Gestão de dunas costeiras: o uso de sistema de informações geográficas (SIG) na
implantação de planos de gestão no litoral do Rio Grande do Sul, Brasil
1. Introdução
A orla marítima pode ser definida como uma unidade geográfica inclusa na zona
costeira (ZC), delimitada pela faixa de interface entre a terra firme e o mar
(Freire, 2006). Esse ambiente se caracteriza pelo equilíbrio morfodinâmico, no
qual interagem fenômenos terrestres e marinhos (Wright & Short, 1977).
Inseridas nesse ambiente,as dunas frontais são feições naturais da maioria das
praias arenosas, desde condições climáticas tropicais até árticas. São
constituídas por grandes volumes de sedimento, com forma, tamanho e orientação
particulares para cada local, em função do perfil de praia, da orientação da
costa, da direção e velocidade dos ventos dominantes, do tamanho médio dos
grãos e do tipo de vegetação presente (Hesp, 2002).
Conforme a Resolução do CONAMA 303/2002, estas são consideradas Áreas de
Preservação Permanente (APPs) e consistem em espaços territoriais legalmente
protegidos, ambientalmente frágeis e vulneráveis. Considerando o nível de
preservação deste ambiente disposto nas leis brasileiras e as pressões
exercidas através do uso e da ocupação estabelecidos atualmente, é necessário o
estabelecimento de planos, programas e medidas governamentais orientados a
disciplinar os usos dos recursos costeiros e/ou sua conservação. Esses planos
têm como princípio fundamental promover a atenuação dos conflitos envolvendo os
diversos atores que participam da produção do espaço na zona costeira
(Franchini, 2010).
O desenvolvimento de planos de gestão específicos para o ambiente de dunas
frontais torna-se um importante instrumento para a conservação desses
ambientes, já que, nesse tipo de planejamento, se prevêem os possíveis usos do
ambiente nas diferentes esferas, em um longo período de tempo. Na prática, a
gestão de dunas baseia-se nas seguintes estratégias (Soil Conservation Service,
1986): conservação do sistema de dunas existentes, concedendo uma zona tampão
entre as propriedades privadas e as áreas ativas de praia; recuperação das
dunas com distúrbios e controle das atividades recreativas. Por meio do
diagnóstico ambiental desenvolvido para a elaboração dos planos de gestão, é
possível estabelecer as formas de utilização e apropriação do espaço do sistema
de dunas, colaborando para o controle da degradação da vegetação nativa, o que
vem a contribuir para atender às implicações estabelecidas no Artigo 3° do
Código Florestal Brasileiro, que considera este ambiente como Área de
Preservação Permanente (Portz et al., 2011).
No Rio Grande do Sul, os planos de gestão devem seguir as orientações
estabelecidas no Ofício Circular FEPAM/PRES/12-04 da Fundação Estadual de
Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM), sendo alvo de licenciamento
ambiental. Esse é um procedimento administrativo realizado pelo órgão ambiental
competente, neste caso, estadual, para licenciar a instalação, ampliação,
modificação e operação de atividades e empreendimentos que utilizam recursos
naturais, ou que sejam potencialmente poluidores ou possam causar degradação
ambiental. Dessa maneira, considera-se a necessidade de regularizar os usos e
as ocupações existentes nessas áreas com a possibilidade de conciliar e
garantir a continuidade das atividades, sendo considerado,para tanto,a
relevância social e turística desses ambientes.
Para o desenvolvimento desses planos, é necessário proceder à investigação e
planificação de um conjunto de informações sobre o ambiente, as quais devem
responder a algumas questões, tais como: quais são as causas da erosão, qual o
uso desejado da terra, o suporte financeiro disponível, a disponibilidade de
mão de obra e maquinaria necessária para execução dos trabalhos, a manutenção,
o nível de consciência e o envolvimento da comunidade. Para tanto, é necessário
dispor de informações que proporcionem a resposta para estas perguntas, assim
como considerar que essas informações poderão ser modificadas.
No contexto de gerenciamento de informações, o desenvolvimento dos SIGs e das
geotecnologias associadas revolucionou a área de análise espacial, sendo estes
aplicados em diversas áreas do conhecimento, dentre elas o gerenciamento
costeiro. Análises espaciais na zona costeira, baseadas no uso de sistemas de
informações geográficas, sensoriamento remoto e geoprocessamento, possuem uma
vasta gama de aplicações, gerando subsídios para ações de gestão e planejamento
ambiental e para diagnosticar alterações na paisagem e conflitos de uso do
solo. Estudos em zonas costeiras utilizando estas ferramentas têm sido
realizados, tanto no âmbito internacional (e.g., Devillers et al., 2013;
Rodríguez et al., 2009; Sarda et al., 2005; Kitsiou et al., 2002; Pan, 2001,
Phinn et al., 2000) quanto nacional (e.g., Fernandes & Amaral, 2013;
Gianuca & Tagliani, 2012;Silva et al., 2012, Silva & Tagliani, 2012).
