Partição da deformação Varisca nos sectores de Peso da Régua e Vila Nova de Foz
Côa (Autóctone da Zona Centro Ibérica)
1. INTRODUÇÃO
O Maciço Ibérico tem-se revelado de grande importância para a compreensão da
evolução geodinâmica da Cadeia Varisca (Fig. 1A).
Fig._1 – A– Divisões do Maciço Ibérico (adaptado de RIBEIRO etal., 1979; 1990;
SAN JOSÉ etal., 2004): CZ – Zona Cantábrica, WALZ – Zona Oeste Astúrico-
Leonesa, GTOMZ – Zona de Galiza Trás-os-Montes, CIZ – Zona Centro-Ibérica, OMZ
– Zona de Ossa-Morena, SPZ – Zona Sul Portuguesa, MCS – Sequências Meso-
Cenozóicas; B– Principais unidades geológicas da zona Centro-Ibérica com
indicação da vergência das estruturas D1 (adaptado de DIAS, 2006 e DIAS etal.,
2006); C– Corte geológico esquemático transversal à Zona Centro Ibérica
(adaptado de RIBEIRO etal., 2007).
– A – Main Iberian Massif units (adapted from Ribeiro et al., 1979; 1990; San
José et al., 2004): CZ – Cantabrian Zone; WALZ – West Asturian-Leonese Zone;
GTOMZ – Galicia Trás-os-Montes Zone; CIZ – Centro Iberian Zone, OMZ – Ossa-
Morena Zone; SPZ – South Portuguese Zone; MCS – Meso-Cenozoic sequences; B –
Main geologic units of Centro Iberian Zone, with D1 structures facing (adapted
from Dias, 2006 e Dias et al., 2006); C –Centro Iberian Zone geological cross-
section (adapted from Ribeiro et al., 2007).
Estudos realizados na Serra do Marão (Coke, 2000) evidenciaram a coexistência
de sectores do Paleozóico inferior onde a deformação Varisca principal
(usualmente designada por D1) é incipiente, contrastando com estreitas faixas
onde esta deformação é bastante acentuada. Os critérios cinemáticos existentes
nestes domínios mais deformados evidenciam que eles terão funcionado
essencialmente como corredores de cisalhamento esquerdo, o que é compatível com
o regime transpressivo esquerdo que tem vindo a ser descrito para a
generalidade dos sectores setentrionais do Autóctone da Zona Centro-Ibérica
(e.g., Ribeiro et al., 1990).
Tendo em vista uma melhor compreensão da importância regional deste padrão de
deformação heterogénea, procedeu-se a estudos detalhados de cartografia
estrutural nas formações do Grupo do Douro no sector de Peso da Régua e de Vila
Nova de Foz Côa, os quais são descritos neste trabalho.
2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO
2.1. Enquadramento estrutural
A Zona Centro-Ibérica é um domínio bastante heterogéneo do orógeno Varisco,
compreendendo áreas com diferentes graus de metamorfismo, desde baixo a alto
grau e abundantes granitóides (Ribeiro et al., 1990). Para além da
heterogeneidade metamórfica, é possível observar uma acentuada heterogeneidade
estrutural, a que não é estranha a existência de um complexo de empilhamentos
de mantos alóctones e parautóctones sobrepostos às formações autóctones (Fig. 1
B e C). Embora tenha sido possível evidenciar a sobreposição de vários eventos
variscos dúcteis (e.g., Ribeiro et al., 1990; 2007) a generalidade da estrutura
do autóctone é devida à actuação da primeira fase de deformação Varisca (D1). A
vergência das estruturas associadas a esta fase de deformação, existente nos
sectores setentrionais do autóctone, permitiram evidenciar a existência de uma
Estrutura em Flor (“flower structure”) positiva à escala regional (Ribeiro et
al., 1979; Dias, 1998; Dias & Ribeiro, 1998; Dias et al., 2006) a qual
designamos aqui por Estrutura em Flor do Douro e que em trabalhos anteriores
têm vindo por vezes a ser referida como Estrutura em Flor Setentrional. Esta
estrutura em flor apresenta um ramo nordeste bem desenvolvido e vergente para
NE, que passa gradualmente à zona Oeste Astúrico-Leonesa e um ramo curto
sudoeste caracterizado pela presença de dobras com vergência para W a SW (Fig.
1B) evidentes, por exemplo em Valongo, Oliveira de Azeméis e Caramulo.
As dobras D1 encontram-se espacialmente associadas a corredores de cisalhamento
esquerdos subparalelos aos planos axiais das mesmas, apresentando charneiras
pouco inclinadas em geral inferiores a 20º (Dias & Ribeiro, 1998; Dias,
1998, Coke, 2000; Dias et al., 2006). A contemporaneidade entre dobras e
cisalhamentos é expressa pela relação com a clivagem principal (S1); com
efeito, nas dobras esta estrutura é de plano axial ou em leque (Fig. 2A),
enquanto nos cisalhamentos a cinemática esquerda é evidenciada por diversos
marcadores, como por exemplo a distorção de porfiroclastos (Fig. 2B) ou a
génese de estruturas C-S (Fig. 2C).
