pela desregulação dos mercados financeiros e pela
especulação selvagem que essa desregulação permitiu. A desregulação foi o fato
histórico novo que abriu as portas para a crise. Uma explicação alternativa
sustenta que a política monetária do US Federal Reserve Bank depois de 2001/
2002 manteve as taxas de juros baixas demais por tempo demais, o que teria
levado ao grande aumento da oferta de crédito necessário para produzir os
elevados níveis de alavancagem associados à crise. Entendo que a estabilidade
financeira exige limitar a expansão de crédito, enquanto a política monetária
prescreve manter a expansão do crédito durante as recessões, mas não se pode
inferir que a prioridade atribuída a esta última tenha "causado" a crise.
Trata-se de uma explicação conveniente para macroeconomistas neoclássicos para
quem apenas "choques exógenos" (uma política monetária equivocada, no caso) são
capazes de causar uma crise que, do contrário, os mercados eficientes
evitariam. A política de expansão monetária conduzida por Alan Greenspan,
presidente do Federal Reserve, pode ter contribuído para a crise. Mas as
expansões de crédito são fatos comuns que nem sempre levam a crises, ao passo
que uma desregulação profunda como a que se deu na década de 1980 é um fato
histórico novo de monta que ajuda a explicar a crise. O erro de política que
Alan Greenspan reconheceu publicamente em 2008 não se relacionava com sua
política monetária,mas com o apoio que deu à desregulação. Em outras palavras,
Greenspan reconheceu a captura do Fed e dos bancos centrais em geral por um
setor financeiro que sempre exigiu a desregulação. Como observou Willen Buiter
num simpósio posterior à crise realizado no Federal Reserve Bank, os grupos de
interesse ligados ao setor financeiro não se dedicam a corromper as autoridades
monetárias,mas essas autoridades internalizaram "como que por osmose, os
objetivos, interesses e percepções da realidade adotados por interesses
privados que deveriam regular e monitorar em nome do interesse público" 1.
Em países em desenvolvimento, as crises financeiras costumam ser crises de
balança de pagamentos ou monetárias, e não bancárias. Embora os atuais e
elevados déficits em conta corrente dos Estados Unidos, associados aos elevados
superávits em conta corrente dos países asiáticos em crescimento acelerado e de
países exportadores de commodities, tenham causado um desequilíbrio financeiro
global ao enfraquecerem o dólar americano, a atual crise não se originou desse
desequilíbrio. A única ligação entre o desequilíbrio e a crise financeira está
em que os países que apresentavam elevados déficits em conta corrente eram
também aqueles em que empresas e famílias estavam mais endividadas e que teriam
maiores dificuldades de recuperação, enquanto nos países superavitários ocorria
o contrário.Quanto maior a alavancagem das instituições financeiras e não
financeiras e das famílias de um país, mais severo será o impacto da crise
sobre sua economia nacional. A crise financeira geral partiu da crise dos
subprimes, ou,mais precisamente,de hipotecas oferecidas a clientes de qualidade
de crédito inferior que eram depois agrupadas em títulos complexos e opacos,
cujo risco associado era de avaliação difícil, senão impossível, para os
compradores. Tratava-se de um desequilíbrio em um minúsculo setor que, em tese,
não deveria ter causado tamanha crise, mas o fez porque nos anos anteriores o
sistema financeiro internacional fora tão intimamente integrado em um esquema
de operações financeiras securitizadas que era essencialmente frágil,
principalmente porque as inovações e a especulação financeiras tornaram o
sistema financeiro como um todo altamente arriscado.
A chave para entender a crise global de 2008 é situá-la historicamente e
reconhecer ter sido conseqüência de um grande passo atrás, especialmente para
os Estados Unidos. O desenvolvimento capitalista no país foi muito bem-sucedido
após sua independência, e desde o princípio do século XX representou uma
espécie de padrão para os demais países; a escola da regulação francesa chama o
período que principia naquele momento de "regime fordista de acumulação". Na
medida em que, concomitantemente, emergiu uma classe de profissionais liberais
situada entre a classe capitalista e a trabalhadora, em que os executivos
profissionais das grandes corporações obtiveram autonomia em relação aos
acionistas e a burocracia pública que gere o aparelho do Estado aumentou em
tamanho e influência, outros analistas o chamaram de "capitalismo organizado",
ou "tecnoburocrático"2. O sistema econômico desenvolveu-se e tornou-se
complexo. A produção deslocou-se das empresas familiares para organizações
empresariais grandes e burocráticas, dando origem a uma nova classe de
profissionais liberais. Esse modelo de capitalismo enfrentou seu primeiro
grande desafio quando o crashda bolsa de 1929 transformou-se na Grande
Depressão da década de 1930.
Na década de 1970, o quadro alterou-se com a transição dos 30 anos dourados do
capitalismo(1948-1977) para o capitalismo financeirizado, ou capitalismo
encabeçado pelo setor financeiro - um modo de capitalismo intrinsecamente
instável3. Enquanto a era dourada foi marcada por mercados financeiros
regulados,estabilidade financeira, elevadas taxas de crescimento econômico e
uma redução da desigualdade,o oposto ocorreu nos anos do neoliberalismo:as
taxas de crescimento diminuíram, a instabilidade financeira aumentou
rapidamente e a desigualdade cresceu, privilegiando principalmente os dois por
cento mais ricos de cada sociedade nacional. Embora a redução das taxas de
crescimento e lucro ao longo da década de 1970 nos Estados Unidos e a
experiência da estagflação tenham levado a uma crise muito menor do que a
Grande Depressão ou a atual crise financeira global, esses fatos históricos
novos foram o bastante para levar o sistema de Bretton Woods ao colapso e
desencadear a financeirização e a contra-revolução neoliberal ou
neoconservadora. Não foi coincidência que os dois países desenvolvidos de pior
desempenho econômico na década de 1970 - os Estados Unidos e o Reino Unido -
tenham originado o novo arranjo econômico e político. Nos Estados Unidos, após
a vitória de Ronald Reagan nas eleições presidenciais de 1980, vimos a subida
ao poder de uma coalizão política de rentistas e financistas que defendiam o
neoliberalismo e a prática da financeirização, em lugar da antiga coalizão
capitalista-profissional de altos executivos, da classe média e do trabalho
organizado que caracterizara o período fordista4. Assim, na década de 1970 a
macroeconomia neoclássica substituiu a keynesiana e os modelos de crescimento
substituíram a economia do desenvolvimento5 como o mainstreamensinado nos
cursos de pós-graduação das universidades6. Não apenas economistas neoclássicos
como Milton Friedman e Robert Lucas, mas os da Escola Austríaca (Friedrich
Hayek) e da Escola da Escolha Pública (James Buchanan) conquistaram influência
e, com a colaboração de jornalistas e outros intelectuais públicos
conservadores, construíram a ideologia neoliberal com base nas antigas idéias
do laissez-fairee numa economia matemática que oferecia legitimidade
"científica" ao novo credo7. O objetivo explícito era reduzir os salários
indiretos por meio da "flexibilização" das leis de proteção ao trabalho, fossem
as que representavam custos diretos para as empresas, fossem as que envolviam a
redução dos benefícios sociais proporcionados pelo Estado. O neoliberalismo
também procurava reduzir o porte do aparelho do Estado e desregular todos os
mercados, principalmente, os financeiros. Alguns dos argumentos usados para
justificar a nova abordagem foram a necessidade de motivar o trabalho duro e
recompensar os "melhores", a defesa da viabilidade dos mercados auto-regulados
e dos mercados financeiros eficientes, a alegação de que há apenas indivíduos e
não uma sociedade, a adoção do individualismo metodológico ou de um método
hipotético dedutivo em ciências sociais e, por fim, a negação do conceito de
interesse público que apenas faria sentido se houvesse de fato uma sociedade.
