O abolicionista cosmopolita: Joaquim Nabuco e a rede abolicionista
transnacional
[... ] Mucho lamentamos nao contar con U. por el meeting de 1 de
junho.[... ] Agradeceria a U. mucho [... ] indicarme los nombres de 4
o seis personas del Brasil, conocidas y respectables a las quales
podriamos suplicar que aceptasem nostra representacion en el pais.
[... ] podremos trabajar de comuno em prol de nuestra causa. Dignese
aceptar el testimonio de mi profundo afecto.
Esse trecho de uma carta do cubano Rafael Maria de Labra ao brasileiro Joaquim
Nabuco, de 8 de outubro de 1881 (Fundaj1 ), dá notícia de uma relação
transnacional entre dois movimentos abolicionistas. Conexão de óbvia
importância, uma vez que envolvia os dois maiores países escravistas do mundo
àquela altura, mas que ainda não encontrou analista interessado. Os raros
estudos que abordam a questão em Cuba e no Brasil privilegiam similitudes
estruturais ou conjunturais entre os casos2, mas não as relaçõesentre eles. A
literatura sobre movimentos abolicionistas, como Drescher3 e sua clássica
tipologia de abolicionismos, anda no mesmo passo: compara casos nacionais como
se fossem isolados. Traça paralelos, não conexões. Noutra chave, quem lida com
a globalização do ativismo aponta o abolicionismo como movimento transnacional
precoce4, mas limita o foco empírico a conexões pós-coloniais entre Estados
Unidos e Inglaterra. A América Latina nem entra na conversa.
O debate sobre o abolicionismo brasileiro, por sua vez, restringe-se a
dinâmicas intra Estado-nação, e mesmo aí autores se dividem entre enfatizar a
ação parlamentar5 ou as rebeliões escravas6 como razões para o fim da
escravidão. Raramente se fala da conjuntura internacional, que dirá dos
vínculos estrangeiros dos abolicionistas. Contudo, recentemente Bethell e
Carvalho7, Rocha Penalves8 e eu mesma9 apontamos as conexões inglesas de
Joaquim Nabuco durante a campanha abolicionista. Nenhum desses trabalhos,
porém, detém-se em mostrar como tais laços engancharam o movimento
abolicionista brasileiro na rede abolicionista transnacional como um todo. A
trajetória de Nabuco é crucial para evidenciar esse engate, não só com os
ingleses, abordados por Bethell e Carvalho e por Rocha Penalves, mas também com
norte-americanos, franceses, cubanos, porto-riquenhos e até filipinos.
Nabuco foi um construtor de vínculos entre o movimento abolicionista brasileiro
e a rede abolicionista transnacional ainda ativa no final do século XIX. Operou
o que literatura sobre redes sociais10 chama de brokerage: simultaneamente
afiliado a diferentes redes, tornou-se um mediador entre elas. Idêntico papel
assumiu no contexto nacional, atuando na intersecção entre duas arenas
políticas, o parlamento e o ativismo das ruas. Essa atuação como conector
explica a liderança que Nabuco logrou na campanha abolicionista, apesar de ter
passado parte significativa dela fora do Brasil.
A ASCENSÃO DE UM BROKER NACIONAL
Jovem, altamente educado [...] ; de físico esplêndido e maneiras
cativantes, um membro da Câmara dos Deputados e promessa de grande
estadista [...]. Em toda minha vida eu jamais encontrei alguém cujo
futuro parecesse mais brilhante. [...] Ele cintilava no firmamento de
seu país como a estrela da manhã[...] 11.
Assim o diplomata norte-americano no Brasil, Henry Washington Hilliard,
lembrava-se de Joaquim Nabuco. Alto e bonitão, charmoso e elegante, inteligente
e educado, o jovem aristocrata foi numerosas vezes descrito pelos
contemporâneos como expressão mais acabada de seu grupo social e mesmo de seu
tempo. Nabuco foi preparado para as grandes coisas. E logo posto pelo pai,
senador e líder liberal, na trilha canônica da elite imperial: educado na
sociedade de corte e na faculdade de direito, empregado na diplomacia e eleito
para o parlamento. Foi aí , quando se associou à campanha pela abolição da
escravidão, que sua estrela brilhou mais.
Diploma debaixo do braço, Nabuco passou de 1876 a 1878 entre Estados Unidos e
Inglaterra, em posições diplomáticas. Familiarizou-se então com o repertório
abolicionista oitocentista. Com os ianques aprendeu que radicalização pode dar
em guerra civil - exemplo a ser evitado. Na Inglaterra, soube da tradição de
reformas graduais, baseadas no apoio de uma opinião pública mobilizada -exemplo
a ser seguido. Aos 30 anos, Nabuco trouxe essas convicções na mala no retorno
forçoso ao Brasil, ao ser eleito deputado, em 1879, por vontade - aliás, a
última - do pai.
Uma ampla agenda de reforma estava então em debate, incluindo o fim paulatino
da escravidão. Problema da idade do país, permanentemente discutido, sucessivas
vezes adiado. Mas desde os convulsos debates sobre o Ventre Livre, afinal lei
em 1871, a mobilização antiescravidão cresceu por fora das instituições
políticas, em associações, jornais e panfletos. Os abolicionistas eram ainda
poucos, mas já barulhentos. A alma dessa agitação extraparlamentar era o mulato
José do Patrocínio, filho de cônego com liberta, que se acertou na vida graças
a amigos, biscates e um bom casamento. Desde 1879, Patrocínio martelava a
abolição todo dia em seu jornal A Gazeta da Tardee armava conferências públicas
de persuasão da opinião pública urbana.
Nabuco estreou na Câmara com essa agitação em curso. Lá, o abolicionista baiano
Jerônimo Sodré levantou a questão em discurso. De modo que Nabuco não começou
conversa em 1879, quando iniciou série de eloquências antiescravistas: "uma
grande desigualdade existe em nossa sociedade [...] nesse sol há uma grande
mancha que o tolda [...] ainda há escravos no Brasil"12. Mas daí por diante,
Nabuco ofereceu-se como voz da mobilização da sociedade dentro do parlamento.
Apresentou à Câmara projeto abolindo a escravidão aos poucos, de modoa
extingui-la em 1890. Não emplacou, mas deu ao seu autor a chance de construir
coalizão de dezoito deputados em torno da questão13. E liderá-la.
A estratégia era a do abolicionismo britânico, conforme Nabuco mesmo revelou à
British and Foreign Anti-Slavery Society. Como William Wilberforce, enviaria
petições ao parlamento até construir coalizão forte o bastante para abolir a
escravidão:
Esse projeto não será convertido em lei este ano; no entanto, será
apresentado em todas as sessões: numa Câmara Liberal, por mim ou por
alguns de meus amigos e, numa Câmara Conservadora, por algum eminente
abolicionista conservador [...]. Assim ele irá recebendo um número
cada vez maior de votos e finalmente triunfará14.
Mas Nabuco reconhecia também que a resistência no Parlamento era osso duro
demais para roer de dentro: "Abolicionista, em vista do que houve, eu tinha que
dirigir-me à opinião pública, buscar força nela para fazer a Câmara
reconsiderar o seu voto [...] "15. De modo que foi procurar apoio lá fora. Em
dois sentidos.
