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EuPTCVAg0871-018X2010000200006

EuPTCVAg0871-018X2010000200006

variedadeEu
ano2010
fonteScielo

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Ensaio de variedades de linho em diferentes épocas. Comportamento fenológico e produção

INTRODUÇÃO O linho, Linum usitatissimum L., é uma planta com referências muito antigas, quer em Portugal quer a nível mundial (van Zeist, 1970; Durrant, 1976; Hopf, 1991). No entanto, sobretudo a partir do século XIX, perdeu a importância devido à concorrência do algodão. Apesar de Pery (1875) referir 25000 ha em 1871, hoje em dia apenas em termos de comércio internacional se apresentam valores atribuíveis ao seu uso como matéria-prima no artesanato; em 2000/01 citam-se 75 produtores numa área de 3810 ha (Anónimo, 2001). Em Portugal, a sua importância residual pode ser observada nas Estatísticas Agrícolas (INE, 1962- 1991) que deixaram de a referir a partir de 1981. Daí a escassa bibliografia abordando ensaios experimentais da cultura.

Rossini & Casa (2003), em Itália, estudaram a influência de datas de sementeira na produção de linho; o Inverno Mediterrânico, relativamente ameno, permite a sementeira em duas épocas distintas mas são praticamente nulas as referências actuais acerca do comportamento de variedades de linho no Inverno e Primavera de Portugal. No passado estas eram duas épocas normais para a sementeira (Oliveira et al., 1991).

Este trabalho apresenta resultados de ensaios de campo, conduzidos entre Outubro de 1999 e Julho de 2000 em Vila Real de Trás-os-Montes e Alto Douro, no âmbito de um projecto levado acabo em parceria com a Universidade DeMontfort (Reino Unido).

MATERIAL E MÉTODOS Semearam-se dois ensaios, no Outono (AT) e Primavera (ST), em Vila Real (41º 19'N lat. e 44'W long.). O solo (franco limoso) apresentava uma ligeira inclinação e as características apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1 ' Análise do solo dos ensaios.

Antes da sementeira aplicou-se 120 kg K2O ha-1 e 90 kg P2O5 ha-1na forma de, respectivamente, Cloreto de Potássio e diluição calcária de Superfosfato de Cálcio. Usaram-se duas variedades de linho, Laura (L, 42 Kg ha-1) e Escalina (E, 45 Kg ha-1).

Os talhões do ensaio (25 m2) foram casualizados em quatro repetições. Na colheita colheram-se amostras com 0,25 m2 em cada talhão, considerando-se como palha toda a planta (arrancada e não cortada pela base como é normal noutras culturas). Após a pesagem, cortaram-se as raízes e pesaram-se novamente todas as amostras. As determinações também incluíram: ' População - registada um mês após a sementeira e na colheita contando o número de plantas e caules por metro quadrado.

' Altura - avaliada, em amostras de 40 plantas (10 por repetição), a intervalos de uma semana em duas posições acima do solo (cm), a mais alta (até à folha, gomo ou cápsula mais alto) e a mais baixa (até à primeira ramificação).

' Progresso da floração - iniciou-se esta observação logo após o surgir da primeira flor, registando-se os números de gomos, flores e cápsulas em 10 plantas por repetição (40 no total de cada variedade).

' Diâmetro do caule (mm) - avaliado a intervalos de uma semana em amostras de 20 caules à altura de 30 cm.

' Produção de palha - calculada pesando amostras de cada talhão e referida ao valor de 15% de humidade.

Durante os ensaios registaram-se os dados meteorológicos. Manteve-se o controlo de infestantes com herbicidas. O problema principal foi o Raphanus raphanistrum L. que se conseguiu controlar. No ensaio de Primavera, o controlo de Echinochloa crus-galli (L.) Beauv. não foi satisfatório em alguns locais.

Foi necessário regar (11 regas) o ensaio de Primavera recorrendo-se a miniaspersores.