Com o capitalismo neoliberal emergiu um novo regime de acumulação: a
financeirização, ou capitalismo encabeçado pelo setor financeiro. O
"capitalismo financeiro" antevisto por Rudolf Hilferding8, em que o capital
bancário e o industrial se fundiriam sob o controle do primeiro, não chegou a
ocorrer, mas materializaram-se a globalização financeira - a liberalização dos
mercados financeiros e um grande aumento dos fluxos financeiros em torno do
mundo - e o capitalismo encabeçado pelo setor financeiro, ou capitalismo
financeirizado. Suas três características centrais são: um enorme aumento do
valor total dos ativos financeiros em circulação no mundo como conseqüência da
multiplicação dos instrumentos financeiros facilitada pela securitização e
pelos derivativos; a separação entre a economia real e a economia financeira,
com a criação descontrolada de riqueza financeira fictícia em benefício dos
rentistas capitalistas; e um grande aumento da taxa de lucro das instituições
financeiras, sobretudo de sua capacidade de pagamento de grandes bonificações
aos operadores financeiros por sua habilidade de aumentar as rendas
capitalistas9. Outra maneira de expressar a profunda mudança dos mercados
financeiros associada à financeirização é dizer que o crédito deixou de se
basear principalmente em empréstimos de bancos a empresas no contexto do
mercado financeiro regular, para se basear cada vez mais em títulos negociados
por investidores financeiros(fundos de pensão, fundos de hedge, fundos mútuos)
nos mercados de balcão. A adoção de "inovações financeiras" complexas e
obscuras,combinada com um enorme aumento do crédito sob a forma de títulos,
levou àquilo que Henri Bourguinat e Eric Brys chamaram "uma disfunção
generalizada do genoma das finanças"10, na medida em que tal mistura de
inovações financeiras ocultava e ampliava o risco envolvido em cada inovação.
Essa mistura, combinada com a especulação clássica, levou o preço dos ativos
financeiros a aumentar, ampliando artificialmente a riqueza financeira ou o
capital fictício, que se expandiu a uma taxa muito mais elevada do que a da
produção, ou riqueza real. Nesse processo especulativo, os bancos representaram
um papel ativo porque, como destaca Robert Guttmann, "a fenomenal expansão do
capital fictício foi assim sustentada por bancos que direcionaram muito crédito
aos compradores de ativos para financiar suas transações especulativas com alto
grau de alavancagem e, portanto, em escala muito ampliada"11. Dada a competição
vinda dos investidores institucionais, cuja participação no crédito total não
deixou de crescer, os bancos comerciais decidiram participar do processo e usar
o shadow bank system, ou sistema bancário paralelo, que estava sendo
desenvolvido para "limpar" de seus balanços patrimoniais os riscos envolvidos
nos novos contratos: isso se faz pela transferência das inovações financeiras
arriscadas a investidores financeiros, as securitizações, os swapsde
inadimplência em crédito e os veículos especiais de investimento12. A incrível
rapidez que caracterizava o cálculo e a transação desses contratos complexos
negociados em todo o mundo foi possível, naturalmente, graças à revolução da
tecnologia da informação, com o respaldo de computadores poderosos e
softwaresinteligentes. Em outras palavras, a financeirização foi alimentada
também pelo progresso tecnológico.
A principal contribuição de Adam Smith à economia foi a distinção entre a
riqueza real, baseada em produção, e a riqueza fictícia. Marx, no volume III de
O Capital, enfatizou essa distinção com seu conceito de "capital fictício", que
corresponde em linhas gerais ao que chamo de criação de riqueza fictícia
associada à financeirização: o aumento artificial do preço dos ativos como
conseqüência do aumento da alavancagem. Marx referiu-se à expansão do crédito
que, mesmo em seu tempo, fazia com que o capital parecesse duplicar, ou mesmo
triplicar13. A multiplicação, agora, é muito maior: se tomarmos como base a
oferta de moeda nos Estados Unidos em 2007 (US$9.4 trilhões), a dívida
securitizada naquele ano era quatro vezes maior e a soma dos derivativos, dez
vezes maior14. A revolução que representou a tecnologia da informação foi,
evidentemente, instrumental para essa mudança, não só ao garantir a velocidade
das transações financeiras, mas também ao permitir complicados cálculos de
risco que, embora incapazes de evitar a incerteza intrínseca envolvida em
eventos futuros, conferiu aos jogadores a sensação, ou a ilusão, de que suas
operações eram prudentes e praticamente livres de risco.
Por meio de inovações financeiras arriscadas, o sistema financeiro como um
todo, composto de bancos e investidores financeiros, pode criar riqueza
fictícia e capturar uma maior fatia da renda nacional, ou da riqueza real.Como
indicou um relatório da UNCTAD:"Um número excessivo de agentes procurava
extrair retornos de dois dígitos de um sistema econômico que cresce apenas na
faixa de um dígito"15. A riqueza financeira tornou-se autônoma da produção.
Como mostra a Figura_1, entre 1980 e 2007 os ativos financeiros cresceram cerca
de quatro vezes mais que a riqueza real - o crescimento do PIB. Assim, a
financeirização não é apenas um dos nomes feios criados por economistas de
esquerda para caracterizar realidades confusas. É o processo, legitimado pelo
neoliberalismo, por meio do qual o sistema financeiro, que é não apenas
capitalista mas também liberal, cria riqueza financeira artificial. E mais, é
também o processo pelo qual os rentistas associados aos profissionais liberais
do setor financeiro conquistam o controle sobre uma parte substancial do
excedente econômico que a sociedade produz - e a renda se concentra nos um ou
dois por cento mais ricos da população.
Na era do domínio neoliberal,os ideólogos do neoliberalismo afirmavam que o
modelo anglo-saxônico era o único caminho que levava ao desenvolvimento
econômico. Um dos muitos exemplos patéticos dessa alegação foi a afirmação, por
parte de um jornalista, de que todos os países estavam sujeitos a uma "camisa-
de-força de ouro" - o modelo anglo-saxônico de desenvolvimento. Isso era
evidentemente falso, como demonstrava o rápido crescimento dos países
asiáticos, mas, sob a influência dos Estados Unidos, muitos países agiam como
se a isso estivessem sujeitos. Para medir o grande fracasso econômico do
neoliberalismo, compreender o mal causado por esse comportamento global, temos
apenas que comparar os trinta anos dourados com os trinta anos neoliberais. Em
termos de instabilidade financeira, embora seja sempre problemático definir e
medir crises financeiras, fica claro que sua incidência e freqüência aumentaram
muito:segundo Bordo e outros16, enquanto no período de 1945 a 1971 o mundo
passou por apenas 38 crises financeiras, entre 1973 e 1997 passou por 139
delas, ou seja, no segundo período houve entre três e quatro vezes mais crises
do que no primeiro. Segundo um critério diferente, Reinhart e Rogoff17
identificaram apenas uma crise bancária de 1947 a 1975 e 31 de 1976 a 2008. A
Figura_2, que apresenta dados desses mesmos autores, mostra a proporção de
países com crises bancárias de 1900 a 2008, ponderada pela participação na
renda mundial: o contraste entre a estabilidade da era de Bretton Wood e a
instabilidade posterior à liberalização financeira é impressionante. Com base
no livro recentemente lançado por esses autores18, calculei a porcentagem de
anos em que países enfrentaram uma crise bancária nesses dois períodos de igual
número de anos. O resultado confirma a diferença absoluta entre os trinta anos
gloriosos e a era da financeirização: no período entre 1949 e 1975, a soma de
pontos percentuais atingiu 18, contra 361 no período a partir de 1976!