Fora do Parlamento, lançou-se a broker, mediador entre sua coalizão parlamentar
e a mobilização social antiescravista da imprensa e dos teatros. O passo
consistiu em tentar juntar os abolicionistas numa única associação: a Sociedade
Brasileira Contra a Escravidão (SBCE), que criou em casa, em 1880. Decisiva aí
foi sua aliança com o engenheiro-empresário negro André Rebouças, filho, como
Nabuco, de um "estadista do Império", homem dos mais bem relacionados do
Segundo Reinado, e já envolvido em associações e projetos antiescravistas.
Foram parceiros durante toda a campanha abolicionista. Rebouças fez a ponte -
pensa e instável - entre Nabuco e Patrocínio: o jornalista endossou as
iniciativas do deputado em seu jornal, dando assim a Nabuco a qualidade de
porta-voz da mobilização abolicionista no Parlamento.
Mas lá fora era também fora do país. Nabuco batizou o jornalzinho da SBCE com o
título que abolicionistas cubanos e porto-riquenhos em Madri16 davam ao seu: O
Abolicionista.Cuidou ainda de circular o manifesto da SBCE em inglês, francês e
espanhol17. O próprio nome da associação era uma tradução do da British Foreign
and Anti-Slavery Society (BFASS) - turma com a qual Nabuco engatara relações no
ano anterior, ao denunciar companhia britânica que mantinha escravos
ilegalmente no Brasil18. A BFASS saudou essa e todas as iniciativas
subsequentes de Nabuco, inaugurando colaboração duradoura. O episódio bateu na
França. A tradicional Revue des Deux Mondesnoticiou "os fatos tais como foram
levados ao conhecimento da Câmara dos deputados pelo Sr. Joaquim Nabuco"19.
De quebra, Nabuco convencera Henry Hilliard a trocar consigo cartas públicas
sobre a escravidão. Tinham se conhecido em Petrópolis e, como era regra com
Nabuco, Hilliard se encantara: "Eu desenvolvi grande estima [por Nabuco]. Nós
estivemos juntos muitas vezes em situações sociais, e em caminhadas e
passeios"20.
Hilliard era um convertido: confederado na guerra civil norte-americana, acabou
abolicionista no Parlamento. Nabuco quis justo usar essa história de contrição
como exemplo para os escravocratas tupiniquins.
Ele veio a mim e requisitou que eu oferecesse minha opinião a
respeito dos efeitos da abolição da escravidão. Eu tinha simpatia por
sua oposição à escravidão no Brasil, mas não podia tomar parte nos
conflitos dos partidos a respeito de questão que tão profundamente
afetou as fortunas do império. Ainda assim, ao passo que declinei
intervir nessa grande disputa oficialmente, senti-me livre para
responder ao apelo do Sr. Nabuco, por meio de uma declaração acerca
dos resultados da abolição da escravidão nos Estados Unidos21.
Daí porque, em 19 de outubro de 1880, Nabuco enviou carta aberta a Hilliard,
pedindo "sua esclarecida opinião sobre os resultados, que a substituição
imediata e total do trabalho escravo pelo trabalho livre produziu, e promete
ainda produzir, nos Estados do Sul da União"22. Hilliard e Nabuco negociaram os
termos da resposta, saída no 25 daquele mês. Nela o norte-americano narrava a
trajetória da escravidão em seu país, lamentando sua erradicação por guerra
civil, mas louvando a liderança de Lincoln e a prosperidade econômica
resultante. E recomendava desfecho semelhante, mas por via pacífica, ao
Brasil23.
Tal receptividade sinalizou a Nabuco que fora do país estava o apoio que dentro
faltava. A SBCE correu fazer de Hilliard membro honorário, homenageado no
chiquérrimo Hotel dos Estrangeiros, com banquete, em 20 de novembro de 1880.
Nabuco, sempre com mãozinha de Rebouças, juntou 32 abolicionistas, jornalistas
e políticos simpáticos à abolição24. Assim, a relação com Hilliard serviu
também para firmar sua posição de articulador nacional, costurando o
abolicionismo que corria no parlamento e por fora dele.
No jantar, o cosmopolitismo dos brasileiros apareceu nos comes e bebes. O
repertório abolicionista estrangeiro esteve nos brindes, em remissões à
abolição da escravidão nos Estados Unidos, no retrato de Lincoln na parede, e
até na Maioonnaise de homards a la Wilberforcee no Jambon d'York a la
Garrison25. Nabuco fez traduzir os discursos então pronunciados e os enviou à
imprensa estrangeira26.
Os locais igualmente noticiaram tudo. O presidente da Câmara dos Deputados
enfureceu-se ante à intromissão de autoridade estrangeira em assunto
brasileiro. No olho do furacão, Hilliard ficou quietinho e logo voltou a seu
país27. Mesmo assim, Nabuco celebrou: "nenhuma outra manifestação produziu
tanta celeuma no campo escravista"28. O evento consagrava sua fórmula de
mobilizar apoio estrangeiro e da sociedade civil para sacudir o parlamento.
Fechando seu primeiro ano de abolicionista, Nabuco tinha dois resultados.
Auferiu visibilidade nacional, teve seus passos seguidos pelos jornais e se
projetou como ponte entre a velha política aristocrática do parlamento e a nova
política das ruas, baseada na mobilização popular. Os abolicionistas viram nele
o canal para falar dentro das instituições políticas que os alijavam. A elite
política teve de ouvi-lo como porta-voz dos que faziam barulho lá fora.
O outro resultado foi firmar sua estratégia cosmopolita: "pressão externa
contra resistência interna"29.
NABUCO E A CONSTRUÇÃO DE UMA REDE ABOLICIONISTA TRANSNACIONAL (1881)
Embora Nabuco falasse de um "partido abolicionista", o movimento no Brasil
nessa altura não merecia a denominação. A mobilização acontecia em espaços
públicos, principalmente em teatros, fora do sistema político. Não compunha
partido. Mas podia vir a compor, como acontecera com a Liga Progressista,
chefiada por seu pai nos anos de 1860. Para se destacar dentre os candidatos a
líder nesse terreno, Nabuco precisava elevar o efeito Hilliard à enésima
potência. Por isso fez as malas. O plano era atrair a autoridade moral de
abolicionistas estrangeiros famosos, apostando no impacto de suas declarações
sobre a opinião pública brasileira.
Essa estratégia cosmopolita entrou em prática em fins de 1880. Nabuco fez
"missão abolicionista" pela Europa. Começou por Portugal, recebido na Câmara
dos Deputados, em 4 de janeiro, celebrado em vários discursos e no projeto, do
deputado Júlio de Vilhena, de abolir castigos físicos no exército português30.
Suscitou fascinação na imprensa local, derramada em elogios, logo reproduzidos
nos jornais brasileiros.
Então, Madri. O movimento pela abolição da escravidão nas colônias espanholas
na América ia de vento em popa. Nabuco conheceu cubanos e porto-riquenhos da
Sociedade Abolicionista Espanhola. Seu elo principal foi o espanhol de
nascimento, mas cubano de coração, Rafael Maria de Labra y Cadrana. Líder da
mobilização antiescravista desde 1868, Labra presidia a associação e seu
jornal, El Abolicionista Español31. Tinha, como Nabuco, um pé na sociedade,
outro no Parlamento. Também ele emulava Wilberforce, propondo extinção da
escravidão nas colônias espanholas desde 187232. Dadas as semelhanças, sobrava
o que papear. Nas dez cartas trocadas, vê -se que Labra, ciente da presença do
brasileiro em Madri, deu o primeiro passo. Enviaram-se panfletos e documentos
de suas organizações; selaram aliança33.