Os dados foram sujeitos a análise de variância usando-se o software SPSS e, quando obtidas diferenças significativas, as médias foram comparadas através do teste de Duncan (5% de probabilidade).

RESULTADOS E DISCUSSSÃO Os registos meteorológicos permitem afirmar que Janeiro foi um mês frio e seco, Fevereiro seco e quente, Março seco, Abril frio e chuvoso e Maio chuvoso, sendo a distribuição da precipitação pouco frequente na região de Vila Real.

O solo dos ensaios não é o ideal para a cultura de linho devido à sua textura, traduzindo-se, sobretudo na época invernal, por fenómenos de encharcamento temporário.

A Figura 1 mostra a evolução da altura do caule (mais alta) das variedades Laura (L) e Escalina (E) em estudo no ensaio de Outono - Inverno (AT).

Figura 1 ' Altura do caule (cm) das variedades L (---) e E (-) no ensaio AT.

Não se verificaram diferenças significativas da altura das variedades (p < 0.05). No início, a variedade Laura apresentou uma altura ligeiramente superior mas no fim do crescimento a situação inverteu-se (99 cm L e 107 cm E). A altura da ramificação mais baixa apresentou uma evolução similar; valores finais de 73,7 cm (L) e 79,8 (E).

A Figura 2 mostra uma evolução semelhante da altura das variedades no ensaio de Primavera. O valor final da altura foi de 70,8 cm (L) e 70,4 cm (E).

Figura 2 ' Altura (cm) das variedades no ensaio de Primavera; L (---) e E (- ).

A evolução da altura da ramificação mais baixa foi similar com valores finais de 59,7 cm (L) e 56,8 cm (E).

O crescimento das plantas na Primavera foi mais rápido, apenas 85 dias da sementeira à plena floração (MPF), enquanto que no Outono - Inverno esta fase demorou 218 dias. A altura dos caules das variedades é semelhante mas no ensaio de Outono Inverno ambas mostram maior altura. Esta diferença dos resultados obtidos em cada uma das épocas justifica-se com a maior duração da fase vegetativa do linho cultivado no período de Outono ' Inverno resultante dos dias mais curtos e mais frios desta fase (Marshall, 1989).

A Figura 3 mostra a evolução da floração das variedades no ensaio AT avaliada contando todos os órgãos florais e calculando a % de gomos relativamente ao total.

Figura 3 ' Evolução da floração (% gomos) das variedades L (---) e E (-) no ensaio de Outono ' Inverno.

As primeiras flores surgiram na variedade Laura, 10 dias depois na Escalina, e decorreu durante cerca de dois meses. Apesar de algumas diferenças iniciais, a data do fim da floração foi praticamente a mesma nas duas variedades (Quadro 2).

Quadro 2 ' Datas de floração nos ensaios de Primavera (ST) e Outono (AT).

A floração no ensaio de Primavera (ST) foi menos demorada, apenas duas semanas (Quadro 2). A duração da floração é normalmente muito influenciada pelo genótipo (Keijzer, 1989) mas neste ensaio foi praticamente semelhante em ambas as variedades.

À semelhança do observado em relação à altura das plantas, a floração foi muito influenciada pelas condições ambientais, temperatura e fotoperíodo (Moule, 1972); no ensaio AT a floração demorou quase dois meses mas no ST apenas duas semanas devido às temperaturas mais elevadas. As diferenças entre variedades não foram significativas.

A Figura 4 representa a evolução do teor de água avaliada com amostras de caules à altura de 30 cm no ensaio AT; as variedades não diferiram significativamente.

Figura 4 ' Teor de água (%) das variedades L (---) e E (-) no ensaio AT.

No ensaio de Primavera ' Verão (ST) a evolução do teor de água das variedades também não diferiu significativamente confirmando-se a semelhança do comportamento das duas variedades.