Fig. 2 – Estruturas associadas à deformação D1 Varisca nos sectores
setentrionais do Autóctone da Zona Centro-Ibérica desenvolvidas em quartzitos
ordovícicos. (A) Dobras mesoscópicas com clivagem de plano axial na região de
Torre de Moncorvo; (B) Componente de cisalhamento esquerdo marcada pela
distorção de clastos de quartzo em metaconglomerados; (C) Componente de
cisalhamento esquerdo marcada por fábricas do tipo C-S.
– D1 variscan structures developed in Ordovician quartzite of the northern
sectors Centro Iberian Zone. (A) Mesoscopic folds with axial plane cleavage in
Torre de Moncorvo region; (B) Sinistrogiral shear component affecting quartz
clasts in metaconglomerates; (C) Sinistrogiral shear component with C-
S fabrics.
No entanto, o abundante plutonismo varisco associado aos eventos tectónicos
tardios, relacionados com a 3.ª fase de deformação regional, oblitera grande
parte dos sectores centrais da estrutura em flor do Douro até porque, nalguns
casos, as anisotropias com ela relacionada condicionaram a ascensão dos
próprios batólitos graníticos; isto leva a que o conhecimento que se tem desta
macroestrutura seja bastante heterogéneo, existindo áreas onde é possível
acompanhar a estrutura com detalhe, adjacentes a outras caracterizadas por
importantes lacunas de informação. Com efeito, embora o seu ramo N esteja
relativamente bem conhecido, tendo sido objecto de alguns estudos conducentes a
teses de doutoramento (e.g., Coke, 2000; Dias, 1994), nos restantes sectores o
conhecimento é mais parcial.
2.2. Enquadramento litostratigráfico
O Autóctone Centro Ibérico em Portugal apresenta um conjunto de unidades com
idades compreendidas entre o Pré-Câmbrico e o Carbónico (Fig. 3) sendo possível
reconhecer duas megassêquencias (Romão et al., 2005; Dias et al., 2006):
– Super-Grupo Dúrico-Beirão (anteriormente designado por Complexo Xisto-
Grauváquico ante-Ordovícico por Carrington da Costa, 1950 e Teixeira, 1955)
tradicionalmente subdividido em Grupo do Douro e Grupo das Beiras (Oliveira et
al., 1992a);
– Megassequência pós-Câmbrica, com fácies detríticas transitando para pelítica
(da base para o topo), com conglomerado de base revelando um regime
transgressivo e um regime regressivo no topo de idade ordovícica, marcado por
formações glaciogénicas. No Devónico assiste-se uma transição de sedimentação
dum ambiente e plataforma nerítica para uma situação de talude. Por fim o
Carbónico apresenta fácies essencialmente continental (Ribeiro et al., 1979;
Sousa e Wagner, 1983).
A megassequência ante-ordovícica é a única que tem expressão nos sectores
estudados (Fig. 3), razão pela qual será descrita com algum detalhe. A
continuidade espacial desta megassequência, que abrange grande parte do
Autóctone da Zona Centro-Ibérica, é interrompida pelos granitos variscos e por
manchas de sedimentos paleozóicos pós-câmbricos. A passagem do Grupo do Douro
para o Grupo das Beiras é colocada numa linha que passa por S. João da Madeira,
Viseu e Serra da Malcata, materializando o desaparecimento dos calci-turbiditos
presentes no Grupo do Douro (Oliveira et al., 1992a). A existência de
características distintas entre estas duas sequências definidas na região do
Douro (a Norte) e na região das Beiras (a Sul) levou a considerar a existência
de duas sub-bacias independentes, separadas por uma anisotropia crustal
importante, associada ao acidente Porto-Viseu-Guarda evidenciada pelos dados
gravimétricos e aeromagnéticos (Dias, 1998; Coke et al., 2000b; Dias et al.,
2006). As diferenças tendem a esbater-se com a evolução das sub-bacias para uma
única bacia durante o Ordovícico-Devónico inferior.
Fig._3 – Mapa geológico simplificado e enquadramento geográfico das duas áreas
estudadas (adaptado de OLIVEIRA et al., 1992b).
– Simplified geological map and geographic setting of both studied areas
(adapted from Oliveira et al., 1992b).
A sequência do Grupo do Douro (onde se inserem as áreas estudadas) foi
estabelecida por Sousa (1982), que distinguiu seis formações (da base para o
topo): Bateiras, Ervedosa, Rio Pinhão, Pinhão, Desejosa e S. Domingos.
Trabalhos posteriores (Silva & Ribeiro, 1985; Silva et al., 1995) mostraram
que algumas destas formações estariam duplicadas tectonicamente devido ao
carreamento gravítico sin-sedimentar da S.ª do Viso. A identificação deste
acidente sin-sedimentar ocorrido durante a sedimentação da Formação da Desejosa
(Silva & Ribeiro, 1985; Coke et al., 2000b), permitiu explicar a semelhança
de fácies entre a Formação da Ervedosa e a Formação do Pinhão e entre a
Formação Bateiras e a Formação de Rio Pinhão, pelo que actualmente se considera
a existência de apenas quatro formações: Bateiras, Ervedosa, Desejosa e S.