Associado a isso, as taxas de crescimento caíram de 4,6% ao ano nos trinta anos
durados (1947-1976) para 2,8% nos trinta anos que se seguiram. E, para
completar, a desigualdade, que, para surpresa de muitos, diminuíra nos trinta
anos dourados, aumentou fortemente no período pós-Bretton Woods19.
Boyer, Dehove e Plihon, depois de documentar o aumento da instabilidade
financeira desde a década de 1970 e, principalmente, nas décadas de 1990 e
2000, observou que essa "sucessão de crises bancárias nacionais poderia ser
encarada como uma crise global originada nos países desenvolvidos e que se
alastrou para os países em desenvolvimento, os países recentemente
financeirizados e os países em transição"20. Em outras palavras, no contexto do
neoliberalismo e da financeirização, o capitalismo passava por mais do que
apenas crises cíclicas: estava experimentando uma crise permanente. O caráter
perverso do sistema econômico global que o neoliberalismo e a financeirização
produziram torna-se evidente ao considerarmos os salários e a alavancagem no
núcleo do sistema - os Estados Unidos. Uma crise financeira é, por definição,
uma crise causada pela má alocação de crédito e aumento da alavancagem. A atual
crise originou-se em hipotecas que as famílias tomadoras deixaram de pagar e na
fraude com subprimes. A estagnação dos salários na era neoliberal (explicada
não exclusivamente pelo neoliberalismo, mas também pela pressão sobre os
salários exercida pelas importações baseadas em mão-de-obra barata e pela
imigração) implicava um problema efetivo de demanda - problema perversamente
"resolvido" pela expansão do endividamento das famílias. Enquanto os salários
permaneciam estagnados, o endividamento das famílias aumentou de 60% do PIB em
1990 para 98% em 2007.
UMA CRISE "INEVITÁVEL"?
As crises financeiras ocorreram no passado e voltarão a ocorrer no futuro, mas
uma crise econômica tão profunda como a atual poderia ter sido evitada. Se,
depois de sua ocorrência, os governos dos países ricos não tivessem acordado
subitamente e adotado políticas keynesianas de redução de taxas de juros,
aumento drástico da liquidez e, principalmente, expansão fiscal, esta crise
provavelmente teria causado maior dano à economia mundial do que a Grande
Depressão. O capitalismo é instável e as crises lhe são intrínsecas, mas, dado
que muito se fez para evitar uma repetição da crise de 1929, não bastam a
natureza cíclica das crises financeiras ou a ganância dos financistas para
explicar uma crise tão severa quanto a atual. Sabemos que a luta por ganhos de
capital fáceis e volumosos em transações financeiras e por bonificações
correspondentemente grandes para os operadores individuais é mais forte do que
a luta por lucros em serviços e produção. Os profissionais de finanças
trabalham com um tipo muito especial de "mercadoria", com um ativo fictício que
depende de convenções e confiança - dinheiro e ativos financeiros, ou contratos
financeiros -, ao passo que os demais empreendedores lidam com produtos reais,
mercadorias reais e serviços reais. O fato de os profissionais chamarem seus
ativos de "produtos" e novos tipos de contratos financeiros, de "inovações",
não altera sua natureza. O dinheiro pode ser criado e desaparecer com relativa
facilidade - o que faz das finanças e da especulação irmãs gêmeas. Na
especulação, os agentes financeiros estão permanentemente sujeitos a profecias
auto-realizáveis, ou ao fenômeno que os representantes da Escola da Regulação21
chamam de racionalidade auto-referenciale George Soros22 batiza de
reflexividade: compram ativos prevendo que seu preço irá aumentar, e os preços
efetivamente aumentam porque suas compras os pressionam para cima. Então, com a
crescente complexidade das operações financeiras, surgem agentes intermediários
entre os investidores individuais e os bancos ou bolsas - operadores que não
estão sujeitos aos mesmos incentivos que seus agenciados;pelo contrário, são
motivados por ganhos no curto prazo que aumentam suas bonificações, ou suas
carteiras de obrigações ou ações. Por outro lado, sabemos como as finanças se
tornam distorcidas e perigosas quando não estão orientadas para o financiamento
de produção e comunicação, mas para o de "operações de tesouraria" - um
eufemismo para especulação - por parte de empresas e, principalmente, dos
bancos comerciais e demais instituições financeiras. A especulação sem crédito
tem alcance limitado;financiada ou alavancada, torna-se arriscada e ilimitada -
ou quase, porque quando o endividamento dos investidores financeiros e a
alavancagem das instituições financeiras se tornam elevados demais,
investidores e bancos subitamente percebem que o risco se tornou insuportável e
prevalece o efeito-manada, como se deu em outubro de 2008: a perda de confiança
que se insinuava nos meses anteriores transformou-se em pânico e irrompeu a
crise.
Sabemos de tudo isso há muitos anos, especialmente desde a Grande Depressão,
que foi uma grande fonte de aprendizado social. Na década de 1930, Keynes e
Kalecki desenvolveram novas teorias econômicas que melhor explicavam como
trabalhar com sistemas econômicos e conferiram à política econômica muito mais
eficácia na estabilização dos ciclos econômicos, ao passo que pessoas sensatas
alertaram economistas e políticos para os perigos dos mercados livres de
controles. No mesmo sentido, John Kenneth Galbraith publicou em 1954 seu livro
clássico sobre a Grande Depressão; Charles Kindleberger publicou o seu em 1973.
Em 1989 esse último autor publicou a primeira edição de seu trabalho Manias,
panics, and crashes.Com base nesse aprendizado, os governos construíram
instituições, sobretudo os bancos centrais, e desenvolveram sistemas
reguladores competentes nos níveis nacional e internacional (Bretton Woods),
para controlar o crédito e evitar crises financeiras ou reduzir sua intensidade
e seu escopo. Por outro lado, desde o começo da década de 1970 Hyman Minsky23
desenvolvera a teoria keynesiana fundamental que liga finanças, incerteza e
crises. Antes de Minsky, a literatura sobre ciclos econômicos concentrava-se no
lado real, ou da produção - na inconsistência entre demanda e oferta. Até mesmo
Keynes o fez. Assim, "quando Minsky discute estagnação econômica e identifica a
fragilidade financeira como motor da crise, transforma a questão financeira de
objeto em sujeito da análise"24. A crescente instabilidade do sistema
financeiro é conseqüência de um processo de crescente autonomia dos
instrumentos de crédito e financeiros em relação ao lado real da economia: da
produção e do comércio. No artigo "Financial instability revisited", Minsky
demonstrou que não só as crises econômicas, mas também as financeiras são
endógenas ao sistema capitalista. Estava bem demonstrado que a crise econômica,
ou o ciclo econômico, era endógena; Minsky, no entanto, mostrou que as
principais crises econômicas estavam sempre associadas a crises financeiras
igualmente endógenas. Segundo ele, "a diferença essencial entre a economia
keynesiana e as economias tanto clássica como neoclássica está na importância
dada à incerteza"25. Dado a presença de incerteza, as unidades econômicas são
incapazes de manter o equilíbrio entre seus compromissos de pagamento de caixa
e suas fontes normais de caixa, porque essas duas variáveis operam no futuro, e
o futuro é incerto. Assim, "o fato intrinsecamente irracional da incerteza é
necessário para a compreensão da instabilidade financeira"26. Com efeito, como
as unidades econômicas tendem a ser otimistas no longo prazo e os boomstendem a
tornar-se eufóricos, a vulnerabilidade financeira do sistema econômico tenderá
necessariamente a aumentar.
