Novarum Flora Lusitana Commentarii In memoriam A.R. Pinto da Silva (1912 -
1992)
Adições corológicas de taxa relevantes para as províncias do Baixo Alentejo e
Algarve - Portugal
No presente trabalho compilou-se as ocorrências de taxa, registadas durante
diversos trabalhos de campo, que constituem novidades de âmbito regional, bem
como novas localidades de taxa que pela sua raridade entendemos serem dignas de
nota. Foi opção dos autores não herborizar de forma a minimizar danos nas
populações.
1.Pilularia minuta Durieu (Marsileaceae), nova localização no Baixo Alentejo
BAIXO ALENTEJO: Mértola, Alcaria Ruiva, Azinhal (29S PB0579; 160 msm; Abr/2006;
plantas em pleno desenvolvimento vegetativo e reprodutor).
O conhecimento da distribuição desta espécie em Portugal, incluída no Anexo I
da CONVENÇÃO DE BERNA (1979), resumia-se até recentemente a uma localização
perto de Vila do Bispo (Algarve) (SOBRINHO & MENDES, 1951; FRANCO &
ROCHA AFONSO, 1982 PAIVA, 1986a). Em 2008, SILVA et al. registaram uma nova
população no Alto Alentejo. Para além destas duas localizações portuguesas, foi
apenas observada em escassas localidades na Espanha peninsular (AEDO et al.,
1993; HELLMANN & HELLMANN, 1993; HERNÁNDEZ et al., 2004; DELGADO et al.,
2007), sendo igualmente muito rara no resto da sua área de distribuição -
Região Mediterrânica. Recentemente, DAOUD-BOUATTOUR et al.(2009) detectaram a
presença de P. minutana Tunísia; os autores focam a dificuldade em avaliar a
abundância desta espécie efémera, e levantam a hipótese que esta estaria
subestimada, nomeadamente na área oriental da Região Mediterrânica. Os mesmos
autores assinalam também que a espécie terá sido extinta num quarto das
localidades estudadas, tendo sido afectadas sobretudo as populações restritas a
pequenos charcos.
Foi agora descoberta uma nova localização no Baixo Alentejo, novidade
provincial, nas proximidades de Azinhal. A planta foi encontrada em abundância
numa pequena lagoa temporária, formando um anel na zona periférica ao espelho
de água, onde aparece em conjunto com Lythrum borysthenicum (Schrank) Litv. A
zona mais profunda da lagoa, onde a planta está ausente, encontra-se dominada
por Eryngium corniculatum Lam.
Pilularia minutaDurieu, exsiccataeexaminadas:
ALGARVE: Vila do Bispo, 30-04-1951, E. J. Mendes e L.G. Sobrinho, LISU56378!
Idem, 13-03-1953, LISU68571! ALTO ALENTEJO: Montemor-o-Novo, S.Cristovão,
29SNC60925715, 07-04-2008, C. Pinto-Cruz e V. Silva, LISU230910!
Figura 1 - Pilularia minuta, pormenor com esporocarpos pedunculados
Figura 2 -Pilularia minuta, aspecto geral.
2. Davallia canariensis (L.) Sm. (Davalliaceae), nova localização disjunta no
Baixo Alentejo
BAIXO ALENTEJO: Odemira, São Luis, Serpe (29S NB2775; ca. 300 msm; Fev/2009).
Foi encontrada uma população numerosa de Davallia canariensis na Serra do
Penedo num afloramento rochoso silicioso nas proximidades da localidade de São
Luís (Odemira). Os indivíduos ocupam fendas rochosas soalheiras na face Oeste
do afloramento, exposta aos ventos marítimos, convivendo com Dianthus lusitanus
Brot. e Sedum brevifoliumDC. O afloramento localiza-se numa área dominada por
povoamentos de eucalipto e pequenas manchas de sobreiral degradado que ocorrem
nas vertentes mais inclinadas, pelo que é muito improvável a ocorrência da
espécie na sua ecologia epifítica típica.
Espécie de distribuição dada, em Portugal, para Norte do Tejo (FRANCO &
ROCHA AFONSO, 1982; PAIVA, 1986b), prolongando-se em Espanha nas províncias
litorais ou sublitorais de La Coruña, Lugo, Astúrias, e Pontevedra (ANTHOS,
2009). Em Espanha, para além das populações localizadas nas províncias a
Noroeste, a espécie ocorre também a Sul, em Cádiz e Málaga (1986b); a sua
presença é igualmente referida, na Região Mediterrânica, para o Norte de África
sobre rochedos de arenito e árvores das regiões litorais ou sublitorais (MAIRE,
1952).