Na tarde de 23 de janeiro de 1881, Nabuco recebeu homenagem da Sociedade
Abolicionista Espanhola, nos salões da Academia Madrileña de Legislación y
Jurisprudencia. Em seu discurso, resumiu a história do abolicionismo no Brasil,
frisando seu caráter universal: "[...] a causa da emancipação não é a de um
povo só , mas de todos os povos"34. Luiz Filipe Aguillera endossou, prometendo
apoio dos abolicionistas espanhóis à batalha no Brasil; o deputado cubano
Portuondo fez o mesmo em nome dos "hispano-americanos". Nabuco virou membro
honorário da associação35, que publicou seu "belo discurso"36 e banqueteou-
o uma vez mais, no tradicional restaurante Lardhy.
Labra ainda incrementou a cadernetinha de endereços de Nabuco, dando-lhe cartas
de apresentação para outros membros da rede abolicionista européia: "Em Paris
reside um grande abolicionista de Porto Rico, médico afamado da colônia
Americana [...] é o doutor [Ramon Emerito] Betances". Labra incentivou Nabuco a
procurar também "meus amigos íntimos" da British and Foreign Society. "A V.
Schoelcher você seguramente conhecerá ". Mais adiante, Labra instou Nabuco a
contatar o rebelde filipino Antonio Regidor y Jurado, "representante de nossa
sociedade em Inglaterra"37. Nabuco obedeceu38.
Ainda, Labra incitou Nabuco a engrossar eventos pela abolição em Cuba e uma
"conferência internacional de inimigos da escravidão", em 7 de junho,
centenário de Calderón de la Barca: "Se Vs. estivesse na Europa, muito
celebraríamos vê -lo entre nós"39. Nabuco, contudo, já deixara a Espanha.
Mas não as relações com Labra, que, em 22 de setembro de 1881, enviou-lhe o
título de membro honorário:
A Junta Diretora da Sociedade Abolicionista Espanhola tem a honra de
comunicar ao sr.joaquim nabuco que a Sociedade Abolicionista
Espanhola, em sessão solene, celebrada em Madri a 23 de Janeiro de
1881, o declarou por aclamação -sócio por mérito - da mesma, em
consideração a seus relevantes serviços pessoais à causa da redenção
do escravo e em sinal de calorosa simpatia aosabolicionistas
brasileiros - Madri, 1 de fevereiro de 188140.
Nabuco não se beneficiou sozinho do laço. Sua autoapresentação como líder de um
movimento abolicionista brasileiro foi ao encontro do desejo de Labra de criar
conexões nas grandes capitais escravistas da América. Por isso pedira a Nabuco
quatro nomes para representar a Abolicionista Espanhola no Brasil41. Nabuco
enviou cinco, todos da SBCE: André Rebouças, [Nicolau Joaquim?] Moreira,
Joaquim Serra, Marcolino Moura e Antônio Pedro de Alencastro Júnior42. Assim
compartilhava os laços internacionais, aumentando seu prestígio no Brasil, mas
mantendo a conexão sob controle.
O efeito era a exclusão de José do Patrocínio, a essa altura líder da
mobilização de rua. Preocupado com possível cisão do movimento, Rebouças
receitou a transformação do jornal de Patrocínio, a Gazeta da Tarde, a voz
nacional do movimento na prática, em "órgão d'esta sociedade [a SBCE], dando se
assim ao Patrocínio uma compensação de não estar no Comitê "43. Nabuco entendeu
o ponto, atento em manter sua posição de brokerentre o movimento internacional
e o nacional. De modo que no mesmo dia comunicou a Labra: de maio de 1882 em
diante, a Gazeta da Tardeseria o porta-voz da SBCE44, acarretando a desaparição
de seu O Abolicionista.
Próximo passo, França. Situação bem outra. O movimento abolicionista francês
corresponde ao que Seymour Drescher45 chamou de "modelo continental". Enquanto
o "modelo anglo-americano" operou mobilização popular vultosa em apoio a
iniciativas parlamentares, na França o movimento foi elitista, baseado em
lobby, circunscrito às instituições políticas e quase sem gente na rua. Tal
formato gerou poucos líderes, muitos já mortos ou aposentados quando Nabuco por
lá aportou. O contato com os remanescentes tinha então valor mais simbólico que
prático. Mas era de símbolos da civilização que Nabuco precisava. Por isso foi
atrás da figura máxima do abolicionismo francês, Victor Schoelcher. Como
representante da Martinica, presidira a Commission d'Abolition de l'Esclavage
dans les Colonies Françaises, que obteve, em 1848, o prometido em seu título.
Nabuco encontrou um senador Schoelcher velhinho, mas ainda lutando contra a
escravidão na África Ocidental.
Como Labra supunha, os dois se conheciam da viagem de juventude de Nabuco à
Europa, na década anterior46. Na época, Nabuco se ligava mais em literatura do
que em política. Mas o vínculo existia e Nabuco o usou.
Isso se vê num discurso de Schoelcher semanas mais tarde. Na celebração da
abolição da escravidão nas colônias francesas, mencionou
o caso brasileiro, embaraçando o imperador e promovendo Nabuco:
O imperador do Brasil, que dizem ser um homem liberal, deve
experimentar humilhação cruel por ser o único soberano do mundo
civilizado que reina escravos. Felizmente, a sociedade para a
abolição fundada no Rio de Janeiro vigia, e seu presidente, Sr.
Nabuco, que acaba de passar por Paris lamentando não poder aqui ficar
até o dia de hoje, me disse que ela estava cheia de ardor, confiança
e decidida a não descansar enquanto não tiver abatido o monstro. Como
ela, nós temos boas esperanças47.
Schoelcher situou as colônias espanholas e o Brasil como herdeiros da velha
batalha francesa e fez aprovar moção pela abolição da escravidão na Espanha e
no Brasil: "A Assembleia, reunida a 5 de maio de 1881 em Paris para celebrar o
aniversário da extinção da escravidão nas colônias francesas, envia às
sociedades abolicionistas da Espanha e do Brasil a expressão de sua mais
cordial simpatia"48.
Na verdade, Schoelcher incluiu os abolicionistas brasileiros como parte de um
movimento abolicionista global, encampando não só as colônias espanholas, como
também a África Ocidental: "Guerra à escravidão! Liberdade, liberdade aos
escravos em todo o mundo!"49. Na mesma batida, outro abolicionista francês,
responsável pela organização do evento e por enviar a Nabuco a moção de
Schoelcher, declarou a "fraternidade entre todos os abolicionistas"50.
Finalmente, Nabuco chegou à Inglaterra. Lá a prestigiosa British and Foreign
Anti Slavery Society o esperava. A associação tinha tentáculos pela elite
política e pela imprensa, além de publicar o Anti-Slavery Reporter. Como
Schoelcher, a BFASS já se aposentara da luta contra a escravidão doméstica,
vencida há décadas, e andava mais de olho em colônias atuais, pregressas ou
quiçá futuras dos britânicos na África e na Ásia. Mas pressionava também pela
abolição em Cuba e no Brasil, por exemplo, enviando petições para o imperador
brasileiro, em 1864, para seu genro, em 1870, para o ex-chefe de gabinete o
Visconde de Rio Branco e para a imperatriz, em 187851.