Isso ocorrerá quando a tolerância do sistema financeiro a choques tiver sido
reduzida por três fenômenos que se acumulam ao longo de boomsprolongados: (1) o
crescimento dos pagamentos financeiros - em balanços patrimoniais e em carteira
- em relação aos pagamentos de renda; (2) a diminuição do peso relativo dos
ativos externos e garantidos no valor total dos ativos financeiros; e (3) a
inclusão, na estrutura financeira, de preços de ativos que refletem
expectativas advindas de um boom ou eufóricas. O gatilho da instabilidade
financeira pode estar em dificuldades financeiras enfrentadas por uma unidade
em particular27.
Há poucas dúvidas quanto às causas imediatas da crise. Encontram-se
essencialmente expressas no modelo de Minsky, que, sem coincidência,foi
desenvolvido na década de 1970. Elas abrangem, como destacou o relatório de
2009 do Grupo dos Trinta, más avaliações de crédito, uso descontrolado de
alavancagem, inovações financeiras mal compreendidas, um sistema falho de
classificação de risco ou ratinge práticas de remuneração com bônus altamente
agressivas que incentivavam a tomada de riscos e os ganhos no curto prazo. Mas
essas causas diretas não vieram do nada e nem podem ser explicadas simplesmente
pela ganância natural. A maioria delas foi resultado (1) da desregulação
deliberada dos mercados financeiros e (2) da decisão de não regular as
inovações financeiras e as práticas de tesouraria dos bancos. Havia regulação,
mas foi desmontada. A crise global foi, principalmente, conseqüência da
flutuação do dólar americano na década de 1970 e, mais diretamente, daquilo que
os ideólogos neoliberais pregaram e implementaram na década de 1980 sob o
eufemismo de "reforma reguladora". Assim, as desregulação e a decisão de não
regular as inovações são os dois principais fatores que explicam a crise.
Essa conclusão é de mais fácil compreensão se considerarmos que a regulação
financeira competente, somada ao compromisso com valores e direitos sociais que
emergiu após a depressão da década de 1930, tenha podido produzir os trinta
anos dourados do capitalismo entre o final da década de 1940 e o começo da de
1970. Nos anos de 1980, contudo, os mercados financeiros foram desregulados e,
ao mesmo tempo, as teorias keynesianas foram esquecidas, o ideário neoliberal
tornou-se hegemônico e economia neoclássica e a teoria da escolha pública que
justificavam a desregulação tornaram-se mainstream. Com isso, a instabilidade
financeira que desde a suspensão da conversibilidade do dólar americano em 1971
ameaçava o sistema financeiro internacional foi perversamente restaurada. A
desregulação e as tentativas de eliminar o Estado assistencialista
transformaram as últimas três décadas nos "trinta anos sombrios do
neoliberalismo".
HEGEMONIA NEOLIBERAL
Esta crise global não era nem necessária, nem inevitável. Aconteceu porque as
idéias neoliberais se tornaram dominantes, porque a teoria neoclássica
legitimou seus principais preceitos e porque a desregulação foi realizada
irresponsavelmente, enquanto as inovações financeiras (principalmente a
securitização e os derivativos) e novas práticas bancárias (principalmente
tornar especulativa também a atividade bancária comercial) permaneceram
desreguladas. Essa ação, associada a essa omissão, tornou as operações
financeiras opacas e altamente arriscadas, abrindo caminho para fraudes
generalizadas. Como isso foi possível? Como pudemos retroceder tanto? Vimos
que, depois da Segunda Guerra Mundial, os países ricos puderam construir um
modelo de capitalismo - o capitalismo democrático e social, assistencialista -
relativamente estável, eficiente e comprometido com uma redução gradual da
desigualdade. Por que, então, o mundo teria regredido ao neoliberalismo e à
instabilidade financeira?
A dominância ou hegemonia liberal verificada desde a década de 1980 tem duas
causas imediatas e um tanto irracionais: o medo do socialismo e a transformação
da economia neoclássica no mainstreamda economia. Primeiro, algumas palavras
sobre o medo do socialismo. Ideologias são sistemas de idéias políticas que
promovem os interesses de classes sociais específicas em dados momentos. Embora
o liberalismo econômico seja, hoje e sempre, necessário para o capitalismo por
justificar a iniciativa privada, o neoliberalismo não o é. Poderia fazer
sentido para Friedrich Hayek e seus seguidores porque, em seu tempo, o
socialismo era uma alternativa plausível que ameaçava o capitalismo. Mas depois
de Budapeste em 1956, ou Praga em 1968,ficou evidente perante todos que a
competição não se dava entre e socialismo, mas entre o capitalismo e o
estatismo, ou a organização tecnoburocrática da sociedade. E depois de Berlim
em 1989, ficou claro, também, que o estatismo não tinha chances de competir em
termos econômicos com o capitalismo. O estatismo era eficaz na promoção da
acumulação primitiva e da industrialização; mas à medida que o sistema
econômico ganhou complexidade, o planejamento econômico revelou-se incapaz de
alocar recursos e promover a inovação. Em economias avançadas, apenas mercados
regulados são capazes de se desincumbir eficientemente dessa tarefa. Assim o
neoliberalismo era uma ideologia extemporânea. Pretendia atacar o estatismo,
que já estava superado e derrotado, e o socialismo que, embora forte e vivo
como ideologia - a ideologia da justiça social -, não apresentava no médio
prazo a possibilidade de se transformar em forma prática de organização da
economia e da sociedade.