Domingos (Fig. 4).
Fig. 4 – Coluna estratigráfica simplificada do Grupo do Douro pondo em
evidência o carreamento sin-sedimentar de Nossa Senhora do Viso e a repetição
de duas das formações descritas por SOUSA (1982).
– Simplified lithostratigraphic column of Douro Group showing Nossa Senhora do
Viso sin-sedimentary thrust and the duplication of two Formations described by
Sousa (1982).
Estas formações apresentam, de um modo geral, características turbidíticas
constituídas por alternâncias de filitos e metagrauvaques, sendo que a sua
diferenciação se baseia na variação das percentagens relativas de areias e
argilas, bem como pela natureza e importância dos turbidítos. Quanto à idade
das formações do Grupo do Douro, estão balizadas superiormente pela ocorrência
de trilobites mal preservadas na Formação da Desejosa e na Formação do Pinhão
pela existência de icnofósseis que apontam uma idade Câmbrica (possivelmente
Câmbrico inferior; Rebelo & Romano, 1986; Mc Dougall et al., 1987).
A formação da Desejosa representa o topo do Complexo Xisto-Grauváquico na área
em estudo. Trata-se de uma alternância de xistos negros com espessuras
centimétricas e leitos de material psamítico com cerca de 1 cm, apresentando
desta forma um aspecto listrado típico (Coke, 1992; 2001). Em alguns locais os
leitos siltíticos surgem convolucionados, realçando as características
turbidíticas desta formação.
3. DEFORMAÇÃO VARISCA NOS SECTORES DE PESO DA RÉGUA E VILA NOVA DE FOZ CÔA
Estudos recentes de cartografia estrutural realizados nas formações do Grupo do
Douro dos sectores de Peso da Régua e de Vila Nova de Foz Côa permitiram
evidenciar um estilo de deformação que, embora heterogénea apresenta algumas
características gerais que se repetem à escala regional.
3.1. Sector Peso da Régua
Na região de Peso da Régua (Fig._5) a deformação evidenciada nos
metassedimentos do Grupo do Douro caracteriza-se essencialmente pela actuação
da primeira fase de deformação varisca (D1). Esta situação é aliás comum à
generalidade do Autóctone da Zona Centro-Ibérica, embora nalguns locais as
deformações associadas, quer à implantação das unidades alóctones /
parautóctones, quer à intrusão dos maciços graníticos, possa ser muito
importante, provocando a profunda distorção das estruturas D1 (e.g., Ribeiro et
al., 1990; Dias et al., 2006).
Seguidamente, apresentar-se-á de forma sucinta a análise geométrica das
principais estruturas associadas à principal fase de deformação (D1) observadas
neste sector.
Fig._5 – Esboço geológico e estrutural do sector de Peso da Régua (dados
estruturais do Grupo do Douro sobrepostos à cartografia regional adaptada de
TEIXEIRA et al., 1967; SOUSA et al., 1987; COKE, 2000).
– Structural and geological sketch of Peso da Régua sector (structural data of
Douro Group are overlapping the regional cartography adapted from Teixeira et
al., 1967; Sousa et al., 1987; Coke, 2000).
3.1.1. Estratificação (S0)
Neste sector, o dobramento é caracterizado de um modo geral por dobras amplas
de orientação geral WNW-ESE caracterizadas por flancos onde as inclinações
moderadas (< 20º) para SSW são claramente predominantes (Fig. 6); muito embora
os planos axiais destas dobras sejam muito verticalizados, existe uma ligeira
vergência para NNE. Como o dobramento apresenta normalmente um grande
comprimento de onda, a medição directa dos eixos é difícil. No entanto, devido
ao comportamento claramente cilíndrico dos dobramentos é fácil deduzir eixos
com um comportamento muito regular mergulhando ligeiramente (< 10º) para WNW,
que correspondem ao pólo do círculo máximo definido pelos pólos das medições da
estratificação (Fig. 6). Este tipo de geometria é idêntico ao descrito por Coke
(1992; 2000) nas formações do Ordovícico da Serra do Marão, localizadas
imediatamente a W do sector estudado (Fig._5).
Fig._6
– Diagrama de densidades de pontos referentes a pólos dos planos de
estratificação (S0), para o sector de Peso da Régua (rede de Schmidt,
hemisfério inferior).
– Stereographic projection of S0 stratification (contoured equal area lower
hemisphere), from Peso da Régua Sector.