Nabuco engatou amizade com o secretário da BFASS, Charles H. Allen. Juntos
visitaram o quartel-general da associação em Brighton, em 19 de fevereiro, a
convite de seu presidente, Samuel Guarney52. Travou então contato com os
principais membros da BFASS: Joseph Cooper, Sand Grownsly, Joseph Sturge e
Thomas Fowel Buxton, o neto.
Outra vez, ganhou homenagens. Agora um café da manhã , a 23 de março, no
Charing Cross hotel, em Londres. Foram 150 convidados, sendo quinze
parlamentares e incluído Jurado, o abolicionista filipino que Labra indicara.
Nabuco discursou associando o abolicionismo brasileiro ao britânico, e se
apresentado como representante de um partido abolicionista sequioso de apoio
externo: "[...] nós necessitamos do apoio estrangeiro por falta de base em
nossa pátria [...] combatemos a escravidão, grupados como um novo partido.
[...]. Estamos combatendo no Brazil, como out'rora na Inglaterra sharpe e
clarkson, wilberforce e buxton [...] "53.
Em resposta, Buxton, presidente do evento, comparou Nabuco ao herói
abolicionista norte-americano Willian Garrison. Nabuco virou corresponding
memberda associação britânica e outra vez incluiu asseclas da SBCE na mesma
posição. Ganhou ainda sessão especial da BFASS, em 4 de março, quando reportou
o estado da escravidão no Brasil e seu empenho em manter a conexão criada54.
A "missão" à Europa teve dividendo duplo. Nabuco incluiu-se na rede
abolicionista transnacional, irmanado com abolicionistas franceses, ingleses,
espanhóis, cubanos, porto-riquenhos e filipinos. Em 1881, considerando suas
relações em Portugal e nos Estados Unidos, tinha criado uma rede de apoio
abrangendo oito países. Lograva assim uma internacionalização da campanha
abolicionista brasileira, noticiada na mídia europeia. O Timesde 24 de
fevereiro de 1881 chamou-o de "o líder parlamentar do partido antiescravidão no
Brasil": "Apesar de ainda jovem, Nabuco construiu uma reputação extraordinária
como orador no seu país e fora dele".
O efeito foi uma pressão difusa da opinião pública estrangeira sobre o governo
brasileiro. As ações de Nabuco não geraram retaliações econômicas ou políticas,
mas criaram embaraço externo para as autoridades brasileiras. Constrangimento
moral, é verdade, mas sempre um constrangimento.
O sucesso no exterior consolidou também a posição de Nabuco em casa. Os
abolicionistas brasileiros sentiram-se parte de um movimento transnacional.
Escravocratas o atacaram, por reclamar intervenção estrangeira em assunto
nacional. De uma maneira ou de outra, ambos os lados reconheciam sua liderança.
A CONSOLIDAÇÃO DE NABUCO COMO BROKER TRANSNACIONAL (1882-1884)
De volta ao Brasil, Nabuco teve recepção entusiasmada dos abolicionistas nas
ruas. Mas não do sistema político. Visto como encrenqueiro por seu Partido
Liberal, a duras penas arranjou candidatura nas eleições seguintes. Os
Conservadores exploraram sua ida ao estrangeiro como antipatriótica. Em
circular eleitoral Nabuco defendeu sua estratégia: "Mas também, que
abolicionista jamais apelou, ou nos Estados Unidos, ou na França ou na Espanha
ou no Brasil, para a intervenção de governo estrangeiro?"55.
Não foi persuasivo o bastante. Apesar do empenho da SBCE, perdeu sua cadeira.
Migrou então para Londres, onde viveria de 1882 a 1884, graças às suas conexões
na elite imperial, que lhe garantiram o emprego de correspondente para o Jornal
do Comércio. Mudança malvista por muitos abolicionistas, como Ubaldino do
Amaral56, que o acusaram de abandonar a luta. Nabuco prometeu trabalhar de
longe.
E, de fato, a temporada inglesa reforçou sua posição na rede transnacional.
Estreitou o contato com abolicionistas na Espanha e na França. Trocando mais
publicações e informações57 com Labra, conheceu outros abolicionistas cubanos e
aproximou-se de Bernardo Portuondo e Luiz Felipe Aguilera, da Abolicionista
Espanhola, quando visitaram a Inglaterra58. Nabuco arranjou para que a SBCE
concedesse títulos honorários a Rafael Labra e a Eduardo Chao, vice-presidente
da Abolicionista Espanhola59, e publicasse notícias deles no Brasil60. Manteve
também o papo com Schoelcher, informando-o de sua campanha eleitoral malograda
e de sucessos abolicionistas no Brasil. Schoelcher respondia, paternal,
incentivador61.
Na Inglaterra sua rede alargou-se, para encampar a Alliance, organização
abolicionista de senhoras, e a similar Imperance Mission62. Tampouco perdeu
Hilliard de vista63 e planejou contatar o lendário abolicionista negro norte-
americano, Frederick Douglass64.
O Anti-Slavery Reporterdava notícias do "exílio forçado" de um Nabuco misturado
aos membros regulares da BFASS, escrevendo em seu jornal, discursando em suas
reuniões. Seu abolicionismo avançou para escala transnacional quando falou pela
emancipação no Egito, em meetingde 15 de novembro de 1882 e quando representou
a BFASS no 11º Congresso da Associação Jurídica Internacional, em Milão, no
setembro seguinte. Lá se aprovou seu projeto de (novo) tratado internacional
caracterizando o tráfico de escravos como pirataria. Essa trilha deu a Nabuco a
feição de abolicionista transnacional, brandindo a causa para além do Brasil.
Era a essa altura membro de complexa teia: Labra, por exemplo, sabia de atos
seus por meio do Anti-Slavery Reporter65.
Como membro dessa rede, Nabuco conheceu vasto repertório de estratégias de ação
e de argumentos abolicionistas, que pôs para andar no meio político brasileiro.
Emulando a estratégia britânica, enviou petição ao Parlamento, em junho de
1882, e planejou atingir também as assembleias provinciais66. E, vendo que
abolicionistas americanos e europeus tinham publicado livros de propaganda,
escreveu o seu, O Abolicionismo, de pronto enviado a aliados nacionais e
estrangeiros - mesmo aos ignorantes de português.
Nabuco usou seus laços na Europa para nutrir os do Brasil. Para não sumir do
mapa nacional, enviava artigos, notícias e discursos para O Abolicionista,
enquanto o jornal durou.
Também tornou relações suas acessíveis a correligionários. Quando a mobilização
popular redundou no fim da escravidão no Ceará , em 1883, José do Patrocínio
organizou banquete em Paris celebrando
o acontecimento. O orador: Victor Schoelcher. Nabuco fez o mesmo em Londres,
juntando o pessoal da BFASS, a imprensa e autoridades políticas. Assim,
promovia os brasileiros no circuito externo. No sentido inverso, a Gazeta da
Tarde, de Patrocínio, anunciou O Abolicionismoe publicou seu "magnífico
discurso" em Milão, e mais elogios por seus sucessos no exterior67.