Em segundo lugar, não devemos ser complacentes com a macroeconomia neoclássica
e com a economia financeira neoclássica em relação a esta crise28. Usando um
método inadequado (o método hipotético-dedutivo, que é apropriado para ciências
metodológicas) para promover o avanço de uma ciência substantiva como é a
economia (que exige um método empírico, ou histórico-dedutivo), os
macroeconomistas neoclássicos e os economistas financeiros neoclássicos
construíram modelos que não correspondem à realidade, mas são úteis na
justificativa "científica" do neoliberalismo. O método permite-lhes usar
indiscriminadamente a matemática, e esse uso respalda sua alegação de que os
modelos que propõem são científicos. Embora estejam lidando com uma ciência
substantiva que tem um objeto de análise claro, avaliam o caráter científico de
uma teoria econômica não em referência à sua relação com a realidade, ou sua
capacidade de explicar sistemas econômicos, mas à sua consistência matemática,
isto é, o critério das ciências metodológicas29. Não compreendem por que os
keynesianos e os economistas clássicos e antigos institucionalistas usam a
matemática com parcimônia porque seus modelos são deduzidos a partir da
observação de como funcionam os sistemas econômicos e da identificação de
regularidades e tendências. Os modelos neoclássicos hipotético-dedutivos são
castelos matemáticos erguidos sobre o ar e que não têm utilidade prática, a não
ser para justificar mercados auto-regulados e eficientes, ou, em outras
palavras, agir como metaideologia. Esses modelos tendem a ser radicalmente
irreais na medida em que presumem, por exemplo, que não possa haver
insolvências, ou que a moeda não precise ser considerada, ou que os
intermediários financeiros não têm papel a representar nos modelos, ou que o
preço de um ativo financeiro reflete todas as informações disponíveis
relevantes para seu valor etc. etc. Escrevendo sobre o estado da ciência
econômica após a crise, The Economistobservou que "os economistas podem ver-se
seduzidos por seus modelos, enganando-se ao pensar que o que o modelo exclui
não tem importância"30. E se a teoria financeira neoclássica levou a enormes
erros financeiros, a macroeconomia neoclássica é simplesmente inútil. A
percepção deste fato - da inutilidade dos modelos macroeconômicos neoclássicos
- levou Gregory Mankiw31 a escrever, depois de dois anos como presidente do
Conselho de Assessores Econômicos da Presidência dos Estados Unidos, que, para
sua grande surpresa, ninguém em Washington usava as idéias que ele e seus
colegas ensinavam na Academia; o que os formuladores de políticas usavam era
"uma espécie de engenharia" - uma soma de observações práticas e regras
inspiradas por John Maynard Keynes. Considero esse artigo a confissão formal do
fracasso da macroeconomia neoclássica. Paul Krugman foi direto ao ponto: "a
maioria dos macroeconomistas dos últimos trinta anos foi espetacularmente
inútil na melhor das hipóteses e positivamente danosa na pior delas"32.
A hegemonia neoliberal nos Estados Unidos não causou apenas instabilidade
financeira,menores taxas de crescimento e maior desigualdade econômica. Também
implicou um processo generalizado de erosão da confiança social que é,
provavelmente, o traço mais decisivo de uma sociedade sólida e coesa. Quando
uma sociedade perde a confiança em suas instituições e na principal delas, o
Estado, ou o governo (aqui entendido como o a ordem jurídica e o aparelho que a
garante), trata-se de um sintoma de doença social e política. Essa é uma das
conclusões mais importantes a que chegaram os sociólogos norte-americanos desde
a década de 1990. Segundo Robert Putnam e Susan Pharr, as sociedades
desenvolvidas estão menos satisfeitas com o desempenho das instituições
políticas que as representam do que na década de 1960. "O surgimento e a
profundidade dessa desilusão variam de país para país, mas a tendência
descendente é mais duradoura e clara nos Estados Unidos, onde as pesquisas
produziram as evidências mais abundantes e sistemáticas"33. Essa falta de
confiança é conseqüência direta da nova hegemonia de uma ideologia radicalmente
individualista, como o neoliberalismo. Para lançar argumentos contra o Estado,
muitos neoliberais recorreram a um "novo institucionalismo" errôneo, mas as
instituições que coordenam as sociedades modernas contradizem intrinsecamente
os pontos de vista neoliberais, na medida em que essa ideologia procura reduzir
o papel coordenador do Estado e em que o Estado é a principal instituição de
uma sociedade. Evidentemente, os neoliberais ficarão tentados a argüir que, na
verdade, foi o mau funcionamento das instituições políticas que levou ao
neoliberalismo. Mas não há evidências em respaldo dessa posição; pelo
contrário, indicam as pesquisas que a confiança cai dramaticamente depoisde
estabelecida a hegemonia ideológica neoliberal, e não antes.
A COALIZÃO POLÍTICA SUBJACENTE
O neoliberalismo tornou-se dominante por representar os interesses de uma
poderosa coalizão de rentistas e financistas. Como observou Gabriel Palma,
[...] em última análise, a atual crise financeira é o resultado de
algo muito mais sistêmico, uma tentativa de usar o neoliberalismo
(ou, em termos dos Estados Unidos, neoconservadorismo) como uma nova
tecnologia de poder para ajudar a transformar o capitalismo em um
paraíso para os rentistas34.
Em seu artigo Palma enfatiza não ser suficiente entender a coalizão neoliberal
como uma reação aos seus interesses econômicos, como sugeriria uma abordagem
marxista. Além disso, reage à demanda foucaultiana por poder da parte dos
membros da coalizão política no sentido de que "segundo Michel Foucault o
aspecto central do neoliberalismo refere-se ao problema da relação entre poder
político e os princípios de uma economia de mercado"35. A coalizão política de
rentistas e executivos financeiros usou o neoliberalismo como uma "nova
tecnologia de poder" ou como o já discutido "sistema de verdades", primeiro
para conquistar o apoio de políticos, altos funcionários públicos, economistas
neoclássicos e outros intelectuais públicos conservadores e, em segundo lugar,
conquistar o domínio da sociedade.
Há poucas dúvidas de que a coalizão política tenha tido sucesso na captura do
excedente econômico produzido pelas economias capitalistas. Como mostra a
Figura_3, nos anos do neoliberalismo a renda concentrou-se fortemente nas mãos
dos 2% mais ricos da população; se considerarmos apenas o 1% mais rico nos
Estados Unidos,em 1930 controlava 23% da renda disponível total; em 1980, no
contexto dos trinta anos dourados do capitalismo, sua participação caíra para
9%; mas, em 2007, retornara aos 23%!
AS CONSEQÜÊNCIAS IMEDIATAS
Quando irrompeu a crise, os políticos, que haviam sido iludidos pela ilusão da
natureza auto-regulada dos mercados, perceberam seu erro e tomaram quatro
decisões:primeiro, aumentar radicalmente a liquidez por meio da redução da taxa
básica de juros (e todos os demais meios possíveis), já que a crise implicava
um grande aperto de crédito após a perda generalizada de confiança que causou;
segundo, resgatar e recapitalizar os principais bancos, por serem instituições
quase públicas que não podem ir à falência; terceiro, adotar políticas fiscais
expansionistas que se tornaram inevitáveis quando a taxa de juros atingiu a
zona de armadilha de liquidez;e, quarto, regular novamente o sistema
financeiro, tanto doméstica como internacionalmente. Essas quatro reações
apresentaram a orientação correta. Mostraram que os políticos e os formuladores
de políticas logo reaprenderam o que estava "esquecido".Perceberam que o
capitalismo moderno exige não desregulação, mas regulação; que a regulação não
impede, mas permite a coordenação da economia pelo mercado; que quanto mais
complexa uma economia nacional, mais regulada precisa ser se desejarmos nos
beneficiar das vantagens da alocação ou coordenação de recursos pelo mercado;
que a política econômica deve estimular o investimento e manter a economia
estável, não ajustar-se a princípios ideológicos; e que o sistema financeiro
deve financiar investimentos produtivos, não alimentar a especulação. Dessa
forma, sua reação à crise foi forte e decidida. Como era de se esperar, foi
imediata na expansão da oferta de dinheiro, foi relativamente de curto prazo em
termos de política fiscal, e foi de médio prazo em relação ao problema mais
complexo da regulação. É claro que foram cometidos erros. O mais famoso foi a
decisão de permitir que um grande banco como o Lehman Brothers quebrasse. O
pânico de outubro de 2008 foi decorrência direta dessa decisão.É preciso
observar que a resposta dos europeus foi por demais conservadora em termos
monetários e fiscais se comparada à resposta dos Estados Unidos e da China -
provavelmente porque não há um banco central para cada país individualmente.
