Preparação do solo e da adubação azotada nos componentes produtivos do milheto
Introdução
O milheto (Pennisetum glaucum L.) é uma gramínea anual que vem apresentando nas
últimas décadas um aumento da área plantada, sobretudo nas regiões de Cerrado,
tanto pelo enorme potencial de cobertura do solo oferecido para a prática do
sementeira direta, como pelo seu uso forrageiro na pecuária de corte ou de
leite (Teodoro et al., 2015). É uma planta anual, forrageira de verão, de clima
tropical, hábito ereto, porte alto, e pode atingir até 5 m de altura. Entre as
principais características do milheto ressaltam-se: tolerância à seca,
capacidade em adaptar-se a diferentes solos, facilidade de produzir sementes e
boa adaptação à mecanização. Para Scaléa (1998), este crescimento da cultura no
Cerrado brasileiro deve-se à sua alta adaptabilidade ao déficit hídrico
prolongado e a solos menos férteis, condições típicas desta região.
De acordo com Marcante et al. (2011), a diminuição do potencial produtivo dos
solos das regiões tropicais e subtropicais está ligada, principalmente, à
erosão e ao esgotamento da matéria orgânica do solo. O uso de técnicas
culturais que não utilizam o revolvimento do solo e que empregam a adição de
carbono orgânico por recurso ao cultivo de espécies para cobertura verde do
solo, pode ser recomendável. De fato, os sistemas conservacionistas, como o
mobilização mínima e o sementeira direta, são fundamentais na manutenção, ou
mesmo aumento da matéria orgânica, a qual é importante na estruturação química,
física e biológica do solo, e principal responsável pela capacidade de troca
catiónica em solos altamente intemperizados.
O azoto (N) é absorvido em grandes quantidades pelas gramíneas, principalmente
pelas anuais, sendo grande parte utilizada na formação das sementes. Powel e
Fussel (1993) relataram que, do total de N absorvido pela cultura do milheto
(33,4 kg ha-1), 32% encontravam-se nas cariopses.
O N exerce marcada influência na produção de sementes de gramíneas forrageiras,
no entanto, há dificuldade em estimar o teor ótimo e o sistema de preparação do
solo adequado à sua aplicação (Humphreys e Riveros, 1986). Estes fatores irão
determinar, juntamente com a cultivar, quais os componentes do rendimento
favorecidos.
Perante o exposto, o objetivo deste trabalho consistiu em identificar qual o
sistema de preparação do solo e qual dose de N em cobertura que proporciona ao
milheto acréscimo nos seus componentes produtivos.
Material e Métodos
O estudo foi desenvolvido na área experimental da Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul - Unidade Universitária de Aquidauana (UEMS/UUA), setor
Fitotecnia, localizado no bioma Cerrado, situado no município de Aquidauana,
MS, compreendendo as coordenadas geográficas 20º 27' S e 55º 40' W,
e com uma altitude média de 170 m.
O solo da área foi classificado por Schiavo et al. (2010) como Argissolo
Vermelho-Amarelo distrófico de textura arenosa, segundo os critérios da Embrapa
(2006), possuindo as seguintes características na camada de 0 - 0,20 m: pH
(H2O) 6,2; Al trocável (cmolc dm-3) 0,0; Ca+Mg (cmolc dm-3) 4,31; P (mg dm-3)
41,3; K (cmolc dm-3) 0,2; Matéria orgânica (g dm-3) 19,74; V (%) 45; m (%) 0,0;
Soma de bases (cmolc dm-3) 2,3; CTC (cmolc dm-3) 5,1. O clima da região,
segundo a classificação descrita por Köppen-Geiger é do tipo Aw (Tropical de
Savana) com precipitação média anual de 1200 mm e temperaturas máximas e
mínimas de 33 e 19 ºC, respectivamente.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com quatro
repetições, em esquema de parcelas subdivididas. Nas parcelas, foram avaliados
dois sistemas de preparação do solo: mobilização mínima (CM: subsolagem +
nivelamento) e sementeira direta (PD). Cada parcela foi dividida em cinco
subparcelas, com 18,0 m² (1,8 x 10,0 m) cada, com a aplicação de cinco doses de
N em cobertura (0, 50, 100, 150 e 200 kg ha-1).
Nas operações de dessecação das plantas daninhas, realizadas apenas no
tratamento PD, foi utilizado o a substância ativa glyphosate, na dose de 1,5 kg
ha-1. A sementeira do milheto ocorreu em setembro de 2013, com um espaçamento
de 0,45 m entre linhas e uma densidade de 15 plantas m-1. A adubação em
cobertura foi realizada aos 25 dias após a emergência (DAE) das plantas, sob a
forma de uréia (45% de N). Tendo em vista minimizar as perdas deste nutriente
por lixiviação, as doses de 100, 150 e 200 kg ha-1 de N foram parceladas,
consistindo na aplicação de 50% aos 25 DAE e o restante aos 35 DAE.