Nabuco inseria notas sobre o movimento brasileiro não só no Anti-Slavery
Reporter, como também no Times(8/4/1884) e no New York Times(27/4/1884). Deu um
jeito de Rebouças conhecer os membros da BFASS, na Inglaterra em 1882. O amigo,
seu elo principal com os abolicionistas no Brasil, instigava-o a ações como,
por exemplo, pedir que obtivesse do primeiro-ministro britânico uma moção ao
governo brasileiro: "Seria bom que particularmente o Gladstone recomendasse ao
Ministro no Rio de Janeiro que desse mais atenção aos assumptos de
Emancipação"68.
Como corolário de sua brokerage, Nabuco planejou um congresso internacional
antiescravidão no Brasil. Rebouças endossou a ideia com 100 libras e plano
completo: o Grand Hotel d'Orleans, em Petrópolis, seria o lugar ideal; a data:
de 10 a 17 de agosto de 1884; e para convidados só celebridades abolicionistas:
"Traz o Henry George, o Labra, o Becker Stowe, o Douglas. Convida aos amigos do
Congresso de Milão"69. O congresso jamais aconteceu. Talvez porque Nabuco não
obtivesse adesões suficientes, ou porque decidira retornar para as novas
eleições parlamentares no Brasil.
De qualquer modo, a ideia ilustra sua tática de equilibrista. Trabalhava para
se manter líder no Brasil, mesmo vivendo no exterior, e para ser reconhecido
como tal pelos abolicionistas europeus. Assim, usava sua posição no Brasil para
se catapultar no estrangeiro e mobilizava a rede transnacional para influenciar
a política doméstica. Dos dois jeitos, reforçava-se como mediador.
A CONSOLIDAÇÃO DE NABUCO COMO BROKER NACIONAL (1884-1886)
Em 1884, Nabuco recebeu chamado dos abolicionistas brasileiros: "sua presença
no Rio de Janeiro é agora mais que urgente"70.
Enquanto Nabuco vivia em Londres, Patrocínio e Rebouças tinham juntado pequenas
associações numa Confederação Abolicionista, em 1883. Além disso, de 1880 a
1884, o movimento tinha promovido numerosas conferências abolicionistas em
teatros, atraindo mulheres, estratos sociais baixos, profissionais liberais
urbanos, trabalhadores manuais e até escravos. A campanha corria nas grandes
cidades, quarteirão por quarteirão, instando moradores a libertar seus
escravos, e em viagens de propaganda. Métodos que tinham culminado na abolição
da escravidão de factono Ceará e no Amazonas.
Essa mobilização fez o sistema político se mexer. Manuel de Souza Dantas, líder
do Partido Liberal, chegou à chefia de gabinete em 1884, com projeto de
libertação de escravos com mais de 60 anos. Diante dessa nova conjuntura
política, os abolicionistas lançaram candidaturas nas próximas eleições no Rio
de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e São Paulo. Entretanto, como ex-deputado
e membro do Partido Liberal, Nabuco era o único com reais chances de sucesso.
Por isso o chamaram de volta: para operar como ponte entre gabinete e
movimento, ambos apoiando sua candidatura.
Nabuco engrossou as conferências, procissões cívicas e artigos de jornal que os
abolicionistas produziam aos magotes em meados dos anos de 1880. Para assinar
seus artigos, sacou pseudônimo do repertório abolicionista norte-americano:
"Garrison". E para estruturar sua campanha no Recife, vestiu o modelo inglês,
com conferências em teatros, comícios em praças públicas e visitas a mais ou
menos 2 mil eleitores, um público que, tal qual as conferências de Patrocínio,
expandia a participação política: centenas de profissionais liberais,
funcionários públicos, mulheres, trabalhadores não qualificados e libertos,
engolfados por seu carisma.
Mas a oposição era cerrada. No dia da eleição, 1 de dezembro de 1884,
abolicionistas e escravocratas enfrentaram-se em conflito sanguinolento no
Recife. Reagindo a rumores de fraude eleitoral contra Nabuco, abolicionistas
marcharam até a igreja onde acontecia a votação. Houve tumulto. A eleição
acabou cancelada e remarcada para janeiro. No intervalo, o Partido Conservador,
com apoio dos escravocratas, atingiu maioria no Parlamento e assumiu o governo.
Na nova conjuntura, e como todos os outros abolicionistas tinham sido
malsucedidos, a candidatura de Nabuco virou símbolo nacional do movimento. Seu
nome foi parar em chapéus, maços de cigarro, lenços e cervejas. Eleito, foi
celebrado, no Rio de Janeiro, em janeiro de 1885, com bandeiras, banda e
flores.
A despeito da vitória retumbante, a Câmara negou-lhe o mandato. Por fortuna, a
morte de um deputado abriu nova eleição. Nabuco era de novo candidato e de novo
mobilizou apoio externo contra resistência interna. A BFASS ajudou, descrevendo
sua situação para a opinião pública britânica, publicando, no Times (6/8/1885),
carta de Nabuco denunciando a lei dos sexagenários como manobra para prolongar
a escravidão e atacando toda a elite imperial: "No que diz respeito às nossas
instituições, do trono ao eleitorado, em tudo a escravidão significa fracasso e
decomposição - fraqueza e atrofia".
A BFASS obteve ainda declarações de Lord Granville, o ministro britânico dos
negócios exteriores, do Príncipe de Gales, que era patrono da BFASS e que
reforçou a integração do caso brasileiro no problema mundial da escravidão:
"Lamento dizer que a escravidão ainda existe no Brasil, assim como em países
maometanos e pagãos"71.
A mobilização das ruas e o apoio estrangeiro confluíram para que Nabuco fosse
finalmente eleito e reconhecido deputado. Em festa, Recife consagrou-o herói
abolicionista. Feito que a BFASS ecoou:
Recepção entusiasmada oferecida ao nosso distinto amigo, DR. JOAQUIM
NABUCO, a 18 de junho, em Pernambuco, por ocasião de sua eleição ao
Parlamento [...], ele foi carregado em triunfo por uma enorme
procissão, com bandas de música e cartazes, pelas ruas principais. A
cidade e todos os prédios públicos foram decorados com vapores e
cortinas, e havia diversos arcos do triunfo. [...] Todo comércio
fechou as portas, e o observou-se o dia como se fosse feriado72.
O sucesso eleitoral em situação adversa consolidou Nabuco como líder brasileiro
no exterior e como mediador entre o abolicionismo das ruas e o Parlamento.
DILEMAS DE UM BROKER (1886-1888)
De volta ao Parlamento, Nabuco organizou o Grupo Abolicionista Parlamentar com
catorze deputados, do qual se nomeou líder. Contudo, a cadeira logo lhe faltou.
Os Conservadores dissolveram a Câmara e se anteciparam aos abolicionistas,
reprimindo suas manifestações. Muitos ativistas então migraram para a
clandestinidade, incentivando fugas de escravos. Embora publicamente negasse,
Nabuco mesmo escondeu um fugitivo73.
Diante de oportunidades políticas tão desfavoráveis, Nabuco voltou-se para a
imprensa, escrevendo em O Paísartigos contra o governo, a escravidão e os
escravocratas. Como jornalista, voltou a Europa em 1887 e reaqueceu suas
conexões. Em reunião da BFASS, propôs moção à nova conferência da International
Law Association, que aconteceria em Londres nesse ano. Seus amigos da BFASS
também viabilizaram o pedido de Rebouças de anos antes: Nabuco obteve de
William Gladstone uma discreta declaração de simpatia à luta contra a
escravidão no Brasil.
