Uso de paracetamol na enxaqueca
Uso de paracetamol na enxaqueca
Referência: Derry S, Moore RA, McQuay HJ. Paracetamol (acetaminophen) with or
without an antiemetic for acute migraine headaches in adults. Cochrane Database
of Systematic Reviews 2010 Nov 10; 11: CD008040. Disponível em: http://
onlinelibrary.wiley.com/o/cochrane/clsysrev/articles/CD008040/frame.html
[acedido em 20/01/2011].
Questão clínica
O paracetamol (em monoterapia ou em associação com um antiemético) é eficaz e
bem tolerado no tratamento da enxaqueca?
Comentário
O tratamento da enxaqueca visa eliminar a dor e os sintomas associados na
crise, prevenir a recorrência e melhorar a qualidade de vida dos doentes.
1,2
Esta revisão sistemática demonstra que o paracetamol em monoterapia, na dose
de 1.000 mg, é mais eficaz que o placebo no tratamento a curto prazo da
enxaqueca e que a associação de paracetamol 1.000 mg e metoclopramida 10mg é
tão eficaz como o sumatriptano 100mg no alívio da dor, bem como da foto e
fonofobia às 2 horas, apresentando menos efeitos adversos (Nível de Evidência
1a).
Contudo, as limitações do estudo são várias. As diferenças entre os estudos
incluídos não permitiram avaliar a totalidade dos dados (tratamento no início
do episódio versus dor estabelecida; dose única ou múltipla; critérios de
diagnóstico, frequência e duração da enxaqueca; diferentes vias de
administração). Acresce ainda que os ensaios de uma das duas únicas comparações
possíveis (paracetamol e metoclopramida versus sumatriptano) não incluíram
grupo de controlo placebo, comprometendo a validade dos resultados.
Pelo exposto, são necessários e desejáveis mais estudos, de boa qualidade
metodológica e clinicamente homogéneos, de modo a assegurar a eficácia
indiscutível do paracetamol no tratamento da enxaqueca, sobretudo no alívio
duradouro da crise e na prevenção das recorrências. A confirmação da sua
eficácia como tratamento de primeira linha traria implicações benéficas para a
prática, dado tratar-se de um fármaco com um bom perfil de segurança e de
custos reduzidos, abrangendo um maior número de candidatos a tratamento do que
as alternativas AINEs ou triptanos, evitando efeitos adversos mais graves.
Vanda Marujo
UCSP São Mamede / Santa Isabe
(ACES Grande Lisboa III – Lisboa Central)