Um Sistema de Informações Geográficas (SIG) pode ser definido como um caso
peculiar de sistema de informação, em que o banco de dados é formado por
características, atividades ou eventos distribuídos espacialmente (Dueker,
1979). Câmara (1995) o definiu como um sistema informatizado que permite
capturar, modelar, manipular, recuperar, consultar, analisar e apresentar dados
geograficamente referenciados. Dessa forma, a localização geográfica é
essencial para a entrada de dados em um softwarede SIG.Em um SIG, é possível a
inserção de dados espaciais e dados não-espaciais em um único sistema,
permitindo a combinação de grande variedade de informações e a integração de
dados de diferentes fontes (ex.: dados de sensoriamento remoto, dados
topográficos, dados de censos, dados de GPS, entre outros).
Especificamente para a integração dos dados em gestão ambiental, os SIGs
apresentam, pelo menos, três requisitos essenciais: a eficiência (pela
facilidade de acesso e manipulação de grande volume de dados), a integridade
(pelo controle de acessos por múltiplos usuários) e a persistência (pela
manutenção de dados por longo tempo, independentemente dos aplicativos que
acessam os dados e sua possível revisão). (Santos, 2004)
O objetivo deste trabalho é demonstrar a potencialidade do uso de um Sistema de
Informações Geográficas para o diagnóstico ambiental de dunas, bem com
salientar a importância da integração de dados regionais em ambiente SIG, a fim
de obterem-se melhores resultados para subsidiar a tomada de decisão e o
Gerenciamento Costeiro Integrado no Rio Grande do Sul.
2. Área de estudo
A costa do Rio Grande do Sul (RS),desde Torres, ao norte, até a desembocadura
do arroio Chuí, ao sul, é constituída por uma ampla planície costeira com cerca
de 618 km de comprimento e até 120 km de largura, onde um sistema de barreiras
arenosas aprisiona um grande sistema lagunar (Complexo Lagunar Patos-Mirim), e
uma série de outros corpos de água isolados ou interligados com o mar por
intermédio de canais estreitos e rasos (Villwock, 1994).
Sua formação, durante o Quaternário, se deu a partir da justaposição lateral de
quatro sistemas deposicionais do
tipo laguna-barreira, cuja formação foi controlada pelas flutuações do nível do
mar durante o Quaternário (Sistema Barreira- Laguna I, II e III de idade
Pleistocênica e sistema IV, que iniciou sua formação há cerca de 7ka AP),
constituindo uma sucessão de terraços marinhos e lagunares (Villwock, 1984).
A atual linha de costa da planície costeira do RS apresenta uma orientação
geral nordeste - sudoeste, com praias arenosas retilíneas e contínuas,
predominantemente dominada por ondas, sendo caracterizado pela ocorrência de
uma ondulação de longo período proveniente do SE e por vagas (que resultam da
ação de ventos locais) provenientes principalmente do E-NE. A altura média
significativa das ondas, medida a uma profundidade de 15-20 m, é de 1,5 m.
Especialmente durante os meses de outono e inverno, o regime normal de ondas é
episodicamente perturbado pela ocorrência de ondas de tempestade associadas à
passagem de frentes frias provenientes do sul (Tomazelli & Villwock, 1992).
A região apresenta um regime de micromaré, de acordo com a classificação de
Hayes (1979), controlado por maré astronômica cuja amplitude média situa-se em
torno de 0,5 m, sofrendo também influência das marés meteorológicas. Estas
podem alcançar de 1,2 m em Tramandaí (Almeida et al.,1999) a 1,6 m em Rio
Grande (Parise et al.,2009), sendo responsáveis pela erosão na costa, uma vez
que causam a sobre elevação acima do nível de maré astronômica, produzindo
variações ainda maiores quando associadas a marés de sizígia.
De acordo com a classificação morfodinâmica de Wright & Short (1984), as
praias do litoral norte do RS variam entre intermediárias a dissipativas
(Tomazelli & Villwock 1992; Toldo Jr et al.,1993; Weschenfelder, 2002).
Associada às subdivisões do ambiente praial, existe uma infinidade de cursos
de água denominados de sangradouros. Estes são cursos de água naturais e de
pequena escala, que atuam na drenagem de zonas úmidas originadas a partir do
acúmulo de água doce de origem pluviométrica em regiões adjacentes à costa,
principalmente nas depressões e banhados localizados entre os cordões
litorâneos. Sua ocorrência é sazonal, modificando a intensidade de acordo com
os índices pluviométricos da região.
Por terem sua importância e seus impactos intimamente ligados às
características geomorfológicas da costa (Serpa, 2008),servindo de canal para o
escoamento de águas naturais durante períodos de chuvas, são os agentes
responsáveis pela remobilização de sedimentos das dunas na região do estirâncio
(Calliari et al., 2005), podendo carrear grandes quantidades de sedimentos de
volta para o mar, originando a erosão do pós-praia e permitindo uma maior ação
das ondas nas áreas adjacentes. Os sangradouros também são descritos como
agente de segmentação das dunas, ocorrendo principalmente em regiões com
elevada taxa de urbanização, uma consequência das edificações e da pavimentação
das ruas, que reduz,dessa forma, a infiltração da água pluvial, aumentando a
vazão e, desse modo, rompendo o sistema de dunas (Portzet al., 2010).