Por menos que isso fora pouco antes acusado de antipatriota. The Times publicou
artigo de Goldwin Smith xingando os abolicionistas brasileiros de comunistas,
que visariam, como Garrison, ao apoio estrangeiro contra a soberania nacional.
Nabuco defendeu a si e ao norte-americano, que teriam ambos o direito de
denunciar "os crimes da escravidão ao mundo"74. O filho de Garrison agradeceu75
e Nabuco aproveitou para lhe pedir que cavasse contribuições para o
abolicionismo brasileiro nos Estados Unidos. Adicionou, assim, mais um laço à
sua rede.
Com o apoio abolicionista externo e doméstico, voltou candidato ainda em 1887.
Nessa altura, a repressão era cerrada, o governo proibira comícios e uma morte
acontecera em meio à sua campanha eleitoral. Mas, sobrepujando a adversidade,
elegeu-se uma vez mais, alvo de grandiosas demonstrações de popularidade, no
Recife, em São Paulo, no Rio de Janeiro.
Na vez anterior no Parlamento, Nabuco insurgira-se contra a pena de açoites,
abolida em 1886. Agora, porém, o ano parlamentar estava no fim. Engatou então
outra viagem de propaganda. Considerou duas rotas, que ilustram bem seu dilema
de mediador entre o parlamento e a mobilização abolicionista das ruas.
Uma viagem possível era ir "ver com meus olhos os efeitos da escravidão" no Sul
dos Estados Unidos, em Cuba, Jamaica, Haiti e nas Antilhas Francesas. Começaria
por Nova York, tendo já pedido ao filho de Garrison, que calhava de ser um dos
editores de The Nation, que levantasse apoio entre políticos norte-americanos.
Wendell Garrison prometeu assinaturas de congressistas para uma petição pelo
fim da escravidão no Brasil76. Essa estratégia podia soar moderada demais a
essa altura, dado o conflito aberto entre abolicionistas e governo.
Nabuco considerou alternativamente ir direto para a Europa e, na volta, parar
em países pós-escravistas e eventualmente trocar os Estados Unidos por uma
passada em São Tomé ou Barbados77. Dada sua ligação com Schoelcher, podia parar
na Martinica78. Nesses lugares, encontraria experiências de administração do
rescaldo escravista pós-abolição e das formas de inclusão - ou não - de ex-
escravos à sociedade nacional. Dada a radicalização do movimento abolicionista
brasileiro, essa viagem a países de passado conflitivo poderia adensar sua
popularidade nas ruas. Porém, arruinaria de vez sua chance de edificar alianças
no Parlamento.
Para não sinalizar quebra nem com o abolicionismo das ruas, nem com o sistema
político, Nabuco foi a Roma. Era o jubileu de Leão XIII, atraindo atenção
mundial. E, como o governo brasileiro estava sob a égide de Isabel, a católica,
uma vez que o imperador doente achava-se também na Europa, Nabuco matutou que
declaração antiescravista do pontífice amoleceria o coração da princesa: "Para
o abolicionismo seria um imenso auxílio se o Papa [...] recomendasse [...] aos
católicos a extinção completa do cativeiro [...] ", escreveu ao amigo
brasileiro e diplomata na Itália, Souza Correa, em 14 de dezembro de 188779.
Essa não era a primeira vez que um abolicionista apelava para a Igreja
Católica. O protestante Thomas Buxton fizera o mesmo com o papa Gregório XVI,
em 1839, pedindo-lhe encíclica contra o tráfico negreiro80.
Graças à sua rede - ajuda de BFASS e de Correa - Nabuco conseguiu uma
entrevista, em fevereiro de 1888, quando, "[...] assegurou-me o santo Padre que
no fim do mesmo mês será dirigida ao Episcopado Brasileiro a Encyclica
concernente a emancipação [...] "81. Nabuco de pronto veiculou a boa nova em
sua coluna em O País.
Pode até ser que Nabuco tenha considerado aportar nas Antilhas na volta, mas
parou mesmo foi em Paris, para narrar suas façanhas a Schoelcher82 e pedir-lhe
que agitasse a opinião pública francesa pela abolição no Brasil83. No Brasil, o
efeito foi imprevisto: a estratégia cosmopolita de Nabuco ganhou hostilidade do
movimento. Sendo em maioria não religiosos, muitos francamente antirreligiosos,
os abolicionistas condenaram o pedido de ajuda à Igreja.
Contudo, o impacto negativo sobre a liderança de Nabuco foi obliterado pelo
novo cenário político-institucional. Pressionado pelo movimento abolicionista,
pelas fugas de escravos, pela opinião pública internacional, o sistema político
finalmente desistiu da resistência em março de 1888 e o próprio Partido
Conservador incumbiu-se de transformar em direito o que já era fato. Na Câmara,
Nabuco fez malabarismos para fugir de peias regimentais e adiantar o processo.
Em 13 de maio a lei foi sancionada. Era domingo e Patrocínio comandava lá fora
cerca de 10 mil pessoas, que ovacionaram o porta-voz da notícia: Nabuco.
Dia que encerra sua história de brokerentre a mobilização das ruas e o
Parlamento. Nos meses seguintes, muitos de seus companheiros abolicionistas
fizeram a República, enquanto Nabuco defendia a monarquia. Contudo, não se
acabou aí o outro lado da sua brokerage. Nabuco recebeu cumprimentos pela
Abolição dos aliados estrangeiros todos. A BFASS deu narrativa detalhada
entusiasmada do processo nos números de maio e junho de 1888 do Anti-Slavery
Reporter.
Muito mais tarde, em 1900, já como chefe da legação brasileira em Londres,
Nabuco falou por última vez como membro da rede transnacional abolicionista.
Foi no congresso internacional antiescravidão de Paris, quando narrou sua
própria história84. Benito Sylvain85, discursando em seguida, reconhecendo
Nabuco como peça na vasta engrenagem abolicionista transnacional, listou-
o entre os combatentes mundiais da escravidão.
***
Joaquim Nabuco tornou-se líder abolicionista graças à sua habilidade para
mediar a relação entre a rede abolicionista transnacional e o movimento no
Brasil e entre mobilização social abolicionista e Parlamento. Ativista híbrido,
operando simultaneamente nas esferas global e local, usou uma brokeragepara
legitimar e fortalecer a outra.
É curioso que, ainda que apontem sempre o caráter transnacional da escravidão,
os analistas não tenham visto o mesmo no abolicionismo. A trajetória de Nabuco
mostra justamente quão importante e frequente foram os vínculos transnacionais
na estruturação das estratégias do movimento abolicionista nacional. A opção de
Nabuco por construir uma rede de apoiadores no exterior situou o debate sobre o
fim da escravidão no Brasil na esfera internacional.
As alianças de Nabuco denotam o caráter intrinsecamente integrado do movimento
abolicionista do século XIX. Para além de uma série de casos isolados,
vislumbra-se uma vasta rede transnacional, por meio da qual um repertório de
formas de ação e de justificação do antiescravismo circulou. Sidney Tarrow86
fala do surgimento recente de "ativistas cosmopolitas", brokersentre opinião
pública local e global e canal de difusão de repertórios. O caso Nabuco mostra,
contudo, que essa tão decantada "novidade" dos movimentos sociais do século XXI
pode bem ser traçada lá no século XIX.