Apesar da existência de uma grande homogeneidade na geometria das estruturas
Variscas neste sector, esta homogeneidade não é real quando se tem em conta a
sua distribuição espacial. Com efeito, em faixas, de dimensão variável (métrica
a decamétrica em geral, mas atingindo por vezes uma largura quilométrica), o
dobramento amplo dá lugar a dobras apertadas também com uma direcção geral WNW-
ESE, onde a estratificação se apresenta muito verticalizada. Embora nestes
sectores mais deformados os critérios cinemáticos não sejam muito claros devido
à homogeneidade das formações do Grupo do Douro, é provável que eles
correspondam às zonas de cisalhamento esquerda D1 que têm sido identificadas a
nível regional (Ribeiro et al., 1990; Dias & Ribeiro, 1995), tanto mais que
no sector de Ferrarias as faixas mais deformadas se encontram na continuidade
de um dos principais corredores de cisalhamento esquerdos identificados na
Serra do Marão (Fig._5; Coke, 2000, Dias et al., 2006).
O comportamento anteriormente referido, onde zonas pouco deformadas com um
dobramento muito amplo alternam com estreitos corredores onde a deformação é
mais intensa, altera-se nos sectores mais setentrionais da região estudada; com
efeito, a deformação acentua-se e as dobras apertadas passam a predominar.
Nesta zona mais setentrional, a estratificação apresenta em geral uma direcção
semelhante à dos restantes sectores no entanto, com pendores mais elevados. É
de salientar que o dobramento, apesar de mais forte continua a apresentar
características muito semelhantes no que diz respeito à vergência das
estruturas e ao carácter pouco inclinado dos eixos das dobras. A transição
entre estas duas áreas, exibindo dois tipos de deformação distintos, faz-se na
região de Santa Marta de Penaguião – Ermida; este limite encontra-se rejeitado
em esquerdo pelas falhas tardi-variscas de Peso da Régua, que fazem parte do
sistema principal Penacova-Régua-Verin (Fig._5).
3.1.2. Clivagem (S1)
No que se refere à clivagem (S1), no sector em causa esta apresenta uma atitude
média de N74ºW, 83ºS, compatível com a ligeira vergência para NNE das
estruturas (Fig. 7). No entanto, como seria espectável, existe uma ligeira
variabilidade, principalmente no que se refere à inclinação desta estrutura
planar, a qual pode ser explicada, tanto pela tendência para que a clivagem se
desenvolva em leque, como por oscilações normais em torno de uma posição
subvertical; a possibilidade da dispersão ser causada pela influência de
deformações posteriores não é de prever, tendo em consideração o fraco
desenvolvimento que estas apresentam na região estudada.
Fig. 7 – Diagrama de densidades de pontos referentes a pólos de clivagem (S1)
para o sector de Peso da Régua; atitude média da clivagem N74ºW, 83ºS (rede de
Schmidt, hemisfério inferior).
– Stereographic projection of S1 cleavage poles (contoured equal area lower
hemisphere), from Peso da Régua Sector (main frequency around N74ºW, 83ºS).
No que diz respeito à dispersão espacial de S1 verifica-se que, tal como seria
de esperar, esta é muito mais penetrativa ao longo dos corredores mais
deformados onde a estratificação adoptava um maior pendor; em alguns destes
corredores, chega a ocorrer a transposição da estratificação pela clivagem.
3.1.3. Lineação de Intersecção (L1)
No que diz respeito à lineação de intersecção L1, importa referir que no sector
em causa esta apresenta grande homogeneidade apresentando um valor médio de 10,
N74ºW (Fig. 8). É de salientar que este valor coincide com a atitude deduzida
para os eixos das dobras desenvolvidas nas formações do grupo do Douro da
região de Peso da Régua (Fig._6), o que demonstra a inexistência de transecção
neste sector; este comportamento é semelhante ao descrito para as formações
ordovícicas da Serra do Marão (Coke, 2000; Coke et al., 2003; Dias et al.,
2006).
Fig. 8 – Diagramas de densidades de pontos referentes a lineações de
intersecção estratificação/clivagem (L1) para o sector de Peso da Régua (rede
de Schmidt, hemisfério inferior).
– Stereographic projection of L1 intersection lineation (contoured equal area
lower hemisphere), from Peso da Régua Sector.
3.1.4. Lineação de Estiramento (X1)
Devido à fraca intensidade da deformação no sector estudado, o desenvolvimento
das lineações de estiramento é incipiente pelo que elas apenas se desenvolvem
localmente. Os poucos valores medidos apresentam atitudes próximas de 5º,
N86ºW, ou seja, fazem um ângulo pequeno com os eixos das dobras, evidenciando
assim um estiramento subparalelo ao eixo das dobras, o que está de acordo com o
padrão regional (Ribeiro et al., 1990; Dias et al., 2006).
3.2. Sector Vila Nova de Foz Côa
A região de Vila Nova de Foz Côa (Fig. 9) foi objecto de uma série de estudos
nos últimos anos, quer de índole litostratigráfica (e.g., Sousa, 1979, 1981),
quer estrutural (Búrcio, 2004; Búrcio et al., 2006). Tal como na região de Peso
da Régua, o padrão estrutural apresentado resulta essencialmente da actuação de
uma única fase de deformação (a D1) situação que, como já foi referido, é comum
à generalidade do Autóctone da Zona Centro-Ibérica (e.g., Ribeiro et al., 1990;
Dias et al., 2006).