Atualmente, o litoral do Rio Grande do Sul é integrado por 16 municípios, sendo
essa região dividida, segundo a FEPAM, em três áreas distintas: litoral sul,
médio e norte, nas quais as dunas frontais estão presentes.
Para a avaliação do uso de SIG na formulação dos planos de gestão de dunas,
serão discutidos os resultados obtidos para os municípios de Capão da Canoa e
Arroio do Sal, localizados no litoral norte do Rio Grande do Sul (Figura
1).Politicamente, esses municípios limitam-se, ao norte, com o município de
Torres, a leste com o oceano Atlântico, ao sul com o município de Xangrilá e, a
oeste, com as margens das Lagoas dos Quadros e Itapeva, na divisa com os
municípios de Maquiné e Terra de Areia.
3. Materiais e Métodos
Os municípios de Capão da Canoa e Arroio do Sal, na busca de conciliar o
desenvolvimento do turismo e do veraneio com a preservação das suas
características naturais, melhorias nos serviços (segurança, higiene e
alimentação) e facilidades de acesso à praia, firmaram parceria com o Centro
de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (CECO/UFRGS, Brasil) para o desenvolvimento de seus planos de
gestão de dunas frontais,tendo como método de auxílio o uso do Sistema de
Informações Geográficas. Os resultados dessa parceria se encontram em dois
documentos técnicos: 1) Diagnóstico para o plano de gestão das dunas frontais e
o 2) Plano de gestão das dunas frontais, ambos protocolados na Fundação
Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (Gruber, 2010a,b,
2011a,b).
O trabalho compreendeu a caracterização geral do sistema de dunas, por meio do
levantamento a partir de fontes de dados primários e secundários. Os dados
primários representam aqueles que atendem às necessidades específicas da
pesquisa em andamento, como a identificação dos elementos presentes no sistema
de dunas. Esse levantamento foi realizado por meio de visitas periódicas às
áreas de estudo para sua caracterização, abrangendo observações,
georreferenciamento de elementos de interesse, como acessos à praia,
sangradouros, edificações, coleta de pontos de controle e registros
fotográficos de campo. O levantamento de dados secundários contemplou pesquisa
bibliográfica, cartográfica, hemerográfica e por sensoriamento remoto.
3.1. Construção do sistema de Informações Geográficas (SIG)
3.1.1. Elaboração do banco de dados georreferenciados
A elaboração do banco de dados compreendeu a vetorização, em ambiente SIG, dos
elementos de interesse existentes na orla do município,com uso de imagens de
sensoriamento remoto, bem como a inserção de dados coletados em campo. As
imagens utilizadas foram obtidas pela Digitalglobe, extraídas a partir do
software Google Earth. Imagens deste satélite foram utilizadas por Li et al.
(2005) para o mapeamento da linha de costa, com ótimos resultados de precisão.
As imagens foram georreferenciadas através de pontos de controle coletados em
campo. O Projeto em SIG foi elaborado em sistema de coordenadas em Projeção UTM
e DatumWGS84, Fuso 22S.
Através de sensoriamento remoto, foi realizada a identificação e o mapeamento
dos sistemas de drenagem junto à orla, dos sistemas de dunas frontais, das
feições transversais às dunas frontais e à cobertura vegetal presente nas
áreas de estudo. Além disso, foram mapeados elementos correspondentes ao uso da
praia, como: acessos à praia, tanto de pedestres como de veículos, quiosques,
ocupações irregulares, acessos funcionais e as áreas de escape de areia do
sistema de dunas para a pavimentação presente na porção posterior do sistema.
Posteriormente, em levantamento de campo, os elementos mapeados foram
verificados/ confirmados, através de medições manuais e com auxílio de GPS, e
foram inseridos no banco de dados do SIG, sendo estes estruturados no
softwareArcGIS 9.3.
3.1.2. Índices de vulnerabilidade costeira
Os índices de vulnerabilidade foram desenvolvidos utilizando-se uma lista de
controle de vulnerabilidade (Tabajara et al., 2012), no sentido de identificar
os principais setores degradados do sistema de dunas frontais dos municípios de
Arroio do Sal e Capão da Canoa. Esse método é utilizado para traçar o
"delineamento do problema", no qual as principais características
são listadas e avaliadas dentro de parâmetros do sistema costeiro: A -
Morfologia das dunas; B - Condições da praia; C - Característica dos 200 m
adjacentes ao mar e D - Pressão de uso (Tabela_1). Os índices de
vulnerabilidade são estabelecidos em intervalos de 250 m de linha de costa,
sendo que variam na proporção direta da fragilidade do sistema e indicam as
áreas nas quais devem ser despendidos os maiores esforços de intervenção.