Emblema desse transnacionalismo oitocentista foi uma peculiar celebração da
abolição da escravidão no Brasil. Ainda em 1888, 300 afro-brasileiros foram
convidados para seis dias de celebração87. Não no Rio de Janeiro, mas numa
colônia britânica da África Ocidental. Inusitadamente, em Lagos.
ANGELA ALONSO é professora do Departamento de Sociologia da USP e pesquisadora
do Cebrap.
[*] Sou grata às sugestões de Christopher Schmidt-Nowara e Amanda Bowie Moniz à
versão preliminar desse texto e aos comentários recebidos quando de sua
apresentação no The Bildner Center for Western Hemisphere Studies, City
University of New York, em 20 de abril de 2010.
[1] Estão indicadas como "Fundaj" cartas inéditas depositadas no acervo da
Fundação Joaquim Nabuco no Recife. Cf. Correspondência microfilmada de Joaquim
Nabuco. Arquivos da Fundação Joaquim Nabuco - Fundaj, Recife.
[2] Cf. Schmidt-Nowara, Christopher. Empire and anti-slavery: Spain, Cuba, and
Porto Rico, 1833-1874. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1999; Scott,
Rebecca J. Slave emancipation in Cuba: the transition to free labor, 1860-1899.
Princeton: Princeton University Press, 1985.
[3] Cf. Drescher, Seymour. "Brazilian abolition in comparative perspective".
In: Andrews, G. R. e outros. The abolition of slavery and the aftermath of
emancipation in Brasil. Durham, Duke University Press, 1988; Ibidem. Abolition:
a history of slavery and antislavery. Nova York, Cambridge University Press,
2009.
[4] Cf. Keck, M. E. e Sikking, K. Activists beyond borders: advocacy networks
in international politics. Ithaca, NY: Cornell University Press, 1998; Guidry,
John A., Kennedy, Michael D. Zald e Mayer, N. Globalizations and social
movements: culture, power, and the transnational public sphere. Ann Arbor: The
University of Michigan Press, 2000; Klotz, Audie. "Transnational activism and
global transformations: the anti-apartheid and abolitionist experiences".
European Journal of International Relations, vol. 8, nº 1, 2002, pp. 49-76;
David, Huw T. "Transnational advocacy in the eighteenth century: transatlantic
activism and the anti-slavery moment". Global Networks, vol. 7, nº 3, 2007, pp.
367-82
[5] Cf. Conrad, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.
[6] Cf. Machado, M. H. O plano e o pânico: os movimentos sociais na década da
abolição. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora da UFRJ/Edusp, 1994.
[7] Bethell, Leslie e Carvalho, José Murilo de Carvalho (eds.) . Joaquim Nabuco
e os abolicionistas britânicos (correspondência 1880-1905).Rio de Janeiro:
Topbooks, 2008.
[8] Cf. Rocha Penalves, Antônio. Abolicionistas brasileiros e ingleses: a
coligação entre Joaquim Nabuco e a British and Foreign. São Paulo: Editora da
Unesp, 2008.
[9] Cf. Alonso, Angela. Joaquim Nabuco: os salões e as ruas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
[10] A literatura sobre redes sociais e movimentos sociais é gigantesca. Para
uma discussão recente, ver Mische, Ann. "Relational sociology, culture and
agency". In: Scott, John e Carrington, Peter (eds.) . Sage handbook of social
network analysis. Londres: Sage (no prelo).
[11] Hilliard, Henry Washington. Politics and pen pictures at home and abroad.
Londres/Nova York: Putnam's son Publishers, 1892, p. 381 [Trad. E. ].
[12] Discurso Parlamentar, 22 de abril de 1880, Anaes da Câmara, em < http://
www2.camara.gov.br/internet/publicacoes/index.html#> .
[13] O Abolicionista, 11/12/1880. Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.) . O
Abolicionista: órgão da sociedade brasileira contra a escravidão. Recife:
Fundaj, 1988.
[14] "Carta de Joaquim Nabuco a Charles Allen", 8/4/1880. In: Bethell e
Carvalho, op. cit.
[15] Nabuco, Joaquim. "Discurso Parlamentar", 15/11/1880. Anaes da Câmaraem <
http://www2.camara.gov.br/internet/publicacoes/index.html#> .
[16] O deles se chamava El Abolicionista Español.Sobre a mobilização
antiescravista na Espanha, ver Corwin, Arthur F. Spain and the abolition of
slavery in Cuba, 1817-1886. Austin: The University of Texas Press, 1967, e
Schmidt-Nowara, op. cit.
[17] O Manifesto foi publicado em inglês pelo Rio Newse em francês pelo Brésil
Messager, em 1880. Em 1882, Nabuco doou cópia para o British Museum (Carta de
Joaquim Nabuco ao British Museum, 11/7/1882, Fundaj).
[18] Childs, Matt D. "A case of 'great unstableness' : a British slaveholder
and Brasileiro abolition". The Historian, vol. 60, nº 4, 1998, pp. 717-40.
[19] Berenger, Paul. "Le Brésil in 1879". Revue des Deux Mondes, nº 37, 1880,
pp. 434-57, p. 440.
[20] Hilliard, op. cit., p. 381.
[21] Ibidem, p. 391.
[22] Cf. Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Cartas do presidente Joaquim
Nabuco e do ministro Americano H. W. Hilliard sobre a emancipação nos Estados-
Unidos. Rio de Janeiro: G. Leuzinger & Filhos, 1880.
[23] Hilliard, op. cit., p. 395.
[24] Os organizadores convidaram cinquenta pessoas. Sete abolicionistas
justificaram ausência. Os remanescentes eram provavelmente autoridades que,
apesar de convidadas, nunca consideraram de fato aparecer. Cf. Sociedade
Brasileira Contra a Escravidão. "Sociedade Brasileira Contra a Escravidão
oferece um banquete em honra ao ministro americano Henry Washington Hilliard,
20 de Novembro, 1880". Rio de Janeiro: Typ. Primeiro de Janeiro, 1880.
[25] Cf. Durham, David I. e Pruitt Jr., Paul M. "A journey in Brazil: Henry
Washington Hilliard and the Brazilian anti-slavery society". Occasional
publications of the Bounds Law Library, nº 6. University of Alabama School of
Law, 2008.
[26] Cf. Hilliard, op. cit., p. 396.
[27] Cf. Ibidem, pp. 396ss; Durham e Pruitt Jr., op. cit., pp. 69ss.
[28] O Abolicionista1/1/1881. Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.) , op. cit.
[29] Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Manifesto da Sociedade
Brasileira contra a escravidão, 7 de setembro de 1880.Rio de Janeiro, 1880.
[30] O Abolicionista, 1/3/1881. Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.) , op. cit.
[31] Schmidt-Nowara, op. cit., p. 94.
[32] Domingo Acebrón, M. Dolores. "Rafael María de Labra: Cuba, Porto Rico, Las
Filipinas, Europa y Marruecos, en la España del sexenio democrático y la
restauración (1871-1918)". Madri: Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, 2006, pp. 102ss.
[33] Labra enviou panfletos relativos à escravidão nas colônias espanholas e
sobre a história da Sociedade Abolicionista Espanhola, enquanto Nabuco mandou-
lhepanfletos brasileiros (Cartas de Rafael M de Labra a Joaquim Nabuco, 18/1;
22/1; 10/3 de 1881, Fundaj).
[34] O Abolicionista, 1/5/1881. Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.) , op. cit.