Fig. 9 – Esboço estrutural simplificado do Sector de Vila Nova de Foz Côa
(adaptado de BÚRCIO, 2004).
– Simplified structural sketch from Vila Nova de Foz Côa (adapted from Búrcio,
2004)
Seguidamente, apresentar-se-á de forma sucinta a análise geométrica das
principais estruturas associadas à principal fase de deformação (D1) observadas
neste sector.
3.2.1. Estratificação (S0)
O sector em causa é caracterizado pela presença de dobramento de primeira ordem
com planos axiais de direcção WNW-ESE (Fig. 9), subverticais e eixos
mergulhando predominantemente para ESE.
A análise geométrica dos planos de estratificação evidencia o predomínio de
leitos subhorizontais suavemente ondulados definindo dobramentos com um estilo
cilíndrico (Fig. 10) o que permite, tal como foi feito para a região de Peso da
Régua, estimar a atitude dos eixos que se apresentam agora ligeiramente
mergulhantes para ESE (8º, S56ºE), os quais se encontram separados por
anticlinais estreitos e apertados nos quais a inclinação dos flancos atinge os
70º. Os eixos destes dobramentos apresentam-se por vezes ligeiramente
ondulantes, originando terminações periclinais; este comportamento pode ser
também evidenciado no sinclinal de Castelo Melhor, o que se torna mais evidente
do ponto de vista cartográfico devido ao afloramento das formações ordovícicas.
A geometria ondulante dos eixos tem sido interpretada por alguns autores
(Ribeiro, 1974; Dias, 1994) como sendo resultante do achatamento diferencial
perpendicular aos planos axiais. É de realçar que a homogeneidade dos eixos
contrasta com uma assimetria principal a nível das dobras de 1.ª ordem. Com
efeito, enquanto os sinclinais se apresentam muito abertos com charneiras
amplas (Fig. 11A) e flancos muito suaves (geralmente inferiores a 10º) os
anticlinais são apertados e com inclinação dos flancos que chega a atingir os
70º; uma outra característica dos anticlinais é o facto de estarem normalmente
sublinhados por dobramentos de 2.ª ordem muito apertados (por vezes quase
isoclinais; Fig. 11B) o que define faixas estreitas e muito deformadas que
contrastam com as zonas pouco deformadas associadas aos sinclinais.
Fig. 10 – Diagramas de densidades de pontos referentes a pólos dos planos de
estratificação (S0) para o sector de Vila Nova de Foz Côa (rede de Schmidt,
hemisfério inferior).
– Stereographic projection of S0 stratification (contoured equal area lower
hemisphere), from Vila Nova de Foz Côa sector.
Fig. 11 – Estilo de dobramentos D1 no sector de Vila Nova de Foz Côa. (A) Zona
de charneira muito ampla do sinclinal de 1.ª ordem do Poio; (B) Dobramentos de
2.ª ordem muito apertados associados ao anticlinal de Vale Moinhos.
– D1 Folding style in Vila Nova de Foz Côa Sector. (A) Wide hinge zone in the
Poio first order syncline; (B) Narrow second order folds associated with Vale
de Moinhos anticline.
3.2.2. Clivagem (S1)
Em toda a área existe o desenvolvimento de uma clivagem contemporânea da génse
das dobras (S1), a qual apresenta uma atitude média bastante constante e muito
inclinada (N54ºW, 83º NE; Fig. 12); esta situação evidencia a inexistência de
vergência acentuada nos dobramentos variscos do sector de Vila Nova de Foz Côa.
Nos anticlinais de 1.ª ordem a clivagem apresenta-se muito mais penetrativa,
chegando a haver transposição de S0 por S1; nestas zonas mais deformadas é
frequente encontrarem-se indicadores cinemáticos de movimentação esquerda, tais
como a existência de estruturas C-S (Búrcio, 2004).
Fig. 12 –Diagramas de densidades de pontos referentes a pólos dos planos
clivagem (S1) para o sector de Vila Nova de Foz Côa (rede de Schmidt,
hemisfério inferior).
– Stereographic projection of S1 cleavage poles (contoured equal area lower
hemisphere), from Vila Nova de Foz Côa Sector.
3.2.3. Lineação de Intersecção (L1)
Na região de Vila Nova de Foz Côa a lineação de intersecção L1 apresenta uma
baixa dispersão em torno de 9º, S52ºE (Fig. 13). O paralelismo entre esta
lineação e a atitude geral dos eixos das dobras aqui existentes (8º, S56ºE;
Fig. 10) mostra a inexistência de transecção nos dobramentos variscos na área
em causa.
Fig. 13 –Diagramas de densidades de pontos referentes a lineações de
intersecção estratificação/clivagem (L1) para o sector de Vila Nova de Foz Côa;
esta lineação apresenta atitude 9º, S52ºE no sector em causa (rede de Schmidt,
hemisfério inferior).