3.1.3. Análises em SIG
Com o banco de dados estruturado, além da espacialização e elaboração de mapas
da situação atual da orla dos municípios, foi possível a realização de diversas
análises para fins de diagnóstico e planejamento da gestão das áreas mais
vulneráveis das dunas. Uma das análises possíveis foi a detecção das áreas mais
suscetíveis aos impactos da sobre elevação do nível do mar por eventos de
tempestade. Esta análise foi realizada por meio da modelagem de sobreelevação
do nível do mar com base no resultado do levantamento topográfico, com a
visualização de cenários de elevação do nível marinho.
O levantamento topográfico apresentado neste trabalho e utilizado para a
modelagem foi realizado no município de Capão da Canoa, em um setor de 1800 m
de comprimento. O levantamento foi realizado utilizando GPS de precisão em modo
cinemático com correção em tempo real (RTK). A coleta de dados foi realizada no
método stop-and-go, sendo a precisão métrica planar e altimétrica menor que 1
cm em todos os pontos coletados. Nesse caso, foram modelados episódios de sobre
elevação do nível do mar considerando eventos de maré meteorológica ou por
passagem de ciclones próximos à costa, para a definição dos ambientes mais
suscetíveis a inundação. Os dados referentes a marés meteorológicas que ocorrem
na costa do Rio Grande do Sul pela passagem de frentes frias vindas de sul e
sudoeste são referentes aos trabalhos de Almeida et al. (1999) e Parise et al.
(2009). Segundo os autores citados, as marés meteorológicas podem alcançar
valores de sobre-elevação do nível do mar entre 1,2m e 1,6m.
Através das ferramentas de geoprocessamento, foi possível realizar o cálculo
das áreas e a medida da largura das dunas frontais e delimitar as Áreas de
Proteção Permanente (APPs). A delimitação de APPs por meio da ferramenta
específica de geoprocessamento que define uma região em torno de entidades
geométricas (pontos, linhas ou polígonos), com base em critérios de distância,
seguiu a legislação do órgão ambiental estadual - Documento Normativo para a
2004): campos de dunas frontais - 60 m para as áreas urbanizadas e 300 m para
as áreas ainda não urbanizadas. Dessa forma, a partir dos dados referentes ao
traçado do primeiro cordão de dunas coletado em campo, o limite da APP foi
definido, transformando esse limite imediato (dado) em informação.
Além das APPs de dunas, outros limites de APP's foram delimitados,
conforme o Art.3º da Resolução nº. 303 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio
Ambiente de 20/03/2002 (CONAMA, 2002): 30 metros para sangradouros e corpos
d'água (Inciso I, "a"); vegetação de restinga (Inciso IX); e
campos de dunas transgressivos (Inciso XI).
4. Resultados e discussão
A identificação e o mapeamento das informações referentes ao estado e à
conservação do sistema de dunas nos municípios estudados, assim como dos
elementos referentes ao uso da praia, caracterizaram o sistema de dunas como
formado por cordões de dunas descontínuos, de topografia irregular e muito
segmentada pela ação antrópica e pela presença de cursos de água intermitentes
(sangradouros), além de uma forte pressão da urbanização sobre a Área de
Proteção Permanente. Um exemplo da espacialização dos dados nos Planos de
Manejo de Dunas dos municípios de Capão da Canoa e Arroio do Sal pode ser
observado nas Figura_2 e 3.
O município de Capão da Canoa se caracteriza por uma matriz urbana, abrigando
atividades sociais e produtivas, apresentando características de balneário para
fins turísticos e de veraneio de segunda residência, e de moradia fixa, esta
última em fase de expansão. Os vazios urbanos apresentam dunas frontais e campo
de dunas vegetadas bem preservadas, que representam um ambiente de interesse
especial devido à presença de banhados e campos de dunas significativos. Por
não apresentar urbanização consolidada e possuir grandes sangradouros
associados, esta área permite um local de pouso e alimentação notável para a
avifauna costeira. As classes utilizadas no mapeamento da orla de Capão da
Canoa partiram da observação de campo e das demandas apresentadas pela
prefeitura municipal. Essas informações subsidiaram a definição das áreas mais
degradadas e que necessitavam de intervenção imediata da prefeitura, a fim de
preservar o campo de dunas frontais.
Nos balneários ao Norte deste município, os principais conflitos foram
relacionados a ocorrências de falta de acesso à praia, manutenção da drenagem
de canais pluviais, geralmente associada à existência de vias públicas sobre o
sistema de dunas e utilizadas como acesso de veículos. Ao sul do município, os
problemas relatados são relacionados com a demanda urbanística e de lazer da
orla, sendo necessária a melhoria das condições do "calçadão"
presente neste setor, com a recuperação do sistema de dunas frontal que o
acompanha longitudinalmente, além da melhoria dos acessos à praia e manutenção
da drenagem pluvial.