Por outro lado, os europeus parecem mais dedicados a regular mais vezes seus
sistemas financeiros do que os Estados Unidos ou o Reino Unido.
Em relação à necessidade de regulação financeira internacional ou global,
parece que o aprendizado a respeito disso foi insuficiente, ou que, apesar dos
avanços representados pelas ações econômicas do G-20, a capacidade
internacional de coordenação econômica permanece fraca. Quase todas as medidas
tomadas até o momento reagiram a um tipo de crise financeira - a crise bancária
e suas conseqüências econômicas - e não ao outro grande tipo de crise
financeira, a crise de câmbio, ou balança de pagamentos. Os países ricos
costumam ficar livres desse segundo tipo de crise porque normalmente não tomam,
mas concedem empréstimos internacionais e, quando os tomam, o fazem em suas
próprias moedas. Para os países em desenvolvimento, contudo, as crises de
balança de pagamentos são um flagelo financeiro. A política de crescimento com
poupança externa que lhes recomendam os países ricos não promove seu
crescimento; pelo contrário, envolve elevada taxa de substituição de poupança
doméstica pela externa e causa crises recorrentes de balança de pagamentos36.
Essa crise não irá terminar em breve. A reação dos governos a ela em termos
monetários e fiscais foi tão decisiva que ela não irá se transformar em
depressão, mas levará tempo para se resolver por um motivo básico:as crises
financeiras sempre decorrem de elevado endividamento ou alta alavancagem e da
conseqüente perda de confiança por parte dos credores. Depois de algum tempo
essa confiança pode retornar, mas como observou Richard Koo, ao estudar a
depressão japonesa da década de 1990, "os devedores não se sentirão à vontade
com suas taxas de endividamento e continuarão a poupar"37. Ou, como observou
Michel Aglietta: "a crise sempre segue uma rota longa e dolorosa;com efeito é
necessário reduzir tudo que tenha aumentado excessivamente: o valor, os
elementos da riqueza, o balanço patrimonial dos agentes econômicos"38. Assim,
apesar das corajosas políticas fiscais adotadas pelos governos, a demanda
agregada provavelmente permanecerá débil por alguns anos.
NOVO CAPITALISMO?
O regime fordista e seu último ato, os trinta anos dourados do capitalismo,
encerraram-se na década de 1970. Que novo regime de acumulação o sucederá? Em
primeiro lugar, não será baseado no capitalismo financeirizado, uma vez que
esse último período representou um passo atrás na história do capitalismo. Pelo
contrário,o novo capitalismo que irá emergir desta crise provavelmente retomará
as tendências presentes no capitalismo tecnoburocrático e, especialmente, nos
trinta anos dourados. No ambiente econômico, a globalização continuará a
progredir nos setores comercial e produtivo, não no financeiro; no meio social,
a classe profissional e o capitalismo baseado no conhecimento continuarão a
avançar; em compensação, no meio político o Estado democrático irá se tornar
mais voltado para as políticas sociais e a democracia será mais participativa.
No capitalismo que emerge, a globalização não se encerrará. Não devemos
confundir globalização com financeirização. Apenas a globalização financeira
estava intrinsecamente relacionada com a financeirização; a globalização
comercial e produtiva, não. A China, por exemplo, está plenamente integrada
comercialmente ao restante do mundo e cada vez mais integrada sob o aspecto de
produção, mas permanece relativamente fechada em termos financeiros. Não há
motivos para crer que a globalização comercial e produtiva, assim como a social
e cultural e até mesmo a política (a crescente coordenação política buscada e
praticada pelos principais chefes de Estado), venha a ser interrompida pela
crise. Pelo contrário, a última em especial será ampliada, como já vimos, com a
criação e a consolidação do G-20.
Em segundo lugar, o poder e os privilégios da classe profissional continuarão a
aumentar em relação aos dos capitalistas, porque o conhecimento será cada vez
mais estratégico e o capital o será cada vez menos. Mas poder e privilégios não
aumentarão necessariamente em relação aos da população. O capital irá tornar-se
mais abundante com a crescente introdução de tecnologias poupadoras de capital
e com a acumulação das poupanças dos rentistas. Por outro lado, na medida em
que o número de alunos do ensino superior continua a aumentar, o conhecimento
também se tornará menos escasso.Ademais, a crítica social e a busca por
emancipação política ou respeito aos direitos humanos não se voltarão apenas
contra o capital; a ideologia meritocrática que legitima os ganhos
extraordinários dos profissionais também se verá sob crescente escrutínio.
Em terceiro lugar, a desigualdade de renda nos países ricos provavelmente se
intensificará, embora seu estágio de crescimento seja compatível com uma
redução da desigualdade, na medida em que o progresso tecnológico é
predominantemente poupador de capital, ou seja, reduz os custos ou aumenta a
produtividade do capital. A desigualdade irá se originar, de um lado, do
monopólio relativo do conhecimento e, de outro, da pressão sobre os salários,
vinda da imigração e de importações de países em desenvolvimento e crescimento
acelerado que empregam mão-de-obra barata. Quanto aos países em
desenvolvimento, também não devemos esperar, no curto prazo, uma maior
igualdade, já que muitos deles estão na fase de concentração do desenvolvimento
capitalista. A única grande fonte de redução da desigualdade no curto prazo não
será interna aos países; será conseqüência do fato de que os países em
desenvolvimento e crescimento acelerado continuarão no processo de catch up, e
essa convergência implica uma redistribuição no nível global que talvez possa
compensar a concentração doméstica de renda. A globalização, que na década de
1990 era vista como uma arma dos países ricos e uma ameaça contra os países em
desenvolvimento, demonstrou ser uma grande oportunidade de crescimento para os
países de renda intermediária que contêm uma estratégia de desenvolvimento
nacional. E esse processo de catching upirá reduzir as desigualdades globais.
Quarto, o capitalismo permanecerá instável, mas em menor grau. O aprendizado
social acabará por prevalecer. O capitalismo encabeçado pelo setor financeiro
desmontou instituições e esqueceu as teorias econômicas aprendidas após a
Grande Depressão da década de 1930; desregulou irresponsavelmente os mercados
financeiros e baniu as ideais keynesianas e desenvolvimentistas. Agora, os
países irão dedicar-se a uma nova regulação dos mercados. Não acredito que irão
mais uma vez esquecer as lições aprendidas com esta crise. Não há motivo para
se repetir erros indefinidamente.
O capitalismo irá mudar, mas não devemos superestimar as mudanças imediatas. Os
ricos ficarão menos ricos, mas permanecerão ricos, enquanto os pobres ficarão
mais pobres; só os países de rendimento intermediário dedicados à estratégia
neodesenvolvimentista surgirão da crise mais fortes. A instabilidade econômica
irá diminuir, mas a tentação de retorno ao "jeito normal de operar" será forte.