A população encontrada, o primeiro registo português a Sul do Tejo, é uma
ocorrência surpreendente, pelo seu carácter reliquial, dado o seu isolamento em
relação ao limite Sul, até agora conhecido, da área de distribuição da espécie
em Portugal ' Maciço Eruptivo da Serra de Sintra ' o qual se situa a cerca de
130 km de distância, não havendo entre os dois locais habitat propício à
ocorrência da espécie. SAMPAIO (1908-1909), que estudou em detalhe a área da
Serra de S. Luís, não refere esta espécie, pelo que provavelmente este poderá
ser o único local de ocorrência na região.
Davallia canariensis (L.) Sm., exsiccataeexaminadas:
MINHO: Caminha. Couto da Pena, Maio e Junho 1885, A.R. da Cunha, LISU2251!
Castelo de Guimarães, Novembro 1848, F. Welwitsch, LISU2242. Idem, Setembro
1848, LISU2246.Mazeda, Serra da Moura, NG45, 13-05-1990, A.I. Correia, A.
Fernandes e P. Pereira, LISU160079! Ponte de Lima: Sá, Agosto 1917, A.R. Jorge,
LISU2255! Pr. da Serra do Gerês (Covas), Agosto 1871, J. Henriques, LISU401!
Vila Nova da Cerveira, Junho 1885, A.R. da Cunha, LISU2252! BEIRA LITORAL: Mata
do Buçaco, Setembro 1881, J. M. Oliveira Simões, LISU2240! Idem, LISU2247.
Buçaco, Março 1882, J. Daveau, LISU2249! Mata do Buçaco. Arred. Coimbra, Junho
1888, A. Moller, LISU2243! Buçaco, Abril 1904, F. Mendes, LISU2244!
ESTREMADURA: Mata do Vimeiro, prox. Alcobaça, Setembro 1943, J. Pinto Lopes,
LISU2254! Serra de Sintra, s/data, F. Welwitsch, LISU2241. Idem, Março
1840,LISU2245. Serra de Sintra, Estio 1880, H. de Mendia, LISU2238! Serra de
Sintra, Março 1882, J. Daveau, LISU2248! Idem, Agosto-Setembro 1885, LISU2253!
Serra de Sintra. Arred. Lisboa, Março 1883, A.R. da Cunha, LISU2250! Sintra,
Março 1888, A.X. Pereira Coutinho e J. Daveau, LISU2239! Sintra. Tapada do
Saldanha, 30-09-1985, A. Silva Costa, A.I. Correia, G. Serra e M. Correia,
LISU147455!
Figura 3 - Aspecto geral do habitat ocupado por Davallia canariensis
Figura 4 - Davallia canariensis, pormenor. Notar a convivência com Dianthus
lusitanus e Sedum brevifolium
3.Ceratocapnos heterocarpaDurieu (Papaveraceae), nova área de distribuição para
Portugal
BAIXO ALENTEJO: Barrancos, Barrancos, Herdade da Coitadinha (29S PC6927, PC7127
e PC7227; 150 a 225 msm; Mar/2004; plantas no início da floração).
BAIXO ALENTEJO: Moura, Santo Agostinho, Serra da Adiça (29S PC4112; ca. 300
msm; Out/2005; plantas exibindo as primeiras folhas).
Ceratocapnos heterocarpaé uma papaverácea cuja área de distribuição actualmente
conhecida compreende essencialmente o Sul de Espanha e Norte de África,
alcançando em Portugal apenas o Algarve (NÚÑEZ & ZARCO, 2004; LÍDEN, 1986).
É considerada uma planta rara no contexto da Península Ibérica, com populações
que ocorrem isoladamente (ANTHOS, 2009). Ocupa preferencialmente zonas rochosas
calcárias, sombrias e geralmente sob coberto de vegetação arbustiva densa. Foi
também observada em dunas consolidadas sob coberto arbustivo tal como referido
por Gomes Pedro e Simões na sua colheita.