Contrariamente, o município de Arroio do Sal apresenta uma orla extensa e bem
preservada, com áreas de dunas frontais ainda pouco comprometidas, quando
comparada com a orla de Capão da Canoa. Ficou constatado que, em Arroio do Sal,
os maiores problemas de erosão das dunas são causados por efeitos físicos
naturais,como pelas marés meteorológicas, pelo deslocamento de sangradouro, que
causam erosão no sistema de dunas adjacentes, e pela expansão da vegetação
exótica. Essas informações constatadas subsidiaram a valoração e a qualificação
das praias consideradas estratégicas por motivos ambientais ou turísticos, para
identificar os melhores caminhos para o desenvolvimento das atividades
específicas da orla costeira e para a defesa e conservação desse ambiente. Os
principais conflitos foram relacionados à falta de manutenção da drenagem
local. As áreas já urbanizadas entram em conflito com canais pluviais já
existentes, devido à ocupação sobre as áreas de preservação permanente (30
metros das margens desses corpos d'água). Devido ao número de
sangradouros existentes e de diferentes aportes, foi sugerido o uso restrito de
máquinas para a abertura de canais apenas na zona de pós-praia, com a
finalidade de preservar o sistema de dunas frontais da erosão provocada pela
migração da desembocadura dos sangradouros na praia.
Os resultados do índice de vulnerabilidade,representado nas figura_2 e 3,
integram o banco de dados,servindo de base para as avaliações técnicas dos
diferentes setores dos municípios de Capão da Canoa e Arroio do Sal. Quanto
maior o índice de vulnerabilidade, maior é a fragilidade do sistema, sendo as
áreas com altos índices as que necessitam de maiores esforços de intervenções /
gestão. Um exemplo dessa integração de dados são o tipo de morfologia da duna
frontal e sua cobertura vegetal associada. Portanto, quando se conjugam
morfologias erosivas e baixa cobertura vegetal à forte pressão de uso, indicam-
se estas áreas com maior suscetibilidade à degradação e, portanto,
prioritárias a intervenções para a recuperação do ambiente.
Em ambos os municípios, os segmentos que apresentaram maior índice de
vulnerabilidade estão associados à maior pressão de uso antrópico, como as
áreas com implantação de calçadão, concentração elevada de quiosques de venda
de bebidas e alimentos e áreas de lazer (ex: quadras de esporte) próximas às
dunas ou sobre estas. Nessas áreas, com o aumento da oferta de serviços
associados ao setor do turismo sazonal, aumenta o fluxo de pedestres e de
veículos motorizados e, consequentemente, o número de caminhos abertos sobre o
sistema de dunas. Esses caminhos ampliam a degradação da vegetação existente e,
posteriormente, contribuem para a formação de brechas no sistema de dunas.
Com uma grande quantidade de dados coletados, o uso do SIG possibilitou o
gerenciamento dos recursos costeiros e a obtenção de dados múltiplos em grandes
áreas e permitiu atualizações de forma rápida. Esse processo também dá suporte
às atividades de campo, através da espacialização das unidades mapeadas, além
da possibilidade de consulta ao banco de dados contendo informações referentes
a cada entidade espacial de interesse.
O estabelecimento de limites imediatos pode ser útil para a determinação de
áreas de exclusão para o uso e a ocupação, como, por exemplo, as áreas próximas
dos sangradouros, áreas de proteção permanente ou áreas de risco de
soterramento pela migração de dunas móveis. Assim, propostas de gestão nos
diferentes setores da orla podem ser realizadas, e a espacialização das
intervenções/ ações sugeridas pode ser disposta espacialmente por meio do SIG e
visualizadas na forma de mapas, sendo esta mais uma informação que compõe o
banco de dados final do projeto/ estudo. O exemplo dessa espacialização pode
ser visualizado na figura_4.
A intervenção apresentada nesse setor (figura_4) representa a situação de um
importante sangradouro na divisa do balneário Praia do Barco e do Jardim Beira-
Mar produzindo erosão e recuo do sistema de dunas frontais. O diagnóstico
identificou o sangradouro pluvial urbano interceptado pelas areias
transportadas pelo vento nordeste, acarretando a deriva do fluxo da água para o
sul e erosão dos terrenos e ruas adjacentes. As ações e estratégias de manejo
apresentadas foram: a preservação de 30 m de cada margem do sangradouro,
atendendo à legislação (Código Florestal, Lei nº. 4.771/65, art. 2º), e a
construção de um anteparo para direcionar o fluxo da corrente na margem sul da
sua desembocadura; reconstrução da área degradada por ação do curso do
sangradouro e estabilização das dunas frontais a barlavento do sangradouro
através de espalhamento de cobertura morta e alinhamento de esteiras de
contenção de areia transversais ao vento NE; replantio de mudas de espécies
nativas (capim de praia - Panicumracemosum) na pós-praia, protegido por
esteiras de contenção, instaladas a 6 metros da base do sistema de dunas
remanescente, adjacentes ao sangradouro.
O levantamento topográfico detalhado de um trecho do sistema de dunas resultou
em um modelo digital do terreno que serviu de base para a realização de uma
modelagem da sobre elevação do nível do mar causada por forçantes
meteorológicas, sendo que os resultados dessa modelagem indicaram que as áreas
de sangradouros são as mais suscetíveis aos efeitos da erosão causada pela
sobre elevação do nível do mar (Figura_5), sendo, dessa forma, possível propor
intervenções para remediar as consequências negativas. Nesse caso, o uso do SIG
foi essencial para a criação do modelo, demonstrando visualmente ao gestor como
ocorre o avanço do mar sobre as dunas e a sua ligação com o sangradouro -
área mais frágil a este fenômeno. A degradação desse ambiente ocorre em
situações de erosão na face de praia ou no sistema de dunas ocasionadas pelo
aumento de fluxo de escoamento de água em episódios de chuva excessiva e
agravadas pela sobre elevação do nível do mar.