Em novembro de 2008, os líderes do G-20 firmaram uma declaração comprometendo-
se com uma firme re-regulação de seus sistemas financeiros; em setembro de
2009, reafirmaram esse compromisso. Mas a resistência que já enfrentam é
grande. A esse respeito, a desavisada The Economistfez a observação dramática:
"aplicada aos bancos que lançaram a Grã-Bretanha [ou o mundo] na crise
econômica, é de dar medo [sic]"39. Segundo a imprensa, a re-regulação
provavelmente não irá além da elevação dos requisitos de capital dos bancos - a
estratégia adotada pelo Acordo da Basiléia II (2004) que se revelou
insuficiente para prevenir contra a crise financeira. Essa possibilidade deve
preocupar a todos, mas não é despropositado presumir que as pessoas não estejam
aprendendo com a atual crise. A principal tarefa agora é restaurar o poder
regulador do Estado de maneira a permitir que os mercados cumpram sua função de
coordenação econômica. Há diversas inovações ou práticas financeiras que
poderiam ser simplesmente proibidas. Todas as transações deveriam ser muito
mais transparentes. O risco financeiro deveria ser sistematicamente limitado.
Quando Marx analisou o capitalismo, a classe capitalista detinha o monopólio do
poder político e o autor presumiu que isso só mudaria mediante uma revolução
socialista. Não previu que o regime democrático ou o Estado democrático que
emergiriam no século XX teriam como um de seus papéis controlar a violência e a
cegueira que caracterizam o capitalismo. Ademais, Marx não previu que a
burguesia teria que compartilhar o poder com a classe profissional, na medida
em que o fator estratégico de produção passasse a ser o conhecimento em lugar
do capital, e com a classe trabalhadora, na medida em que os trabalhadores
exercessem seu direito de voto. Apesar de alguns percalços no caminho, o
desenvolvimento econômico tem se feito acompanhar de melhorias no alcance e na
qualidade da democracia.No início do século XX, a primeira forma de democracia
foi a democracia de elite, ou democracia liberal. Depois da Segunda Guerra
Mundial, principalmente na Europa, isso se converteu na democracia social e de
opinião pública. Embora a transição para a democracia participativa e - um
passo adiante - a democracia deliberativa ainda não esteja claramente em
andamento, antevejo que a democracia continuará a progredir porque continuará a
pressão dos trabalhadores e da classe média por maior participação pública40.
Tal pressão poderá, por vezes, perder ímpeto, seja por causa da frustração do
povo com seu lento avanço, seja, o que é mais importante, porque ideologias
como o neoliberalismo são essencialmente orientadas para desengajar o público:
apenas os interesses privados lhes são relevantes. Esse tipo de ideologia
apenas torna cínicos os ricos; na medida em que se torna hegemônica, deixa as
classes pobre e média desiludidas e politicamente paralisadas. Eventualmente,
contudo, e sobretudo após crises como a de 2008, o compromisso cívico e o
desenvolvimento político serão retomados devido à indignação e ao interesse
próprio.
O capitalismo global irá mudar mais rapidamente depois dessa crise e a mudança
será para melhor. O aprendizado social é árduo, mas ocorre. Geoff Mulgan
observou que "a lição do capitalismo em si é a de que nada é permanente - 'tudo
o que é sólido desvanece', como escreveu Marx. Dentro do capitalismo há tantas
forças que o minam quanto há as que o impelem"41. Teremos, então, um novo
capitalismo? Em certa medida, sim. Será, ainda, um capitalismo global, mas não
mais neoliberal ou financeirizado. Mulgan é otimista a esse respeito:"
Assim como a monarquia abandonou o centro do palco e tornou-se mais
periférica, também o capitalismo deixará de dominar a sociedade e a
cultura como hoje faz. O capitalismo poderá, em suma, tornar-se um
servo em vez de mestre e a queda da atividade econômica irá acelerar
essa mudança42.
Compartilho dessa visão porque a história mostra que desde o século XVIII o
progressoeo desenvolvimentoeconômico, social, político e ambiental vêm de fato
ocorrendo. Essa crise global demonstrou uma vez mais que o progresso, ou
desenvolvimento, não é um processo linear. A democracia nem sempre prevalece
sobre o capitalismo, mas o pode regular. Às vezes a história retrocede. O
capitalismo neoliberal e financeirizado foi um momento assim. As forças cegas e
poderosas por trás do capitalismo irrestrito controlaram o mundo por algum
tempo. Mas, desde a revolução capitalista e do aumento sistemático do excedente
econômico por ela promovido, vem ocorrendo uma mudança gradual para um mundo
melhor, uma mudança do capitalismo para o socialismo democrático. Não porque a
classe trabalhadora incorpore valores futuros e universais, ou porque as elites
se venham tornando cada vez mais esclarecidas. A história demonstra serem
falsas ambas as hipóteses. Pelo contrário, o que ocorre é um processo dialético
entre o povo e as elites, entre a sociedade civil e as classes dominantes, em
que o poder relativo do povo e da sociedade civil aumenta continuamente. O
desenvolvimento econômico e a tecnologia da informação franqueiam o acesso de
um número crescente de pessoas à educação e à cultura. A democracia provou não
ser democrática, mas conferir sistematicamente poder ao povo. Estamos distantes
da democracia participativa e as elites permanecem poderosas, mas seu poder
relativo diminui.
É verdade que a hegemonia cultural e política das elites, ou dos ricos sobre os
pobres, ainda é um fato rotineiro. Como destacou Michel Foucault,
[...] a verdade não existe fora do poder ou sem ele. A verdade é
parte deste mundo; é nele produzida por meio de múltiplas coações e
nele produz efeitos de poder regulador. Cada sociedade conta com seu
regime de verdade, suas "políticas gerais" da verdade, isto é, o
conjunto de discursos que escolhe e põe a operar como verdadeiros43.
Mas esse regime de verdade não é fixo nem inexpugnável. A política democrática
enfrenta permanentemente a ideologia do establishment. O neoliberalismo acaba
de ser derrotado; outros regimes de verdade terão que ser criticados e
derrotados por novas idéias e atos, por movimentos sociais e pelo protesto
ativo dos pobres e impotentes, por políticos e intelectuais que não se limitem
a repetir slogans. Com isso, o progresso ocorrerá, ainda que lento,
contraditório e sempre surpreendente por ser imprevisível.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA é professor emérito da Fundação Getúlio Vargas
(FGV).
[*] Uma versão ampliada deste artigo aparecerá no livro Depois da crise, a
China no centro do mundo, a ser publicado pela editora da Fundação Getúlio
Vargas no segundo semestre de 2010.
[1] Buiter, Willen. "Central banks and financial crises". Kansas City:
Symposium of the Federal Reserve Bank Kansas City, 2008, ago. 21-23, p. 106.
Disponível em www.kansascityfed.org/publicat/sympos/2008/Buiter.09.06.08.pdf.
[2] Cf. Galbraith, John K. The new industrial state. Nova York: Mentor Books,
1979 [1967]; Bresser-Pereira, Luiz Carlos. "A emergência da tecnoburocracia".
In: Tecnoburocracia e contestação. Rio de Janeiro: Vozes, 1972, pp. 17-140; Offe, Claus. Disorganized capitalism. Ed. John Keane.