No Norte de Africa este taxon é referido como sendo bastante comum nas
localidades de Tell de Oran, no Rif oriental e Beni-Snassen, comum a Oeste até
o Oued Noun, bastante comum no Centro, Grande Atlas ocidental e central e Anti-
Atlas, tendo como habitat "florestas abertas, matos, rochedos calcários e
siliciosos das planícies e baixas montanhas, nas regiões semi-áridas, raramente
nas zonas mais secas das regiões bem irrigadas" (MAIRE, 1965).
Esta espécie foi recentemente encontrada em duas novas localidades no Baixo
Alentejo, alargando assim a sua área de distribuição em Portugal ' Herdade da
Coitadinha (Parque de Natureza de Noudar) na proximidade de Barrancos, e Serra
da Adiça.Na primeira localidade, a espécie mostra uma ecologia atípica,
habitando o subcoberto de bosques de Olea europaea L.var. sylvestris(Miller)
Lehr.e Phillyrea latifolia L. sobre xistos. Nesta localidade apresenta vários
núcleos, ocorrendo a maioria nas vertentes expostas a Norte. Na segunda
localidade, ocupa fendas de rochas calcárias nos afloramentos de cumeada da
Serra da Adiça, onde a vegetação dominante inclui Olea europaeavar. sylvestris,
Pistacia terebinthus L., P. lentiscus L., entre outras espécies. Pelo que foi
observado, esta planta não é rara nas duas localidades, e a sua ocorrência
parece provável noutros locais do Alentejo.
Ceratocapnos heterocarpaDurieu, exsiccataexaminada:
ALGARVE: Vila Real de Santo António, praia, areais internados (internos?),
ondulados; matagal de Lygos monosperma. Á sombra do coberto. Terófito
emaranhado, flores rosado-violáceas. 19.03.1982. Leg. J.G. Pedro e J.P. Simões
nº22940 Det. J.A. Franco. LISI s/n. Rev. ! S.Castroviejo X-1985.
4.Sedum maireanum Sennen (Crassulaceae) no Algarve
ALGARVE: Vila do Bispo, Vila do Bispo, Pena Furada (29S NB0807; 125 msm; Mai/
2004; plantas em plena floração).
Apesar deste taxon ter uma área de distribuição relativamente alargada, é uma
espécie que habita sobretudo zonas de montanha, sendo muito rara no sul da
Península Ibérica (ANTHOS, 2009). Consideramos por isso digna de nota a sua
ocorrência nas proximidades de Vila do Bispo, onde ocorre num pequeno núcleo
populacional, em areias com escorrência temporária de água, o que está de
acordo com a sua ecologia sub-higrófita (DUARTE & MOREIRA, 2002).
5.Euphorbia uliginosa Welw. ex Boiss. (Euphorbiaceae) na Costa Sudoeste
BAIXO ALENTEJO: Odemira, Almograve, Almograve (29S NB1768; ca. 15 msm; Mai/
2004; plantas no inicio da floração).
Apesar da escassa bibliografia em Portugal sobre este endemismo do Oeste
Ibérico a raridade desta espécie é reconhecida. Na Flora Iberica (BENEDÍ et
al.,1997) é considerada muito ameaçada e no Livro Vermelho da Flora Vascular
Ameaçada de Espanha (BAÑARES et al., 2004) está listada como
"Crítica", devido à redução do seu habitat (matos higrófilos em solos
turfosos). Planta classificada como higrófita (DUARTE & MOREIRA, 2002), e
dada por VASCONCELLOS (1970) para "pântanos, quase enxutos por vezes do
litoral".
Assinala-se aqui a sua ocorrência perto de Almograve em solos encharcados numa
encosta sobranceira ao mar e em companhia de outras espécies típicas deste tipo
de habitat, onde se destacam Cheirolophus uliginosus (Brot.) Dostál e Erica
erigena R. Ross. Esta localidade poderá corresponder à referência de SAMPAIO
(1908-1909) e vem confirmar a presença actual desta espécie no local.
Euphorbia uliginosa Welw. ex Boiss., exsiccataeexaminadas:
DOURO LITORAL: Vila Nova de Gaia, s/data, C. Barbosa, LISU24102! Arred.
Louriçal, Pinhal do Urso, Maio 1884, J. Daveau, LISU24098! BEIRA LITORAL:
Arred. Louriçal: Pinhal do Urso, Julho 1898, M. Ferreira, LISU24094! Idem,
LISU24092 exemplar esquerda! ESTREMADURA: Lagoa de Óbidos, Agosto, 1850, F.