Em áreas com alto grau de urbanização, essas intervenções ocorrem,
principalmente, no sentido de preservar a integridade do sistema de dunas; para
tanto, foram sugeridas ações como a instalação de tubulação para o escoamento
pluvial sob a crista da duna frontal, mantendo a continuidade do sistema. Além
disso, o direcionamento da passagem de pedestres através da implantação de
estruturas como passarelas também é um tipo de intervenção que visa à
manutenção do sistema de dunas, protegendo a orla.
Por meio das técnicas de modelagem em SIG, também foi possível avaliar as
diferentes técnicas de manejo a serem empregadas, comparando dois ou mais
traçados prováveis, no que se refere a seus efeitos na proteção dos bens e
imóveis presentes na porção reversa do cordão de dunas. A avaliação dos
possíveis efeitos negativos que determinadas intervenções podem gerar serve
para minimizar os prejuízos que essas intervenções poderão causar. Existem
várias possibilidades para se avaliar antecipadamente os efeitos das
intervenções, para evitar eventuais futuros efeitos negativos (Lang &
Blaschke, 2009). Considerando que os sangradouros são as áreas mais vulneráveis
à sobre elevação do nível do mar, a caracterização (número, área da bacia de
drenagem, área impermeabilizada) dos sangradouros existentes em um setor da
costa e a inserção dessas informações no SIG proporciona prever os possíveis
efeitos que prováveis intervenções poderão causar, como, por exemplo, a
retilinização dos canais de escoamento pluvial e direcionamento para uma única
saída para o mar, tendo como objetivo diminuir a segmentação do sistema de
dunas e, dessa forma, reduzir a vulnerabilidade à inundação da costa.
Como resultado final dos planos de gestão de dunas, são disponibilizadas as
técnicas de gestão definidas para cada local em formato de planilha. Com a
utilização e disponibilização de todos os dados do projeto em formato SIG,
essas informações podem ser acessadas rapidamente, assim como alteradas caso o
cenário ambiental seja modificado, ou caso as técnicas utilizadas não tenham
atingido o resultado desejado.
A identificação de elementos ou ações que se deseja visualizar torna-se
fundamental para os gestores de áreas litorâneas, pelo fato de o ambiente de
dunas ser muito dinâmico, as ferramentas que permitam respostas rápidas se
tornam extremamente úteis (Figura_6).
Além disso, a complementação do banco de dados georreferenciados pode ser
realizada com informações posteriores, referentes à implementação do plano,
visando ao gerenciamento das informações relativas às próprias estruturas
implantadas efetivamente nos locais sugeridos no plano, como, por exemplo:
extensão e largura das passarelas, material das estruturas, data de implantação
das estruturas, observações, entre outras. O gerenciamento da zona costeira
pode ser mais efetivo quando realizado com base nas informações atualizadas no
SIG.
4.1.1. SIG no Gerenciamento Costeiro
As zonas costeiras apresentam um caso especial para a manipulação e gestão de
informações geográficas por constituírem a zona de interface entre dois tipos
contrastantes de ambientes terrestre e marinho (Tolvanen & Kalliola, 2008).
O SIG fornece uma valiosa forma de visualizar as informações e integrá-las em
qualquer etapa do projeto, nomeadamente detecção, avaliação, planejamento,
análise de uso, modelagem etc. (Figura_7).
Aplicado à gestão de dunas, um SIG é capaz de integrar e consolidar os dados
operacionais e históricos, alimentando o processo de tomada de decisões na
gestão de dunas, por exemplo, com informações gerenciais e estratégicas. Além
disso, o SIG também pode integrar os dados de outros órgãos, tais como os dos
demais municípios da região, de universidades e órgãos governamentais. Para os
municípios, as vantagens se encontram na facilitação de armazenamento dos dados
em um formato físico compacto, podendo ser mantidos e extraídos a um custo
menor e com uma maior velocidade; as planilhas e as informações gráficas podem
ser integradas e manipuladas simultaneamente; além do acompanhamento da
evolução dos projetos de gestão, recuperação ou aceleração de degradações.