Em cada sub-parcela, quando os grãos apresentavam aspecto pastoso, foram
escolhidas aleatoriamente cinco plantas, sendo medidos os seguintes caracteres:
altura de plantas (AP) com auxílio de uma trena e comprimento da panícula (CP).
Por metro quadrado foram contados o número de perfilhos (NP) e realizada a
colheita das plantas para determinação da massa seca (MS) e da produtividade
(PROD), corrigindo-se para 13% de base úmida e extrapolando os valores para um
hectare.
Através do software estatístico Sisvar (Ferreira, 2011) os dados foram
submetidos à análise de variância (ANOVA). O fator qualitativo (métodos de
preparação do solo) foi submetido à comparação de médias pelo teste de Tukey a
1% de probabilidade, enquanto o fator quantitativo (doses de N) foi submetido a
estudos de regressão polinomial, sendo as equações definidas de acordo com o
coeficiente de determinação.
Resultados e Discussão
O tipo de preparação do solo influenciou significativamente (p<0,01) todas as
variáveis analisadas, com exceção da PROD (Quadro_1); enquanto a adubação
zotada interferiu apenas na altura de plantas (AP) e comprimento da panícula
(CP) (p<0,01). Houve interação significativa (p<0,01) entre preparação do solo
e adubação azotada apenas para o número de perfilhos por m².
Verifica-se, no Quadro_2, que o mobilização mínima proporcionou incremento nas
variáveis AP e CP do milheto, enquanto a sementeira direta influenciou a
emissão de maior número de perfilhos por m² e maior produtividade de MS.
Entretanto, para a PROD não houve diferença significativa entre o solo
descompactado comparativamente ao compactado. Este fato, provavelmente, ocorreu
porque a utilização de sistemas de preparação com mínimo ou nenhum revolvimento
do solo é suscetível de contribuir para mlhorar a estrutura, porosidade,
retenção e infiltração de água (Silva, 1980), a atividade biológica (Cattelan e
Vidor, 1990), o conteúdo de carbono orgânico e de azoto total do solo, a
capacidade de troca catiónica e conteúdo de nutrientes (Bayer e Mielniczuk,
1997).
Resultados semelhantes foram obtidos por Freitas et al. (1996) e Bayer et al.
(1998), que ao avaliarem a influência de diferentes manejos do solo na cultura
do milho, concluíram que o grau de revolvimento do solo e incorporação de
resíduos vegetais não afetaram quantitativamente o fornecimento de nutrientes
ao milho, podendo-se obter os benefícios adicionais de conservação do solo com
a adoção da sementeira direta ou preparação reduzida.
Em relação às doses de azoto aplicadas em cobertura, verificou-se comportamento
quadrático para as variáveis AP e CE (Figuras_1 e 2), sendo os pontos de máximo
obtidos com 150 e 200 kg ha-1 de N, respectivamente. Estes resultados
corroboram os obtidos por Mesquita et al. (1998), que verificaram, para o CE,
resposta quadrática do milheto à aplicação de doses de azoto.
Segundo Mengel e Kirkby (1987), o N é o nutriente mineral mais exigido pelas
plantas, uma vez que o elemento participa na composição de vários compostos de
interesse vital para as plantas, tais como proteínas, enzimas, pigmentos e
vitaminas. Entretanto, de acordo com Mesquita et al. (1998), o comportamento
quadrático de uma cultura em relação ao azoto poderá estar relacionado com o
fato de, quando são feitas aplicações elevadas deste macronutriente, ser
possível a ocorrência de fatores desfavoráveis, em particular no que se refere
ao incomptibilidade com outros nutrientes, aumento da salinidade e/ou da reação
do solo, etc. Por outro lado, elevadas quantidades de azoto podem também afetar
negativamente a economia da exploração e a qualidade do ambiente.
Em relação ao número de perfilhos por m² (Figura_3), os maiores valores no
sistema de sementeira direta foram obtidos com a dose de 50 kg ha-1 de N,
enquanto para a mobilização mínima foram alcançados com 200 kg ha-1 de N. Este
resultado mostra que a dose de N a ser aplicado depende do sistema de
preparação do solo utilizado. Isto, possivelmente, terá ocorrido porque o
sistema de sementeira direta tende a proporcionar maiores teores de matéria
orgânica no solo, pelo que, em igualdade de outros fatores, deverá exigir
menores doses de N para estimular o perfilhamento no milheto.
Conclusões
A quantidade de azoto aplicado em cobertura no milheto influenciou apenas a
altura de plantas e comprimento da panícula, sendo recomendada, com base nestas
variáveis, a dose de 150 kg ha-1 de N.
O sistema de sementeira direta proporcionou maior produtividade de massa seca
no milheto.
Com base no número de perfilhos por m², a dose de N a ser aplicada depende do
sistema de preparação do solo utilizado.