Welwitsch, LISU24099. Entre Fernão Ferro e Apostiça, Abril, Maio 1886, J.
Daveau, LISU24096! Entre Arrentela e Fernão Ferro, Julho 1892, J. Daveau,
LISU24095! Idem, LISU24092 exemplar direita! BAIXO ALENTEJO: Prox. Vila Nova de
Milfontes e Ponta do Cavaleiro, Abril 1848, F. Welwitsch, LISU24100. Entre Vila
Nova de Milfontes e Cercal, Abril 1886, J. Daveau, LISU24097. Entre Sines e
Cercal, Maio 1926, R. Palhinha, LISU24093!
6.Pinguicula lusitanica L. (Lentibulariaceae), novas localizações na Serra do
Caldeirão e Costa Sudoeste
ALGARVE: São Brás de Alportel, São Brás de Alportel, Cova da Muda (29S NB9818 e
NB9918; ca. 450 msm; Abr/2004; plantas no início da floração).
ALGARVE: Aljezur, Rogil, Esteveira (29S NB1538; ca. 30-40 msm; Abr/2009;
plantas no início da floração).
Esta espécie, bastante rara no sul de Portugal, era apenas conhecida na Serra
de Monchique e nas proximidades de Vila Nova de Mil Fontes (SILVA et al.,
2008b). Duas novas localidades foram encontradas na parte alta de Serra do
Caldeirão, e uma nas proximidades de Odeceixe. Nas localidades da Serra do
Caldeirão é localmente abundante e ocupa taludes argilosos com escorrência de
água e margens expostas de ribeiras, formando aglomerados densos nas clareiras
de Erica lusitanica Rudolphi. Dada a sua abundância, é provável a sua
ocorrência noutros locais na região oriental da Serra do Caldeirão, em
ambientes semelhantes. Na localidade da Costa Sudoeste, ocorre em arribas
marítimas de xisto com escorrência de água, compartilhando habitat com outras
plantas de cariz atlântico (e.g. Erica erigenaR. Ross., Pedicularis sylvatica
L., Spiranthes aestivalis(Poiret) Richar e Anagallis tenella (L.) L.), numa
matriz arbustiva composta por Corema album (L.) D. Don, Juniperus
phoenicea subsp. phoeniceaL., Phillyrea angustifolia L., entre outras. Taxon
classificado como higrófito (DUARTE & MOREIRA 2002) e referido para lugares
húmidos e pântanos do Minho ao Algarve (VASCONCELLOS, 1970). É dado com
disperso pela metade occidental da Península Ibérica, BLANCA (2001); para a
Extremadura DEVESA (1995) refere asua ocorrência em "rezumaderos y
enclaves higroturbosos", sendo considerado raro. Em Marrocos é dado para
colinas de arenito do litoral, em locais húmidos (JAHANDIEZ & MAIRE, 1931-
1934).
Pinguicula lusitanica L., exsiccataeexaminadas:
MINHO: Serra do Gerês, Julho 1948, L.G. Sobrinho e Romariz, LISU900. Idem,
LISU911. Idem, LISU912. DOURO LITORAL: Arred. Porto (S. Gens e S. Cruz do
Bispo), Maio 1883, E. Johnston, LISU34757! Idem, LISU34751. Leça da Palmeira
(Arred. do Porto), 16-05-1943, J. Fonseca, LISU34758! BEIRA LITORAL: Antanhol
(mata), s/data, P. Oliveira, LISU34751. Entre Mira e Cantanhede, Maio 1940,
Palhinha e L.G. Sobrinho, LISU34753. Pinhal do Urso, Maio 1931, G. Cunha e L.G.