– Stereographic projection of L1 intersection lineation (contoured equal area
lower hemisphere), from Vila Nova de Foz Côa Sector (main frequency around 9º,
S52ºE).
3.2.4. Lineação de Estiramento (X1)
Nesta área, ao contrário do que acontece no sector de Peso da Régua, constata-
se um desenvolvimento mais generalizado das lineações de estiramento associadas
à primeira fase de deformação Varisca (D1); estas apresentam-se pouco
inclinadas, com uma atitude geral a rondar 5º, S51ºE (Fig. 14), sendo
subparalelas à lineação de intersecção L1. Este estiramento faz-se por isso
segundo o eixo das dobras da primeira fase D1 situação, que como já foi
referida, é comum nos sectores mais setentrionais do Autóctone da Zona Centro-
Ibérica (Ribeiro et al., 1990; Dias, 1994; Dias & Ribeiro, 1994; Dias et
al., 2006).
Fig. 14 –Diagramas de densidades de pontos referentes à lineações de
estiramento (X1) para o sector de Vila Nova de Foz Côa; atitude média para a
lineação 5º, S51ºE (rede de Schmidt, hemisfério inferior).
– Stereographic projection of X1 stretching lineation (contoured equal area
lower hemisphere), from Vila Nova de Foz Côa Sector (main frequency around 5º,
S51ºE).
3.3. Cisalhamentos Regionais WNW-ESE
Em ambos os sectores estudados destaca-se a presença de importantes
cisalhamentos esquerdos de direcção WNW-ESE ao longo dos quais a deformação é
muito mais intensa. Estes corredores de cisalhamento são subparalelos aos
planos axiais das dobras dos domínios menos deformados. A relação de
contemporaneidade entre ambos os domínios estruturais é clara, principalmente
na região de Vila Nova de Foz Côa onde as zonas mais deformadas coincidem com
os anticlinais de 1.ª ordem.
No sector de Peso da Régua (Fig._5), nas regiões mais setentrionais surgem
extensas áreas onde as dobras se apresentam mais apertadas, aparecendo alguns
critérios cinemáticos, não muito claros, que parecem evidenciar o funcionamento
de planos de direcção geral WNW-ESE (Fig. 15) como corredores de cisalhamento
esquerdo. Ao caminhar para sectores mais meridionais, estes corredores de
cisalhamentos passam a ter uma ocorrência mais pontual. Nos corredores de
cisalhamento a estratificação apresenta-se com pendores mais elevados e a
clivagem S1torna-se muito mais penetrativa, chegando a transpor S0 em alguns
locais.
Fig. 15 – Diagramas de densidades de pontos referentes aos planos de falha
associados aos corredores de deformação para o sector de Peso da Régua –
atitude média dos planos de cisalhamento N56ºW, 88ºN (rede de Schmidt,
hemisfério inferior).
– Stereographic projection (contoured equal area lower hemisphere) from Peso da
Régua sector hear zones (main frequency around N56ºW, 88ºN).
No sector de Vila Nova de Foz Côa, o flanco sul do Sinclinal do Poio, apresenta
uma deformação mais acentuada, evidenciando uma transposição da estratificação
pela clivagem regional (S1 transpõe S0). Ao longo deste flanco surgem vestígios
da presença de um corredor de deformação esquerdo com importância cartográfica;
neste corredor de deformação tal qual como já foi referenciado anteriormente,
desenvolve-se um dobramento apertado (Anticlinal de Chão de Couce). Semelhante
situação surge a norte do Sinclinal do Poio, onde também se verifica a
transposição de S0 por S1 no interior de um antiforma apertado (Anticlinal de
Vale Moinhos) associado a um acidente dúctil, que embora com critérios
cinemáticos menos claros, parece apresentar semelhanças estruturais (Búrcio,
2004).
Esta geometria tinha sido já referenciada por Sousa (1982), para a estrutura
geral do Grupo do Douro, caracterizada por sinformas amplos separados por
antiformas estreitos.
A existência de cisalhamentos esquerdos subparalelos aos planos axiais das
dobras D1 Variscas, tem sido referenciada nos sectores setentrionais do
Autóctone da Zona Centro-Ibérica (e.g., Ribeiro et al., 1990; Dias, 1994; Coke,
2000; Dias et al., 2003; Dias et al., 2006). Trabalhos anteriores têm
considerado que os corredores de cisalhamento e as dobras são contemporâneos
tendo resultado de um processo de partição de deformação em regime
transpressivo esquerdo (e.g., Ribeiro et al., 1990; Dias, 1994; Dias &
Ribeiro, 1994). Os trabalhos agora realizados nos sectores de Peso da Régua e
Vila Nova de Foz Côa, são compatíveis com os modelos que têm vindo a ser
sugeridos e, principalmente no último sector, mostram mais uma vez a
contemporaneidade entre os corredores mais deformados e os sectores onde
predominam dobramentos mais amplos.