A Figura 5 apresenta os valores do diâmetro do caule (à altura de 30 cm) no ensaio de Outono - Inverno (AT).

Figura 5 ' Diâmetro (mm) dos caules das variedades L (---) e E (-) no ensaio AT.

Durante todo o ciclo, a variedade L revelou caules mais finos; na última semana, 9 semanas após a floração, a média dos diâmetros foi de 2,4 mm (L) e 3,0 mm (E).

Na Figura 6 mostram-se as observações do diâmetro do caule no ensaio de Primavera ' Verão (ST). A variedade L também mostrou ter caules mais finos; na última semana (8 semanas após floração), os valores médios foram de 1,7 mm (L) e 1,8 mm (E).

Figura 6 ' Diâmetro (mm) dos caules das variedades L (---) e E (-) no ensaio ST.

O Quadro 3 apresenta os valores do número de plantas e caules observados em ambos os ensaios.

Quadro 3 ' Número de plantas e caules por metro quadrado.

Os valores (médias das duas variedades) foram sempre superiores no ensaio de Outono - Inverno (672 plantas m-2 e 905 caules m-2) do que no de Primavera - Verão (518 plantas m-2 e 554 caules m-2) traduzindo-se num maior de caules por planta (1,35 versus 1,07). Não se verificou o efeito compensatório, referido por Marshall et al (1989), segundo qual o linho compensaria o menor de plantas com um maior de ramificações caulinares, apesar de o número de plantas observado estar dentro dos limites, 100 a 800 plantas m-2, apontado por aqueles autores.

Os valores do número de plantas observados no início dos ensaios foram sempre superiores ao verificado no final; a diminuição do de plantas (média das duas variedades) foi superior no caso do ensaio ST (211 plantas m-2) do que a registada no AT (100 plantas m-2) e a variedade L mostrou menos perdas (136) do que a E (176). A maior perda de plantas no ensaio ST pode justificar-se com a maior ocorrência de infestantes.

A produção (planta inteira) e erro padrão dos ensaios e variedades estão representados na Figura 7.

Figura 7 ' Produção média (Mg ha-1) e erro padrão (I) das variedades Laura (L) e Escalina (E) nos ensaios de Outono (AT) e Primavera (ST).

A variedade E foi mais produtiva do que a L mas os resultados foram estatisticamente significativos apenas no ensaio de Outono (p <0.01). Os resultados, quando se pesaram as plantas sem as raízes e a parte cimeira, foram semelhantes.

As plantas no ensaio de outonal foram em maior número, mais altas e de maior diâmetro justificando a maior produção resultante de uma estação de crescimento mais demorada e de menor concorrência de infestantes.

A correlação estabelecida entre a produção e o diâmetro (r = 0,95) ou a altura (r = 0,87) dos caules mostrou ser altamente significativa (p <0,001) quando consideradas as amostragens na proximidade do inicio da floração, permitindo antecipar uma estimativa razoável da produção futura.

A maior produção da variedade E deveu-se aos seus caules mais grossos que compensaram o menor de plantas e caules desta variedade no ensaio AT; no entanto, mostrou ser mais sensível à acama apesar de esta observação não ter sido quantificada.

CONCLUSÕES Apesar de algumas diferenças entre variedades, em termos genéricos, o seu comportamento foi semelhante.

A produção de linho pode ser efectuada no período de Outono ' Inverno com produções significativamente superiores às da Primavera ' Verão. Esta maior produção resulta de plantas mais altas e com maior diâmetro.

As condições meteorológicas não foram as normais, registando-se valores de 10ºC negativos em Janeiro que, no entanto, não afectaram de modo irreversível as plantas.

A anormalidade das condições meteorológicas e a restrições colocadas pelas características do solo justificam a necessidade da repetição dos ensaios.

O controlo de infestantes pode ser um problema, sobretudo nos ensaios de Primavera ' Verão, dado que em Portugal não existem herbicidas homologados para esta cultura.


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