Sobrinho, LISU34750. ESTREMADURA: De Seixal a Arrentela, Maio 1881, J. Daveau,
LISU34759! De Poceirão a Pegões, Maio-Junho 1889, J. Daveau, LISU34754. Entre o
Fogueteiro e Coina num local denominado 'Cascalheira', 28-05-1959, ilegiv.,
LISU140198! Serra de Sintra, Maio 1849, F. Welwitsch, LISU34760. Serra de
Sintra, arred. Lisboa. Monserrate. Maio 1884, A.R. da Cunha, LISU34755! Serra
de Sintra, Agosto-Setembro 1885, J. Daveau, LISU34762! Serra de Sintra, s/data,
Romariz, LISU55285. Vila Nova de Ourem, Agosto 1883, J. Daveau, LISU34756! ALTO
ALENTEJO: PNSSM Portalegre, descida da Cruz dos Cumes para a Feiteira (Monte do
Rei), PD4150, 26-06-1995, C. Sérgio, LISU212865! BAIXO ALENTEJO: Prox. Melides,
Abril 1848, F. Welwitsch, LISU34761. ALGARVE: Monchique, Abril 1931, Palhinha,
LISU34752. Próximo de Algoz, 37º 9' 27'' N; 8º 19' 9'' W, 17-04-2007, T.
Grevenstuk, LISU215272!
7.Cynara tournefortii Boiss. & Reut. (Asteraceae), nova localização no
Baixo Alentejo
BAIXO ALENTEJO: Alcácer do Sal, Torrão, Carrascais (29S NC6631; 75 msm; Nov/
2008; plantas senescentes).
Esta espécie bastante rara, conhecida em Portugal apenas desde o Alentejo
interior (WIKLUND, 2003) até aos arredores de Beja (PEREIRA COUTINHO, 1935),
foi encontrada no que será provavelmente o seu limite ocidental de ocorrência,
perto de Odivelas, em terrenos argilosos. Nesta nova localidade a espécie
ocorre, com alguma abundância, em clareiras de matos onde são dominantes
espécies como Quercus cocciferaL., Phillyrea angustifolia L., Rosmarinus
officinalis L., Pistacia lentiscusL., Cistus monspeliensisL., entre outras.
Destaca-se que tinha sido indicada, para a região, como "frequente nos
pousios e terras lavradas" em Cuba, onde tinha sido colhida por A.R. Jorge
em 1917.
Para o género Cynara, ANTHOS (2009) assinala um número restrito de localidades,
nas províncias de Badajóz, Cádiz, Córdova, Jaen e Sevilha, e considera as
localidades de Cáceres como duvidosas. A província de Madrid é igualmente
referida, em exsiccata ou citações (NAVARRO & JIMÉNEZ, 2007). Para a
Extremadura, DEVESA (1995) menciona a sua presença em baldios ou clareiras
nitrificadas sobre substrato calcáreos, considerando-a muito rara. Em Marrocos,
a espécie é referida como habitando campos argilosos de planície (EMBERGER
& MAIRE, 1941). Constata-se que as características do substrato e do
habitat são similares na localidade observada recentemente para a província de
Granada (NAVARRO & JIMÉNEZ, 2007).
ROBBA et al. (2005) refutam a consistência do género Arcyna(WIKLUND, 2003),
considerando Cynara um grupo monofilético, com base em marcadores moleculares
(ITS). Os mesmos autores consideram C. tournefortii como endemismo restrito à
Espanha, indicando para Portugal a presença do híbrido C. humilis x C.
tournefortii.
Cynara tournefortii Boiss. & Reut.; as exsiccatae examinadas foram
classificadas como Arcyna tournefortii por Wiklund em1989:
ALTO ALENTEJO: Elvas: Herdade do Zé do Vale de Cima, 06-06-1956, Malato Beliz e
J. Guerra, LISU65485! BAIXO ALENTEJO: Beja: Vale de Aguilhão, Junho 1881, A.R.
da Cunha, LISU38994! Cuba, Junho 1917, A.R. Jorge, LISU38996! Idem, ausência de
inflorescência, LISU38995.
8.Doronicum plantagineumL. (Asteraceae), duas novas localizações disjuntas
ALGARVE: Loulé, Ameixial, Pero Ponto (29S NB9529; ca. 450 msm; Mai/2005;
plantas em frutificação).
BAIXO ALENTEJO: Odemira, São Luis/São Salvador, Arcaçoila (29S NB3267 e NB3367;
ca. 50 msm; Fev/2009; plantas no início de floração).
Segundo FRANCO (1984), a área de ocorrência das três subespécies de Doronicum
plantagineum tem o seu limite meridional na região de Lisboa; no entanto,
SAMPAIO (1908-1909) refere D. plantagineum para "Odemira, nos montados,
perto de Aldeia Nova", no Baixo Alentejo. A presença deste taxon no
Algarve resume-se a poucas localidades detectadas na serra de Monchique,
Ribeira da Perna da Negra (Leitão Serra e Correia, 1988) e Rocha da Pena
(PINTO-GOMES, 1998). Mencionam-se também, a sul do Tejo, as localidades
referidas nas colheitas de Malato-Beliz para o Algarve, entre Monchique e
Alferce e para o Alto Alentejo, Castelo de Vide, Amieira (ÁLVAREZ FERNANDEZ,
2003).