4. DEFORMAÇÃO VARISCA NO EIXO MARÃO – FOZ CÔA: DISCUSSÃO
A geometria e cinemática da deformação associada à D1 varisca apresenta um
comportamento bastante consistente na generalidade do Autóctone da Zona Centro-
Ibérica ao longo do eixo Marão–Vila Nova de Foz Côa. Com efeito, a deformação
varisca induziu aqui a formação de uma série de dobramentos que apresentam
planos axiais verticais, a muito inclinados, evidenciando uma ligeira vergência
para nor-nordeste.
Estas dobras encontram-se espacialmente associadas a desligamentos esquerdos
subparalelos aos planos axiais das dobras com importância regional. As
charneiras das dobras são quase sempre pouco inclinadas, apresentando alguma
ondulação à escala regional (eixos para WNW na região de Peso da Régua–Marão e
para ESE em Vila Nova de Foz Côa) que tem sido interpretada como consequência
de achatamento diferencial subperpendicular aos planos axiais (Ribeiro, 1974;
Dias, 1998; Dias et al., 2006). A clivagem é de plano axial e o estiramento,
quando presente, expõe um paralelismo acentuado com o eixo das dobras,
apresentando-se por isso sub-horizontal a pouco inclinado (Ribeiro et al.,
1990; Dias, 1994; Dias & Ribeiro, 1994; Coke, 2000; Dias et al., 2006).
No que respeita à intensidade desta deformação verifica-se que a D1 apresenta
uma distribuição algo heterogénea. Esta heterogeneidade expressa-se pela
justaposição de sectores onde os dobramentos variscos são amplos a outros que
se caracterizam por apresentarem pequenos comprimentos de onda. Tendo em vista
a caracterização desta variação à escala da região, descrevem-se seguidamente
(Fig._16) as principais características estruturais dos perfis realizados em
quatro sectores distintos entre os quais os dois anteriormente descritos em
pormenor.
Fig._16 – Cortes Geológicos realizados no Eixo Marão – Vila Nova de Foz Côa: A
– sector de Seixinhos – Serra do Marão (COKE, 2000); B – sector de Peso da
Régua; C – sector de Alijó (SOUSA et al., 1987); D – sector de Vila Nova de Foz
Côa (BÚRCIO, 2004).
– Geological cross-sections in Marão – Vila Nova de Foz Côa axis: A – Seixinhos
sector – Serra do Marão (Coke, 2000); B – Peso da Régua sector; Alijó sector
(Sousa et al., 1987); D – Vila Nova de Foz Côa sector (Búrcio, 2004).
Serra do Marão (Fig._16A)
Na serra do Marão a Falha de Ferrarias faz a transição entre dois sectores
profundamente diferentes do ponto de vista estrutural. A norte predominam
dobras apertadas e bem definidas no Quartzito Armoricano espacialmente
associadas a cisalhamentos esquerdos subparalelos aos planos axiais (e.g.,
falhas de Ermida e do Marão), estilo que se mantém mais a N na região de Mondim
de Basto (Pereira, 1987). Pelo contrário, a sul da falha de Ferrarias os
dobramentos D1 são extremamente amplos, com uma clivagem S1 de plano axial mal
definida intersectada por uma clivagem S3 bem vincada. As dobras D3 presentes
neste sector têm uma geometria idêntica às dobras D1 devido à coaxialidade da
deformação e assumem maior importância na proximidade da falha de Ferrarias,
esbatendo-se para SW. Esta falha marca de forma clara o limite entre aqueles
dois sectores caracterizados por intensidades de deformação diferentes (Coke et
al., 2003).
Peso da Régua (Fig._16B)
No sector de Peso da Régua é também possível observar duas regiões com estilos
de deformação distintos (Fig._6): a região mais setentrional com dobras
apertadas WNW-ESE com uma vergência, embora ténue, para NNE e uma região mais a
Sul com dobras amplas com uma direcção semelhante à anteriormente referida, com
planos axiais subverticais. A passagem entre estas duas regiões é contínua mas
rápida, tendo sido denominada Faixa de Transição Santa Marta de Penaguião –
Ermida (FTPE; Fig. 17).
Fig._17 – Modelo esquemático para a estrutura em flor do Douro na região de
Peso da Régua, denotando-se na zona axial a presença de corredores de
cisalhamento esquerdo e a transição através da ZTPE de um sector onde a
deformação é mais incipiente, para outro onde a deformação se caracteriza pela
vergência para NNE (o trapézio assinalado assinala a localização do sector de
Peso da Régua).
– Schematic model proposer for the Douro flower structure in Peso da Régua
sector. There are a less deformed domain in the axial zone coupled with
discrete sinistral shear zones; the transition to the most deformed zone with
NNE facing is made by the ZTPE – Santa Marta de Penaguião Ermida transition
zone (trapezium represents Peso da Regua sector).