[35] Sessão descrita em boletim da Sociedade Abolicionista Espanola, 1881.
Depois de deixar Madri, Nabuco seguiu noticiado pela imprensa espanhola, por
exemplo, El Viajero Ilustrado, 15/4/1880, reporta seus passos na Inglaterra.
[36] Carta de Rafael M. de Labra a Joaquim Nabuco, 24/1/1881, Fundaj.
[37] Cartas de Rafael M. de Labra a Joaquim Nabuco, 24/1 e 25/2/1881, Fundaj.
[38] Nabuco perdeu o endereço de Jurado, mas enviou carta a ele anexa a uma que
dirigiu a Charles Allen, em 13 de junho de 1881.
[39] Carta de Rafael M. de Labra a Joaquim Nabuco, 10/3/1881, Fundaj.
[40] O Abolicionista, 1/5/1881. Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.) , op. cit.
[41] Carta de Rafael M. de Labra a Joaquim Nabuco, 8/10/1881, Fundaj.
[42] Ibidem, 2/3/1882, Fundaj.
[43] Carta de André Rebouças a Joaquim Nabuco, 16/4/1882, Fundaj.
[44] Carta de Joaquim Nabuco a Rafael M. de Labra, 16/4/1882, Fundaj.
[45] Cf. Drescher, "Brazilian abolition in comparative perspective", op. cit.,
Abolition: a history of slavery and antislavery, op. cit.
[46] Carta de Victor Schoelcher a Joaquim Nabuco, 1874, Fundaj.
[47] Schoelcher, Victor. Polemique coloniel, 1871-1881. Paris: Dentu Libraire-
Editeur, 1882, p. 273.
[48] Ibidem, p. 274.
[49] Ibidem, p. 276.
[50] Carta de G. Gerville Reache a Joaquim Nabuco, 6/5/1881, Fundaj.
[51] Rocha Penalves, op. cit., pp. 397ss.
[52] Carta de Charles Allen a Joaquim Nabuco, 14/2/1881. In: Bethell e
Carvalho, op. cit.
[53] O Abolicionista, 1/5/1881. Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.) , op. cit.
[54] Ibidem, 1/6/1881.
[55] Ibidem, 28/10/1881.
[56] Gazeta da Tarde, 24/4/1883.
[57] Por exemplo, Labra enviou congratulações quando a mobilização
abolicionista brasileiro obteve o fim da escravidão no Ceará (Telegrama da
Sociedade Abolicionista Espanhola a Joaquim Nabuco, 9/7/1883, Fundaj) e quando
Nabuco publicou O Abolicionismo(Carta de Rafael M. de Labra a Joaquim Nabuco,
3/11/1883, Fundaj).
[58] O Abolicionista, 1/7/1881. Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.) , op. cit.
[59] "Carta de agradecimento do deputado D. Rafael M. de Labra digníssimo
presidente da Sociedade Abolicionista Hespanhola". O Abolicionista, 1/6/1881.
Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.) , op. cit.
[60] Por exemplo, O Abolicionista, 1/7/1881. Cf. Silva, Leonardo Dantas (org.)
, op. cit.
[61] Cartas de Victor Schoelcher a Joaquim Nabuco, 26/5/1882; 27/10/1883,
Fundaj.
[62] As cartas de Catherine Impey, da Temperance Mission, de 20/11/1882 e 24/4/
1883 estão em Bethell e Carvalho, op. cit. Lizzie Morris, da Alliance, escreveu
a Nabuco, apresentando-lhe sua sociedade abolicionista feminina e enviou-lhe um
panfleto de sua associação (Cartas de Lizzie Morries a Joaquim Nabuco, 14/12/
1882 e 14/1/1883, Fundaj).
[63] Por exemplo, Carta de Henry Washington Hilliard a Joaquim Nabuco, 1/11/
1884, Fundaj.
[64] Nabuco escreveu a Charles Allen em junho de 1882 (Bethel e Carvalho, op.
cit.) , dizendo que gostaria de "ask you to help me to do something in the
United States through Mr. F. Douglass". Provavelmente não o conseguiu, pois não
há registro de cartas entre eles nem na correspondência de Douglass (cf. <http:
//www.loc.gov/rr/mss/text/douglass_corresp_index.pdf> ) nem no acervo da
Fundaj.
[65] Carta de Rafael M de Labra a Joaquim Nabuco, 3/12/1883, Fundaj.
[66] Carta de Joaquim Nabuco a André Rebouças, 6/6/1882;
Nabuco, Carolina (org.) . Cartas a Amigos. Vol I: (1864-1898), Obras Completas,
vol. XIII. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1949.
[67] Gazeta da Tarde, 31/8/1883; 8, 10, 11, 16, 18, 22 e 26/1/1884.
[68] Carta de André Rebouças a Joaquim Nabuco, 16/4/1882, Fundaj.
[69] Carta de André Rebouças a Joaquim Nabuco, 22/3/1884, Fundaj.
[70] Carta de José Corrêa do Amaral a Joaquim Nabuco, 9/5/1884, Fundaj.
[71] Apud Davis, David. Slavery and human progress. Nova York, Oxford
University Press, 1984, p. 299.
[72] The Anti-Slavery Reporter, out. 1885.
[73] Diários de Joaquim Nabuco, 15/3/1887. In: Mello, E. C. (ed.) . Diários de
Joaquim Nabuco. Recife: Bem Te Vi Produções Literárias/Massangana, vol. I,
2005.
[74] Nabuco enviou carta ao editor do Times, em 18/4/1886, que não a publicou.
O Anti-Slavery Reporter(aug-sept, 1886), contudo, o fez: "Senhor Nabuco and
professor Goldwin Smith on the Morality of slavery" (cf. Bethell e Carvalho,
op. cit.) .
[75] Carta de Wendell Phillips Garrison a Joaquim Nabuco, 4/11/1886, Fundaj.
[76] Carta de Wendell Phillips Garrison a Joaquim Nabuco, 9/1/1888, Fundaj.
[77] Carta de Joaquim Nabuco a Salvador de Mendonça, 27/12/1887. In: Nabuco,
Carolina, op. cit.
[78] Carta do Barão de Rio Branco a Joaquim Nabuco, 13/3/1888, Fundaj.
[79] In: Nabuco, Carolina, op. cit.
[80] Davis, op. cit., p. 304.
[81] Carta de Joaquim Nabuco a João Artur de Sousa Correa, 14/5/1888, Fundaj.
[82] Cartas de Victor Schoelcher a Joaquim Nabuco, 11/4 e 29/11/1887, Fundaj.
[83] Carta de Joaquim Nabuco a Victor Schoelcher, 15/2/1888, Fundaj.
[84] Nabuco, Joaquim. "La lute antiesclavagiste au Bresil in Society
Antiesclavagiste de France. 1900". Congrès International Antiesclavagiste tenu
a Paris les 6, 7, 8 aout 1900. Compte rendu des seances. Paris: Society
Antiesclavagiste de France, 1900, pp. 79-98.
[85] Ibidem, p. 174.
[86] Cf. Tarrow, Sidney. "Dynamics of diffusion: mechanisms, institutions, and
scale shift". In: Givan, Rebecca Kolins, Roberts, Kenneth M. e Soule, Sarah A.
The diffusion of social movements: actors, mechanisms, and political effects.
Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
[87] Davis, op. cit., p. 298.