O uso do SIG ocupa, hoje, o topo da lista de ferramentas de apoio ao tratamento
de informação espacial, existindo, atualmente, no mercado, uma vasta quantidade
de softwares. As possibilidades de produtos que podem ser gerados em um SIG
(mapas, modelos, tabelas, estatísticas, entre outros) podem subsidiar a
elaboração de planos de gestão, mas de maneira mais ampla, podem dar subsídios
ao gerenciamento costeiro
em geral. Produtos cartográficos de apoio ao trabalho de campo, produtos finais
de variação temporal de elementos costeiros (dunas, vegetação, linha de costa,
etc.), além da inserção de dados alfanuméricos relacionados às feições
mapeadas e possibilidade de atualização rápida da base de dados (entre outros
exemplos de aplicações) demonstram o extremo potencial de um SIG aplicado à
gestão costeira. Em um SIG, é possível a integração e manipulação rápida e
eficaz de dados, de forma que a geração de informação subsidie tanto o
diagnóstico quanto o gerenciamento de informações. A possibilidade de fazer
atualizações, alterações e reconstruções de cenários de forma a proporcionar
uma visão particular do problema discutido e a reavaliação instantânea de
qualquer interferência prevista é uma característica relevante do SIG,
tornando-o muito vantajoso com relação a outros procedimentos/técnicas
utilizados no diagnóstico e na avaliação de ambientes.
Nesse contexto, o ordenamento da orla costeira pode ser facilitado pelo uso do
SIG, uma vez que praticamente todas as informações sobre os ambientes costeiros
podem ser georreferenciadas, constituindo um recurso fundamental do
desenvolvimento sustentável e dando um contexto espacial ao amplo conteúdo de
informações ambientais necessárias para o entendimento dessas áreas.
O uso dessa ferramenta tem sido aplicado nos mais diversos trabalhos em
gerenciamento costeiro no mundo, em estudos com enfoques distintos. Como
exemplos, pode-se citar: o estudo na Catalunha, Espanha, para dar suporte a
decisões governamentais, em virtude da pressão exercida pela indústria do
turismo (Sarda et al., 2005); na baía de Plenty, Nova Zelândia, para dar
suporte ao desenvolvimento sustentável da aquicultura (Longdill et al., 2008);
na praia de Coquina, Estados Unidos, utilizando SIG para modelar o sistema de
dunas em virtude da erosão ocasionada frequentemente pelas tempestades (Andrews
et al., 2002); no lago Huron, Canadá, utilizou-se SIG para monitorar a formação
e evolução de corredores de deflação no sistema de dunas (Decha et al., 2005);
outras aplicações de SIG em estudos de sistemas eólicos também podem ser
encontradas em Sánchez et al.(2005).
O sensoriamento remoto e SIG são muito utilizados também para monitorar
mudanças ambientais e de uso da terra - movimentações da linha de costa,
migração de canais de delta, expansão urbana e modificações de uso da terra
(Chen et al., 2005; Shalaby & Tateishi, 2007; Rodríguez et al., 2009;
Marino & Freire, 2013). Um estudo realizado na Grécia sumariza uma
metodologia para fazer uma avaliação multidimensional em zonas costeiras
utilizando ferramentas multi-critério em ambiente SIG (Kitsiou et al., 2002).
Outra aplicação dos SIG's é na modelagem de dispersão de óleo no oceano
proveniente de vazamentos (Li et al., 2001) e a determinação da sensibilidade
costeira ao derramamento de óleo (Vafai et al., 2013).
Investigações na zona costeira do Rio Grande do Sul (Brasil), visando dar
subsídios ao gerenciamento costeiro com a utilização de SIG, vêm sendo
realizadas, enfocando diferentes questões. Farina (2002) realizou uma modelagem
para a expansão urbana no município de Rio Grande, litoral sul do Estado; Silva
et al. (2011) realizaram um mapeamento do uso da terra e seus impactos na
vulnerabilidade costeira como subsídio ao gerenciamento de riscos e adaptação
costeira; no litoral médio do Estado, Silva & Tagliani (2012) realizaram um
estudo para o planejamento ambiental da região; subsídios proporcionados pelo
uso de SIG e Sensoriamento Remoto para o planejamento costeiro no litoral do
Rio Grande do Sul foram analisados no trabalho de Silva et al. (2012). Gianuca
& Tagliani (2012) avaliaram alterações da paisagem em áreas adjacentes a
regiões com cultivo de pinusno litoral médio do Estado.
Para a elaboração de um plano de manejo de dunas, enfoque deste artigo,
diversas informações devem ser levantadas, tanto relacionadas à dinâmica
costeira quanto à dinâmica urbana/humana da área. Assim, estudos com diversos
enfoques realizados na área a ser estudada devem ser levantados e analisados na
etapa de diagnóstico, os quais subsidiarão o entendimento da referida área e,
posteriormente, o planejamento da mesma (com a elaboração do Plano de Manejo).
A facilidade de integração e avaliação de informações em ambiente SIG deve
servir como estímulo para que todos os estudos na zona costeira sejam
elaborados neste ambiente, gerando produtos georreferenciados e com banco de
dados associado.
Os SIG's podem fornecer valiosas contribuições no apoio às tarefas e aos
projetos de planejamento cada vez mais complexos (Lang & Blaschke, 2009).
Nesse contexto, a criação de um Sistema Integrador de Informações Geoambientais
para o litoral do estado do Rio Grande do Sul, aplicado ao gerenciamento
costeiro, traz em seu formato as concepções dos modelos descritos, através da
identificação das pressões exercidas sobre o sistema costeiro, das modificações
impostas a ele por essas pressões e dos impactos geoambientais decorrentes
dessas modificações. Os diagnósticos e prognósticos elaborados constituem a
base para as decisões e as ações integradas de políticas públicas (respostas),
em níveis estadual, regional e municipal, devendo atender aos diversos
instrumentos de planejamento, gerenciamento, fiscalização e controles
ambientais existentes na zona costeira (Souza, 2003).