Doronicum plantagineum foi agora encontrado em duas novas localidades, uma na
Serra do Caldeirão e outra na Serra do Cercal. Esta última não deverá
corresponder à localização original de G. Sampaio, devendo estar, tanto quanto
é possível avaliar, a cerca de 6 km de distância. Em ambos os casos, a planta
encontra-se na sua ecologia típica, no sob coberto de sobreiral fechado. Na
Serra do Caldeirão, a prática cada vez mais intensa de operações de limpeza de
matos pode comprometer a sobrevivência deste núcleo populacional isolado.
Apesar de ter sido prospectada uma área considerável da Serra, não foi possível
localizar mais núcleos deste taxon.
Embora a subespécie Doronicum plantagineumL. subsp. tournefortii (Rouy) Cout.
esteja protegida pelo Anexo V da DIRECTIVA DO CONSELHO 92/43/CEE, a última
revisão do Género Doronicum (ÁLVAREZ FERNANDEZ, 2003) não considera categorias
infraespecíficas para esta espécie cuja área de distribuição se estende do
Sudoeste da Europa (Portugal e Espanha) até ao Norte de África (Marrocos e
Argélia), estando naturalizada na Europa central. Os caracteres morfológicos
não permitem segregar grupos estatisticamente significativos dentro desta
espécie (ÁLVAREZ FERNANDEZ & NIETO FELINER, 2001) no entanto a análise
filogenética baseada em caracteres morfológicos e marcadores moleculares
indicaria uma separação das populações norte africanas, incluídas em D.
atlanticum por alguns autores, das populações ibéricas de D. plantagineum
(ÁLVAREZ FERNANDEZ et al. 2001).
Doronicum plantagineumL., exsiccataeexaminadas:
TRAS-OS-MONTES E ALTO DOURO: Adorigo, Maio 1881, E. Schmitz, LISU55948! BEIRA
BAIXA: Castelo Branco. Monte Fidalgo, Maio-Junho 1882, A.R. da Cunha,
LISU38229! ESTREMADURA: Colinas de Trancoso prox. Arruda dos Vinhos, Maio 1881,
J. Daveau, LISU38230! Sintra, Maio 1845, F. Welwitsch, subsp. tournefortii
(Rouy) Cout.LISU38238. Serra de Sintra, Maio-Junho 1889, J. Daveau, LISU38236!
Sintra, Abril 1908, A.X. Pereira Coutinho, subsp.tournefortii(Rouy)
Cout.LISU38233! Sintra, Abril 1909, J. dos Santos, subsp. tournefortii (Rouy)
Cout. LISU38234! Sintra: Pena, 04-04-1909, J. dos Santos, subsp. tournefortii
(Rouy) Cout. LISU38235! Eugaria, prox. Colares, Março 1882, J. Daveau,
LISU38237! Colares, 19-04-1985, A. Silva Costa, C. Rodrigues e H. Bacelar,
subsp. tournefortii (Rouy) Cout. LISU147313! ALTO ALENTEJO: de Marvão a
Portalegre, 01-05-1913, R. Palhinha e F. Mendes, LISU38228! Serra da Ossa, Maio
1925, Palhinha, LISU38231! ALGARVE: Serra de Monchique. Ribeira da Perna da
Negra, NB34, 24-03-1988, G. Leitão Serra e A.I. Correia, LISU152833!
Figura 5 - Doronicum plantagineum, folhas. (Serra do Caldeirão)
Figura 6 - Doronicum plantagineum, capítulo frutífero. (Serra do Caldeirão)
Figura 7 - Quadrículas UTM 10 x 10 km das ocorrências registadas nesta nota. 1
' Pilularia minuta; 2 ' Davallia canariensis; 3 ' Ceratocapnos heterocarpa; 4 '
Euphorbia uliginosa; 5 - Cynara tournefortii; 6 ' Pinguicula lusitanica; 7 '
Doronicum plantagineum; 8 ' Sedum maireanum