Cambridge, UK, Polity Press, 1985;Lash,Scott e Urry, John. The end of organized
capitalism. Cambridge: Polity Press, 1987.
[3] Ou os "30 anos de glória do capitalismo", como costuma ser chamado o
período na França. Stephen Marglin ("Lessons of the golden age: an overview".
In: Marglin e Schor, Juliet (eds.). The golden age of capitalism. Oxford:
Clarendon Press, 1990, pp. 1-38) foi provavelmente o primeiro cientista social
a utilizar a expressão "era dourada do capitalismo
[4] Um momento clássico dessa coalizão foi o acordo firmado em 1948 pelo
sindicato United Auto Workers e as empresas do setor automotivo,que garantiu
aumentos salariais proporcionais aos ganhos de produtividade.
[5] Por "economia do desenvolvimento" designo a contribuição de economistas
como Rosenstein-Rodan,Ragnar Nurkse, Gunnar Myrdal, Raul Prebisch, Hans Singer,
Celso Furtado e Albert Hirschman. Chamo "desenvolvimentismo" a estratégia de
desenvolvimento encabeçada pelo Estado que resultou da análise econômica e
política desses autores.
[6] O ensino de economia nos curso de graduação é mais correto porque neles as
expectativas racionais e os modelos envolvendo otimização matemática estão
geralmente ausentes.
[7] A economia neoclássica abusou da matemática. Ainda assim, embora seja uma
ciência social substantiva que adota um método hipotético-dedutivo, não deve
ser confundida com a econometria, que também faz uso extensivo da matemática,
mas, na medida em que se trata de uma ciência metodológica, o faz de forma
legítima. Os econometristas costumam acreditar ser economistas neoclássicos,
mas na verdade são economistas empíricos que ligam pragmaticamente variáveis
econômicas e sociais (cf. Bresser-Pereira. "The two methods and the hard core
of economics". Journal of Post Keynesian Economics, 2009, vol. 31, nº 3, pp.
493-22).
[8] Hilferding, Rudolf. El capital financiero. Madri: Editorial Tecnos, 1963
[1910] .
[9] Gerald E. Epstein, que editou Financialization and the world economy,
define financeirização de maneira mais ampla: "financeirização significa o
maior papel dos motives financeiros, dos mercados financeiros,dos agentes
financeiros e das instituições financeiras na operação das economias domésticas
e internacional" (Epstein. "Introduction: financialization and the world
economy". In: Financialization and the world economy. Cheltenham:Edward
Elgar,2005,p.3).
[10] Bourguinat, H. e Brys, E. L'arrogance de la finance: comment le théorie
financière a produit le krach. Paris: La Découverte, 2009, p. 45.
[11] Guttmann, R. "A primer on finance-led capitalism and its crisis". Revue
dela Régulation, 2008, nº 3/4, p.11.
[12] Cintra, Marcos Antonio Macedo e Farhi, Maryse. "A crise financeira e o
shadow banking". Novos Estudos Cebrap, 2008, nº 82, pp. 35-55, p. 36.
[13] Nas palavras de Marx: "Com o desenvolvimento do capital remunerado a juros
e do sistema de crédito, todo o capital parece duplicar-se e,em alguns pontos,
triplicar-se, por meio das diversas maneiras pelas quais o mesmo capital, ou
até a mesma titularidade, surge em diversas mãos sob diferentes formas. A maior
parte desse 'capital-moeda' é puramente fictícia" (Capital. Londres: Penguin
Books, vol. III, 1981 [1894], p. 601).
[14] Ver Roche, David e McKee, Bob. New monetarism. Londres: Independent
Strategy, (2007, p. 17. Em 2007 a soma da dívida securitizada era três vezes
maior do que em 1990, e o total dos derivativos, seis vezes maior.
[15] UNCTAD."The global economic crisis: systemic failures and multilateral
remedies". Genebra: Organização das Nações Unidas, Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, 2009, p. XII.
[16] Bordo, M. e outros. "Is the crisis problem growing more severe?". Economic
Policy, 2001, abr., pp. 53-82.
[17] Reinhart e Rogoff. "Banking crises: an equal opportunity menace". NBER
Working Paper, 2008, nº 14.587, dez., Apêndice, p. 6.
[18] Idem. This time is different: Eight Centuries of financial folly.
Princeton: Princeton University Press, 2009, p. 74, Fig 5.3.
[19] Forneço os dados aplicáveis a seguir.
[20] Boyer, Robert, Dehove, Mario e Plihon,Dominique.Les crises financières.
Paris:La Documentation Française, 2005, p. 23.
[21] Aglietta, Michel. Macroéconomie financière. Paris: La Découverte, 1995;
Orléan, André. Le pouvoir de la finance. Paris: Odile Jacob, 1999.
[22] Soros, George. The crisis of global capitalism. Nova York: Public Affairs,
1998.
[23] Minsky, Hyman. "Financial instability revisited". In: Inflation, recession
and economic policy. Armonk: Wheatsheaf Books, 1982 [1972], pp. 117-61.
[24] Nascimento Arruda, José Jobson. A florescência tardia. São Paulo: tese de
doutorado, Departamento de História da Universidade de São Paulo, 2008, p.71.
[25] Minsky, op. cit., p. 128.
[26] Ibidem, p. 120.
[27] Ibidem, p. 150.
[28] Excluo dessa crítica a microeconomia marshalliana porque a considero
(complementada pela teoria dos jogos) uma ciência metodológica - a teoria da
decisão econômica -, cujo desenvolvimento exige um método hipotético-dedutivo.
Lionel Robbins (Essay on the nature and significance of economic
science.Londres:Macmillan, 1946 [1932]) estava equivocado ao definir a economia
como a "ciência da escolha", porque a economia é a ciência que busca explicar
os sistemas econômicos, mas Robbins percebeu intuitivamente a natureza da
grande contribuição de Alfred Marshall.
[29] Bresser-Pereira, "The two methods and the hard core of economics", op.
cit.
[30] "Briefing the state of economics". The Economist, 18/07/2009, p.69.
[31] Mankiw, G. "The macroeconomist as scientist and engineer". Journal of
Economic Perspectives, 2006, vol. 20, nº 4, pp. 29-46.
[32] Krugman, P."3rd Lionel Robbins lecture at the London School of Economics".
Relatado em The Economist, 10/06/2009, p. 68.
[33] Putnam, R. e Pharr, S. "Introdução". In: Disaffected democracies.
Princeton: Princeton University Press, 2000, p. 8.
[34] Palma, op. cit., p. 833.
[35] Ibidem, p. 840.
[36] Bresser-Pereira, Globalization and competition, op. cit.
[37] Koo, R. The holy grail of macroeconomics: lessons from Japan's great
recession. Nova York: Wiley, 2008.
[38] Aglietta. La crise. Paris: Éditions Michalon, 2008, p. 8.
[39] "Regulating banks: the devil's punchbowl". TheEconomist, 11/07/2009, p.
31.
[40] Bresser-Pereira. Democracy and public management reform: building the
republican State. Oxford: Oxford University Press, 2004.
[41] Mulgan, Geoff. "After capitalism". Prospect magazine, 2009, nº 157,
abr.,s/p.
[42] Ibidem.
[43] Foucault, M. "Verdade e poder". In: Microfísica do poder. Ed. Roberto
Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979 [1977], pp. 1-14, p. 12.