A utilização de um SIG pode promover e facilitar a troca de informações entre
as instituições e, em longo prazo, pode permitir a integração de todas as
informações em um único banco de dados estadual, auxiliando os órgãos
municipais e estaduais nas tomadas de decisões. O elemento essencial em todo
esse processo é a perspectiva de ocorrer colaboração mútua e benéfica entre os
diferentes parceiros em uma escala temporal longa, além de que todos os
conteúdos das informações estejam disponíveis abertamente para a sociedade.
Nesse contexto, um "SIG dinâmico" (Gourmelon et al., 2013),
elaborado com a colaboração de órgãos/instituições envolvidos e a sociedade
local (por meio de entrevistas para delimitação de zonas de usos - zona
de atividade de pesca; áreas utilizadas para lazer etc. - e coleta de
dados in loco), possibilita a integração de todos os dados e informações
necessárias para um efetivo gerenciamento costeiro integrado.
5. Considerações finais
O desenvolvimento de projetos de gestão no sistema de dunas passa pela
integração e análise de grande quantidade de dados, como a caracterização
ambiental e de ocupação da orla, visando a sua setorização e a determinação de
prioridades às intervenções e às demandas do município. A dinâmica das formas
e dos processos atuantes na costa requer atualizações de dados constantes e de
baixo custo.
Os dados integrados em ambiente SIG (acessos à praia, cursos de água,
ocupações irregulares e loteamentos, usos dos ambientes de praia e dunas,
presença de quiosques, setorização de áreas de pesca e de surfe, topografia,
presença de vegetação nas dunas, entre outros) serviram como base para a
identificação e o ordenamento dos diferentes usos e das atividades
desenvolvidas na orla costeira, assim como para a obtenção da classificação das
praias de acordo com seus usos predominantes. Essa classificação possibilitou,
em uma etapa posterior de análise e proposição de ações, o direcionamento das
intervenções necessárias a serem realizadas na área de estudo.
Os resultados obtidos no estudo de caso exposto nesse artigo demonstram que o
SIG é uma tecnologia de apoio fundamental para qualquer estudo que pretenda
resolver problemas ambientais relacionados a planos de gestão de dunas.
Nos casos dos municípios de Capão da Canoa e Arroio do Sal, a delineação dos
problemas existentes foi facilmente mapeada, de forma rápida e econômica,
possibilitando fácil acesso e interpretação das informações elaboradas,
auxiliando os gestores e a comunidade na identificação dos parâmetros que mais
alteram o equilíbrio desses sistemas naturais. Os municípios aqui estudados
apresentam uma extensa orla com distintos graus de urbanização, com suas áreas
naturais de dunas frontais exibindo graves problemas de erosão, causados tanto
por efeitos naturais, como os efeitos das ondas de ressacas, quanto por efeitos
antrópicos, causados pelo deslocamento dos sangradouros e pela supressão da
vegetação nativa, além de uma descaracterização do ambiente pelo plantio de
vegetação exótica.
Com o intuito de preservar esse ambiente, deve-se realizar o controle das
atividades de uso da orla e a recuperação das áreas degradadas com a utilização
de estratégias de gestão, tais como: instalação de esteiras de contenção,
plantio de vegetação nativa e retirada de vegetação exótica, controle para que
não ocorra um avanço da urbanização sobre as áreas das dunas frontais,
instalação de passarelas sobre as dunas e de acessos funcionais para carros
oficiais (ex: veículos autorizados, como ambulâncias, fiscalização e
policiamento).
No âmbito municipal, as vantagens se encontram na facilitação de armazenamento
dos dados em um formato físico compacto, podendo ser mantidos e extraídos a um
custo menor e com uma maior velocidade. As planilhas e as informações gráficas
podem ser integradas e manipuladas simultaneamente, além do acompanhamento da
evolução dos projetos de gestão, recuperação ou aceleração de degradações. Indo
ao encontro da concepção de um sistema integrador de informações para a gestão
costeira, a utilização de um SIG revela-se como essencial, possibilitando
promover e facilitar a troca de informações entre instituições /municípios, e,
em longo prazo, pode permitir a integração de todas as informações em um único
banco de dados estadual, auxiliando os órgãos municipais, estaduais e até mesmo
federais nas avaliações da zona costeira e nas tomadas de decisão.
Assim, a estrutura de projetos em SIG permitirá a atualização rápida dos bancos
de dados e dos produtos básicos gerados e, automaticamente, gerará todos os
produtos intermediários e finais. Com a identificação das pressões, das
modificações ambientais e dos impactos das atividades antrópicas na zona
costeira, as respostas e as ações de políticas públicas poderão ser melhor
direcionadas rumo à implementação de um gerenciamento integrado da zona
costeira mais consistente, que possa conduzir a um desenvolvimento sustentável
mais efetivo.