Nas áreas onde se observa um dobramento amplo, surgem estreitas faixas de
dimensões variáveis, métricas a decamétricas, por vezes quilométricas,
caracterizadas por dobras apertadas. A ocorrência destas zonas mais deformadas
é mais comum junto à FTPE, diminuindo com o afastamento à mesma, sendo menos
importantes em proporção e dimensão nos domínios mais meridionais, junto do
Vale do Douro; em direcção a Lamego, estas faixas deformadas voltam a adquirir
maior importância. Nas regiões mais deformadas, observa-se uma clivagem
bastante penetrativa, o que não acontece nas regiões onde o dobramento é mais
amplo.
Alijó (Fig._16C)
O padrão tectónico e estrutural do sector de Alijó é semelhante ao descrito
para os sectores anteriores. Com efeito, também aqui é possível observar-se nas
zonas mais centrais, extensas áreas com uma deformação muito incipiente,
caracterizada por dobras muito amplas; lateralmente passa-se de forma rápida a
zonas com dobras mais apertadas, com vergência para SSW nos sectores mais
meridionais e para NNE nos sectores mais setentrionais.
No que diz respeito à cinemática do falhamento, grande parte dos acidentes
assinalados como cavalgamentos com uma direcção WNW-ESSE apresentarão
provavelmente uma componente de desligamento esquerda associada, de acordo com
o modelo descrito a nível regional (Dias & Ribeiro, 1998). Estes
desligamentos são mais expressivos em determinados locais definindo corredores
de cisalhamento onde a deformação é mais acentuada e que alternam com outras
zonas menos deformadas.
Foz Côa (Fig._16D)
A cartografia detalhada realizada nas formações câmbricas do Grupo do Douro no
sector de Vila Nova de Foz Côa mostra que a principal fase de deformação
varisca origina uma sucessão de dobramentos de primeira ordem, caracterizada
pela formação de sinclinais muito amplos (onde se localizam as Pedreiras do
Poio) separados por anticlinais muito apertados; nestes últimos, caracterizados
por uma deformação mais intensa, pode evidenciar-se a existência de uma
importante componente de cisalhamento esquerdo. Associado a estas faixas de
cisalhamento surge um aumento na intensidade da clivagem S1, mostrando a
contemporaneidade entre estas estruturas e o dobramento.
5. CONCLUSÕES
A estrutura varisca exibida nos sectores de Peso da Régua e de Vila Nova de Foz
Côa mostra uma clara alternância de zonas pouco deformadas com dobramentos
amplos e corredores, de orientação geral WNW-ESE onde esta deformação é muito
mais intensa, nos quais é possível evidenciar por vezes uma cinemática esquerda
predominante. Evidencia-se também que nos domínios setentrionais no sector de
Peso da Régua existe um predomínio cada vez mais acentuado dos corredores onde
a deformação se faz sentir com maior intensidade, fazendo a transição para os
domínios claramente mais deformados que caracterizam a generalidade do
Autóctone da Zona Centro-Ibérica.
O mesmo pode observar-se, ao analisar o corte esquemático interpretativo
realizado por Sousa et al., (1987) na região de Alijó (Fig._16C), onde se pode
evidenciar claramente uma zona central pouco deformada sem vergência, cortada
por acidentes que os autores colocam com uma cinemática cavalgante, passando a
exibir vergências para SSW e para NE nos seus domínios meridional e
setentrional respectivamente.
Os trabalhos agora realizados mostram que esta alternância de extensas zonas
pouco deformadas intercaladas com estreitos corredores de deformação mais
intensa é passível de ser seguida, em toda a região setentrional do Autóctone
da Zona Centro-Ibérica, desde o Sector de Vila Nova de Foz Côa até à Serra do
Marão. A continuidade lateral de toda a estrutura é apenas afectada pelos
rejeitos esquerdos associados às falhas tardi-variscas (e.g., Falha da Vilariça
e Penacova-Régua-Verin), posteriormente reactivadas durante o ciclo Alpino, de
orientação geral NNE-SSW, bem marcada no Sector de Peso da Régua (Fig._5), onde
as faixas deformadas são claramente rejeitadas pelas estruturas anteriormente
referidas (Fig._3).
O padrão de deformação D1 varisca agora evidenciado permite caracterizar a
deformação associada à zona axial da Estrutura em Flor do Douro, no eixo
Marão–Vila Nova de Foz Côa, onde a deformação é menos intensa. Esta zona onde
existe um predomínio de dobramentos muito amplos com flancos inclinando
geralmente menos de 10º, passa lateralmente às zonas externas que apresentam
uma deformação mais intensa e vergências pronunciadas da estrutura. Uma das
características principais do domínio menos deformado desta macroestrutura é a
sua heterogeneidade; com efeito, embora a deformação pouco intensa seja aqui
claramente predominante existem zonas de cisalhamento subparalelas aos planos
axiais do dobramento amplos (Fig._17).
O trabalho agora realizado permite ainda evidenciar a continuidade lateral da
zona menos deformada que tem vindo a ser associada ao sector axial da estrutura
em flor, mostrando que a mesma é susceptível de ser seguida desde o sector da
Serra do Marão até à região de Vila Nova de Foz Côa.